No mês que marca o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, conheça escritoras que compartilham suas histórias, lutas e conhecimentos por meio da literatura 

Em 2020, Conceição Evaristo participou de um episódio da série Ato Criativo, promovido pela PUCRS Cultura. / Foto: Divulgação

Em um país como o Brasil, onde a maioria da população é negra (56 %, segundo o IBGE) e as desigualdades sociais, raciais e de gênero são gritantes. Esse contraste também pode ser percebido na literatura, onde obras de escritoras negras tendem a sofrer os efeitos do embranquecimento e apagamento histórico. Mudar esse cenário está nas mãos de todos e todas, e um dos caminhos para combater o preconceito é conhecer mulheres negras e o trabalho produzido por elas.  

Relembrar suas histórias e conquistas, mas também reconhecer os desafios que seguem enfrentando é essencial – e a literatura é um campo muito rico nesse sentido. Pensando nisso, e como uma forma de celebrar o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha (25 de julho), separamos algumas dicas de livros de escritoras negras que estão disponíveis na Biblioteca da PUCRS. Confira!  

1. Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves 

A obra traz a história de uma africana idosa, cega e à beira da morte, que viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido há décadas. Ao longo da travessia, ela vai contando sua vida, marcada pela violência e pela escravidão. Um defeito de cor está inserido em um contexto histórico importante na formação do povo brasileiro, e é narrado de uma maneira na qual os fatos históricos estão imersos no cotidiano e na vida dos personagens. 

O livro, lançado originalmente em 2006, venceu o Prêmio Casa de las Américas e foi considerado pela folha como um dos 200 livros mais importantes para entender a história do Brasil. Em 2024, o livro foi tema do samba enredo da Portela, e devido a homenagem na Sapucaí, a obra alçou o posto dos mais vendidos no Brasil

2. Becos da memória, de Conceição Evaristo 

Nesse importante romance memorialista da literatura contemporânea brasileira, a autora traduz, a partir de seus muitos personagens, a complexidade humana e os sentimentos profundos dos que enfrentam cotidianamente o desamparo, o preconceito, a fome e a miséria; dos que a cada dia têm a vida por um fio. Sem perder o lirismo e a delicadeza, a autora discute, como poucos, questões profundas da sociedade brasileira.  

Conceição Evaristo é escritora e participante ativa dos movimentos de valorização da cultura negra do Brasil. Nascida em Belo Horizonte, ganhou prêmios como o Jabuti de Literatura de 2015, na categoria Contos e Crônicas; e Literatura do Governo do Estado de Minas Gerais de 2018 pelo conjunto de sua obra. Em 2020, Conceição participou de um episódio da série Ato Criativo, promovido pela PUCRS Cultura. A gravação está disponível no YouTube: 

3. Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus 

O livro tem origem no diário da autora, à época catadora de papel e moradora da favela do Canindé, em São Paulo. A obra apresenta um relato feito a partir do olhar sensível e realista da escritora, contando o que viu, viveu e sentiu nos anos em que viveu naquela comunidade.  

O livro foi o primeiro de Carolina Maria de Jesus, publicado em 1960. A obra foi vendida em 40 países e traduzida para 16 idiomas. A autora, uma das primeiras escritoras negras do Brasil, ainda publicou mais dois livros e, após sua morte, em 1977, outras seis obras póstumas foram lançadas. 

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4. Pequeno manual antirracista, de Djamila Ribeiro  

O livro trata de temas como atualidade do racismo, negritude, branquitude, violência racial, cultura, desejos e afetos. Em onze capítulos curtos, a autora apresenta caminhos de reflexão para quem deseja aprofundar sua percepção sobre discriminações racistas estruturais e assumir a responsabilidade pela transformação do estado das coisas. Para a escritora, a prática antirracista é urgente e se dá nas atitudes mais cotidianas. E mais ainda: é uma luta de todas e todos.  

Djamila Ribeiro é filósofa, pesquisadora e uma importante voz brasileira no combate ao racismo e ao feminicídio. Já recebeu premiações como o Cidadão SP em Direitos Humanos e Dandara dos Palmares, além de ter sido a primeira brasileira a receber o BET Awards, maior prêmio da comunidade negra estadunidense. Djamila também está entre as 100 pessoas mais influentes do mundo abaixo de 40 anos, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). A autora integra alguns cursos da Pós-Graduação PUCRS Online.  

