infecções respiratórias, Covid-19

Medidas de prevenção para Covid-19 auxiliaram a redução de doenças respiratórias / Foto: Pixabay

Em resposta à pandemia de Covid-19 foram adotadas medidas como o confinamento, distanciamento social, o uso de máscaras pela população e a higienização constante das mãos, incluindo o uso de álcool em gel. Essas intervenções tiveram impacto não só na transmissão do novo coronavírus (SARS-CoV-2), mas também em outras doenças de transmissão respiratória, como pneumonia, bronquiolite aguda, influenza e vírus sincicial respiratório (VSR).

Essa conclusão foi destacada em pesquisas realizadas pelo grupo liderado pelo decano da Escola de Medicina, Leonardo Araújo Pinto, durante a pandemia. O docente atua no Programa de Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança da PUCRS e possui uma jornada reconhecida por diversas contribuições científicas nas especialidades ligadas a doenças respiratórias.

Impactos na pneumonia infantil

A pneumonia é uma forma de infecção respiratória aguda que é mais comumente causada por vírus ou bactérias, sendo responsável por 15% de todas as mortes de crianças menores de cinco anos em todo o mundo. Araújo Pinto explica que o momento em que as estratégias de contenção da pandemia de Covid-19 foram implementadas no Brasil coincide com o aumento já documentado de internações por pneumonia no mesmo período de anos anteriores.

O pesquisador desenvolveu o estudo Impacto das intervenções não farmacológicas de COVID-19 nas internações por pneumonia infantil no Brasil, para avaliar o impacto das medidas de contenção da pandemia nas internações por pneumonia em crianças de 0 a 14 anos no Brasil. Foram utilizados dados de internações por pneumonia do banco de dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde no período de 2015 a 2020 e analisados ​​por macrorregiões e faixas etária. Com isso, foram comparados os números de 2015 a 2019 com os números de 2020.

Os resultados apresentaram uma redução de 82% na incidência média de internações de crianças menores de quatro anos; 83% em crianças entre cinco e nove anos; 77% entre os 10 e 14 anos; e 82% para todas as crianças menores ou com 14 anos. Com isso, a pesquisa realizada pelo pesquisador Araújo Pinto, concluiu que as medidas aplicadas para o controle de Covid-19 resultaram na diminuição significativa dos casos de pneumonia de todas as causas em menores de 14 anos.

“Nossos resultados podem fornecer insights sobre maneiras pelas quais as medidas restritivas adotadas também podem ser aplicadas a outras doenças respiratórias”, concluiu o pesquisador.

Bronquiolite aguda

A bronquiolite aguda está entre as principais doenças transmissíveis da infância e é a causa mais frequente de hospitalização em lactentes em todo o mundo. No Brasil, a doença representou aproximadamente 6% do total de internações em crianças com menos de um ano de idade durante o período de 2008 a 2015. O vírus sincicial respiratório (VSR) é o principal agente etiológico da bronquiolite aguda e apresenta alta transmissibilidade, principalmente nas estações de outono e inverno.

A pesquisa intitulada Impacto precoce do distanciamento social em resposta à doença do coronavírus nas internações por bronquiolite aguda em bebês no Brasil, também realizada pelo professor Araújo Pinto, utilizou dados das internações pela doença do Departamento de Informática da Base de Dados de Saúde Pública no Brasil para o período de 2016 a 2020.

Com a comparação ano a ano com os números de internação de 2020, foram obtidos os resultados de uma redução de 70% na hospitalização por bronquiolite aguda em crianças menores de um ano de idade no Brasil. De acordo com o decano, os dados sugerem um importante impacto do distanciamento social na redução da transmissão de vírus relacionados à bronquiolite aguda e que este conhecimento pode orientar estratégias de prevenção da disseminação viral. Os estudos tiveram importante colaboração do aluno de doutorado do PPG em Pediatria da PUCRS Frederico Friedrich e de estudantes de iniciação científica vinculados ao grupo.

VSR e Influenza

Outro estudo com a colaboração dos professores Leonardo Pinto, Marcelo Scotta e Renato Stein buscou relatar a detecção de vírus sincicial respiratório (VSR) e influenza durante o período de distanciamento social devido à pandemia de Covid-19 durante o outono e inverno de 2020 em dois hospitais do Sul do Brasil. Foi realizada uma prospecção com adultos e crianças que buscaram atendimento nos hospitais por sintomas de Covid-19.

Foram realizados testes de RT-PCR para SARS-CoV-2, influenza A, influenza B e vírus sincicial respiratório (VSR) em mais de 1.400 participantes suspeitos de Covid-19 entre maio e agosto. Destes testes, 469 apresentaram resultados positivos para o SARS-CoV-2, enquanto influenza e VSR não foram detectados.

Com isso, Araújo Pinto explica que medidas para reduzir a transmissão do SARS-CoV-2 provavelmente exerceram um enorme impacto na redução da disseminação de patógenos respiratórios alternativos.

