Segundo relatório publicado pela Unicef, uma a cada sete crianças e jovens entre dez e 19 anos é diagnosticado com algum transtorno mental
De acordo com a Unicef pelo menos uma em cada sete crianças e jovens de dez a 19 anos convive com algum transtorno mental diagnosticado no mundo. / Foto: Pexels
Cuidar da saúde mental vem se tornando tão importante quanto cuidar da saúde física, especialmente entre crianças e adolescentes. O tema foi incluído pela primeira vez em 2021 pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) no Tratado de Pediatria, a principal publicação destinada a médicos que cuidam da saúde de pessoas com até 18 anos no país. Ainda no mesmo ano, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em parceria com o instituto Gallup, publicou o relatório Situação Mundial da Infância 2021. Na minha mente: promovendo, protegendo e cuidando da saúde mental das crianças, também elegendo a temática como prioridade de atuação.
Os dados levantados pela pesquisa da Unicef servem de alerta: pelo menos uma em cada sete crianças e jovens de dez a 19 anos convive com algum transtorno mental diagnosticado no mundo. Além disso, cerca de 46 adolescentes morrem por suicídio a cada ano no mundo, uma das cinco principais causas de morte nessa faixa etária. Em crianças e adolescentes, os casos mais comuns quando falamos de saúde mental são: depressão, transtornos de ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno por uso de substâncias e transtorno de conduta.
O psicólogo, psicanalista e professor do curso de Psicologia da Escola de Ciências e Saúde da Vida da PUCRS Jefferson Silva Krug, destaca que comportamentos como birra e falta de atenção devem ser considerados em seu poder comunicativo, ou seja, podem indicar que alguma experiência emocional da criança necessita ser avaliada para melhor auxiliá-la. O apoio emocional, principalmente quando ofertado pelos pais, é fundamental para conseguir encontrar um diagnóstico o mais rápido possível.
“Muitas vezes os pais e responsáveis acabam passando muitos anos sem nenhum tipo de orientação e auxílio para o estabelecimento dessa escuta de comunicação entre o que a criança está demonstrando e aquilo que eles conseguem enxergar e acabam tendo medidas de cuidado que podem não ser as mais adequadas – e isso sim pode levar a pioras de quadros emocionais e relacionais também.”
Além do acompanhamento médico, há algumas ações que podem ajudar na prevenção de suicídios e outros problemas relacionados à saúde mental. / Foto: Pexels
Antes de tudo, é preciso prestar atenção aos sinais que crianças e adolescentes podem apresentar quando estão com a saúde mental debilitada. Os mais novos não conseguem se expressar como os adultos, por isso, é importante atentar aos sinais. Entre esses sinais podem estar, por exemplo, mudanças de comportamento e humor, dificuldade de concentração, perda ou ganho de peso repentino, vontade de se machucar e emoções intensas, como um medo excessivo de morrer e dores físicas. Em adolescentes, também vale a recomendação de cuidar se há vontade excessiva de usar álcool e drogas, além de comportamentos de isolamento social.
O aumento do número de diagnósticos de crianças com diferentes transtornos mentais pode assustar, mas para Jefferson, a preocupação deveria ser em como ajudar crianças e adolescentes a lidarem com essa condição. Evitar estereotipar doenças e transtornos mentais e fazer uma divulgação correta sobre quais emoções podem ser vividas durante a experiência infantil e adolescente pode ser um bom começo, que pode ajudar não só os pais, mas também as crianças e adolescentes a buscarem ajuda.
“É preciso orientar os pais a respeito de como cuidar das crianças e dos adolescentes, abrindo espaços para diálogos dentro da família e também em espaços privados, como os atendimentos psicoterápicos. Também é preciso um esclarecimento acerca das possibilidades e benefícios que uma psicoterapia e uma análise com crianças e adolescentes podem trazer para toda a família. E esclarecer também o que elas podem trazer para o desenvolvimento emocional daquela criança ou daquele adolescente e da família como um todo.”
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Além do acompanhamento médico, há algumas ações que podem ajudar na prevenção de suicídios e outros problemas relacionados à saúde mental. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Hospital Albert Einsten, essas ações, além de diminuir fatores de risco, também podem aumentar a qualidade de vida de crianças e adolescentes.
Relações afetivas com o círculo familiar, ambiente aberto ao diálogo e escuta ativa, praticar atividades prazerosas como ler ou ir ao cinema e também estabelecer uma rotina para diversas atividades. Uma boa alimentação, alinhada a uma boa noite de sono e exercícios físicos regulares também são fundamentais. Tanto a ABP como o Albert Einsten reforçam que crianças e adolescentes também precisam ir ao médico regularmente, além de aprender a administrar emoções.
O psicanalista ainda alerta que, antes de tudo, pais e responsáveis precisam escutar as crianças e adolescentes.
“Não existe uma receita a ser usada de maneira idêntica para todas as crianças. Estamos acostumados a educar dizendo o que elas devem fazer, mas precisamos aprender a ouvi-las e ajudá-las a formular suas percepções sobre si mesmas, auxiliá-las a buscar um sentido para o que estão sentindo. E a partir disso, ajudar as crianças e adolescentes a terem essas experiências e seguir investindo nisso”, finaliza Jefferson.
