Quanto mais relações sociais presenciais uma pessoa mantém, maiores são as chances de ter uma vida longa e saudável. A psicóloga canadense Susan Pinker, por meio da sua mais recente obra, The Village Effect (O efeito vilarejo, em tradução livre), demonstra que essa pode ser a melhor receita para longevidade, superando exercícios físicos e demais cuidados com a saúde. E as mulheres levam vantagem sobre os homens nesse aspecto. Sua apresentação ocorreu na noite de 4 de dezembro, no Salão de Atos da UFRGS, marcando o encerramento da temporada 2017 do ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento em coerência com tema central deste ano: Civilização – a sociedade e seus valores. O evento tem o apoio cultural da PUCRS.
A coesão social é vista como um fator altamente influenciador para estender o tempo de vida de homens e mulheres no ponto de vista de Susan Pinker. Não se trada da coesão aparente de grandes cidades, das metrópoles excessivamente povoadas, mas, sim, de localidades como Villagrande, comunidade situada na ilha da Sardenha, na Itália. Lá, vive uma das maiores proporções de centenários por habitantes da Europa. A pesquisadora os chama de “supercentenários”. Além da tranquilidade, um fator importante são os relacionamentos estabelecidos entre vizinhos e familiares que habitam prédios próximos uns dos outros. “Hoje em dia, o isolamento social é um dos principais problemas enfrentados”, alerta Susan. “Pessoas que têm poucas referências em quem se apoiar não são longevas”, afirma.
Durante o trabalho desenvolvido no vilarejo italiano, que inspirou o título de seu livro lançado em 2014, ainda sem tradução para o português, a psicóloga entrevistou homens e mulheres com 100 anos ou mais, muito lúcidos. Os testemunhos de seus filhos (muitos deles septuagenários e octogenários) revelam sentimento de orgulho e privilégio por terem de cuidar dos genitores. Questionados sobre se aquilo não era um fardo, disseram a Susan que “não somos como vocês, ocidentais”. A pesquisadora também detectou o que chama de “hostilidade silenciosa entre os filhos de centenários” ao relatar a desconfiança destes à presença de estranhos na localidade.
Entre os fatores-chave para a longevidade, Susan expôs um quadro hierárquico com dez itens. O ar puro e a prática de atividades físicas constavam entre as últimas posições. Já no topo da lista constavam relações próximas e interação social. “Muito mais que exercícios para o corpo, os aspectos principais para a longevidade estão na vida social”, sustenta. Numa comparação com os relacionamentos estabelecidos a distância, como nas mídias sociais, ela afirma que há grande diferença. “Confundimos interação on-line com o contato social. São completamente diferentes. Estudos recentes mostram isso”, destaca. Ela exemplificou citando uma pesquisa na qual foram estudados os cérebros de dois indivíduos para saber a diferença de uma “interação social verdadeira” de outra por meios digitais. O resultado apontou que quem interage presencialmente tem outras áreas do cérebro despertadas, como as relacionadas à afetividade. “O sentimento de pertencimento proporcionado pelo contato social é fundamental à nossa sobrevivência”, argumenta Susan.
Indo além, a professora destaca que “faltam sinais de honestidade quando nos comunicamos on-line, pois não temos como ver ou mostrar nossas reações, gestos, e tudo influencia nessa interação”, afirma. Sincronia, gestualidade, influência e consistência, juntos, são considerados fortes indicadores de confiança mútua. “Somos criaturas sociais, suscetíveis à influência dos outros”, define. As relações presenciais precisam ser renovadas com um intervalo máximo de 18 meses, defende Susan, “senão elas enfraquecem”.
Logo no início da explanação, a psicóloga fez uma provocação à plateia, indagando se todos sabiam o motivo de as mulheres viverem mais em relação aos homens. Na sua conclusão, isso se deve ao fato de as mulheres terem mais redes sociais e por mantê-las por longo espaço de tempo, o que as permite criar um campo de proteção a partir dos laços estabelecidos com amigas, colegas, vizinhas, por exemplo. Ela lembra que predominantemente as mães e as avós as responsáveis por organizar festividades em família, cumprindo um papel agregador. Quando elas morrem, isso se perde. E acrescenta que “o poder do contato social mostra que mulheres com câncer de mama têm quatro vezes mais chances de sobreviver à doença do que aquelas sem uma rede de relacionamentos fortalecida”.
Ao finalizar a conferência, fez uma recomendação: “construa seus vilarejos, isso ajuda a ter uma vida feliz saudável”.
A temporada 2017 do Fronteiras do Pensamento teve como tema Civilização – a sociedade e seus valores. Com parceria cultural da PUCRS, o evento trouxe a Porto Alegre conferencistas internacionalmente reconhecidos para abordar a busca por reconstrução, consciência e resgate de valores. Confira abaixo a cobertura realizada pela equipe de conteúdo da Assessoria de Comunicação e Marketing.
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