Atualmente, duas vacinas contra o coronavírus estão sendo aplicadas na população

Até o momento, estão sendo vacinados os trabalhadores da saúde e os idosos com mais de 85 anos / Foto: Bruno Todeschini

Na última semana, a aplicação das vacinas contra o coronavírus no Rio Grande do Sul completou um mês. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúdecerca de 380 mil pessoas já receberam a primeira dose, das quais 14 mil já foram imunizadas com a segunda dose – o que corresponde a 3% do público estimadoAté o momento, estão sendo vacinados os trabalhadores da saúde e os idosos com mais de 85 anos 

Atualmente, duas vacinas contra o coronavírus estão sendo aplicadas na população: a CoronaVac, desenvolvida pela Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan; e a vacina de Oxford/AstraZeneca, que está sendo produzida no Brasil pela Fiocruz. Por se tratar de imunizantes recentes, para uma doença ainda nova, é comum haver dúvidas sobre o tema. Para entender melhor o funcionamento e a diferença entre as vacinas, o professor Marcelo Scottada Escola de Medicina, esclarece alguns pontos. Confira: 

Quais as principais diferenças entre as duas vacinas? 

A CoronaVac é composta por vírus inativados, ou seja, mortos.  

Já a de Oxford/AstraZeneca é composta de um vetor viral, sendo esse um adenovírus não replicante. Como este vetor não é patogênico em humanos, na prática ela funciona como uma vacina de vírus inativado. 

Qual o intervalo recomendado entre uma dose e outra? 

Para a CoronaVac, o intervalo é duas a quatro semanas. 

Para a vacina de Oxford/Astra Zeneca, é de oito a 12 semanas. 

A partir de que momento a pessoa vacinada pode ser considerada imunizada? 

Apesar de 14 dias após a primeira dose já ser possível haver uma redução de risco de infecção e da doença grave, o indivíduo é considerado plenamente imunizado 14 dias após a segunda dose. 

Como essas vacinas se comportam em relação às novas cepas do vírus que estão surgindo? 

Existem suspeitas de uma menor eficácia frente às novas variantes, como alguns dados iniciais indicando que a vacina de Oxford/AstraZeneca seria menos eficiente contra a variante sul-africana. Porém, ainda são dados incipientes.  

Cuidados não devem ser deixados de lado

Apesar de trazer esperança, a chegada das vacinas contra o coronavírus não deve resultar na redução dos cuidados para combater a pandemia, como o uso de máscaras, a higienização das mãos e o distanciamento social. “Essas medidas são as únicas formas de conter o vírus além da vacinação, cuja cobertura ainda está em estágios iniciais”, aponta Scotta. Neste dia 23 de fevereiro, o Rio Grande do Sul vive o pior momento da pandemia, com 11 regiões em bandeira preta no Distanciamento Controlado, considerada a de maior risco epidemiológico. 

Segundo o professor, em virtude da disseminação do vírus e da cobertura vacinal ainda pequena, é improvável que possamos retornar à normalidade neste ano. Porém, esse não deve ser um motivo para se descuidar: “É importante que a pandemia seja controlada o quanto antes, pois o surgimento progressivo de mais variantes aumenta a chance de um escape vacinal, ou seja, de a vacina não funcionar”, conclui. 

PUCRS atuante na vacinação contra o coronavírus 

Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) foi pioneiro no Estado para os testes de eficácia da CoronaVac, junto a 15 centros pelo País e, desde o dia 20 de janeiro, passou a integrar a campanha de vacinação, aplicando doses da vacina em profissionais da saúde. Nove dias depois, o Hospital vacinou a milésima pessoa. Além da imunização gradual dessas equipes que atuam na linha de frente do combate à pandemia, os voluntários e as voluntárias que receberam a dose placebo do estudo também já foram imunizados. 

