Os impactos da violência no aprendizado e no desenvolvimento do cérebro de jovens brasileiros. Este é o conteúdo da pesquisa conduzida por Augusto Buchweitz, professor da Escola de Ciências da Saúde da PUCRS e pesquisador Instituto do Cérebro do RS (InsCer), e equipe, que faz parte do projeto VIVA – Vida e Violência na Adolescência. É a primeira vez que um estudo de neuroimagem analisa como a violência afeta o cérebro de adolescentes latino-americanos. Essa pesquisa foi publicada na revista científica internacional Developmental Science.
Para entender os impactos associados com a violência no funcionamento do cérebro de adolescentes, foram feitos convites e triagens em escolas em Porto Alegre, algumas das quais se situam em bairros com os maiores índices de violência e vulnerabilidade. Aplicou-se o Questionário de Vitimização de Adolescentes (JVQ – Juvenile Victimization Questionnaire, na sigla em inglês) e selecionaram-se estudantes para participarem das etapas seguintes do projeto no InsCer. Na Instituição, obtiveram-se amostras de cabelo, para medir o nível de cortisol (hormônio do estresse). Também foram realizados exames de ressonância magnética funcional em uma tarefa que investiga a percepção social: pares de olhos são mostrados durante o exame, e os adolescentes tinham de decidir o estado mental daquela pessoa na foto (feliz, triste e cansada). Os resultados obtidos indicam que:
A adolescência é um período da vida em que se está extremamente suscetível ao meio. O estudo sugere que a violência pode estar afetando a cognição social dos adolescentes. “Cognição social envolve várias sub-habilidades importantes para a convivência, como a empatia. O que o estudo sugere é que as redes neurais que fazem esta percepção social estão menos ativadas nos adolescentes mais expostos à violência”, afirma Buchweitz.
“Não se pode dizer se isso vai ter efeitos futuros, mas estudos mostram que este tipo de funcionamento atípico pode aumentar o risco para transtornos de humor, por exemplo”, complementa o pesquisador.
Gênero, Diversidades e Violências: Lutas e Resistência será o tema 6º Seminário de Defesa e Garantia de Direitos, uma ação do Programa de Assessoramento e Defesa e Garantia da Assistência Social da União Brasileira de Educação e Assistência (UBEA), em parceria com os cursos de Serviço Social e de Pedagogia da Escola de Humanidades, o Comitê ElesPorElas(HeForShe) da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e a Comissão da Mulher Advogada da OAB/RS.
O evento acontece na terça-feira, 20 de março, no auditório térreo do prédio 50 Campus (Av. Ipiranga, 6681 – Porto Alegre). A programação tem início às 13h, com a realização das inscrições no local. Após, serão realizados o lançamento do Comitê de Educação em Direitos Humanos da PUCRS e o Comitê HeforShe, um cine debate mediado pela professora Leunice de Oliveira, da Escola de Humanidades, o lançamento do livro Gênero, sexualidade e sistemas de justiça e segurança pública, com a presença dos organizadores e autores, entre outras atividades. O evento é gratuito e aberto ao público em geral. Confira a programação completa abaixo.
Memória, atenção e emoção são três fatores fundamentais para aprender novos conhecimentos. Crianças com histórico de violência têm essas funções prejudicadas. A conclusão preliminar faz parte do Projeto Viva – Vida e Violência na Adolescência, conduzido pelo Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer), com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “Quando submetido a situações de estresse, o cérebro entra em constante estado de sobrevivência. Se o jovem está sentado na sala de aula preocupado com o que os pais ficam fazendo, se terá comida, se alguém vai pegá-lo, não sobra energia para aprender. Por outro lado, caso se desligue, pode deixar de perceber pistas importantes no ambiente”, explica o professor Augusto Buchweitz, coordenador do estudo.
Dos 70 alunos de escolas públicas investigados, mais de 90% relatam algum tipo de vitimização (presenciaram ou viveram acontecimentos como roubos, maus-tratos e/ou abuso sexual). Vinte deles vieram para outras etapas do estudo no InsCer. A meta é investigar 60 jovens de 10 a 12 anos.
Leia a reportagem completa na Revista PUCRS nº 184.
A primeira edição do curso de especialização Estratégias de Enfrentamento à Violência, promovido pela Escola de Humanidades da PUCRS, está com inscrições abertas até 11 de março. A capacitação alia conhecimentos teóricos a atividades práticas, com a proposta de promover uma reflexão profunda e crítica sobre formas de violência e contextos em que ocorrem, assim como as maneiras de enfrentá-las.