“Essa pesquisa contribui para o conhecimento sobre a dinâmica de propagação dos vírus. Além disso, pode ser considerada para orientar as escolhas preventivas e terapêuticas para redução do impacto dos vírus respiratórios”, completa.

Leia também: Por que é importante se vacinar?

Apesar do avanço da presença feminina nas mais variadas áreas do conhecimento, dados mundiais apresentados pela UNESCO, em 2020, apontam que apenas 30% dos cientistas são mulheres. No Brasil, as mulheres pesquisadoras representam 40,3%. O Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado neste 11 de fevereiro, busca dar maior destaque para a pauta, que exige esforços contínuos para uma participação mais igualitária das mulheres na ciência.

A data, instituída em 2015 pela Assembleia das Nações Unidas, visa promover o debate e ampliar a relevância da presença feminina nas áreas de pesquisa científica e tecnológica. Pensando nisso, selecionamos pesquisadoras da Universidade que se dedicam ao estudo de mulheres em diferentes áreas do conhecimento, conduzindo pesquisas que não só reforçam seu espaço enquanto cientistas, mas dão luz a temáticas importantes no debate da equidade de gênero.

Mulheres na aviação brasileira

A professora do Programa de Pós-Graduação em História da Escola de Humanidades Claudia Musa Fay é um exemplo destas pesquisadoras. A docente realizou o projeto de pesquisa As Mulheres na Aviação Brasileira: Lutas e Conquistas, a partir da constatação do pequeno número de mulheres que ingressavam no curso de Ciências Aeronáuticas. O curso foi criado em 1993 em uma parceria entre a PUCRS e a VARIG, companhia aérea brasileira, e que em sua primeira turma, dos 60 estudantes que ingressaram, apenas duas eram mulheres.

“O contexto do mercado de trabalho nas empresas brasileiras era semelhante. Existiam poucas mulheres pilotos em relação aos homens. Por isso, o papel da pesquisa era identificar e analisar os principais obstáculos que impediam o ingresso de um maior número de mulheres na aviação”, explica.

Nos primeiros 10 anos de curso foram formados 464 homens e 20 mulheres. A metodologia do projeto consistia numa etapa de história oral, para recolher através de entrevistas abertas, as trajetórias destas alunas. As entrevistas foram gravadas e depois transcritas com pleno consentimento, analisadas e divulgadas pelo Núcleo de Pesquisa em História Oral. Com os resultados, a pesquisa começou a revelar que preconceitos sociais e culturais dificultavam a procura, mas também as condições econômicas. Havia inclusive falta de informações disponíveis para realização da formação necessária para ingressar na faculdade.

“Com essa pesquisa, buscamos encorajar outras mulheres que estão enfrentando obstáculos para realizar seus sonhos, mostrar que é possível se realizar numa profissão técnica e científica. Acreditamos na necessidade ações afirmativas para mudar a situação, como incentivos, criação de bolsas de estudo, mentorias, divulgação nas escolas e um conhecimento maior das trajetórias de mulheres que se realizaram na profissão mesmo com tantos obstáculos”, complementa a professora.

Mulheres na computação

A área da computação, em específico, é um dos setores da economia e do mercado de trabalho que mais cresce no mundo, com oportunidades de desenvolvimento e crescimento profissional. Entretanto, por muito tempo, mulheres têm evitado as áreas exatas por diferentes razões e as poucas que trilham esse caminho relatam um sentimento de solidão ao interagir com poucas mulheres durante a sua jornada. Quem relata esta situação é a professora do PPG em Ciências da Computação da Escola Politécnica Soraia Raupp Musse.

A docente é responsável pelo Programa Mulheres na Computação, uma parceria entre a PUCRS e a empresa Poatek, iniciativa que apoia a formação de Mulheres na área de Computação. Com o projeto, estudantes recebem uma bolsa de estágio nos grupos de pesquisa e orientação de professores do PPG em Ciência da Computação.

Atualmente, cinco meninas participam do programa e têm acesso a área de pesquisa, trabalham com estudantes de mestrado e doutorado e participam de publicações, desenvolvimentos avançados e inovadores. A professora Soraia acredita que com mais pluralidade, mais a sociedade recebe ideias novas, perspectivas diferentes e interesses inovadores.

“Acreditamos que quanto mais mulheres na ciência e quanto mais diversidade, mais poderemos chegar a soluções inovadoras para problemas ainda em aberto e até vermos emergir novos problemas ainda não conhecidos”, complementa a docente.

Mulheres quilombolas

Já a professora do PPG em Serviço Social da Escola de Humanidades Patrícia Krieger Grossi dedica sua trajetória acadêmica a estudar as experiências sociais de mulheres quilombolas no acesso às políticas públicas. Essas comunidades são um dos segmentos mais vulneráveis na sociedade brasileira e vem sofrendo violações de direitos humanos mais básicos, como o direito humano à alimentação e uma vida digna.