5. Úrsula, de Maria Firmina dos Reis 

Considerado o primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil, a obra traz a história de Tancredo e Úrsula, dois jovens puros e altruístas. Com a vida marcada por perdas e decepções familiares, eles se apaixonam tão logo o destino os aproxima, mas se deparam com um empecilho para concretizar seu amor. Lançado em 1859, o romance também inaugura a literatura afro-brasileira e retrata homens autoritários e cruéis, mostrando atos inimagináveis de mando patriarcal e senhorial em um sistema que não lhes impõe limites. 

Sobre o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha  

A data faz menção ao dia 25 de julho de 1992, quando grupos femininos negros de 32 países da América Latina e do Caribe se reuniram na República Dominicana com o objetivo de denunciar opressões e debater soluções na luta contra o racismo e o sexismo. O encontro ficou marcado na história e foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e da Diáspora.  

No Brasil, 25 de julho também é marcado pelo Dia Nacional de Tereza Benguela e da Mulher Negra, em homenagem à líder quilombola no século 18 e exemplo de luta e resistência contra a escravização e a opressão.  

A experiência da doutoranda em Sociologia e Ciência Política Handiara na Alemanha aconteceu pelo Programa de Voluntariado Internacional 

Doutoranda Handiara dos Santos, na cidade do seu voluntariado na Alemanha.  Foto: Handiara dos Santos/Arquivo Pessoal.

O Programa de Voluntariado Educativo Marista PUCRS, promovido pelo Centro da Pastoral e Solidariedade, é uma iniciativa que busca fomentar a formação de cidadãos comprometidos com o cuidado e a promoção da vida. O programa permite que estudantes, professores e colaboradores trabalhem voluntariamente junto à comunidade em diversas frentes. Recentemente o Programa possibilitou que promove que a doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política da PUCRS Handiara dos Santos, embarcasse para a sua primeira experiência como voluntária interprovincial, em Mindelheim, no sul da Alemanha.  

Após três meses de uma imersão na Europa, a estudante compartilhou um pouco de suas vivências como primeira voluntária internacional. Desde sua chegada, a jornada tem sido uma mistura de aprendizado, desafios e interessantes experiências na Maristen JugendHaus, uma casa de juventude Marista na Alemanha.  

“Iniciar uma nova caminhada sendo apoiada por pessoas compreensivas e alegres, faz cada desafio se transformar em longas risadas. Por isso, repito frequentemente que estar nesta cidade, neste bairro, vivenciando a vida em comunidade Marista, rodeada de pessoas acolhedoras e agradáveis, é sem dúvida nenhuma a grande diferença nesse caminho. Também faz parte das minhas atribuições como voluntária a participação no Kidsprogram, que trata de atividades quinzenais com crianças de diferentes nacionalidades em situação de refúgio”, complementa Handiara. 

Suas atividades em Mindelheim são variadas: receber os estudantes, ajudar na organização, participar das atividades, dar apoio quando necessário em eventos e divulgação das programações do espaço. A casa de juventude JugendHaus, é um espaço aberto que recebe os jovens do colégio Marista da cidade, um ambiente acolhedor, onde podem ficar durante o intervalo das aulas ou antes do retorno para casa. 

“Todos os dias tenho um novo aprendizado, seja no idioma, na cultura, na forma de fazer as atividades. Sempre conhecendo lugares e pessoas novas, aumentando a participação em tarefas diferentes. A cada dia aqui, é como um dia de um curso sobre a vida. Aprendo, mas também compartilho conhecimento, e isso é infinitamente rico, a troca é o que faz tudo valer a pena”, reforça a doutoranda em Sociologia e Ciência Política.  

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Seja um Voluntário! 

A experiência de Handiara na Alemanha, a partir do voluntariado internacional da PUCRS, enriqueceu sua trajetória de vida pessoal e acadêmica. Além disso, com a interculturalidade e pluralidade de vivências, o voluntariado segue ampliando seus horizontes e contribuindo significativamente na construção de um mundo mais fraterno e solidário.  O Centro da Pastoral e Solidariedade abre vagas no início de cada semestre letivo, nos meses de janeiro e agosto, respectivamente. Os requisitos básicos para se tornar parte do programa são:  

Quer conhecer mais sobre o Programa de Voluntariado Internacional? Entre em contato com a Pastoral da PUCRS e-mail: [email protected] ou WhatsApp: (51) 983350187. A Pastoral fica na sala 224, prédio 15 (Living 360).  

