Durante os primeiros meses do ano, é comum que estudantes tentem aproveitar ao máximo o tempo de lazer antes do ano letivo começar. De folga da rotina escolar, eles acabam passando mais tempo acordados e virando a noite para assistir a filmes ou jogar videogame, por exemplo. No entanto, manter uma rotina de sono nas férias é importante e traz benefícios não apenas para crianças e adolescentes, mas também para os pais.
É preciso ficar alerta: segundo especialistas, a falta de uma rotina regular de sono pode atrapalhar o desenvolvimento dos estudantes. Segundo Magda Nunes, médica neurologista infantil do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (Inscer) e professora da Escola de Medicina da PUCRS, o sono é um ciclo biológico que funciona num padrão de 24 horas e o ideal é seguir esse padrão para evitar alterações no nosso organismo.
“Como não temos os marcadores de levantar, ir à escola e fazer as atividades, as crianças e os adolescentes acabam dormindo mais tarde e também acordando mais tarde. Então o que se recomenda é que, pelo menos uma ou duas semanas antes do final das férias, já se comece a tentar voltar ao normal, ao ritmo de sono e horários de acordar e de dormir durante a semana.”
Além de um mau desenvolvimento, um sono irregular pode causar alterações nas funções do organismo, o que pode acarretar um mau funcionamento de hormônios relacionados a questões metabólicas, como o hormônio da fome e o da saciedade. Uma má qualidade do sono também pode levar a sintomas perceptíveis em crianças e adolescentes, como alterações de humor, irritabilidade e desatenção.
Para estabelecer e manter uma boa rotina de sono, é importante seguir alguns passos. De acordo com Magda, a chamada “higiene do sono” começa já na alimentação. “O ideal é evitar alimentos gordurosos e muito pesados durante a noite. Também é importante evitar bebidas com cafeína, como alguns chás, achocolatados e refrigerantes.”
Além da alimentação, é importante começar a preparar o ambiente para o descanso após o jantar, diminuindo as luzes e ruídos externos. Fatores como um quarto limpo, arejado, em uma boa temperatura – nem frio demais nem quente demais, e uma cama bem-organizada também fazem parte desse processo. Para crianças e especialmente adolescentes, o uso das telas acaba sendo o grande “vilão” de uma noite mal dormida.
“Quando falamos de telas, falamos de celular, televisão e computador. O recomendado é que, para crianças pequenas, esse uso de telas seja limitado durante o dia e que, durante a noite, os pequenos fiquem no mínimo duas horas longe das telas antes da hora de ir para a cama. Já para adolescentes, esse período tem que ser pelo menos de meia hora antes do horário do sono”, finaliza a professora.
Além de estabelecer a rotina também nas férias, pais e responsáveis precisam estar atentos ao tempo de sono de cada criança e adolescente. A recomendação da Cartilha da Semana do Sono 2020, que segue as orientações da organização internacional National Sleep Foundation, varia conforme a idade. Para os mais novos, entre 3 e 5 anos, o recomendado é de 10 a 13 horas de sono. Dos 6 aos 13 anos, a média já diminui – a indicação é de 9 a 11 horas de sono. Para os adolescentes entre 14 e 17 anos, a orientação é dormir entre 8 e 10 horas.
Durante os primeiros meses do ano, é comum que estudantes tentem aproveitar ao máximo o tempo de lazer antes do ano letivo começar. Ficando fora da rotina escolar, eles acabam passando mais tempo acordados e virando a noite para assistir filmes ou jogar videogame, por exemplo. No entanto, manter uma rotina de sono nas férias traz benefícios não apenas para crianças e adolescentes, mas também para os pais.
É preciso ficar alerta: para especialistas, a falta de uma rotina regular de sono pode atrapalhar o desenvolvimento dos estudantes. Segundo a médica neurologista infantil do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (Inscer) e professora da Escola de Medicina da PUCRS Magda Nunes, o sono é um ciclo biológico que funciona num padrão de 24 horas e o ideal é seguir dentro desse padrão para evitar alterações no nosso organismo.
“Como a gente não tem aqueles marcadores de levantar, ir à escola e fazer as atividades, as crianças e os adolescentes acabam dormindo mais tarde e também acordando mais tarde. Então o que se recomenda é que, pelo menos uma ou duas semanas antes do final das férias, já se comece a tentar voltar ao normal, ao ritmo de sono e horários de acordar e de dormir durante a semana.”