De acordo com a docente, as mulheres neste contexto lutam pelo seu território, muitas são consideradas as guardiãs da cultura, transmitindo às gerações mais jovens a história de seus antepassados. Além disso, elas têm um papel fundamental em torno das lutas sociais por igualdade, organização política e econômica e em prol de direitos sociais básicos. A professora Patrícia destaca que valorizar este protagonismo feminino na ciência, assim como acontece no contexto cultural-social dos quilombos, é fundamental para incentivar as novas gerações.

“Um dos grandes desafios na nossa sociedade é a superação das desigualdades de gênero. Por isso, uma educação voltada para a promoção da igualdade de gênero possibilitará fomentar maior participação das meninas na ciência, valorizando o potencial, habilidades e competências, em sua plenitude”, comenta.

Mulheres em situações migratórias

A mestranda do PPG em Serviço Social Cristiane Matiazzi Posser também optou em sua pesquisa para um olhar voltado para mulheres. Na dissertação Proteção social para mulheres venezuelanas em solo brasileiro: acolhimento e/ou racismo?, a aluna analisa a realidade de mulheres venezuelanas refugiadas no Brasil que utilizam a Proteção Social Básica, bem como os serviços de rede socioassistencial, tanto no âmbito público quanto em ONGs, com o objetivo de contribuir para a ampliação e qualificação desses serviços enquanto políticas públicas.

Foram realizadas entrevistas com essas mulheres refugiadas e com assistentes que atuam em um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) – principal organização que atua na Proteção Social Básica – e em uma Organização não Governamental (ONG) – pertencente aos serviços das redes socioassistenciais.

Com o estudo, foi possível concluir que as mulheres venezuelanas são impactadas diretamente por diversas formas de preconceitos, como sexismo e racismo. Nos depoimentos, essas pessoas relatam que já foram expulsas de certos locais, somente por sua nacionalidade, assim como receberam tratamento “diferente” na busca por serviços de saúde. Além disso, as refugiadas contam que correm riscos de serem vítimas do tráfico de pessoas, exploração sexual, trabalho escravo e trabalhos informais, sem carteira assinada ou direitos trabalhistas.

Assim, a mestranda Cristiane acredita que a presença das mulheres na ciência contribui para que a realidade seja repensada e alterada, uma vez que estas são as vozes silenciadas pela sociedade. “É fundamental que pesquisas científicas como esta continuem sendo realizadas, para que então a realidade das mulheres – venezuelanas ou de qualquer outra nacionalidade –permeada de preconceitos, racismo e violação de direitos seja exposta e ouvida”, complementa.

Mulheres em situação de vulnerabilidade

O Grupo de Pesquisa Violência, Vulnerabilidade e Intervenções Clínicas, vinculado ao PPG de Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida assume a frente de importantes iniciativas para prevenção e enfrentamento à violência contra meninas e mulheres. O grupo, liderado pela professora e pesquisadora em Psicologia Luisa Fernanda Habigzang, desenvolveu um estudo de avaliação de protocolo de psicoterapia breve para mulheres que experenciaram violência nas relações íntimas. A intervenção promoveu a redução de sintomas de depressão, ansiedade e transtorno do estresse pós-traumático.

Além disso, pesquisas estão sendo realizadas para prevenção de violência no namoro para meninas adolescentes de escolas públicas e que estão em acolhimento institucional. Outra iniciativa está em andamento em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, para realizar a avaliação de um programa de formação para educadores que visa contribuir para o enfrentamento da violência de gênero.

A professora Luisa integra um grupo de especialistas convidados pela Sexual Violence Research Initiative (SVRI), que está contribuindo para estabelecer agenda de prioridades de investigação sobre a violência contra as mulheres e as meninas na região da América Latina e do Caribe.

“Para uma sociedade mais igualitária e justa, as mulheres, em sua diversidade de existência, precisam de oportunidade para serem protagonistas na ciência. Para isso, a carreira acadêmica nas mais diversas áreas deve ser sinalizada e facilitada como caminho possível para meninas durante seus processos de educação formal e informal”, finaliza a docente.

A PUCRS valoriza e celebra as pesquisadoras que contribuem diariamente com a sociedade através do desenvolvimento de pesquisas nas mais variadas áreas do conhecimento. Diversas ações que buscam o incentivo do protagonismo feminino na ciência estão em desenvolvimento em nossa Universidade, conheça algumas delas neste link.

etonomatematica

GEPEPUCRS desenvolve estudos voltados para as possibilidades para a implementação da Etnomatemática como método de pesquisa e ensino na Educação Básica / Foto: Pexels

No mundo atual, marcado pelos processos de globalização e avanços tecnológicos na informação e comunicação, debates sobre diversos temas têm ganhado espaço. Entre eles, a busca por novas abordagens sobre o ensino tradicional de diferentes áreas do conhecimento. Presente no nosso dia a dia em muitos contextos, a Matemática é uma das disciplinas as quais pesquisadores têm se dedicado a estudar novas formas de ensino.