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PUCRS vai disponibilizar ultrafreezers para armazenamento de vacinas contra a Covid-19

Foto: Marco Favero/Agência RBS

A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (Propesq) da PUCRS está realizando um levantamento da quantidade e das condições dos ultrafreezers existentes na Universidade que estão aptos para armazenar, a -80°C, vacinas contra o coronavírus. A logística, o acesso e estratégias de imunização eficazes e seguras estão sendo amplamente debatidas por autoridades de Saúde das esferas municipal, estadual e federal, que já contataram a instituição.  

Segundo a diretora de Pesquisa, Fernanda Morrone, nas próximas semanas a Propesq deve concluir o levantamento e sinalizar às autoridades e entidades de Saúde detalhes sobre a participação da PUCRS nos processos. Queremos continuar colaborando com essa etapa da vacinação, tão importante para o combate da Covid-19. Desde o início da pandemia nossos pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento têm se empenhado e estão comprometidos com a busca de respostas para diminuir o impacto da doença na sociedade”, ressalta.  

Até o momento foram mapeados equipamentos com capacidades de 333L e 370 Litros. A PUCRS também se une à UFRGS e Unisinos, via Aliança para a Inovação, para em conjunto disponibilizar mais equipamentos. 

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Combate à Covid-19 

PUCRS vai disponibilizar ultrafreezers para armazenamento de vacinas contra a Covid-19

Foto: Marco Favero/Agência RBS

Morrone explica que a PUCRS criou, ainda em março, uma força-tarefa multidisciplinar que conta com mais de 50 pesquisadores e 12 grupos envolvidos na busca de soluções para diferentes questões que envolvem a Covid-19. Atualmente, são mais de 40 projetos em andamento relacionados ao tema desenvolvidos na Universidade e também em colaboração com outras instituições de ensino superior nacionais e internacionais”, destaca. 

O reitor da PUCRS, Ir. Evilázio Teixeira, reforça que a PUCRS está mobilizada para contribuir da melhor maneira neste momento tão importante, assim como fez durante toda a pandemia, em diversas frentes. Estamos trabalhando no levantamento dos ultrafreezers e, em paralelo, seguimos com diferentes iniciativas envolvendo pesquisadores. Desde março a Universidade instituiu uma força-tarefa multidisciplinar e já contribuiu com ações de impacto como a participação nos testes clínicos para o desenvolvimento de uma vacina, o desenvolvimento de testes rápidos e acessíveis para a população e doou mais de 17,5 mil protetores faciais a mais de 130 instituições de todo o País”, ressalta.  

Saiba mais: Força-tarefa multidisciplinar da PUCRS é formada contra a Covid-19 

Foto do Centro de Produção de Radiofármacos tem hot-cell, capela revestida de chumbo, onde é feita a síntese do material radioativo com um composto químico

Foto: Arquivo – Ascom/PUCRS

Em tempos de pandemia, a corrida contra o tempo para um tratamento eficaz contra o novo coronavírus é acompanhada em diferentes partes do mundo. Na PUCRS, dezenas de pesquisadores estão trabalhando em diferentes frentes para a luta, prevenção e controle da Covid-19. Mas, afinal, como ocorre uma pesquisa clínica? O que precisa ser levado em conta para classificar um estudo como seguro e eficaz?

A diretora de pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação e pesquisadora, Fernanda Morrone, explica que uma pesquisa clínica é definida por qualquer investigação em seres humanos, objetivando descobrir ou verificar os efeitos farmacodinâmicos, farmacológicos, clínicos e identificar reações adversas ao produto em investigação com o intuito de averiguar sua segurança e eficácia. Estas análises poderão contribuir para o registro ou a alteração deste junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Fernanda e a farmacêutica Chaiane Zucchetti escreveram sobre o perfil da pesquisa clínica no Brasil e explicam que o processo de desenvolvimento de um novo medicamento se dá pela descoberta de uma substância candidata a fármaco. Envolvendo ensaios robustos, a pesquisa tem o objetivo de testar os compostos moleculares; identificar novos alvos e confirmar da sua atuação na doença através da pesquisa pré-clínica que geralmente é realizada primeiramente in vitro e posteriormente em animais.

