Professora de Nutrição da PUCRS Carolina Abud promove workshop para colaboradoras e alunas. Evento acontece nos dias 26 e 27 de agosto
Agosto é o mês mundial do incentivo ao aleitamento materno/ Foto: Giordano Toldo
Essencial para a sobrevivência, a nutrição e o desenvolvimento nos primeiros meses de vida e no início da infância, o leite materno é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o “alimento de ouro” para os bebês. Para conscientizar a população sobre a importância da amamentação, o Agosto Dourado marca a campanha mundial de incentivo ao aleitamento materno.
Mas, afinal, por que a prática do aleitamento é tão essencial? Caroline Abud é nutricionista materno infantil, pesquisadora e professora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e da Escola de Medicina, e afirma que além da questão da saúde, a amamentação também traz benefícios psicológicos e de qualidade de vida. “A amamentação é uma das formas de estabelecimento de vínculo entre mãe e bebê”.
A amamentação possui inúmeros benefícios para a saúde da criança como um todo. Caroline explica que o leite humano é um alimento completo e personalizado em termos de nutrientes, proporcionando o adequado crescimento e desenvolvimento do bebê.
“Há evidências associando a exposição ao leite humano (quanto mais prolongada, melhor) à prevenção de sobrepeso, obesidade e diabete tipo II ao longo da vida, maior potencial intelectual, menos chances de má oclusão dental e até mesmo redução de mortalidade e morbidade no recém-nascido e lactante. Para as mães, os achados dos estudos consideram a prática como forma de prevenção de câncer de mama e ovário e contribuição para controle de natalidade”, pontua.
O leite materno possui nutrientes específicos necessários para os bebês, que não podem ser nem mesmo replicados em formulações artificiais. Os principais componentes desse leite são carboidratos, proteínas, lipídeos (gorduras), vitaminas, minerais, compostos imunológicos e componentes que favorecem a melhor colonização de bactérias para o intestino. Todos esses componentes se fazem presentes no leite em proporções exatas, que variam conforme as etapas da vida da criança. Caroline destaca, inclusive, que uma dieta saudável por parte da mãe pode contribuir significativamente para a qualidade do leite.
Falta de informação adequada e a ausência de uma rede de apoio contribuem para o desmame precoce/ Foto: Giordano Toldo
A nutricionista alerta que o desmame precoce, ou seja, quando as mães deixam de amamentar seus filhos, pode ser um fator de risco para alterações de saúde, crescimento e desenvolvimento da criança. Além disso, a alimentação do bebê em caso de desmame também é um fator determinante, com alguns aspectos a serem considerados, como a exposição precoce ao leite de vaca (antes dos 12 meses), alimentos ultraprocessados e açúcar (24 meses). Também é importante considerar os fatores socioeconômicos e de informação envolvidos. Apesar de tudo isso, Caroline deixa um alerta:
“É importante olhar para essa questão com empatia, e que estes dados não levem as mães que não amamentaram por algum motivo a se sentirem menos mães ou como algum tipo de fracasso.”
Caroline também destaca os principais motivos que levam mães a não amamentarem seus filhos. Um deles, que acaba permeando todos os outros, é a ausência de uma rede de apoio – que deve ser composta pela sociedade como um todo: familiares, amigos, profissionais de saúde, empresas. A pouca acolhida para com a mãe pode dificultar a produção de ocitocina, hormônio relacionado à ejeção de leite, que está ligado às emoções.
Outro fator que pode contribuir é falta de informação assertiva em diferentes momentos (gestação, pós-parto imediato e ao longo do tempo de amamentação). Além disso, também há a questão de orientações inadequadas quanto ao início da alimentação complementar, que deve iniciar após os seis meses de vida, e também quanto ao manejo de intercorrências, como ganho de peso, problemas de pega, fissuras nas mamas. “Muitos profissionais acabam iniciando complementos de forma precoce, o que pode contribuir para menor produção de leite”, explica a pesquisadora. Há ainda a ação das indústrias alimentícias, que contribui para esse desmame.
Em casos onde a mãe não pode amamentar diretamente, o bebê pode receber o leite ordenhado ou doado/ Foto: Giordano Toldo
“A indústria de fórmulas infantis, a propaganda abusiva de produtos alimentícios e dispositivos que podem favorecer ao desmame (bicos e mamadeiras, por exemplo). Para isso temos normativas de controlam alguns aspectos relacionados a indústria e o quanto se atingem os vulneráveis (pais e crianças na primeira infância)”, pontua Caroline.