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Professora do curso de Psicologia explica os processos pelos quais passam as pessoas que perderam alguém
Foto: Envato
A morte de uma pessoa amada é considerada uma das experiências mais difíceis de serem superadas, individualmente e pelo núcleo familiar. A dor gerada pelo rompimento de um vínculo afetivo produz a necessidade de reorganização em uma nova realidade a ser experimentada sem a pessoa que faleceu.
“A perda desencadeia o chamado processo de luto, que pode se evidenciar de diferentes formas e intensidades, conforme o vínculo e o significado de quem nos deixou”, explica Ângela Seger, professora do curso de Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS.
A docente explica que o luto se manifesta por meio de uma série de reações que envolvem respostas emocionais (sentimentos de tristeza, culpa, raiva, autocensura, ansiedade, saudade), cognitivas (pensamentos de descrença, confusão, preocupação) e comportamentais (distúrbios do sono, do apetite, isolamento social, agitação, choro, evitação de lembranças).
“Essas manifestações são reações naturais e esperadas, e esse processo precisa ser vivido para as transformações necessárias serem efetivadas”, pontua.
A professora também destaca que, no contexto atual, algumas ações que atuam como facilitadoras para o luto, como acompanhar a pessoa em seus últimos dias, ter a sensação de que fez tudo que podia e realizar os rituais formais de despedida, ficaram comprometidas. “O distanciamento físico, as perdas secundárias e a dificuldade para receber apoio podem tornar este processo mais doloroso e as reações podem se intensificar, exigindo maior atenção do enlutado e sua família”, aponta Ângela.
No entanto, alguns comportamentos podem auxiliar a lidar com as perdas. Confira:
Após uma perda é esperado que sentimentos como medo, tristeza, culpa, raiva e insegurança sejam potencializados e, com isso, alguns comportamentos se evidenciem, como o desejo de ficar só e a sensação de falta de energia ou de motivação, por exemplo. É importante observar que, durante o período de luto, suas emoções são respostas às mudanças ocorridas a partir da falta que a pessoa faz em sua vida. Procure acolher seus sentimentos, sem evitá-los ou suprimi-los.
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Procure não se cobrar ou exigir de outros familiares e amigos que as mesmas emoções sejam expressas de igual maneira, pois cada pessoa acessa e demonstra seus sentimentos de forma diferente. Lembre-se que o luto necessita de um período para ser vivido, mas que com o passar do tempo a dor da perda poderá se transformar em saudade.
As relações com pessoas afetivamente significativas são uma importante fonte de suporte emocional. Reforçar as estratégias de contato virtual, aumentando sua frequência, não substitui a relação presencial, mas minimiza a tendência ao isolamento, uma reação que, aliada a tristeza e ao desânimo, pode potencializar o afastamento e o sofrimento.
Manter contato com pessoas com quem você se sente confortável para falar sobre sua experiência e pedir auxílio nas atividades cotidianas que estão mais difíceis de serem realizadas são algumas das estratégias que podem ser utilizadas para que você se sinta acolhido/a.
Construir novas rotinas, preferencialmente que contemplem períodos de atividade mais organizadas (trabalho e estudos) e períodos de descanso e relaxamento, pode contribuir para que você se reestabeleça. Você também pode buscar diversificar as atividades, identificando novas possibilidades de interesse e desenvolvimento de habilidades que gerem satisfação e prazer. Fazer um planejamento objetivo dessas atividades permite que elas sejam “concretizadas” no papel, o que facilita a implementação prática.
Para algumas pessoas, a retomada das atividades pode ocorrer de forma mais rápida, como uma maneira de se conectar com outras pessoas e se ocupar de modo saudável, mas há quem necessite de um tempo maior para isso. Entenda seu próprio tempo e não se culpe.
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Durante o processo de luto, há a necessidade de ampliar o autocuidado, pois os impactos produzidos pela perda podem fazer com que sejam alterados hábitos como sono, alimentação e cuidado na manutenção de tratamentos de saúde prolongados. A saúde mental também pode ser afetada, pois o sofrimento desencadeado pode levar ao uso de respostas não adaptativas e à busca de estratégias pouco saudáveis. A identificação e realização de atividades que gerem bem-estar e satisfação podem ser utilizadas e incrementadas conforme o interesse do enlutado.
Algumas pessoas podem encontrar esta sensação de bem-estar, mesmo que de maneira temporária, na leitura de um livro, na música, em uma caminhada, em uma conversa com alguém, na pintura, entre outras. A espiritualidade também pode exercer uma função significativa de conforto e proteção nestes momentos. É importante assinalar que cada pessoa deve se observar e descobrir qual ou quais estratégias respondem melhor a sua necessidade e estão de acordo com seus valores e crenças.
Busque ajuda caso perceba que seu sofrimento está muito intenso, se prolongando ou mesmo impedindo que consiga manter suas atividades, causando muito impacto na sua vida e em suas relações. Outro sinal de que é preciso buscar suporte emocional pode surgir quando as pessoas a sua volta sinalizam que estão preocupadas com sua saúde mental. Esses sinais podem significar que as perdas vivenciadas neste período estejam lhe sobrecarregando e, neste caso, pode ser necessário o auxílio de um profissional qualificado para não haver agravamento das dificuldades.
