Doutor pela PUCRS vence Prêmio Tiradentes da Capes de melhor tese

Foto: Arquivo pessoal/Rodolfo Favaretto

E se fosse possível descrever diferentes grupos de pessoas a partir de modelos computacionais? Essa é a proposta da tese de Rodolfo Migon Favaretto, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação (PPGCC) da Escola Politécnica da PUCRS. A pesquisa Emotion, personality and cultural aspects in crowds: towards a geometrical mind, foi uma das vencedoras do Prêmio Tiradentes de Dissertações e Teses em Defesa Nacional, promovido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). 

A cerimônia de entrega dos prêmios aconteceu em Brasília, no dia 16 de dezembro, no Salão Nobre do Ministério da Defesa. Fiquei muito feliz e surpreso com a notícia. Foi um momento especial, principalmente porque a minha pesquisa foi a única desenvolvida por um civil entre as três teses premiadas, e não em uma universidade da esfera militar”, destaca Favaretto. 

Como analisar características pessoais e culturais das multidões 

O objetivo da tese foi discutir diferentes maneiras de caracterizar indivíduos e grupos em multidões, propondo um modelo computacional para interpretar vídeos de pedestres, com técnicas de visão computacional. A principal hipótese é de que pedestres se comportam de acordo com suas características intrínsecas internas, como personalidade, emoção e aspectos culturais, que podem ser observadas em termos de comportamentos físicos e geométricos. 

Doutor pela PUCRS vence Prêmio Tiradentes da Capes de melhor tese

Foto: Arquivo pessoal/Rodolfo Favaretto

O trabalho busca descrever o comportamento das pessoas com o modelo Big Four-GeometricalDimensions (Big4GD), que leva em consideração quatro grandes dimensões de características geométricas: física, pessoal e emocional, social e cultural. Para isso foi desenvolvido um software chamado GeoMind. 

Dessa forma é possível utilizar o software para extrair dados significativos sobre o que está acontecendo, em particular, dados geométricos, características, personalidades e emoções de cada pessoa. A análise dessas informações possibilita a detecção e, em alguns casos, a antecipação de eventos na multidão. 

Próximos passos da pesquisa 

Aproveitando a motivação proporcionada pelo recebimento do prêmio, o pesquisador conta que pretende dar continuidade à pesquisa, que foi orientada pela professora Soraia Raupp Musse, do PPGCC, e contou com a colaboração do professor Ângelo Brandelli, do PPG em Psicologia da Escola de Humanidades. Um caminho é trabalhar com as possíveis aplicações do modelo proposto na tese e também adicionar novas funcionalidades ao Software GeoMind”, explica. 

Esse não é o primeiro reconhecimento do pesquisador, que também venceu como melhor tese no Concurso de Teses e Dissertações do Brazilian Symposium on Games and Digital Entertainment da Sociedade Brasileira de Computação, também em 2020. Além disso, já publicou vários artigos e um livro internacional com a editora científica Springer-Verlag.

Capes de Tese Liberdade de ensinar no Brasil e fundamentos do Serviço Social na América Latina e no Caribe foram os temas dos trabalhos de doutorado da PUCRS destacados no Prêmio Capes de Tese 2017. A primeira pesquisa, desenvolvida por Amanda Thomé Travincas, no Programa de Pós-Graduação em Direito, foi orientada pelo professor Ingo Sarlet. A segunda, de Mariléia Goin, defendida no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, teve orientação da professora Jane Cruz Prates.

O Prêmio Capes de Tese é concedido para as melhores teses de doutorado aprovadas nos cursos de pós-graduação reconhecidos no Sistema Nacional de Pós-Graduação em cada umas das 49 áreas do conhecimento. Além disso, duas teses em cada uma das áreas são agraciadas com Menção Honrosa.

 

Movimento Escola sem Partido x liberdade do professor

Amanda Thomé Travincas

Amanda Thomé  Foto: Arquivo Pessoal

A tese A tutela jurídica da liberdade acadêmica no Brasil: a liberdade de ensinar e seus limites surgiu no momento em que cresce no País o movimento Escola sem Partido. Tramita no Congresso Nacional um projeto de lei buscando neutralizar os espaços de ensino, o que limitaria a atuação do professor. Amanda defende que, quanto ao conteúdo, deve haver liberdade, exceto em casos de violação dos direitos de terceiros, como ofensas à honra. As restrições nos métodos, na sua avaliação, somente se justificam caso se mostrem insuficientes para o aprendizado dos estudantes.