Além de um mau desenvolvimento, a falta de sono regular pode causar alterações nas funções de organismo, o que pode acarretar um mau funcionamento de hormônios relacionados a questões metabólicas, como o hormônio da fome e o da saciedade. Uma má qualidade do sono também pode levar a sintomas perceptíveis em crianças e adolescentes, como alterações de humor, irritabilidade e desatenção.
Para estabelecer e manter uma boa rotina de sono, é importante seguir alguns passos. Para Magda, a chamada “higiene do sono” começa já na alimentação. “O ideal é evitar alimentos gordurosos e muito pesados durante a noite. Também é importante evitar bebidas com cafeína, como alguns chás, achocolatados e refrigerantes.”
Além da alimentação, é importante começar a preparar o ambiente para o descanso após o jantar, diminuindo as luzes e ruídos externos. Fatores como um quarto limpo, arejado, em uma boa temperatura – nem frio demais nem quente demais, e uma cama bem-organizada também fazem parte desse processo de higiene. Para crianças e especialmente adolescentes, o uso das telas acaba sendo o grande “vilão” de uma noite mal dormida.
“Quando falamos de telas, falamos de celular, televisão e computador. O recomendado é que para crianças pequenas esse uso de telas seja limitado durante o dia e que, durante a noite, os pequenos fiquem no mínimo duas horas longe das telas antes da hora de ir para a cama. Já para adolescentes, esse período tem que ser pelo menos de meia hora antes do horário do sono”, finaliza a professora.
Além de estabelecer a rotina também nas férias, pais e responsáveis precisam estar atentos ao tempo de sono de cada criança e adolescente. A recomendação da Cartilha da Semana do Sono 2020, que segue as orientações da organização internacional National Sleep Foundation, varia conforme a idade.
Para os mais novos, entre 3 e 5 anos, o recomendado é de 10 a 13 horas de sono. Dos 6 aos 13 anos, a média já diminui – a indicação é de 9 a 11 horas de sono. Para os adolescentes entre 14 e 17 anos, a orientação é dormir entre 8 e 10 horas.
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Dificuldades para dormir têm afetado boa parte da população durante a pandemia provocada pela Covid-19. Entre os adultos, 70% tiveram alterações para iniciar ou manter o sono. Esse é o resultado apontado pela primeira etapa da pesquisa Como está o seu sono nessa quarentena?, realizada pelo Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer).
O estudo destacou que nos adultos as alterações no sono estão principalmente relacionadas às mudanças na rotina dos filhos e preocupações emocionais como ansiedade e medo. Os dados apontaram alterações no sono de 58,6% das crianças de 0 a 3 anos, 27,7% das crianças de 4 a 12 anos e 56,6% dos adolescentes. De acordo com a pesquisa, pais que têm filhos nessas faixas etárias tiveram aumento nas chances de desenvolverem problemas no sono.
“Comparando com dados anteriores, durante a pandemia os problemas para dormir duplicaram entre adultos e adolescentes. Nas crianças de 0 a 3 anos, as dificuldades triplicaram”, afirma a coordenadora da pesquisa e vice-diretora do InsCer, Magda Lahorgue Nunes.
Em relação à dificuldade para dormir, Magda destaca que as mudanças na rotina podem ser um dos causadores. “Queixas de insônia estão sendo muito frequentes durante a quarentena. Isso certamente é decorrente de quebras nas rotinas, da falta de necessidade de cumprir horários, além do relaxamento nos aspectos de higiene do sono, como variações no horário de dormir e de acordar e o uso excessivo de telas”, afirma.
Para manter a saúde do sono, apesar de todas as mudanças e das preocupações causadas pela pandemia, é importante tentar seguir uma rotina. “Ter um horário para dormir e acordar, evitar o uso de telas pelo menos 30 minutos antes de dormir, não fazer uso excessivo de álcool, optar por refeições leves à noite e evitar bebidas com cafeína podem ajudar”, sugere Magda.
A primeira etapa do estudo teve dados coletados entre abril e junho de 2020. Com a extensão do contexto de pandemia, foi adicionada uma segunda etapa do estudo para entender o comportamento do sono da população após mais de um ano de quarentena.
A segunda etapa da pesquisa está aberta a todos, independente da participação na primeira fase. Para participar basta responder um questionário online, disponível até o dia 30 de junho. Nesta segunda fase, foram adicionadas questões referentes à depressão e à violência doméstica.