No Grupo de Estudos e Pesquisa em Etnomatemática na Escola Politécnica da PUCRS (GEPEPUCRS), estão sendo desenvolvidas pesquisas com o objetivo de apontar diferentes possibilidades para a implementação da Etnomatemática como método de pesquisa e ensino na Educação Básica. O grupo surgiu por iniciativa da pesquisadora do Programa de Pós-graduação (PPG) em Educação em Ciências e Matemática Isabel Cristina Machado de Lara.

“A Etnomatemática é uma tentativa de descrever e entender as formas pelas quais ideias são compreendidas, articuladas e utilizadas por outras pessoas que não compartilham da mesma concepção de Matemática”, comenta a pesquisadora.

Sobre a Etnomatemática

A Etnomatemática surgiu na década de 1970, como uma contraproposta do ensino tradicional de Matemática. É um método de pesquisa e de ensino que cria condições para que o pesquisador reconheça e compreenda o modo como um saber matemático foi gerado, organizado e difundido dentro de determinados grupos culturais.

É uma metodologia de pesquisa que possibilitam que pesquisadores identifiquem a presença da Matemática em diferentes culturas e contextos. A professora Isabel explica que tal compreensão possibilita uma reflexão destes saberes que foram ou não legitimados na perspectiva da Matemática Escolar.

As etapas de metodologia

Em sua trajetória de pesquisas com o GEPEPUCRS em Etnomatemática, a professora Isabel propõe uma metodologia de ensino que se guia a partir das três seguintes etapas: Etnografia, Etnologia e Validação.

etnomatemática

Campo de estudo visa compreender os saberes matemáticos de diferentes culturas / Foto: Pexels

Na primeira etapa, o pesquisador estabelece uma conexão com o grupo ou membros do grupo que será investigado para levantar dados sobre os saberes culturais e matemáticos desse grupo em relação aos fazeres cotidianos. Por meio de observações, entrevistas e narrativas, torna-se possível compreender a realidade e as práticas do grupo.

Com isso, parte-se para a realização da Etnologia, quando o pesquisador compara as informações coletadas na etapa anterior e relaciona os saberes matemáticos e culturais do grupo estudado com as propostas de ensino da Matemática Escolar. Neste momento, é possível identificar as diferenças e aproximações entre a matemática tradicional aprendida nas escolas com a matemática praticada dentro daquele contexto.

Assim, na etapa final de Validação, o pesquisador interpreta os dados coletados e define quais são usos matemáticos dentro de cada forma de vida. Para então, validar as diferentes manifestações de conhecimento cultural e matemático daquela realidade.

“Com esta trajetória de pesquisas que estão sendo construídas no grupo, tornou-se possível considerar a Etnomatemática como um método de ensino para Educação Básica, que pode criar condições que possibilitem aos professores e estudantes refletirem acerca de modos de matematizar que muitas vezes são deixados de lado e desqualificados, mas que podem estar presentes em formas de vida muito próximas à realidade em que estão inseridos” complementa a pesquisadora Isabel.

Pesquisas visam entender saberes e culturas

Desde 2012, quando surgiu o grupo GEPEPUCRS, foram concluídas dez pesquisas realizadas por alunos e alunas de mestrado, com orientação da professora Isabel. Nos projetos, os estudantes puderam trazer à tona o modo como alguns saberes foram marginalizados pela Matemática Escolar e, com isso, propor novas práticas de reparação dessas culturas por meio da Etnomatemática.

Como por exemplo, a pesquisa da aluna Mayara de Araújo Saldanha, do GEPEPUCRS, intitulada Histórias de Pescadores: uma etnomatemática sobre os saberes da pesca artesanal da Ilha da Pintada – RS. A estudante realizou uma etnografia, considerando a Etnomatemática como um método de pesquisa, com entrevistas de três pescadores artesanais. Com isso, evidenciou que os saberes matemáticos deste grupo não estão vinculados à frequência escolar, mas sim, das distintas situações diárias da prática da pesca, da necessidade de otimizar recursos e da prática de industrializar e comercializar seu trabalho.

Além disso, de acordo com a professora, uma das pesquisas desenvolvidas, fundamentada em Wittgenstein (filósofo austríaco), mostra que a Etnomatemática possibilita que as condições de significado dos conceitos matemáticos abordados durante o Ensino Superior ocorram quando o estudante conhece diferentes usos desses conceitos em seus respectivos cursos de graduação ou futura profissão.

Bernardo Consoli, doutorando da Escola Politécnica, recebeu prêmio de melhor dissertação em conferência internacional / Foto: Arquivo pessoal

O doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação da Escola Politécnica Bernardo Consoli recebeu o prêmio de melhor dissertação da International Conference on the Computational Processing of Portuguese (PROPOR 2022) com a pesquisa Enriching Portuguese Word Embeddings with Visual Information. O estudo premiado foi realizado com orientação da professora Renata Vieira, e abordou a utilização de informação visual (imagens, fotos) para aumentar a qualidade do entendimento de informação textual. A pesquisa também foi reconhecida como segundo melhor paper da Brazilian Conference on Intelligent Systems (BRACIS 2021).