Nos EUA, a política protetiva contra atos terroristas e ideias subversivas, pós-11 de setembro de 2001, acabou afetando a atuação nas universidades. Isso também se refletiu na Inglaterra e em outros países europeus. No Brasil, os focos principais são as questões de cunho político-partidário e religioso e as ligadas a gênero.

Para Amanda, a liberdade das universidades é uma condição para que se concretize o princípio democrático. Envolve o direito do professor de tomar decisões relativas à gestão da sala de aula, como distribuição da carga horária das disciplinas, ordem dos temas previstos nos planos e currículos e indicações bibliográficas. Quanto a temas polêmicos, a autora defende que o docente deve enfrentá-los e emitir suas preferências, sem que isso se configure em doutrinação. “Contudo, é uma afetação desproporcional à liberdade de aprender dos alunos que o professor suprima o ensino de modelos explicativos com os quais não concorde”, pondera.

Amanda leciona na Unidade de Ensino Dom Bosco, em São Luís, no Maranhão. Fez o mestrado e o doutorado na PUCRS.

 

Serviço Social no Brasil, no Chile e em Cuba

Prêmio Capes de Tese 2017 - Mariléia Goin

Mariléia Goin
Foto: Arquivo pessoal

Mariléia atribui o reconhecimento da Capes ao seu objeto de pesquisa: a necessidade de discutir o Serviço Social e a articulação latino-americana. “Essa área tem poucos estudos, pois a maioria das teses e dissertações de 15 anos para cá enfoca as políticas sociais”, avalia ela, que é professora da Universidade de Brasília. Durante o doutorado, morava em São Borja e precisava percorrer 600 quilômetros semanalmente para vir à PUCRS.

O seu trabalho compara a atuação profissional no Brasil, no Chile e em Cuba. O estudo se dá no período pós-1960, quando um movimento trouxe novos objetivos para o Serviço Social na América Latina, antes com influência moral e religiosa, além de técnicas e conceitos inspirados nos EUA. Um dos protagonistas dessa mudança foi o professor da PUCRS Seno Cornely.

Apesar de ter sido o primeiro país a constituir escolas de Serviço Social na América Latina, a partir de 1925, o Chile sofreu o impacto da ditadura e da adoção do neoliberalismo, analisa a autora. Ainda em 2015 estava reabrindo cursos superiores fechados no regime militar. “Não há um direcionamento teórico, um objeto que dá a razão de ser e existir da profissão no país.”

O Brasil se destaca na América Latina pela organização política da área nos âmbitos da formação e do trabalho profissional e estudantil. A questão social, englobando as contradições entre capital e trabalho, está no centro da atuação. Segundo Mariléia, o País lidera a retomada da articulação na região.

Cuba vive uma realidade peculiar. Socialista, não forma assistentes sociais. Há apenas técnicos em Trabalho Social que atuam no fortalecimento do trabalho comunitário, além de sociólogos que se habilitam ao trabalho social no final da graduação. O governo cubano acredita que a responsabilidade por essa atividade é de toda a sociedade e não de uma única profissão. Um grupo brasileiro assessora o país na criação de cursos de Serviço Social em nível superior. Mariléia acredita que a formação universitária seria um subsídio para fortalecer as conquistas da Revolução Cubana em campos como saúde e educação.

Menção honrosa

Mateus Panizzon, do Programa de Pós-Graduação em Administração PUCRS/UCS, recebeu Menção Honrosa pelo trabalho A influência da capacidade de aprendizado, da criatividade organizacional, da orientação empreendedora internacional, da capacidade tecnológica e da capacidade de reconfiguração na habilidade em desenvolvimento de novos produtos. O estudo foi orientado por Gabriel Sperandio Milan, coorientado por Eric Charles Henri Dorion.

 

Grande Prêmio

A entrega do prêmio ocorrerá na sede da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em Brasília, no dia 7 de dezembro, quando será divulgado o resultado do Grande Prêmio Capes de Tese – Edição 2017.