Ética em foco

De acordo com as pesquisadoras, de cada 10 mil moléculas analisadas, somente uma transforma-se em medicamento. “Sabe-se que o processo de inovação de fármacos e medicamentos demanda, além de tempo e recursos, centenas de milhões de dólares e em média 10 anos de pesquisa”, afirma Fernanda.

No caso do novo coronavírus, a professora de farmacologia Maria Martha Campos, da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, explica que existem alternativas quanto ao desenvolvimento de fármacos em situações como essa que estamos vivendo. “Há uma modalidade de desenvolvimento que é chamada de ‘accelerated’, onde algumas etapas podem ser avançadas mais rapidamente, quando outra terapia anterior não existe para determinada doença e o risco de morte é iminente”, explica.

O estudo deve ser, obrigatoriamente, realizado de acordo com os princípios éticos que têm origem na Declaração de Helsinque. A declaração estabelece normas éticas para a condução das pesquisas envolvendo seres humanos, baseando-se nos direitos, na segurança e no bem-estar dos mesmos. No Brasil, todos os ensaios clínicos são avaliados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição onde a pesquisa é realizada, além de, se necessário, haver uma segunda avaliação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). A aprovação pela Anvisa, através de sua Gerência de Medicamentos Novos, Pesquisa e Ensaios Clínicos (GEPEC) também se torna necessária para pesquisas com medicamentos e produtos para a saúde que precisam de autorização para importação.

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Foto: Bruno Todeschini/PUCRS

Fases das pesquisas clínicas

O ponto de partida caracteriza-se pela descoberta de uma nova molécula ou seleção de uma molécula já existente, seguido da fase pré-clínica, onde ocorrem testes in vitro e posteriormente in vivo, a fim de verificar se a molécula é segura o suficiente para ser testada em humanos. Com a aprovação dos órgãos regulatórias, a nova substância passa a ser testada em ambiente clínico em três fases de ensaio.

A fase 1 tem como objetivo de verificar a segurança e eficácia, a fase 2 busca avaliar a eficácia e investigar efeitos colaterais e, por fim, na fase 3 busca-se confirmar a eficácia e monitorar reações adversas. Após a última fase, são realizadas novas revisões através dos achados clínicos e pré-clínicos. Somente após essa fase ocorre a comercialização do produto. A fase 4 é caracterizada pela comercialização do produto em investigação e a pesquisa sobre um novo medicamento é mantida mesmo após a aprovação.

Equipe envolvida no processo

A estrutura de um estudo clínico requer uma equipe multidisciplinar, formada por um médico investigador, médicos sub-investigadores, coordenadores do estudo clínico, pacientes, CEPs, patrocinador, órgãos regulatórios do Ministério da Saúde e a indústria farmacêutica ou Organizações Representativas de Pesquisa Clínica, ORPC (em inglês Clinical Research Organizations, CROs).

Na PUCRS, o Centro de Pesquisa Clínica (CPC), localizado no Hospital São Lucas, atua como um dos atores essenciais na condução de pesquisas clínicas. O CPC além de acolher o pesquisador que coordenará e conduzirá a pesquisa, é o elo entre a indústria patrocinadora, os CEPs e CONEP, pois é aquele que fornecerá a estrutura para o pesquisador e é o ponto de referência do sujeito voluntário da pesquisa.

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Foto: Bruno Todeschini

Em busca de soluções para a Covid-19

De acordo com os números mais recentes divulgados pela Conep, órgão ligado ao Ministério da Saúde, a comunidade científica já se mobiliza na realização de pelo menos 76 estudos com seres humanos para entender o comportamento da Covid-19. A maioria deles (21) é de ensaios clínicos de possíveis tratamentos para a infecção. O balanço mostra pesquisas com antibióticos, corticoides, plasma convalescente (de pessoas recuperadas) e até células-tronco mesenquimais.