Bernardo realizou seu bacharelado e mestrado na PUCRS e sua trajetória sempre foi voltada para a pesquisa. Durante a graduação realizou iniciação científica e fez parte do Laboratório de Pesquisa em Processamento de Linguagem Natural. Atualmente, está realizando seu doutorado no PPG em Ciência da Computação, com orientação do professor Rafael Bordini.

“Essas oportunidades que a PUCRS oferece no fomento da pesquisa e iniciação científica são muito importantes para o desenvolvimento profissional. Trabalhar com a professora Renata e com meus colegas de laboratório me tornou um pesquisador apaixonado pelo tema e pela ciência”, destaca Bernardo.

Processamento de Linguagem Natural

A área da computação que lida com linguagem humana falada e escrita é Processamento de Linguagem Natural (PLN). É uma área que apresenta possibilidades de tecnologia para facilitar a comunicação humano-computador ou processar grandes quantidades de informação linguística.

As pesquisas de Bernardo na área são voltadas para que computadores entendam e categorizem melhor grandes repositórios de informações linguísticas e possam facilitar o uso dessa informação por humanos.

“Os meus trabalhos focam em melhorar sistemas de entendimento do sentido de palavras, sentenças e textos, para que os mesmos possam ser corretamente classificados e utilizados por outros sistemas”, explica o doutorando.

Melhores informações para profissionais da saúde

O aluno esclarece que as tecnologias provindas da área de PLN têm um grande impacto em como as pessoas interagem com informação. O Google Search e outras ferramentas de busca na internet, por exemplo, fazem uso de várias tecnologias da área para melhorar os resultados das buscas feitas pelas pessoas. Ferramentas de tradução automática (como o Google Translate) e ferramentas de correção automática de texto também são exemplos de tecnologias de PLN.

Na prática, as tecnologias também podem ser utilizadas em campos especializados como Direito e Medicina. Nesses campos, o PLN é usualmente utilizado para interpretar informação e auxiliar profissionais na tomada de decisões.

Em sua tese de doutorado, Bernardo está trabalhando com informações hospitalares, com enfoque na utilização de PLN em sistemas mais avançados em evoluções médicas, em conjunção com outras fontes de informação, para predizer complicações futuras de pacientes antes delas acontecerem. “Com essa pesquisa será possível ajudar profissionais médicos a prevenirem problemas futuros e a manterem a saúde de seus pacientes”, comenta.

Estude Ciência da Computação em 2022

Interessados/as em ingressar em uma pós-graduação stricto sensu ainda no primeiro semestre de 2022 têm uma nova chance para se inscrever. O Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação (PPGCC) está com inscrições abertas até o dia 15 de fevereiro para mestrado e doutorado.

Com nota 6 na Avaliação Quadrienal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o PPGCC está entre os melhores Programas de Pós-Graduação em Computação do Brasil, com excelência nacional e internacional.

Inscreva-se no PPG em Ciência da Computação

Decana da Escola de Ciências da Saúde e da Vida pesquisa sobre relação entre humanos e animais de estimação

Debate sobre benefícios proporcionados pelo convívio com animais de estimação divide pesquisadores / Foto: Pexels

O Brasil é o terceiro país do mundo com maior população de animais domésticos, de acordo com a Associação Brasileira da Industria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). Os dados do primeiro semestre de 2021 apontam que são mais de 139 milhões de bichinhos de estimação presentes no lar de cidadãos brasileiros. Por conta disso, tornou-se mais que fundamental ser discutido como se estabelecem as relações entre os humanos e os animais de estimação.  

A decana e professora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Psicologia Tatiana Irigaray dedicou sua trajetória acadêmica a investigar os aspectos psicológicos na relação humano-animal e outros desdobramentos a partir disso. A docente aponta que existem diversas pesquisas que buscam investigar se o convívio com os animais de estimação proporciona benefícios físicos ou psicológicos para o ser humano, porém o debate é dividido entre os pesquisadores.  

“Enquanto alguns estudos relatam que existem benefícios relacionados ao convívio com os animais, outras pesquisas não encontraram esses mesmos benefícios, e algumas ainda sugerem que a presença de um animal pode ser prejudicial para a saúde mental das pessoas”, destaca.   

Determinantes para a saúde mental 

Entre os benefícios encontrados, Tatiana destaca o aumento do bem-estar, autoestima e felicidade, além do papel protetivo dos animais contra a solidão, depressão, ansiedade e estresse. Mas que também existem casos que relatam que os animais estão associados com o aumento dos sintomas de ansiedade, depressão e estresse.  

“Diversas pesquisas avaliaram apenas o fato de as pessoas possuírem ou não um animal de estimação, sem considerar as diferenças individuais de cada relação humano-animal”, explica.  

Para a docente, as características específicas do indivíduo, como aspectos de personalidade, assim como o modo de interação com o animal, podem ser mais determinantes para a saúde mental das pessoas do que a simples presença do animal.   