Prêmio Capes de Tese 2017 Dois alunos da PUCRS conquistaram o Prêmio Capes de Tese 2017. Amanda Costa Travincas, do Programa de Pós-Graduação em Direito, foi reconhecida pelo trabalho A tutela jurídica da liberdade acadêmica no Brasil: a liberdade de ensinar e seus limites, orientado pelo professor Ingo W. Sarlet; e Mariléia Goin, do Programa de Pós-Graduação Serviço Social, orientada pela professora Jane Cruz Prates, foi agraciada pelo estudo Fundamentos do serviço social na América Latina e no Caribe: Os diferentes caminhos do Brasil, do Chile e de Cuba. O aluno Mateus Panizzon, do Programa de Pós-Graduação Administração PUCRS/UCS, recebeu Menção Honrosa pelo trabalho A influência da capacidade de aprendizado, da criatividade organizacional, da orientação empreendedora internacional, da capacidade tecnológica e da capacidade de reconfiguração na habilidade em desenvolvimento de novos produtos. O estudo foi orientado por Gabriel Sperandio Milan e coorientado por Eric Charles Henri Dorion.

A entrega do prêmio ocorrerá na sede da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em Brasília, no dia 7 de dezembro de 2017. O Prêmio Capes de Tese é concedido para as melhores teses de doutorado aprovadas nos cursos de pós-graduação reconhecidos no Sistema Nacional de Pós-Graduação em cada umas das 49 áreas do conhecimento. Além disso, duas teses em cada uma das áreas são agraciadas com Menção Honrosa.

Foto: Arquivo Pessoal

Foto: Arquivo Pessoal

Rosângela Florczak, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS (PPGCom Famecos), conquistou o Prêmio da Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas (Abrapcorp) de Teses e Dissertações. Com o tema Dimensões possíveis do diálogo na comunicação estratégica – tessituras e religações entre o relatório de sustentabilidade e as mídias sociais da Vale, o trabalho, orientado pela professora Cleusa Scroferneker, foi reconhecido como Tese Destaque. A premiação foi entregue no dia 17 de maio, dentro da programação do 11º Congresso Nacional da Abrapcorp, ocorrido na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Professora e consultora em comunicação, Rosângela obteve o título de doutora em dezembro de 2016. Em sua tese, tratou das dimensões do diálogo no contexto da comunicação estratégica. “Minha preocupação foi revisitar o conceito de comunicação no contexto das organizações, esclarecer o que, a partir dos teóricos que trouxe para o trabalho, pode ser chamado ou não de comunicação”, relata. A docente acrescenta que na etapa empírica de sua pesquisa buscou “encontrar o que as organizações entendem por diálogo e expressam em seus relatórios de sustentabilidade e como o praticam no espaço das mídias sociais, evidenciando as dimensões encontradas hoje e propondo novas”.

Sobre o prêmio, Rosângela afirma ter sido “uma grande alegria ter ficado entre os três finalistas na primeira avaliação feita pela Abrapcorp, pela seriedade da Associação e importância dos professores e pesquisadores a ela ligados”. Na banca, durante o Congresso, ela defendeu o trabalho com uma plateia formada pelas principais referências bibliográficas de sua pesquisa. “O resultado foi maravilhoso. Comemorei muito. O que tornou o momento ainda mais especial foi estar junto de colegas pesquisadores que torceram por mim e da minha orientadora, professora Cleusa Scroferneker”, comemora.

Prêmio Abrapcorp

O Prêmio Abrapcorp de Teses e Dissertações tem como principais objetivos: fomentar a produção científica de qualidade na área de Comunicação Organizacional e Relações Públicas no âmbito dos programas de pós-graduação em Comunicação do Brasil; dar visibilidade à produção, incentivar o desenvolvimento de redes de pesquisa; e potencializar a circulação do conhecimento na área.

Esse foi o segundo ano consecutivo em que uma tese de doutorado defendida no PPGCom Famecos foi vencedora na Abrapcorp. Em maio de 2016, o trabalho contemplado foi da jornalista Lidiane Amorim, atual assessora de Comunicação e Marketing da Universidade.

Prêmio Abrapcorp - Lidiane Ramirez de Amorim

Lidiane Ramirez de Amorim, Cleusa Maria Andrade Scroferneker e Joanicy Maria Brito Gonçalves de Sousa
Foto: Divulgação

A tese defendida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da PUCRS Em busca de uma cartografia dos (não/entre) lugares da comunicação em multinacionais, de Lidiane Ramirez de Amorim, recebeu o Prêmio de Melhor Tese da Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas (Abrapcorp). A premiação ocorreu no dia 19 de maio, durante a 10ª edição do evento da entidade, no auditório da Universidade Anhembi Morumbi, na Vila Olímpia, em São Paulo. A orientação do trabalho foi da professora Cleusa Scroferneker.