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GRADUAÇÃO PRESENCIAL

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Mostra fica em exibição até o dia 29 de julho

Foto: Delfos/Arquivo

Com o objetivo de colocar em destaque as narrativas e vivências negras de Porto Alegre, a exposição Corredor do Samba de Porto Alegre: o Arroio Dilúvio e a Negritude Gaúcha traz uma reflexão a respeito do Arroio Dilúvio e a sua relação com o samba negro da cidade. Abordando a memória e as tradições do córrego, a exibição busca resgatar as experiências de comunidades que possuem relações históricas com as águas. A abertura da exposição acontece nesta quinta-feira, às 18h, no saguão da Biblioteca Central da PUCRS, prédio 16, onde a mostra fica em exibição até o dia 29 de julho.

A curadoria e expografia da exposição é de Sátira Machado, professora e pesquisadora de Culturas Afro-Gaúchas, em parceria com Michel Couto, diretor de arte e idealizador do Hub Formô e a carnavalesca Helena Fernandes. A realização é do Instituto de Cultura da PUCRS.

Idealizadores do projeto:

Sátira Machado é professora de Culturas Afro-Gaúchas, com destaque para a literatura negra do poeta Oliveira Silveira na literatura sul-riograndense e brasileira no contexto da América Latina, na Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Possui graduação em Jornalismo pela Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos (PUCRS), mestrado em Letras (PUCRS), doutorado em Comunicação (Unisinos) e pós-doutorado em Comunicação (UFSM). É líder do Grupo de Pesquisa CriaNegra/CNPq, vinculado ao Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI) do Campus Jaguarão da Unipampa. Desenvolve projetos de pesquisa/ensino/extensão sobre a vida, a obra e a consciência negra do poeta afro-gaúcho Oliveira Silveira (1941-2009). É curadora do Projeto RS Negro: educando para a diversidade.

Michel Couto é publicitário, palestrante e fundador da Agência Formô Comunicações e Negócios, agência focada em inovação aberta na periferia. É líder comunitário do Morro da Cruz, onde idealizou e ativou diversos projetos para valorizar a comunidade como Morro da Cruz Center, Natal Morro da Luz, Turismo Periférico, entre outros. Couto também é coordenador no Pacto Alegre, movimento no qual participou da criação do projeto Territórios Inovadores, e atua como assessor técnico do gabinete da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, onde participa da construção de metodologias, projetos e políticas de impacto social.

Helena Fernandes é empreendedora criativa, com foco na economia da cultura ligada ao carnaval, além de ser profissional da saúde. É coordenadora executiva do “Carnaval Descentralizado de Porto Alegre”, responsável pelos desfiles das Escolas de Samba do antigo Grupo Bronze com julgamento de quesitos como: harmonia, fantasia, tema enredo, samba enredo, evolução, bateria e mestre-sala e porta-bandeira. A União das Entidades Carnavalescas do Grupo de Acesso de Porto Alegre (UECGAPA) e a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC – PREFPOA) promoveram a primeira edição desse carnaval descentralizado na Esplanada da Restinga – Bairro Restinga, em 2024.

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Serviço

Confira dicas de como salvar suas páginas de conhecimento e histórias 

Foto: Envato Elements

As enchentes que causaram estragos em quase todos os municípios do Rio Grande do Sul deixaram milhares de desabrigados, incluindo famílias inteiras e muitos animais de estimação. Neste momento de calamidade, a PUCRS é um dos abrigos emergenciais acolhendo pessoas atingidas pelas chuvas em Porto Alegre. Com estrutura montada no Parque Esportivo, o espaço conta com o apoio de professores e estudantes voluntários, mobilizados a levar ao público informações relevantes sobre o contexto, perspectivas e ações práticas que possam ajudar.   

Neste momento, em que a água já escoou em alguns lugares, e baixa de nível aos poucos em outros, as pessoas conseguem voltar para a casa e avaliar os danos. Professores da Escola Politécnica já divulgaram dicas de como recuperar eletrodomésticos e até carros. E agora, a Biblioteca Irmão José Otão traz dicas de como tentar salvar livros que entraram em contato com umidade por conta das alagações. 