A mestranda Nathália Saraiva de Albuquerque, do grupo Avaliação, Reabilitação e Interação Humano-Animal (ARIHA) do PPG de Psicologia da PUCRS, contribui para o debate com sua pesquisa intitulada Fatores de personalidade e nível de apego em tutores de cães e gatos. Seu projeto realizou comparações dos fatores de personalidade entre pessoas que possuíam cães ou gatos e os indivíduos que não tinham animais de estimação. Além disso, investigou se existia associação entre fatores de personalidade e nível de apego do tutor pelo animal.  

Apego emocional a animais de estimação 

Para a professora, os tutores que são muito apegados aos seus animais apresentam uma maior vulnerabilidade psicológica

Personalidade do indivíduo deve ser considerada nos estudos sobre o vínculo humano-animal / Foto: Sam Lion/Pexes

Os principais resultados encontrados mostraram que os participantes que possuíam animais de estimação, independentemente da espécie (cão ou gato), eram mais extrovertidos do que aqueles que não tinham animais. A extroversão engloba o modo como o indivíduo se relaciona com os demais, sendo que pessoas que apresentam uma pontuação maior nesse fator costumam ser mais ativas, comunicativas, sociáveis, otimistas e afetuosas.  

Por outro lado, verificou-se que o fator de personalidade neuroticismo, que se refere a uma maior instabilidade emocional, estava relacionado a um maior nível de apego pelo animal. Os indivíduos com uma pontuação alta em neuroticismo possuem maior probabilidade de vivenciar um sofrimento emocional mais intenso, e, geralmente, são mais ansiosos, depressivos e impulsivos.  

Como explica a professora Tatiana Irigaray, com a pesquisa pode-se concluir que os tutores que são muito apegados aos seus animais apresentam uma maior vulnerabilidade psicológica. Além disso, ela destaca que, com estes resultados, torna-se evidente que a personalidade do indivíduo é uma variável que deve ser considerada nos estudos que visam a compreensão do vínculo humano-animal.  

“A personalidade das pessoas, por exemplo, pode influenciar no modo como o indivíduo interage com o animal e também na forma como ele usufrui das vantagens envolvidas nesse relacionamento. Isso pode explicar por que nem todos os tutores se beneficiam igualmente da convivência com um animal de estimação”, explica.

Atuação do ARIHA 

O grupo de pesquisa ARIHA, sob a coordenação de Tatiana Quarti Irigaray, tem a finalidade de desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão nos quais aborda diferentes temas relacionados à avaliação e reabilitação psicológica, envelhecimento, saúde mental, aspectos da interação humano-animal e o uso de animais em terapia. O objetivo principal é desenvolver estratégias de avaliação e intervenção que possibilitem ações preventivas e de tratamento.

Mercado dos carros elétricos tem crescido no Brasil

Principal fator que incentiva a utilização de carros elétricos é a diminuição da poluição do ar / Foto: Pexels

No Brasil, os carros elétricos ainda têm um mercado pequeno, mas que cresce rapidamente com iniciativas de empresas e entidades de fomento à tecnologia. De acordo com dados da NeoCharge (2021), empresa que oferece soluções de recarga para veículos elétricos, atualmente existem mais de 65 mil carros deste tipo no País, sendo São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina, os estados com mais presença destes automóveis.  

O professor da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos Eduardo Campos Pellanda é responsável por realizar diversas pesquisas sobre tecnologias que impactam a sociedade e foi o primeiro comprador de um veículo elétrico no Rio Grande do Sul. Atualmente, o docente se dedica a investigar as transformações decorrentes da transição deste importante setor.  

Pesquisas sobre mobilidade urbana e novas tecnologias 

O principal projeto que está sendo desenvolvido é em parceria com o Grupo IESA, referência no mercado automotivo no Rio Grande do Sul. A iniciativa propõe criar uma estação de carregamentos de carros elétricos com energia solar que terá sempre veículos das marcas que a empresa representa como demonstração da tecnologia, para que a comunidade acadêmica possa entender o funcionamento desta nova tecnologia. “As universidades têm um papel fundamental neste processo pesquisando soluções e capacitando pessoas para esta nova realidade”, pontua o pesquisador. 

Além das produções individuais, Pellanda também atua com o PLUG: Future Mobily, hub que nasceu da ideia de agregar pesquisa e ensino da PUCRS a startups, empresas, governo e associações que estão trabalhando nestes desafios da nova mobilidade urbana. O grupo surgiu por iniciativa de professores das escolas Politécnica, de Negócios e da Famecos. Por isso, apresentam uma proposta de abordagem multidisciplinar do assunto.  

Vamos produzir conteúdos relevantes com os estudantes do curso de Jornalismo e vamos agregar grupos de pesquisa que estão alinhados com o tema. Com esta convergência de forças, temos certeza de que seremos um espaço relevante nacionalmente e internacionalmente sobre mobilidade e tecnologia”, complementa.   