O Núcleo de Apoio Psicossocial realiza atendimentos a estudantes e professores/as com orientações sobre os cuidados com a saúde mental e seus impactos nos processos de ensino e aprendizagem. O acolhimento está sendo feito por profissionais da Psicologia com apoio da equipe multidisciplinar.
Atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h, mediante agendamento pelo e-mail [email protected], pelo telefone (51) 3320-3703 ou diretamente na sala 301 do Centro de Apoio Discente (no 3º andar do Living 360°, prédio 15).
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Confira dicas para cuidar da sua saúde mental. / Foto: Pexels
Cuidar do bem-estar mental é tão crucial quanto cuidar da saúde física. A iniciativa do Janeiro Branco, concebida pelo psicólogo Leonardo Abrahão em 2013 e transformada em lei em 2023, busca conscientizar a sociedade sobre a importância da saúde mental. Em 2024, a campanha “Saúde Mental enquanto é tempo” propõe uma reflexão profunda sobre a necessidade de dedicar atenção a si e ao todo, com respeito e carinho.
No Brasil, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 86% da população sofre de algum tipo de transtorno mental, como fobias, depressão, transtornos de ansiedade e personalidade, entre outros. O país também conta o maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população brasileira sofre com a doença.
Para enfatizar importância da conscientização sobre o tema, a professora Rita Petrarca, do curso de Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS, preparou sugestões de como começar o ano cuidando bem da mente e do emocional. Confira as dicas de como cuidar das emoções, comportamentos e da qualidade das suas relações afetivas:
No meio das obrigações diárias, é essencial fazer uma pausa para respirar. Descanse e reserve um tempo do seu dia para desfrutar de algo que lhe dê prazer: assistir a uma série, dar um passeio, ler um livro interessante, dançar. O importante é que a atividade seja agradável.
Tente manter uma organização na realização das tarefas de aula e trabalho, equilibrando as responsabilidades com as atividades de lazer e descanso. Utilizar plataformas de organização e métodos de gestão do tempo podem te ajudar.
Praticar atividades físicas ajuda na liberação de substâncias no organismo que causam as sensações de bem-estar, conforto e melhoram o humor, além de fazer bem à saúde. Lembre-se de dormir bem para descansar o corpo e a mente, além de se hidratar e manter uma alimentação equilibrada. Antes de dormir, evite usar o celular e aparelhos eletrônicos para ter uma noite mais tranquila.
Busque estar próximo das pessoas que você ama e te fazem bem, como família, amigos e amigas, mesmo que virtualmente. Os bons relacionamentos são fundamentais para a saúde mental e ajudam a fazer com que a vida tenha sentido.
Preste atenção em você. Se estiver com dificuldades em lidar com as suas emoções, com a realidade desse momento ou com frustrações, procure uma ajuda profissional. Existem diferentes alternativas de profissionais e serviços de psicologia que podem lhe auxiliar a lidar com os momentos difíceis da vida. Lembre-se que é importante falar sobre saúde mental de janeiro a janeiro. Ninguém precisar estar só.
Alguns serviços que oferecem ajuda são o Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo telefone 188 ou no chat do site, e o Núcleo de Apoio Psicossocial do Centro de Apoio Discente da PUCRS, para a comunidade acadêmica. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (51) 3320-3703 ou no e-mail [email protected].
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Em comemoração aos 75 anos da PUCRS, o Centro de Pastoral e Solidariedade da PUCRS, em parceria com a Liga Acadêmica de Saúde e Espiritualidade (LIASE), realizará a 1ª Jornada Internacional de Meditação. O evento ocorre nos dias 25 e 26 de outubro, em formato online, e pretende proporcionar uma oportunidade para explorar o papel da meditação no contexto da saúde integral e na promoção de bem-estar e do cultivo da interioridade. Além disso, será uma oportunidade única para os/as participantes se conectarem com conferencistas renomados, que trarão uma variedade de perspectivas sobre a meditação.
A Jornada contará com palestrantes nacionais e internacionais, além de tradução do espanhol para português, tornando este evento acessível a pessoas de todo o mundo. Para participar, basta realizar a inscrição pelo link. A participação é gratuita.
Regina Chamon é médica clínica geral e hematologista, com foco no estilo de vida e controle do estresse para melhorar a saúde, além de professora de meditação formada pela Unifesp e pela escola médica de Harvard. É uma comunicadora talentosa que simplifica o cultivo do bem-estar através de várias plataformas, incluindo seu Instagram @drasanguebom, Podcast Desestresse e Coluna Saúde Sem Estresse na Revista Boa Forma.
Bruna Fernandes da Rocha é psicóloga formada pela PUCRS e coordenadora do Departamento de Ensino, além de supervisora de estágio do Centro Vitalis. Mestre em Gerontologia Biomédica e doutoranda em Psicologia pela PUCRS, Bruna é especializada em Terapias Comportamentais Contextuais e é instrutora em treinamento de Mindfulness-Based Cognitive Therapy pela Universidade de Oxford. Ela atua como psicóloga clínica e supervisora de estágio na Clínica de Saúde Vitalis.