Os impactos da pandemia na saúde não são restritos aos contaminados pela Covid-19. O isolamento social e o medo de perder alguém para o vírus são agravados pelas incertezas relacionadas à renda e, também, pelo desemprego.
Por isso, diversas pesquisas estão sendo realizadas para avaliar os impactos da pandemia na saúde pública. Uma delas é a denominada Estresse, trauma e percepção de risco durante e após a pandemia, coordenada pelo pesquisador do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer), Rodrigo Grassi de Oliveira. O estudo contou com 17 mil pessoas, as quais responderam questionários anônimos que visam mapear e monitorar a população brasileira durante e após a pandemia de Covid-19. Para participar da pesquisa, clique aqui.
A insônia subjetiva é um problema frequente: cerca de 20% a 40% das pessoas se queixa de falta de sono ou dorme mal. Esse mal foi agravado durante a pandemia. Por esse motivo, o programa de Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança, da Escola de Medicina Como está o seu sono nessa quarentena?. Apesar de já ter resultados preliminares, o estudo continuará até o final do período de quarentena. As informações foram coletadas a partir da sétima semana de quarentena, com enfoque no Rio Grande do Sul e demostram uma piora na qualidade do sono em crianças de 0 a 3 anos.
Para conhecer melhor as pesquisas e verificar demais resultados preliminares, leia a matéria completa na Revista PUCRS (páginas 42 e 43).
Você está com sono, se arruma para descansar, mas não consegue dormir ou acaba acordando várias vezes durante a noite. Essa é a realidade de muitas pessoas durante a pandemia e que tem atingido grande parte das crianças. É o que mostra a pesquisa Como está o seu sono nessa quarentena?, que investiga os impactos do confinamento domiciliar no sono de adultos e de seus filhos. O estudo, realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança da Escola de Medicina da PUCRS, deve seguir até o final do período de quarentena causado pela Covid-19.
Segundo a professora responsável pelo estudo, Magda Lahorgue Nunes, pesquisadora do Instituto do Cérebro da PUCRS (InsCer) e do PPG, esses problemas na hora de dormir estão relacionados às mudanças na rotina das crianças e dos adolescentes. “Algumas acabam dormindo mais tarde, outras não estão acostumadas a ficar tanto tempo em casa. É uma dinâmica nova para todo mundo”, explica.
As informações foram coletadas a partir da sétima semana da quarentena, com foco no Rio Grande do Sul. “Houve aumento da prevalência em ambas faixas analisadas, mas, na primeira, dobrou”, destaca Magda. Para comparar os resultados, os dados foram divididos em três partes:
Para coletas as respostas das crianças e dos adolescentes, diferente dos adultos, os pais quem responderam as questões relacionadas à percepção sobre o sono dos filhos/as. E, a partir disso, foram aprofundados os fatores que poderiam ter influenciado nessas mudanças. Os/as pesquisadores/as criaram uma nuvem de palavras com as respostas mais frequentes. Entre os adultos, se destacaram a ansiedade e as preocupações. Já com as crianças foram os hábitos de dormir mais tarde e a falta de rotina.
Magda conta que quase metade da população reclama de insônia, dependendo do País. Conhecida como “insônia subjetiva”, cerca de 20% a 40% das pessoas se queixam de ter problemas para conseguir dormir ou dormem mal. Durante a pandemia, isso pode se intensificar.
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Para Juliana Tonin, da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos, pesquisadora da PUCRS e coordenadora do Laboratório de Pesquisas da Comunicação nas Infâncias (LabGim), a reorganização das atividades escolares e profissionais aconteceu de maneira brusca. E se, para adultos, assimilar tantas informações e adaptações pode ser uma tarefa difícil, para crianças não é diferente.
Confira neste link a matéria completa onde a pesquisadora explica as melhoras alternativas para ter um diálogo afetivo e empático com as crianças durante esse período. Segundo ela, “é preciso deixar claro que essa situação não é algo que está sendo sofrido exclusivamente pela criança, mas, sim, algo que atinge o coletivo, uma condição nova pela qual todos estão passando no momento”.
O desenvolvimento de pesquisas, principalmente em uma pandemia, impacta diretamente no bem-estar das crianças. “A pesquisa busca respostas que ainda não temos ou o aprofundamento das problemáticas já existentes. Por isso, ela tem a sua importância de uma devolutiva a sociedade”, explica Samanta Andresa Richter, doutoranda do PPG.