Carros elétricos e seus impactos  

A adesão dos carros elétricos, assim como bicicletas ou patinetes elétricos, pode transformar as cidades profundamente. De acordo com Pellanda, o principal fator que incentiva a mudança é a não poluição do ar:  

“Cidades com ar mais puro não só ajudam globalmente no controle do aquecimento, mas também permitem uma menor incidência de doenças respiratórias na população. Além disso, carros, ônibus e caminhões elétricos podem fomentar o exercício ao ar livre e também o uso das bicicletas convencionais, já que a poluição é um dos fatores que impede as pessoas de pedalarem em vários centros urbanos”. 

Outro benefício é em relação à poluição sonora. Com os veículos elétricos, as cidades ficariam com menos ruídos, permitindo uma melhor qualidade de vida e pessoas menos estressadas. Além disso, Pellanda também destaca que os prédios históricos sofreriam menos com a fuligem oriunda dos canos de descarga de veículos tradicionais. 

Leia também: PUCRS integra primeiro laboratório para testes de baterias de carros elétricos do País

Grupo de pesquisa trabalha cinema e educação

Grupo de pesquisa já realizou oficinas com professores da rede pública / Foto: arquivo pessoal

O Programa de Pós-Graduação (PPG) em Comunicação e o PPG em Educação têm uma colaboração por meio do grupo de pesquisa em Cinema, Audiovisual, Tecnologias e Processor Formativos, do qual a professora da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos Cristiane Freitas Gutfreind participa. Com a liderança do também professor da Famecos João Barone, o grupo propõe discussões que perpassam justamente a relação entre o cinema, a educação e o uso de filmes em sala de aula. 

O grupo de pesquisa se dispõe a realizar a curadoria de filmes que possam auxiliar o ensino de diferentes disciplinas, como história, artes e literatura, mas também geografia, matemática e biologia. Os integrantes também realizam diversos workshops para professores de ensino fundamental e médio para capacitação qualificada de filmes em sala de aula e participam de cineclubes formativos.  

A pesquisadora Cristiane explica que a imagem tem uma grande influência na formação da sociedade na contemporaneidade. O uso de filmes desperta nos alunos e alunas uma leitura do audiovisual, assim gerando uma capacidade crítica do olhar e possibilitando distinguir as diferenças entre as imagens e sons. 

Definindo o melhor filme para sala de aula 

Com o apoio do Tecnopuc Tecna, foram oferecidas oficinas com professores da rede pública de Viamão, por exemplo. A atividade foi ministrada pelos doutorandos do grupo de pesquisa com supervisão dos professores responsáveis. Foi um dia com professores de ensino fundamental e médio de diversas escolas públicas de Viamão. De acordo com a professora Cristiane, o objetivo era capacitar esses educadores para o uso de audiovisual nas salas de aula, passando pela teoria, uso técnico das ferramentas de exibição e disponibilidade de onde encontra o material.  

Outra atuação do grupo é o fomento à pesquisa, com participações em bancas, produção de artigos científicos e apresentação de trabalhos em eventos com interface entre cinema e educação. Dos estudos que estão sendo realizados, destacam-se a tese da doutoranda do PPG em Comunicação Juliana Costa e a tese de doutorado já defendida da egressa Gabriela Peruffo. 

Para o ambiente escolar, Cristiane ressalta a importância de considerar diversos fatores no momento de decisão de qual filme irá se encaixar melhor na proposta. É preciso dar atenção ao tempo que será exibida a imagem, qual é o equipamento disponível, a faixa etária dos estudantes, o tema de interesse para aula, então, não temos uma fórmula”, destaca a docente. 

Filmes têm o dom de encantar, ensinar e fazer refletir

Filmes despertam nos estudantes uma leitura do audiovisual, uma capacidade crítica do olhar / Foto: Envato Elements

Despertar um olhar crítico 

O cinema é responsável por nos apresentar histórias e narrativas audiovisuais que nos tocam e prendem em horas de entretenimento e emoção. Conhecidos como a sétima arte, os filmes e séries nos sensibilizam, encantam e nos fazem refletir. Porém, outro caráter importante da obra cinematográfica é ensinar.  

A professora Cristiane Gutfreind pesquisa cinema, estética e política com uma interface com a educação, a partir de processos formativos. De acordo com a docente, os filmes são uma ferramenta que auxiliam o aprendizado de forma lúdica. “Com os filmes é possível fazer analogias e associações, possibilitando ao estudante desenvolver uma capacidade reflexiva e crítica”, complementa.

redes de apoio HIV

Francisco Kern destaca a necessidade de debate sobre o HIV e a reconstrução de novas redes de apoio na sociedade / Foto: Pexels

Os tabus são definidos por convenções sociais e culturais. São formas de discriminação impostas com o objetivo de limitar a prática de determinados atos ou evitar abordar certos assuntos, por exemplo. O professor e pesquisador da Escola de Humanidades Francisco Arseli Kern define as atitudes preconceituosas como “inimigo invisível do humano”.