Ausiàs Cebolla i Martí é licenciado e doutor em Psicologia pela Universidade de Valência e trabalha como professor assistente doutoral na Faculdade de Psicologia da mesma instituição. Sua pesquisa se concentra em mindfulness e meditação, realidade virtual, psicologia positiva e estilos de vida saudáveis. Além disso, codesenhou o protocolo de Treinamento de Bem-Estar baseado em práticas contemplativas.
Ana Silveira é graduada em Teologia pela PUCRS e doutora em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade de Salamanca. Também é graduada em Teologia Espiritual pela Pontifícia Universidade de Comillas, com prêmio extraordinário, e Mestre em Misticismo e Ciências Humanas pela Universidade de Mística.
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O envelhecimento populacional brasileiro vem se acentuando consideravelmente nos últimos anos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE-2021), o número de idosos no Brasil chegou a 31,2 milhões (o equivalente a 14,7% da população), o que vem causado um aumento nas demandas sociais e econômicas. Pesquisas apontam que este movimento implica inclusive na mudança no perfil de adoecimento e traz repercussões para atenção à saúde e para políticas públicas, que enfatizam a promoção da saúde, a manutenção da autonomia e a valorização das redes de suporte social para esta população.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no Relatório Mundial de Saúde e Envelhecimento, o índice de pessoas com mais de 60 anos no Brasil deverá crescer muito mais rápido do que a média internacional. Além disso, enquanto a quantidade de idosos duplicará no mundo até o ano de 2050, ela quase triplicará no Brasil.
Na PUCRS, o pesquisador da Escola de Medicina Alfredo Cataldo Neto desenvolve diversos estudos sobre envelhecimento saudável e patológico. O docente atua nas áreas de Psiquiatria e Psicanálise no Programa de Pós-Graduação em Gerontologia Biomédica e no Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS (IGG). Em países emergentes como o Brasil, ele explica que tem notado esse aumento populacional de pessoas idosas principalmente por conta das melhorias socioeconômicas, dos avanços da medicina, da eficácia das vacinas e do tempo de vida como um todo.
Cataldo coordena o Grupo de Pesquisa Envelhecimento e Saúde Mental (GPESM), que se propõe a estimar a prevalência e a incidência de transtornos mentais, identificando manifestações clínicas, psicológicas, de personalidade e comportamentais que integrem fatores preditores, e manifestações precoces desses transtornos.
“Precisamos entender e compreender estes contextos para assegurar a qualidade de vida dos idosos que tem em um de seus pilares a saúde mental”, comenta.
Na terceira idade, acontecem diversas mudanças na vida pessoal e profissional das pessoas, além disso, alguns sintomas físicos e psíquicos começam a surgir como a diminuição da visão, a perda ou aumento de peso, maior dificuldade para se locomover, perdas cognitivas e outros. De acordo com Cataldo, por mais que esse processo seja natural, vivenciar essas mudanças no corpo e no âmbito social podem afetar a saúde mental das pessoas idosas.
Em um projeto multiprofissional, com a participação de pesquisadores da PUCRS em diferentes áreas da saúde e com uma amostra de idosos da comunidade de Porto Alegre, foram investigadas as principais patologias neuropsiquiátricas e constatado altos índices de depressão (30%), ansiedade (9%), alcoolismo (6,5%) e risco de suicídio (15%).
Os estudos foram realizados com 578 indivíduos de 60 anos ou mais, participantes do programa Estratégia Saúde da Família (ESF) de Porto Alegre. Agentes de saúde treinados realizaram coleta de dados dos indivíduos durante as visitas domiciliares e o processo de avaliação diagnóstica psiquiátrica foi realizada por psiquiatras, no Hospital São Lucas da PUCRS.
Dentre as conclusões da pesquisa, Cataldo destaca a associação significativa de que idosos com aumentado risco de suicídio e/ou depressão geriátrica tiveram em sua infância abusos e/ou negligência de seus cuidadores demonstrando mais uma vez a importância da infância “suficientemente boa” como pré-requisito para um ciclo de vida mais saudável. Esse trabalho orientado por Cataldo foi realizado em co-autoria com pesquisador suíço Armin Von Gunten e publicado no periódico International Psychogeriatrics e Child Abuse & Neglect.
O Programa de Envelhecimento e Saúde Mental (PESM) é um programa assistencial, desenvolvido a partir de uma parceria entre o GPESM, Serviço de Psiquiatria do Hospital São Lucas e o IGG da PUCRS, para monitoramento e assistência da saúde mental de indivíduos a partir dos 60 anos.
O trabalho acontece em parceria com os médicos que prestam assistência aos pesquisadores do GPESM, realizando uma avaliação ampla da saúde mental dos idosos. Novas áreas de pesquisas estão sendo desenvolvidas, como, por exemplo, a desprescrição de benzodiazepínicos utilizados inapropriadamente pelos idosos, assim como a influência de traços de personalidade e a adesão dos idosos aos medicamentos prescritos.
Um exemplo destas novas áreas foi desenvolvida em parceria com o pesquisador da Escola Politécnica César Marcon, do PPG em Ciência da Computação da PUCRS, que é o desenvolvimento de um detector de situações de risco para idosos (dispositivo eletrônico vestível tipo relógio).