No estudo Avaliação clínica e manejo da insônia em pacientes pediátricos, também realizado pela professora Magda, de 1999 a 2004, ela alerta que quando uma família procura um profissional com a queixa de que seu filho não dorme, é necessário avaliar todo o contexto. “Já na primeira consulta, a investigação deverá ser completa, isto é, considerar que a criança é corpo e mente e que as experiências pessoais e familiares do dia-a-dia têm uma grande influência em seu comportamento, sendo o sono uma das formas de sua manifestação”, explica.
Para Melissa Taurisano, aluna de Graduação da Escola de Medicina da PUCRS e integrante do projeto, a relevância da pesquisa está ligada à comprovação de informações, evitando consequências negativas no desenvolvimento dos jovens. “Atualmente, muitas pessoas acreditam em qualquer coisa que leem, mas é necessário verificar. A meu ver, o embasamento científico traz a verdade de maneira racional para a sociedade, sem ‘achismos’ e vieses extremos. É uma questão que beneficia a todos”, reforça.
O estudo, que leva em consideração crianças e adolescentes, faz parte de uma força-tarefa multidisciplinar da Universidade que reúne mais de 50 profissionais e pesquisadores, de diversas áreas, na busca por soluções envolvendo a pandemia.
Ainda serão levantados dados de georreferenciamento para identificar possíveis efeitos regionais do confinamento domiciliar, podendo avaliar: a sonolência excessiva durante o dia; sinalização de piora na qualidade do sono; e se essas modificações são permanentes ou transitórias.
Magda Lahorgue Nunes é professora da Escola de Medicina da PUCRS desde 1991 e coordenadora acadêmica do InsCer desde 2014, além de ser membro do Serviço de Neurologia do Hospital São Lucas da PUCRS desde 1990. Tem título de especialista em Pediatria (SBP-AMB) e Neurologia (ABN-AMB) com áreas de atuação em Neurologia Infantil e Medicina do Sono.
O conceito 6 do PPG obtido pela Capes é consequência do trabalho de vários profissionais ao longo de muitos anos. Com linhas de pesquisas produtivas em áreas básicas e aplicadas relacionadas à Saúde da Criança, gera produções científicas de alto fator de impacto social e estratégico para a área da saúde. O programa está com inscrições abertas até o dia 19 de junho!
Verificar os impactos do confinamento domiciliar como medida de contenção, em função da pandemia de Covid-19, na qualidade do sono de adultos e de seus filhos, é o principal objetivo do estudo liderado pela vice-diretora do Instituto do Cérebro (InsCer) e professora na Escola de Medicina da PUCRS, Magda Lahorgue Nunes. O estudo faz parte de uma força-tarefa multidisciplinar, da universidade, que reúne mais de 50 profissionais e pesquisadores, de diversas áreas, na busca por soluções envolvendo a pandemia.
É nesse sentido que, o estudo pretende, ainda, levantar dados de georreferenciamento para identificar possíveis efeitos regionais do confinamento domiciliar, bem como a presença de sonolência excessiva diurna e avaliar se, nos casos em que os indivíduos respondentes sinalizarem uma piora da qualidade do sono durante o confinamento domiciliar, se estas são modificações permanentes ou transitórias. Esses dados partem de uma iniciativa mais ampla que pretende, também, estudar o impacto da Covid-19 e da quarentena em aspectos cognitivos e comportamentais das crianças, com especial interesse nas crianças com transtornos do desenvolvimento, durante e após a pandemia.
O grupo, liderado pela vice-diretora do InsCer, é constituído por neurologistas infantis, psiquiatras, psicólogos e educadores e as atividades previstas versam sobre diversos temas, que vão desde pesquisas a nível molecular e de marcadores de estresse, alterações acadêmicas e comportamentais a questões de influência no sono.
Por se tratar se tratar de um estudo de base populacional, o questionário, que avalia os impactos do confinamento domiciliar, devido à pandemia de Covid-19, no sono, foi desenvolvido para que os respondentes pudessem participar de forma online, com anonimato opcional, intentando atingir o maior número de pessoas possível, em todo o Brasil. O questionário está disponível neste link.