Para Maria Martha, além da estratégia de pesquisa mais acelerada, ainda há outra possibilidade de estudos clínicos que vem sendo bastante explorada para a Covid-19. É o caso da testagem de fármacos que já estão no mercado para o tratamento de outras doenças (como é o caso da cloroquina) ou que avançaram em diferentes etapas de desenvolvimento para outras doenças virais (como é o caso do Remdesevir), com possibilidades de resultados mais rápidos.

“Esse processo é definido como reposicionamento de fármacos, tendo ampla divulgação. Obviamente, uma indústria farmacêutica pode estar desenvolvendo alguma molécula nova para o tratamento da Covid-19, tendo o direito de proteção de patente e exploração do produto. Entretanto, ela deve garantir que o produto chegue a todos os indivíduos afetados pela doença, garantindo a produção e distribuição do fármaco em larga escala”, explica a pesquisadora.

O compartilhamento de informações também atua como aliado na busca por soluções. De forma interessante, Maria Martha conta que os estudos clínicos para a Covid-19 estão registrados no clinical.trials.gov (EUA), permitindo avaliar os estágios dos diferentes ensaios. As melhores revistas científicas internacionais também publicam periodicamente os dados dos estudos clínicos, como é o caso do New England Journal of Medicine, permitindo à toda a comunidade atualização constante dos avanços no combate ao novo coronavírus. O maior sítio de buscas de literatura médica, o PubMed, também está disponibilizando um link direto para as atualizações.

 

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A farmácia fica localizada no Prédio 12
Foto: Camila Cunha

Os alunos do curso de Farmácia estão adquirindo conhecimento por meio dos acompanhamentos da aplicação de um novo serviço de imunização na Farmácia Universitária da PUCRS, uma parceria com a rede Panvel. Situada no Prédio 12, a farmácia está realizando a prevenção de diferentes doenças para o público em geral. Entre as vacinas disponíveis estão HPV, Febre Amarela, Herpes Zoster, Pneumonia, Febre Tifoide, Rotavirus, Hepatites (A, B e AB) e Meningites (B, C, ACWY).

De acordo com a coordenadora da Farmácia Universitária, Temis Corte, os estudantes estão exercitando os cuidados com a farmacovigilância – ciência e atividades relativas à identificação, avaliação, compreensão e prevenção de efeitos adversos ou quaisquer problemas relacionados ao uso de medicamentos. “No próximo semestre, os estudantes irão aplicar o que aprenderam nessa atividade na disciplina de Atenção Farmacêutica e Farmácia Clinica”, enfatiza.

As vacinas são aplicadas nas salas do Panvel Clinic, programa da rede que tem por objetivo mudar o papel da farmácia na cadeia de saúde, passando a ser provedora de serviços de atendimento farmacêutico a fim de auxiliar na eficácia dos tratamentos médicos bem como um agente de prevenção.

Para oferecer o serviço de aplicação, a farmácia foi adequada aos vários requisitos técnicos exigidos pelos órgãos de vigilância. Todos os farmacêuticos que fazem o atendimento já realizaram curso de capacitação com 40 horas de treinamento.

Horários de atendimento

A Farmácia Universitária funciona de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 22h, e aos sábados das 8h às 13h. Não abre em domingos e feriados.

Sobre a Farmácia Universitária

Numa parceria entre a Universidade e a rede Panvel, a Farmácia Universitária da PUCRS conta com ambientes de estudo e experimentação para os alunos do curso de Farmácia da Escola de Ciências da Saúde. Além da drogaria, o local possui um laboratório de manipulação e dos consultórios.

Um dos destaques é sala espelhada, utilizada para simular atendimentos ao público. Essa tecnologia permite ao professor acompanhar, analisar e intervir no desempenho do aluno, ao mesmo tempo em que dá autonomia ao estudante para exercitar as práticas laborais.