O professor Alfredo Cataldo possui uma trajetória de contribuições na área com pesquisas sobre depressão, ansiedade, alcoolismo, qualidade do sono, risco de suicídio entre outros. Nessa linha de pesquisa, Envelhecimento e Saúde Mental foram desenvolvidas 19 dissertações de mestrado, quatro teses de doutoramento, publicados 28 capítulos e dois livros em dez anos de atividade do Grupo de Pesquisa. De acordo com o docente, no Programa de Pós-Graduação em Gerontologia Biomédica, já concluíram seus estudos 19 mestres e 4 doutores neste programa com conceito 7 junto a CAPES.
“Já realizamos muito e temos muito ainda a desenvolver para proporcionar qualidade de vida e saúde mental para os idosos brasileiros”, finaliza o pesquisador.
Ansiedade, desânimo, alteração no humor, problemas de sono, preocupação excessiva. Esses são alguns sintomas que o corpo pode apresentar indicando que está na hora de dar atenção à saúde mental. Criado em 2014, pelo psicólogo mineiro Leonardo Abrahão, o Janeiro Branco é dedicado aos cuidados com a saúde mental e emocional, reforçando a importância da reflexão e conscientização sobre o tema.
A campanha busca estimular a prevenção do adoecimento emocional não somente no mês de janeiro, mas durante o ano todo. Para contribuir com a data, o PUCRS Carreiras elencou 5 dicas para cuidar da saúde mental e melhorar a qualidade de vida.
A pandemia potencializou o contato das pessoas com as telas e hoje parte da população já se vê saturada de interações online. Assim como o corpo, nossa mente também cansa. Procure se desconectar desses aparelhos em alguns momentos do dia e use esse espaço para ler um livro, meditar, praticar um exercício físico, fazer uma caminhada ao ar livre ou alguma atividade que dê prazer.
“Esse é um ótimo momento para se conectar com a natureza. Ter um momento livre e um tempo para se desligar dos problemas e respirar é necessário”.
Tenha momentos do dia voltado para quem você gosta. Procure conversar com pessoas que fazem você se sentir bem. Mantenha vínculos saudáveis, pois o apoio familiar e dos amigos é fundamental para o bem-estar.
Busque fazer atividades que te tragam prazer, momentos de descontração e satisfação pessoal. Isso vai proporcionar alívio e leveza para as tensões do dia a dia, além de ajudar a experimentar sentimentos positivos e melhorar a qualidade de vida.
Uma boa noite de sono é essencial para a nossa saúde e bem-estar, já que o sono tem diversas funções importantes para o nosso organismo. Pratique a higiene do sono, como ter um horário para dormir e acordar e evitar o uso de telas pelo menos 30 minutos antes de dormir, para melhorar a qualidade do seu descanso à noite.
Algumas pessoas ainda pensam que só precisam buscar um acompanhamento psicológico quando já estão com algum nível de sofrimento, mas não é bem assim. Também é possível prevenir o adoecimento mental com o processo de psicoterapia. É fundamental procurar ajuda profissional ao perceber sofrimento ou dificuldades em lidar com as emoções. Um atendimento psicológico pode ajudar a manter ou reequilibrar sua saúde mental.
“Sempre que possível, também procure exercer a empatia e compaixão, oferecendo suporte e orientações a quem possa estar precisando praticar mais esses cuidados. Saúde mental envolve o cuidado contínuo do nosso bem-estar e felicidade”.
A PUCRS, por meio do núcleo de pesquisa Human Factors and Resilience Research (HFACTORS), iniciou um projeto com profissionais da área da saúde em Porto Alegre. O objetivo é identificar questões relacionadas a bem-estar, saúde mental e segurança a partir da percepção desses profissionais, que estão entre os que mais sofrem de esgotamento no ambiente de trabalho.
Apesar de não haver perguntas relacionadas à pandemia de Covid-19, os resultados do estudo deverão ser impactados por esse contexto e mostrar, de alguma forma, como essa área foi afetada. A meta é que aproximadamente 500 pessoas do setor da saúde, que atuem em hospitais, respondam a questionário com uma série de variáveis, como liderança, carreira e autocuidado. A pesquisa inicia sendo aplicada com os funcionários do Ernesto Dornelles, em um segundo momento sendo aplicada no Hospital São Lucas da PUCRS e posteriormente ampliada para outras instituições hospitalares da Capital.
“Essa pesquisa está sendo realizada justamente em um momento de pandemia que é um importante estressor. É um momento histórico que estamos vivendo, de imprevistos e de incertezas”, observa uma das pesquisadoras envolvidas Maria Isabel Barros Bellini, que é professora do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da PUCRS.
Segundo a pós-doutoranda do HFACTORS Fernanda Xavier Arena, os profissionais da saúde já têm um índice elevado de esgotamento. “A pandemia aumentou ainda mais o sofrimento”, acrescenta.
Nesse sentido, a pesquisa também observará a presença de práticas de autocuidado, as quais servem de estratégia para lidar com o estresse causado pelo trabalho. Uma revisão de pesquisas sobre o assunto mostrou que atividades de lazer, esporte, atenção plena e meditação, por exemplo, reduzem o risco de desenvolvimento da síndrome de Burnout, que o esgotamento decorrente de estresse crônico no local de trabalho, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
As pesquisadoras consideram que, durante a pandemia, alguns espaços que funcionavam como locais de interação, atividades e lazer foram fechados, o que contribuiu processos de sofrimento e isolamento. “Com o agravamento dos sintomas, vem a importância do autocuidado como uma das formas de enfrentamento”, ressalta Bellini.