O Prêmio Abrapcorp de Teses e Dissertações foi criado em 2014, e busca fomentar a produção científica de qualidade na área de Comunicação Organizacional e Relações Públicas no âmbito dos programas de pós-graduação em Comunicação do Brasil. A avaliação envolve dois momentos: o documento escrito e a apresentação oral. São constituídas Bancas de Avaliação composta com três pesquisadores doutores vinculados a Programas de Pós-Graduação.

Tese mostra como egressos da escravidão percebem sua situação na TV

Tese mostra como egressos da escravidão percebem sua situação na TV
Foto: Arquivo pessoal

Pelo menos 40% dos casos de trabalho escravo no Brasil são maranhenses. O município de Açailândia concentra o maior número de pessoas nessa situação. O local foi alvo de pesquisa para a tese da jornalista Flávia de Almeida Moura, professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que participou do projeto de Doutorado Interinstitucional (Dinter) com a PUCRS. O trabalho, realizado em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, foi concluído em três anos por ter um estudo de campo avançado. Analisa como trabalhadores rurais egressos da escravidão se apropriam das representações do escravo na mídia utilizando o telejornalismo como recorte.

A proposta da tese de Flávia, orientada pela professora Juliana Tonin, foi entender como os egressos percebem a sua presença na mídia, por meio da seleção de sete reportagens exibidas na Globo, Record, SBT e Bandeirantes, entre 2009 e 2013. O exercício foi mudar o lugar de fala desses trabalhadores, colocando-os na posição de produtores das notícias.

O cuidado ético para não identificação foi o principal contribuinte para conseguir depoimentos tão ricos. “As visitas tiveram o apoio do Centro de Defesa, porque é um local de grande conflito de terras, com capangas, jagunços. Eles precisavam acreditar que eu era uma pesquisadora”. Para Flávia o maior ganho foi esse contato e poder repensar a produção midiática na construção do imaginário pessoal. “Temos de lembrar que não são personagens nas nossas matérias, são pessoas”.

De acordo com o relatório Perfil dos principais atores envolvidos no trabalho escravo rural no Brasil, publicado em 2011, pela Organização Internacional do Trabalho, quem foi submetido a essas condições no País, nos últimos anos, são predominantemente homens adultos, negros e com idade média de 31,4 anos. Ainda, pelo menos 79% já tinham ouvido falar sobre o tema na mídia, sendo que, pelo menos 44% por meio de TV e 35% pelo rádio.
A pesquisadora escolheu entrevistar produtores de carvão, trabalhadores de fazendas de gado, de monocultura da soja e de plantações de eucalipto. Em geral, filhos ou netos de produtores rurais que foram expulsos dos locais de origem por conta dos processos históricos. Em comum, eles têm a falta de escolaridade e qualificação profissional que agravam sua situação. Em período de intenso trabalho rural, recebiam as informações da mídia de forma indireta, através de parentes ou amigos.

Quando questionados, se se viam como escravos, a resposta inicial é negativa. A primeira ideia está ligada ao imaginário sobre escravidão no período do Brasil colonial. “A gente não vive acorrentado nessa escravidão atual, mas é pior que o escravo negro dos tempos antigo…”, relata um dos entrevistados.

A maioria demonstrou entender os mecanismos de subjugação, alegando fazer parte desse contexto por necessidade e não por falta de informação ou por ter sido enganada. A humilhação e o medo são fatores subjetivos encontrados nas suas falas. Fatores que vão além da falta de infraestrutura ou ainda da ausência de pagamentos de salários.

“Surpreendente foi notar que as condições físicas foram menos importantes que a subjugação”, conta Flávia. Os trabalhadores lembram que o conjunto de situações que levam a situação de trabalho escravo não é citado nas reportagens. “Para ele, as condições sub-humanas como espaço, higiene, moradia, são menos importantes do que a questão da dignidade e da honra”, enfatiza. A pesquisadora evidenciou que a violência simbólica, não caracterizada nas passagens televisivas, é destacada. “A coerção pelo gerente da fazenda, a figura do aliciador que usa da sua força são passagens pouco lembradas e só mesmo pessoas que passam por isso para abrir nossos olhos”, explica.
Leia mais na página 16 da Revista PUCRS nº 177 (novembro-dezembro/2015)