Medidas que podem ajudar a recuperar seus livros: 

Importante tomar alguns cuidados, como não deixar exposto ao sol, nem ao vento forte. Também não utilizar outras fontes de calor como secador de cabelos, chapinha ou até mesmo ferro de passar roupas. O essencial é secar o papel, mesmo que esteja com lama, em lugar arejado ou com ventilador em velocidade baixa. Além disso: 

Estas dicas podem ser utilizadas em materiais que possuem umidade, porém é necessário o acompanhamento diário para não haver proliferação de fungos ou mofo. Já para situações de contato excessivo com água, existem outras formas de recuperação como o congelamento, a térmica a vácuo, o uso de desumidificadores, entre outras ações, que devem ser aplicadas por especialistas. 

Confira ainda:  

Novo livro da escritora gaúcha aborda seu processo de peregrinação e busca inspirar os leitores 

Foto: Divulgação/Sesc

Os Caminhos de Caravaggio, na Serra Gaúcha, são uma nova rota de peregrinação no Sul do Brasil que se une a outros percursos de fé pelo mundo, como o famoso Caminho de Santiago de Compostela, um atrativo turístico para a prática de hiking e trekking de longa distância. São nestas paisagens que o leitor mergulha ao ler o novo livro da autora Carina Luft, Siga a seta: caminhando até Caravaggio, lançado pela ediPUCRS nesse mês de abril.  

A obra vai além do mero relato prático de uma caminhada turística: busca dar dimensão humana às paisagens percorridas e experiências vividas pela autora. Mostra não somente os belos e pouco explorados marcos dos Caminhos de Caravaggio nos cinco municípios serranos que os abrigam – Canela, Gramado, Nova Petrópolis, Caxias do Sul e Farroupilha –, mas também a percepção dos moradores em relação aos peregrinos que passam em suas cidades.  

“Peregrinar era um desejo antigo, coisa de adolescente, de sair livre carregando pouca coisa, sem muitas preocupações – o que eu nunca consegui fazer porque precisava honrar protocolos sociais, e não tinha a coragem de largar tudo. Mas a redenção veio aos 50 anos quando me aposentei, então me dei conta de que eu estava fora do meio corporativo e livre da profissão de 30 anos. Foi um ato consciente e de rebeldia também”, conta a autora, sobre a decisão de fazer a viagem. 

Já a ideia de escrever um registro veio durante um passeio em Gramado, quando descobriu os Caminhos de Caravaggio e decidiu marcar a peregrinação. Na ocasião, percebeu que seria a oportunidade perfeita de unir a vontade de escrever crônicas de viagem e “colocar para fora as angústias de uma vida regrada”. Ainda assim, não tinha como principal objetivo a publicação, queria apenas escrever fluidamente.   

O interesse por livros, na infância, nasceu por influência de seus pais e avós, que Carina via lendo e entendia como uma atividade relaxante. Já a escrita surgiu como forma de desabafo na sua adolescência; mas foi na fase adulta, aos 33 anos, que começou estudar Literatura: foi aí que descobriu que precisava estudar muito para escrever um bom texto.  

Nos diversos cursos, oficinas e grupos de criação que participou para aprimorar sua escrita, aos poucos, Carina descobriu sobre o que gostava de escrever. E com a prática e evolução da carreira, foi gratificada com os títulos de Patrona da 13ª Feira do Livro de Montenegro e 9ª Feira do Livro do Vale do Caí, e finalista do Prêmio Açorianos de Literatura de 2011.  

“Fico inquieta e sinto necessidade de colocar para fora as angústias. Devido às violências e suas injustiças, por isso, comecei escrevendo crime fiction. De repente, senti vontade de falar de assuntos mais leves, aqueles que tirassem as pessoas da toxicidade social, então vi uma oportunidade nas crônicas de viagem. Talvez esteja aí uma balança onde eu possa me equilibrar. De um lado está o horror e do outro, a redenção”, reflete a autora.  

Em Siga a seta: caminhando até Caravaggio, o leitor conhecerá mais de perto o rico cenário humano capaz de tornar um caminho de peregrinação em uma experiência transformadora. A autora descreve o livro como uma crônica de viagem com a qual, peregrinos, aventureiros e pessoas sensíveis em busca de transformação vão se identificar ao ler sobre a redescoberta de sua fé interior.  

“Libertação é o que eu busco provocar no leitor com o meu livro. Espero que cada um encontre o próprio ponto de virada para mudar aquilo que gostaria de mudar. Que o leitor possa se desintoxicar à medida que lê, que ele se identifique com a dor, com o humor, com as alegrias, os desafios e as descobertas da autora enquanto caminha ao lado dela. O livro fala dos caminhos como metáfora da vida”, compartilha Carina.  

Conheça o livro