Segundo o coordenador, professor Alexandre Anselmo Guilherme, a violência exige um olhar multidisciplinar, que amplie perspectivas para a sua compreensão e estratégias de enfrentamento. Entre as disciplinas que serão trabalhadas estão temas como Violência Estrutural e Institucional; Violência Étnico, Racial e de Gênero; Violência Escolar; Violência Contra Crianças, Jovens e Adolescentes; Violência Contra a Pessoa Idosa e Violência conta LGBT. O programa conta com diversos seminários, além de oficina para a construção de uma cultura de paz. Também haverá atividades práticas, como visitas institucionais e dinâmicas com representantes de movimentos sociais que atuam na prevenção e enfrentamento à violência.
Patrícia Grossi, que também coordena as atividades, destaca que “a violência se manifesta em diferentes espaços sócio-ocupacionais, exigindo dos profissionais e gestores o desenvolvimento de habilidades técnicas e conhecimentos para o desenvolvimento de ações de prevenção e intervenção”.
A formação é presencial, com duração de 17 meses. Podem participar profissionais da área da saúde, assistência social, educação e interessados que trabalham ou tenham interesse em trabalhar com o tema. As aulas serão ministradas às terças e quartas-feiras, das 19h30min às 21h45min. As inscrições podem ser realizadas no site educon.pucrs.br ou no Centro de Educação Continuada, sala 201 do prédio 40 do Campus (Avenida Ipiranga, 6681 – Porto Alegre). Informações adicionais estão disponíveis no site ou pelo telefone (51) 3320-3727.
O Brasil é o país com as maiores estimativas de maus-tratos contra crianças no mundo. O dado é do estudo The Influence of Geographical and Economic Factors in Estimates of Childhood Abuse and Neglect Using the Childhood Trauma Questionnaire: A Worldwide Meta-Regression Analysis, divulgado na Child Abuse and Neglect, publicação oficial da International Society for the Prevention of Child Abuse and Neglect, vinculada à Organização das Nações Unidas e à Organização Mundial de Saúde (OMS). Foram pesquisados dados de abuso sexual, físico e emocional e negligência física e emocional publicados em cerca de 30 países. “Existe uma relação direta entre o Produto Interno Bruto (PIB) do país analisado e as estimativas de negligência física. Quanto menor o índice econômico, maior a taxa deste tipo de maus-tratos. Apesar do PIB do Brasil não estar entre os mais baixos, o País mostra estimativas muito altas de negligência infantil”, afirma o coordenador do trabalho, professor do Programa de Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança e do Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS Rodrigo Grassi-Oliveira. Segundo o pesquisador, a negligência física é caracterizada por atos de abandono da criança, privando-a de alimentos, vestuário e cuidados com a saúde.
Os malefícios futuros para a saúde das crianças que passam por estes tipos de violência são inúmeros, desde um maior risco para doenças mentais e dependência química até doenças metabólicas como diabetes e obesidade. “É preciso haver uma mudança de valores para a sociedade. Se você investir no cuidado parental hoje, futuramente a preocupação e gastos com estes desfechos será menor“, acredita o pesquisador. Para Grassi, o motivo do péssimo resultado registrado no Brasil está na quase ausência de recursos empregados em programas de prevenção da violência contra a criança, além da cultura mais permissiva, que não acredita na gravidade das consequências geradas pela exposição de crianças a situações adversas. Outro motivo é o fato do território ser muito grande, dificultando o controle de recursos financeiros voltados para o tratamento e prevenção de casos de abuso e negligência infantil. O professor ressalta, também, a ineficácia da máquina pública e privada, o número insuficiente de centros de atendimentos às vítimas de violência e a falta de formação adequada na área.
Para ilustrar os resultados, os pesquisadores fizeram um mapa que mostra as estimativas relatadas pelas populações investigadas em cada país. Usando uma escala de cor que ia do vermelho (altas taxas de abuso e negligência), passando pelo amarelo (estimativas moderadas) até o verde (baixos escores) os autores coloriram cada país de acordo com a estimativa de maus-tratos na infância identificada. Na Suécia, por exemplo, as estimativas são reduzidas, assim como em praticamente todos os países da Europa. Já nos Estados Unidos, a cor é a amarela e no Brasil vermelha. Nos resultados encontrados na China, uma surpresa: as taxas de negligência e abuso relatadas são baixas, apesar da OMS identificar o trabalho infantil e a migração como graves problemas. “Acreditamos que a entrevista utilizada para avaliar maus-tratos possa ter inibido muitas pessoas de identificarem situações adversas ocorridas na infância como formas de abuso ou negligência, em virtude dos aspectos culturais. A escala não avalia trabalho infantil e, mesmo que avaliasse, esse poderia não ser interpretado como uma situação abusiva”, afirma. Grassi acredita que os resultados refletem a questão cultural de cada local: “Tudo depende da forma como cada povo educa e cuida de suas crianças”, ressalta.