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Desde que a pandemia do novo coronavírus se iniciou e, especialmente, quando o distanciamento social causado pela quarentena se tornou uma realidade, muitas pessoas têm observado mudanças no sono. Sonhar e lembrar dos sonhos – muitas vezes mais perturbadores do que de costume – com uma frequência maior do que a normal é uma delas. Outra questão bastante comentada é a dificuldade para dormir. Se você se enquadra em um desses casos, pode ter certeza de que não está só. E há explicações para isso.
Primeiramente, é importante dizer que todos nós sonhamos todas as noites – e não há nada de errado nisso. Pelo contrário. Segundo a professora da Escola de Medicina e vice-diretora do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer) Magda Lahorgue Nunes, sonhar é uma atividade benéfica para o cérebro, demonstrando que sua função está normal. “Existem várias teorias em relação à função dos sonhos, entre elas a de que ajudam a consolidar memórias, a regular o humor e a treinar comportamentos não apresentados quando estamos acordados”, explica.
O motivo de nem sempre lembrarmos do que sonhamos é que essa recordação depende da transferência de conteúdo da memória recente para a remota, e isso só é possível quando existe algum grau de despertar (chamado de microdespertar) após o sonho ter acontecido.
Do ponto de vista da psicanálise, sonhar também é algo positivo e até mesmo importante – principalmente em um contexto de pandemia. Conforme a professora do curso de Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Carolina de Barros Falcão, trata-se de uma atividade elaborativa, uma via por meio da qual podemos significar o que estamos vivendo.
O sonho é uma atividade mental que acontece enquanto estamos dormindo. Ele é consequência da ativação cortical que ocorre na fase REM (rapid eye movement, ou movimento rápido de olhos) do sono. Esse estágio chega após três outras fases: N1 (transição da vigília para um sono mais profundo, mas ainda leve), N2 (desconexão do cérebro com os estímulos do mundo real) e N3 (sono profundo, com descanso da atividade cerebral).
No estágio REM, o cérebro volta a ficar ativo, tanto quanto o de uma pessoa acordada. Por isso, conforme Magda, a atividade fásica que ocorre nessa fase se relaciona com a imagética visual dos sonhos, permitindo que tenhamos sonhos complexos, semelhantes a histórias. Em uma noite, podemos ter entre quatro e seis ciclos de sono, incluindo os estágios não-REM e REM, sendo que cada um deles dura cerca de 90 minutos.
Conforme a professora Carolina, a psicologia tem muitas teorias diferentes para o sonho – algumas que coincidem mais com o olhar médico, outras que se afastam um pouco. “A psicanálise vai trabalhar com uma leitura e com um modelo de psiquismo que não descarta o corpo e o orgânico, mas que pensa que os processos psíquicos não estão apenas relacionados com os processos biológicos”, ressalta.
Para a leitura psicanalítica, o sonho é uma produção psíquica muito importante. “Temos, no sonhar, uma atividade muito privilegiada de trabalho psíquico, porque estamos ‘protegidos’ da realidade. E é por isso que podemos sonhar as coisas mais malucas que existem”, destaca Carolina.
Segundo a vice-diretora do InsCer, os sonhos são construídos com base em experiências remotas e em preocupações atuais. E a vivência intensa do tema coronavírus e de tudo o que essa pandemia implica pode ser uma explicação para estarmos nos lembrando mais dos sonhos. “As restrições de convívio social, a quebra de rotina, questões financeiras, o medo e a ansiedade sobre a gravidade do que está acontecendo já são motivos fortes o suficiente para sonharmos mais”, aponta Magda.
Carolina complementa dizendo que a pandemia da Covid-19 fez com que todos precisassem mobilizar suas vidas de forma muito rápida, fazendo adaptações no modo de viver e tolerando perdas muito contundentes na rotina. “Um motivo para que tantas pessoas estejam sonhando mais pode ser porque estão recorrendo a todas as possibilidades de trabalhar psiquicamente. O sonho tem sido uma forma muito importante de descarga dessas intensidades que estamos vivendo, do psiquismo encontrar uma forma de dar conta e de elaborar tudo isso”, diz.
A professora de Psicologia ainda aponta que, além dos acontecimentos atuais, na hora de se analisar um sonho e tentar entendê-lo, é preciso levar em consideração todo o contexto da pessoa que o sonhou: “Não sonhamos só por causa do coronavírus, da pandemia ou das restrições que estão impostas. Sonhamos porque essas situações de hoje tocam naquelas que já eram as nossas questões, nossos conflitos. Quando sonhamos, resolvemos essa dupla mobilização: a interna, do nosso mundo psíquico; e a externa, daquilo que nos invade – nesse caso, o tema da morte, do adoecimento”. Carolina conclui reforçando que o fato de as pessoas estarem sonhando significa que estão metabolizando as situações traumáticas que estão vivendo nesse momento de pandemia, e que isso é algo muito positivo.