De forma geral, o estudo trará um panorama, a partir de múltiplas variáveis, sobre a relação dos trabalhadores com o seu trabalho. “Queremos entender um pouco mais a relação que os trabalhadores têm com seu trabalho e sobre o próprio contexto desse ambiente e desse trabalho realizado”, explica a doutoranda Daniela Boucinha, psicóloga que também faz parte da equipe.
A pesquisadora informou que o objetivo é também investigar a influência que a liderança exerce sobre as questões relacionadas a bem-estar, saúde mental e segurança. “Queremos saber da relação entre líderes e liderados”, disse Boucinha.
Entre os benefícios da pesquisa, Arena, que é assistente social e tem doutorado em Psicologia, observa que, a partir do conhecimento das percepções dos trabalhadores, é possível elaborar alternativas. Segundo ela, o conhecimento das condições de trabalho auxilia no aprimoramento das práticas de autocuidado, o que também impacta na melhoria das condições de trabalho na otimização do atendimento prestado.
A pesquisa conta ainda com a professora de Psicologia da PUCRS Manoela Ziebell de Oliveira e com a pós-doutoranda Lidiany de Lima Cavalcante e tem característica interdisciplinar. O grupo de trabalho se ampara na experiência de projetos desenvolvidos desde 2014 com abordagem de Fatores Humanos e Engenharia de Resiliência no setor de óleo e gás. Por demanda externa, agora expande sua atuação para o segmento da saúde.
O Human Factors and Resilience Research (HFACTORS) é núcleo vinculado à Escola Politécnica da PUCRS, em parceria com a Escola de Negócios, formado por profissionais de diferentes formações, como Engenharia de Resiliência, Sociologia, Serviço Social, Psicologia, Engenharia, Mídia e Gestão do Conhecimento. A equipe estuda e desenvolvendo soluções, principalmente de segurança, em sistemas sociotécnicos complexos. O que vincula todos os pesquisadores do núcleo é a abordagem de Fatores Humanos a qual observa a interação do homem com o ambiente de trabalho, incluindo os fatores ambientais e organizacionais. A Coordenação Geral do HFACTORS está sob a responsabilidade do Prof. Dr. Eduardo Giugliani.
A pandemia de Covid-19 teve um impacto severo na saúde mental e no bem-estar das pessoas em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem atuado com diversos parceiros internacionais para desenvolver e divulgar soluções para mitigar estes impactos da doença à nivel global. Dentre as iniciativas, a OMS realizou o relatório Mental Health and Covid-19: Early evidence of the pandemic’s impact, que contou com a participação do professor e pesquisador da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Christian Haag Kristensen.
O docente integrou o steering committee (comitê de orientação), responsável por analisar os resultados principais e revisar o escopo geral do relatório. A publicação oferece uma visão geral sobre o impacto da pandemia de Covid-19 nos serviços de saúde mental e sobre a prevalência de sintomas de saúde mental, distúrbios mentais e comportamentos suicidas. Além disso, a pesquisa apresenta apontamentos sobre a eficácia de intervenções psicológicas adaptadas à pandemia de Covid-19 para prevenir ou reduzir estes problemas e manter o acesso aos serviços.
O relatório desenvolvido pela OMS aponta que, no primeiro ano da pandemia de Covid-19, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou 25%. O estudo destaca que as principais explicações para o aumento de estresses foram causados pelo isolamento social decorrente da pandemia, ligados a isso estavam as restrições ao trabalho, ao se envolver em suas comunidades e ao buscar apoio de entes queridos.
Solidão, medo de infecção, sofrimento, luto e preocupações financeiras também foram citados como fatores que levam à ansiedade e à depressão. Já entre os profissionais de saúde, a exaustão tem sido um importante gatilho para o pensamento suicida, de acordo com o relatório.
Outros dados importantes apresentados no relatório são sobre as graves interrupções nos serviços de saúde mental por conta da pandemia de Covid-19. Durante grande parte da pandemia, os serviços para condições mentais, neurológicas e de uso de substâncias foram os mais interrompidos entre todos os serviços essenciais de saúde relatados pelos Estados Membros da OMS, de acordo com o estudo.
Neste contexto, de difícil acesso ao atendimento presencial, muitas pessoas buscaram suporte online, sinalizando a necessidade urgente de disponibilizar ferramentas digitais confiáveis e eficazes e de fácil acesso. No entanto, a pesquisa aponta que desenvolver e implantar intervenções digitais continua sendo um grande desafio em países e ambientes com recursos limitados.
O relatório sinaliza que essa situação melhorou um pouco no final de 2021, porém atualmente ainda muitas pessoas continuam incapazes de obter os cuidados e o apoio de que precisam para condições de saúde mental pré-existentes e recém-desenvolvidas.
O professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Christian Kristensen dedica sua trajetória acadêmica nos estudos do Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia, destacando-se como um nome de referência na área. Atualmente Kristensen é coordenador do Grupo de Pesquisa Cognição, Emoção e Comportamento e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (NEPTE-PUCRS). Além disso, atua no Conselho de Diretores (Board of Directors) da International Society for Traumatic Stress Studies (ISTSS).
O convite para contribuir com o relatório da OMS se deu pelo contato com pesquisadores holandeses do World Health Organization Collaborating Center for Research and Dissemination of Psychological Interventions (Vrije Universiteit, da Holanda) em função da experiência e produção científica na área de trauma e estresse traumático. O Núcleo de Estudos e Pesquisa em Trauma e Estresse (NEPTE-PUCRS) é um dos centros mais produtivos na América Latina na área de pesquisa e intervenção em estresse traumático e a PUCRS foi a única instituição convidada do continente.
Dentre as pesquisas desenvolvidas pelo docente na PUCRS destacam-se a Avaliação do Impacto do Estresse Durante e Após a Pandemia de Covid-19 na Saúde Mental e Avaliação de Risco, o estudo em colaboração com outros centros internacionais como o Rastreio Global de Psicotrauma e Avaliação de Resiliência, além do projeto de intervenção e pesquisa TelePSI, financiado pelo Ministério da Saúde, na forma de telepsicoterapia para profissionais de saúde atuando no combate à Pandemia de Covid-19. Kristensen ressalta que a oportunidade, ainda que individual, é um reconhecimento da excelência dos diferentes Grupos de Pesquisa que integram o NEPTE-PUCRS.
Em entrevista ao jornal Zero Hora, o pesquisador destacou os reflexos da pandemia no atendimento das demandas relacionadas à saúde mental. Para ele, é essencial compreender esses impactos em dois polos. “A pandemia levou a uma enorme demanda por questões de saúde mental e impactou na oferta, nos serviços existentes para atender a essa demanda – negativamente, no sentido de afetar o funcionamento da maior parte dos serviços de tratamento para saúde mental no mundo. É a tempestade perfeita: um aumento enorme da demanda e um impacto tão grande quanto na capacidade de atender essa demanda”. Confirma a entrevista completa.
A saúde mental no ambiente de trabalho é um assunto que interessa a empresas e profissionais e que abrange todos os níveis de hierarquia. Neste contexto de pandemia, a temática ganha ainda mais força: segundo pesquisa do instituto Ipsos, 53% dos brasileiros declararam que seu bem-estar mental piorou no último ano.
Pensando em contribuir com essas reflexões, a 9ª edição da Feira de Carreiras da PUCRS terá como tema o conceito de Ressignificar: diálogos entre bem-estar e carreira, apresentando uma programação dedicada a essa pauta.
O evento acontece nos dias 19 e 20 de outubro, em formato totalmente online, com talks, palestras, rodas de conversas e momentos de autocuidado. Os participantes também terão a possibilidade de conexão com empresas parceiras da Feira de Carreiras, que poderão realizar entrevistas pela plataforma do evento para mais de 500 vagas de emprego abertas, que incluem oportunidades efetivas, de estágio e programas de trainee.
A novidade deste ano será o ambiente 100% virtual e imersivo, que permitirá aos usuários a navegação pelo conteúdo, interação com as empresas e participação nas atividades ao vivo e gravadas. Para Katia Almeida, coordenadora do PUCRS Carreiras, a expectativa para essa edição é alcançar um maior número de pessoas em todo o País.
“Sabemos o quanto é necessária e importante essa conversa sobre carreira, por isso, neste ano, a Fijo fez o investimento em uma plataforma interativa, na qual o público poderá ter um acesso diferenciado a tudo que estará sendo oferecido dentro do evento,” destaca.
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de saúde é bem mais abrangente que a simples ausência de doença: é um completo estado de bem-estar físico, mental e social. Por isso, merece atenção em todas as suas vertentes.
Trabalhando tanto com a carreira como com a trajetória de vida das pessoas, o Carreiras entende a importância da ajuda profissional e de práticas na promoção da saúde como um todo.
O PUCRS Carreiras tem como propósito fortalecer o elo entre a Universidade e o mercado de trabalho, desenvolvendo a empregabilidade de estudantes, alumni PUCRS e comunidade. Através de consultorias de carreiras, mentorias, workshops e oficinas que abordam temas como elaboração de currículo e LinkedIn, preparação para entrevistas e desenvolvimento de marca pessoal, o serviço atua como uma ponte para a inserção profissional.
Segundo dados do Carreiras, 35,5% dos estudantes que estão cursando até o quinto semestre de graduação na PUCRS estão realizando estágios não-obrigatórios. Destes, 8,9% estão cursando entre o primeiro e o segundo semestres, construindo uma trajetória profissional desde o início dos estudos. Em 2021, foram disponibilizadas, em média 187 vagas por mês no site do PUCRS Carreiras.
Refletir sobre os impactos da pandemia de Covid-19 na sociedade e a repercussão dessas transformações nos próximos anos é o objetivo da série Vida pós-pandemia. Na última semana, pesquisadores da Universidade lançaram um olhar sobre as implicações da crise sanitária na comunicação e nos negócios. Agora, o foco do debate é a digitalização da saúde pública e a importância da saúde mental da população. Confira!