A separação do binômio mãe/bebê, em casos de um nascimento prematuro, por exemplo, também pode ser um fator determinante. “Neste caso, assim que o bebê pode ser alimentado (muitas vezes não diretamente ao seio materno), ele pode receber o leite da mãe ordenhado, ou ainda, doado. Para esse processo existem os bancos de leite humano”, explica a docente.
Entre as situações específicas que impedem que a mãe amamente seu bebê estão a presença do vírus HIV e HTLV, galactosemia (erro inato do metabolismo) e o uso de algumas medicações e drogas ilícitas. Nesses casos, é sempre importante consultar um médico para fazer as avaliações necessárias.
Com o objetivo de expressar apoio e acolhimento para as mulheres que são mães, a PUCRS possui sua própria Sala de Amamentação. Localizada na sala 220 do Living 360 (prédio 15), o espaço é frequentado por estudantes e colaboradoras que desejam ter um espaço seguro e confortável para a extração e armazenamento de leite materno. Egressas podem utilizar o espaço mediante a apresentação da carteirinha Alumni PUCRS.
A Universidade também realiza diversas pesquisas sobre o tema. Em abril, o Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em Nutrição e Saúde da Criança, coordenado pela professora Caroline Abud, apresentou quatro trabalhos sobre aleitamento materno no XVI Encontro Nacional de Aleitamento Materno (ENAM), no VI Encontro Nacional de Alimentação Complementar Saudável (ENACS) e no I Encuentro Latino Americano y Caribeño de Lactancia Materna (ELACLAM) realizado pela Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN).
No evento, que conta com o apoio do Ministério da Saúde, CAPES, CNPq, UNICEF e OPAS, uma das pesquisas apresentadas foi sobre o próprio espaço no Campus: “Implantação de Sala de Apoio à Amamentação no Campus de uma Universidade Privada no Sul do Brasil: um estudo de caso”.
As Escolas de Medicina e de Ciências da Saúde e da Vida promovem, nos dias 26 e 27 de agosto, o V Encontro PUCRS em Homenagem ao Agosto Dourado. O evento, que acontece na sala 321 do Prédio 15 (Living), compartilhará informação e conhecimento, além de proporcionar discussões relacionadas à importância do leite materno e prática da amamentação. Você pode encontrar mais informações sobre e o encontro e fazer sua inscrição aqui.
A professora Caroline coordena o evento, realizado anualmente em apoio à Semana Mundial do Aleitamento Materno, e convida todos os alunos, profissionais e comunidade a participarem.
“Entendemos como nossa responsabilidade, enquanto universidade, promover a prática, por meio desta e outras ações de incentivo. Quem participa carrega alguma informação importante a ser multiplicada, contribuindo assim para a formação da rede de apoio que queremos.”
GRADUAÇÃO PRESENCIAL
Agosto é conhecido como mês oficial de incentivo à amamentação, especialmente a partir de 2017, quando foi sancionada a Lei Federal 13.435, que estabeleceu o Agosto Dourado. Para promover este simples e significativo gesto, que beneficia mães e bebês, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) está realizando diversas atividades gratuitas. Durante a Semana Mundial de Aleitamento Materno, que acontece de 1º a 7 de agosto, as mães doadoras e que estão amamentando os seus filhos na UTI Neonatal e na Pediatria do HSL recebem homenagens das nutricionistas do Banco de Leite Humano da Instituição.
Em parceria com o Projeto Gestante, da Paróquia Santo Antônio do Partenon, as nutricionistas do Banco participarão de uma roda de conversa com as mães da comunidade. O encontro acontece no dia 8 de agosto, às 15h, no auditório paroquial, localizado na Rua Luiz de Camões, número 35, em Porto Alegre. No Hospital São Lucas, o bate-papo ocorrerá no ambulatório 316, com o grupo de mães e gestantes com diabetes. O evento é aberto aos pacientes e visitantes da Instituição e será realizado no dia 17 de agosto, às 14h.
De acordo com o Ministério da Saúde, o leite humano deve ser não apenas o principal, mas o único alimento do bebê até o 6º mês de vida, evitando o consumo de água, chás ou outros complementos. “Ele auxilia na prevenção de doenças e no desenvolvimento da imunidade da criança. É recomendado que, enquanto a mãe produzir leite, a amamentação seja estimulada”, incentiva a nutricionista do HSL Vanessa dos Santos.
De 1º a 7 de agosto, é comemorado em mais de 170 países a Semana Mundial de Aleitamento Materno, destinada a promover a amamentação e melhorar a saúde dos bebês em todo o mundo. Nesta Semana é comemorada a assinatura da Declaração de Innocenti, formulada por especialistas da Organização Mundial da Saúde e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em agosto de 1990, para proteger, promover e apoiar o aleitamento materno.