Em relação à dificuldade para dormir, Magda destaca que as mudanças na rotina podem ser um dos causadores. “Queixas de insônia estão sendo muito frequentes durante a quarentena. Isso certamente é decorrente de quebras nas rotinas, da falta de necessidade de cumprir horários, além do relaxamento nos aspectos de higiene do sono, como variações no horário de dormir e de acordar e o uso excessivo de telas”, afirma.
Para manter a saúde do sono, apesar de todas mudanças e das preocupações causadas pela pandemia, é importante tentar seguir uma rotina. “Ter um horário para dormir e acordar, evitar o uso de telas pelo menos 30 minutos antes de dormir, não fazer uso excessivo de álcool, optar por refeições leves à noite e evitar bebidas com cafeína podem ajudar”, sugere Magda.
O InsCer desenvolveu uma pesquisa para avaliar como está o sono da população brasileira durante a quarentena. O participante, de acordo com sua idade e/ou a idade de seus filhos, é direcionado a um questionário específico para fazer essa avaliação. Ao fim, será redirecionado a uma página com informações sobre como é o sono normal nas diferentes faixas etárias e receberá dicas, conforme a idade, de como dormir bem. A pesquisa está disponível neste link.
Leia mais: Estudo investiga impactos do confinamento domiciliar no sono de adultos e de seus filhos
Por que dormimos? Por que sonhamos? Como dormir bem? Essas foram algumas das perguntas respondidas pela neurologista, vice-diretora do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (Inscer), professora da Escola de Medicina da PUCRS Magda Lahorgue Nunes durante a palestra Porque dormir faz bem à saúde?, uma das atividades do ciclo de palestras Inscer para a Comunidade que ocorre até esta sexta-feira, 2 de junho. O evento é realizado em comemoração ao quinto aniversário do Instituto.
A professora comentou que o sono começa a se organizar nos primeiros seis meses de vida. “O bebê não tem horas definidas, ele é regido por um ciclo interno, por isso, para ele, é indiferente ser noite ou dia”, diz. Todos os dias, o sono começa com a redução da luminosidade. “Essa redução manda um sinal para a retina avisando que está chegando a noite”, salienta. Por isso, a ideia de que ficar vendo televisão ou celular auxilia no momento antes do sono é errada. “O que determina a vontade do organismo de querer dormir é a diminuição de luminosidade. Com essas telas, tu estás mandando a mensagem errada para o cérebro”.
A vice-diretora deixou claro que dormir é fundamental e, antigamente, se pensava que o cérebro desligava durante o sono, mas hoje se sabe que não. “Durante o sono ocorre uma faxina no cérebro. Muitos estudos apontam que a qualidade dele está relacionada com a redução das chances de Alzheimer”, revela. Segundo ela, uma noite bem dormida também auxilia na concentração do aprendizado e memória, e ressalta: “Nenhum ser vivo sobrevive sem dormir”.
Mas por que sonhamos? De acordo com a neurologista, existem muitas teorias, mas o que se sabe é que durante o sono existe uma briga entre consciente e inconsciente. Ela ainda complementa que o sonho influenciou a história da arte. “Talvez quem tenha melhor representado isso foi Salvador Dalí, criador do surrealismo”. Sobre a razão dos sonhos, ela relembra a explicação de Sigmund Freud, no livro A origem dos sonhos, em que ele atribui a ação a uma revelação do inconsciente. A professora também cita Crick e Mitcheson, que descreveram o DNA e afirmaram, na década de 60, que durante o sonho ocorre uma limpeza das memórias.
Por que dormir não é perda de tempo?
Magda observa que dormir pouco ou não dormir gera uma dívida de sono. Essa dívida, quando se torna crônica, é chamada de privação de sono, que pode gerar consequências negativas ao organismo. Uma delas é a alteração no tempo de reação, que pode causar acidentes de trânsito, por exemplo. Isso explica o alto índice de acidentes em estradas durante a noite, pois o tempo de reação dos motoristas se torna mais lento. “Também altera a capacidade de julgamento, a capacidade de concentração, o metabolismo (ganho de peso, obesidade) e aumenta a irritabilidade”, menciona.