Na medicina, a pandemia acentuou as tensões entre o profissionalismo médico e o bem-estar dos profissionais da saúde. Para os professores Alexandre Padoin e Thiago Viola, da Escola de Medicina, o contexto atípico impôs demandas fundamentais e obrigatórias em sistemas de saúde já sobrecarregados (sobretudo com falta de recursos materiais, de insumos e de mão-de-obra), testou médicos e profissionais de saúde até os limites da competência profissional e causou um impacto considerável na saúde e bem-estar físico e mental de cada um.
Frente às medidas de distanciamento, uma série de especialidades precisaram se adaptar rapidamente à telemedicina (atendimento médico online). A modalidade expandiu o desenvolvimento tecnológico de comunicação, diagnóstico e tratamento dos pacientes, possibilitando, inclusive, que o ensino da medicina e o treinamento de profissionais ocorressem a distância.
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“Para o futuro há uma necessidade de combinação de trabalho em equipe aprimorado, redução de encargos administrativos, preparação otimizada organizacional e cada vez mais ênfase no desenvolvimento científico e tecnológico”, aponta Alexandre Padoin.
Para além do tempo recorde no desenvolvimento de vacinas de RNA mensageiro, os pesquisadores também salientam o avanço dos algoritmos de inteligência artificial, capazes de identificar e rastrear a disseminação do novo coronavírus, predizendo locais geográficos de alto risco. Nesse sentido, segundo Thiago Viola, “o futuro da saúde pública tende a se tornar cada vez mais digital, incluindo o alinhamento de estratégias internacionais para a regulamentação, avaliação e uso de tecnologias digitais para fortalecer a gestão de crises futuras”.
Sobre os impactos da Covid-19 na saúde da população, os professores destacam que as principais implicações negativas em adultos incluem o aumento de sintomas de fadiga crônica, sofrimento psicológico, problemas de sono, sintomas de depressão e ansiedade. É importante considerar também que pesquisas apontam que os fatores de risco para os sintomas acima são “ser do sexo feminino, apresentar preocupações com a família, medo de infecção, contato próximo com a Covid-19, sentimento de luto e/ou ter sofrido algum impacto socioeconômico familiar, como perda de emprego.
Em relação ao comportamento da sociedade sobre a saúde pública, os pesquisadores Alexandre e Thiago afirmam que alguns laboratórios de pesquisa já estão mapeando o que foi mais efetivo em termos de cuidados sanitários, visando a futura prevenção.
“A construção de sociedades resilientes deve incluir a mudança comportamental de toda a população, bem como a redução das desigualdades socioeconômicas. A incorporação de comportamentos nas sociedades requer mudanças nos ambientes físicos e sociais, como a promoção de locais de trabalho seguros e normas sobre condutas de higiene. Estes espaços precisam ser sustentados pela ativação da comunidade, regulamentação da organização e legislação nacional”, ressaltam.
Manoela Ziebell de Oliveira, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, afirma que diante da realidade de outros países já é esperada a necessidade de um período de adaptação no retorno às atividades presenciais. Para ela “algumas pessoas voltarão com medo e com mais dificuldade de interação. Por isso, precisaremos nos adaptar assim como no início da pandemia, quando adotamos as medidas de isolamento”.
Sobre os impactos da pandemia na saúde mental da população, a professora destaca uma série de efeitos. O medo da contaminação, a ansiedade com relação ao desempenho nos múltiplos papéis que as pessoas tiveram que conciliar (como trabalhar, cuidar de casa, auxiliar os filhos com ensino remoto, entre outros), o aumento nos níveis de depressão e ansiedade, além do aumento da violência doméstica e suas consequências, são alguns deles. Além disso, aumentaram as incertezas relacionadas ao futuro – seja no âmbito profissional, econômico ou de saúde – especialmente entre as pessoas que se encontravam em situações mais vulneráveis antes da pandemia.
Mesmo entre pessoas percebidas como saudáveis, observaram-se sintomas de definhamento (sensação de estagnação, vazio, abatimento) após tantos meses de isolamento. Para driblar medos e inseguranças, Manoela alerta para a importância de manter os cuidados como o uso de máscara e de álcool em gel, e evitar as aglomerações.
“Uma dica também é a prática de mindfulness (exercício de atenção plena no momento presente), para aqueles com dificuldade de concentração ou ansiedade. Também será preciso renegociar limites e tarefas do dia a dia conforme uma maior presencialidade vai sendo inserida na rotina. Além disso, é muito importante buscar ajuda quando a ansiedade ou sentimentos negativos se tornam muito fortes”, completa.
Embora desconfortáveis, o medo e a insegurança ajudam as pessoas a estarem alerta para o risco que permanece. Buscar conforto e diálogo com pessoas próximas e queridas pode ajudar a lidar com os sentimentos negativos; e manter os níveis de atenção e dedicação na realização das tarefas pode contribuir com a sensação de êxito e autonomia.
Essas ações não irão eliminar o medo, mas certamente serão úteis para a adaptação durante o retorno das atividades presenciais. “Ainda temos um caminho a ser percorrido e cada um tem um importante papel de manter os cuidados e proteger a si e aos demais”, finaliza.
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