O pesquisador já trabalha com projetos sobre vitimização infantil há muitos anos e, futuramente, pretende iniciar um diálogo com órgãos governamentais como a Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude, visando a discussão desses resultados. Também planeja iniciar outro estudo, em âmbito nacional e utilizando outras medidas, para aprofundar esses dados. Segundo Grassi, a recomendação da OMS é que seja promovida a capacitação de pessoas para trabalhar na área, possibilitando que as políticas públicas sejam efetivamente colocadas em prática por profissionais habilitados para isso. Para isso, coordena na PUCRS o curso de especialização à distância Abordagens da Violência Contra Crianças e Adolescentes. “A nossa expectativa é de qualificar profissionais com diversas formações, em especial pessoas que trabalham em Conselhos Tutelares e Centros de Atendimento Psicossocial”, afirma. A primeira turma tem aulas desde abril.
Os pesquisadores tiveram acesso a resultados já publicados em pesquisas que utilizaram o instrumento chamado Childhood Trauma Questionnaire (CTQ), um dos instrumentos mais importantes na avaliação de maus-tratos no mundo. O teste passou por adaptações em vários países, sendo que a versão brasileira foi adaptada por Grassi, podendo ser aplicado em adolescentes e adultos. O CTQ questiona a frequência com que os entrevistados passaram por situações de abuso e negligência até os doze anos de idade. A partir destes dados, o grupo da PUCRS fez a compilação e análise estatísticas dos dados obtidos em todos os países incluídos no estudo.
Violência, infância, juventude e vida cotidiana são temas que sempre atraem a atenção do professor da Escola de Humanidades e coordenador do Centro de Análises Econômicas e Sociais da PUCRS (Caes), Hermílio Santos. E assim, naturalmente, acabam sempre sendo alvo de suas pesquisas. Uma das mais recentes foi realizada em favelas do Rio de Janeiro, Recife e São Paulo, mapeando as experiências de violência no cotidiano de crianças que vivem nestes locais. Os resultados mostraram que elas sofrem violência física e psicológica a partir do primeiro ano de vida, ficando mais intensa entre os 2 e 4 anos de idade. Foi constatado, também, que as mães são as pessoas que mais praticam atos violentos contra os filhos, incluindo grito, castigo e violência física. O estudo foi financiado pela Fundação Bernard van Leer, da Holanda, e gerou um documentário, que está em fase de finalização e deve ser lançado até maio, além de um livro com a síntese e a discussão dos resultados: “A ideia é que o material sirva de subsídio para as pessoas que trabalham com políticas públicas voltadas à infância”, aponta o pesquisador.
As mulheres como autoras de atos violentos são objeto de outro estudo, que está em andamento. Desta vez, o foco sai da imagem feminina como vítima: “Preliminarmente, já conseguimos classificar a motivação dessas mulheres em diferentes tipos. Queremos descobrir o que as leva a praticar violência”, ressalta. O pesquisador entrevistou adolescentes internadas na Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase) e se prepara para entrevistar detentas que estão em regime semiaberto em presídios. Além de conduzir entrevistas narrativas biográficas, o estudo envolve narrativas visuais com imagens captadas pelas próprias entrevistadas: “Com uma câmera em mãos, elas são convidadas a mostrar locais da cidade pelo olhar delas. Muitas quiseram ir até o Gasômetro, por exemplo, mas algumas sequer mostraram o rio. São formas diferentes de ver um mesmo local”, aponta. A pesquisa conta com bolsistas de pós-doutorado, doutorado e de iniciação científica.