Como dormir bem?
A palestrante apresenta uma lista de passos para criar um ambiente favorável a uma noite de sono de qualidade: quarto escurecido, lençóis limpos, cama confortável, temperatura nem muito fria e nem muito quente e nível de ruídos quase inexistente.
Assunto que preocupa muitos pais, o sono de bebês e crianças está sempre nas rodas de conversas de quem tem filhos pequenos. Mas, com a ajuda da família, a hora de dormir pode ser um momento prazeroso, com bastante tempo de sono. Este é o propósito da neuropediatra e professora da Faculdade de Medicina da PUCRS Magda Lahorgue Nunes e da psicóloga e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde da Universidade Luciana Tisser, que lançaram a obra Por que não gosto da hora de dormir?, da editora Sinopsys. Com uma linguagem leve e didática e muitas ilustrações, o livro é direcionado às crianças, mas pode também ser lido pelos pais, e dá dicas simples e práticas para auxiliar este momento.
Segundo Magda, estudos mostram que de 5 a 30% da população de 0 a 19 anos tem problemas de sono. E o papel dos pais é primordial: são eles que devem estabelecer a rotina, em que todos os dias a criança faz o mesmo processo antes de ir para a cama, no mesmo horário, o que a deixa mais segura por saber o que vai acontecer. Luciana lembra que, além da falta de rotina, os vilões são os hábitos familiares inadequados no processo de adormecimento, a má alimentação e a ansiedade – tanto infantil quanto dos pais e cuidadores.
Muitos costumes considerados inofensivos acabam prejudicando a qualidade do sono, como assistir desenhos antes de dormir. “Os eletrônicos hiper-excitam o cérebro e a luz emitida por eles informa inadequadamente o organismo que ainda é dia. Quando escurece, começa a produção de melatonina, que prepara para o adormecimento. Estes aparelhos confundem e atrapalham esta produção”, afirma Luciana. O ideal é manter os pequenos longe da TV, tablets e smarthphones de uma a duas horas antes de ir para a cama.
E o que é considerado normal para cada faixa etária? Magda esclarece que, no primeiro mês, o bebê tem o ciclo de dormir, acordar e mamar repetidamente. A partir do segundo mês, já consegue diferenciar o dia e a noite. Já depois do sexto ou sétimo mês, uma criança saudável e com um bom ganho de peso pode dormir dois grandes intervalos durante a noite, acordando somente uma vez para mamar. Já a partir de um ano, não é mais necessário despertar para mamar durante a noite.
Para os maiores, os grandes vilões são o medo e os pesadelos: “Quando eles se tornam muito repetitivos, talvez seja necessário um acompanhamento psicológico”, lembra a pesquisadora. Além disso, a insônia (dificuldade para dormir ou acordar várias vezes durante a noite) e as situações em que a criança associa o ato de dormir a alguma pessoa, ação ou objeto podem atrapalhar o sono, e são caracterizados como aspectos comportamentais. “A privação do sono traz prejuízos cognitivos e comportamentais, como irritabilidade e falta de concentração”, ressalta.
Há, porém, casos de doenças mais graves ligadas ao tema, como a Síndrome da Apnéia Hipopnéia Obstrutiva do Sono, em que a pessoa para de respirar momentaneamente enquanto dorme. “Quando a doença é crônica e não tratada, pode levar a problemas pulmonares, cardíacos e ao déficit cognitivo” alerta Magda.
Uma das mais recentes pesquisas feitas na área, na PUCRS, divulgada no The Journal of Pediatrics no final do ano passado, concluiu que as crianças de 1 a 4 anos que dormem menos de dez horas por noite são mais propensas a ter excesso de peso ou obesidade. A dissertação de mestrado da aluna do Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde, Camila El Halal, foi orientada pela professora Magda.
Outra pesquisa inédita está em fase de coleta de dados e busca fazer uma avaliação do sono de crianças e adolescentes brasileiros, de 0 a 19 anos. Pais podem participar respondendo a um questionário disponível no link j.mp/1sK1qzE. Também orientada por Magda, a pesquisa Avaliação das características do sono e prevalência de distúrbios em crianças e adolescentes brasileiros: estudo de base populacional integra a tese de doutorado da aluna Geciely de Almeida, do Programa de Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança da PUCRS.