O professor coordena também uma pesquisa sobre a construção social de zonas de fronteira, que busca mostrar como se dá, de fato, o estabelecimento da fronteira social entre dois países. O estudo ocorre nas cidades de Uruguaiana (RS), divisa com a Argentina; Cáceres, em Mato Grosso, que faz divisa com a Bolívia; e Brasiléia, no Acre, na fronteira com a Bolívia e Peru. “Estamos entrevistando autoridades e moradores para descobrir os limites e regras estabelecidos socialmente para a delimitação desta linha tão tênue. Afinal, a fronteira é aquela que as pessoas fazem”, afirma. O professor fará dois documentários sobre o assunto: um teórico, com entrevistas gravadas em Buenos Aires, Viena, Tóquio e Nova York, que será apresentado em congressos e terá entrevistas com importantes estudiosos da área, como Thomas Luckmann. Outro, empírico, será utilizado para fins acadêmicos e mostrará a realidade dos comerciantes informais e outros personagens que atuam nas três zonas de fronteira pesquisadas. O material será todo produzido e filmado por Santos, que contará com ajuda apenas para a fase de edição dos filmes. Ele ressalta que, em todas as suas pesquisas, utiliza as teorias do sociólogo austríaco Alfred Schütz, e o método de narrativa biográfica desenvolvido pela socióloga alemã Gabriele Rosenthal.
E o gosto pelos documentários? “Estou adorando me envolver neste universo. Tenho estudado muito para produzir os vídeos. Além dos artigos, são uma maneira didática para apresentar parte dos resultados da pesquisa”, conta. Atualmente o pesquisador dá aulas na graduação e na pós-graduação em ciências sociais. Quanto ao futuro, ele sinaliza um grande desejo: “Quero consolidar o Caes, trazendo mais professores para realizarem novas pesquisas aqui”, finaliza.
O curso de Serviço Social da Escola de Humanidades da PUCRS promove o workshop As Rotas Críticas das Mulheres em situação de violência na busca do acesso aos seus direitos, com a professora e pesquisadora Patricia Grossi. O evento ocorre no dia 16 de março, das 17h30min às 19h, na sala 237 do prédio 15 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 – Porto Alegre). O encontro é aberto ao público e as inscrições são realizadas na hora. Informações complementares pelo telefone (51) 3320-3546. A entrada é franca.
Patricia atua principalmente com temas relacionados a violência de gênero e políticas públicas, violência contra idosos, violência nas escolas, bullying, práticas restaurativas e cultura da paz.
O curso de Serviço Social da Escola de Humanidades da PUCRS promove o workshop As Rotas Críticas das Mulheres em Situação de Violência na Busca do Acesso aos Seus Direitos, com a professora e pesquisadora Patricia Grossi. O evento ocorre no dia 16 de março, das 17h30min às 19h, na sala 237 do prédio 15 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 – Porto Alegre). O encontro é aberto ao público e as inscrições são realizadas na ocasião. Informações adicionais pelo telefone (51) 3320-3546. A entrada é franca.
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), instituição da Organização Mundial da Saúde (ONU), são registrados diariamente no Brasil 129 casos de violência contra crianças e adolescentes. Os dados têm origem no Disque Denúncia 100, serviço gratuito para a população, oferecido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Com o objetivo de capacitar profissionais para identificar e intervir nessas situações de violência, a PUCRS, por meio do curso de Psicologia, criou a primeira especialização da área no Brasil. A pós-graduação lato sensu em Abordagens da Violência Contra Crianças e Adolescentes recebe inscrições até 28 de março, por meio do site www.pucrs.br/educacaocontinuada.
As aulas, na modalidade a distância, começam em abril, e serão ministradas pelos professores e pesquisadores Luisa Habigzang e Rodrigo Grassi-Oliveira, com uma ênfase interdisciplinar. “Existem evidências científicas consistentes que apontam que crescer em um contexto de violência pode gerar importantes prejuízos para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das pessoas e que tais prejuízos podem perdurar por toda a vida”, afirma Luisa. A especialização é voltada a profissionais das áreas de ciências humanas, direito, enfermagem, fisioterapia, medicina, psicologia, educação, serviço social e ciências da saúde. Para participar, é necessário ter curso superior completo e boa proficiência em inglês, visto que o curso terá diversas leituras na língua. O Trabalho de Conclusão de Curso contará com a produção de vídeos educativos sobre a temática.
As atividades serão divididas em três módulos: Fundamentos; Avaliação em Situações de Violência; e Intervenções em Situação de Violência. Por ser um curso no ambiente virtual, os alunos terão uma disciplina chamada Inserção em Educação a Distância, que os adaptará ao aprendizado online.Conceituação da violência contra crianças e adolescentes e também o Impacto da violência no desenvolvimento de crianças e adolescentes estão entre as outras sete disciplinas do curso. Mais detalhes podem ser obtidos no site www.pucrs.br/educacaocontinuada ou pelo telefone (51) 3320-3727.