De acordo com Kern, o preconceito atua de forma invisível nas relações, pautando uma construção social que promove processos de exclusão, criminalização e violação de direitos sociais fundamentais. As pessoas afetadas por estas discriminações, sofrem os impactos potencializando medos e inseguranças.

Medos e inseguranças

O docente dedica sua trajetória acadêmica a pesquisar sobre a importância das redes de apoio para pessoas acometidas pela síndrome de imunodeficiência adquirida, conhecida como AIDS. A doença é causada pelo HIV, que ataca o sistema imunológico e deixa o organismo vulnerável a doenças.

Kern destaca que a infecção já foi vista como sentença de morte, porém, com os avanços da medicina, tornou-se possível ter uma vida plena e longa mesmo com a doença estando presente. Porém, mesmo com essa evolução da ciência, o assunto ainda é tratado como tabu.

“Hoje, as pessoas continuam vivendo, sob as mais diversas formas de opressão social com medo da denúncia. O pânico já não é mais direcionado a doença, o pânico está voltado para os relacionamentos sociais: e se o outro souber? A angústia de viver com a doença sem ainda poder se revelar ao outro, é talvez maior do que encarar a própria doença no plano físico”, explica Kern.

Exclusão e discriminação

No estudo Mulheres soropositivas em privação de liberdade, realizado em 2018 em um dos maiores presídios femininos do Rio Grande do Sul, foram coletados diversos depoimentos de mulheres soropositivas em situação de privação de liberdade. Destas entrevistas, Kern destaca que uma das participantes relatou sua convivência com a doença e como ela é vista socialmente: “A AIDS me condena mais do que tráfico de drogas”, contou ela.

A discriminação caracteriza-se como inimigo do humano quando proporciona esta condenação da pessoa, excluindo-a da sociedade. Em sua pesquisa, Kern ressalta que no surgimento da AIDS, além do sofrimento físico, as pessoas sofriam com estigmas subjetivos impostos pela doença. “Eram expulsas de suas famílias no momento de descoberta e até mesmo afastados de vínculos trabalhistas. As pessoas passaram por intenso sofrimento causado pelo isolamento, solidão, privação de afeto, falta de pertencimento e entre tantas outras dores”, complementa.

a importância de Reconstruir as redes de apoio

Com as pesquisas relacionadas a sua tese de doutorado sobre o sentido das teias e das redes de apoio para pessoas soropositivas e doentes de AIDS, temas relacionados à subjetividade e identidades, Francisco Kern publicou recentemente o livro Reconstruir-se: nada está escrito!, lançado pela ediPUCRS em 2020. Na publicação, o docente propôs que é importante que a sociedade reconstrua novas redes de apoio para que as pessoas criem um futuro de cuidados necessários com a vida.

“Tornou-se cada vez mais importante a compreensão da necessidade de transformar significados e sentidos antigos que são conferidos às pessoas, às relações e à vida, para então existir uma sociedade com menos preconceitos e inimigos invisíveis”, destaca.

Estudo que avalia engajamento do cliente nas redes sociais tem recebido destaque internacional

Foto: Cristian Dina/Pexels

Quase metade da população mundial, cerca de 3,8 bilhões de pessoas, utiliza de alguma forma as mídias sociais. O dado é um dos resultados da pesquisa desenvolvida pelo professor Cláudio Sampaio, da Escola de Negócios, que analisa o engajamento do cliente nas redes sociais. Intitulado Customer engagement in social media: a framework and meta-analysis (Engajamento de clientes/consumidores nas mídias sociais: modelo e metanálise), o estudo conduzido pelo docente, em parceria com outros pesquisadores, foi publicado recentemente no Journal of The Academy of Marketing Science, um dos principais periódicos mundiais de marketing, e na Keller Center for Research da Baylor University, fonte confiável de pesquisa acadêmica na área. 

A pesquisa aponta que a importância do envolvimento do cliente por meio da mídia social disparou nos últimos anos. Médias e grandes empresas do mundo todo investem cerca de 11% de seus orçamentos de marketing visando especificamente plataformas de mídia social como Twitter, Instagram, Facebook, Pinterest e LinkedIn.  

O professor Cláudio Sampaio explica que esses investimentos não são realizados apenas com o objetivo de aumentar as compras imediatas, mas também para criar confiança, compromisso e para construir relacionamentos positivos de longo prazo com seus clientes 

Os estudos realizados até então encontraram evidências inconclusivas para sugerir que o engajamento do cliente equivale a um aumento positivo no desempenho da empresa. Assim, as empresas têm cada vez mais dificuldade em medir o retorno financeiro desse marketing de mídia social voltado para a criação de um envolvimento significativo com o cliente.  

Engajamento do cliente é impulsionado por emoções positivas 

A pesquisa Customer engagement in social media: a framework and meta-analysis foi idealizada com o objetivo de sintetizar as múltiplas perspectivas da literatura de engajamento do cliente nas mídias sociais. O artigo apresenta uma análise empírica abrangente dos motivadores e consequências do engajamento do cliente, sugerindo sob quais condições esse engajamento nas mídias sociais é mais ou menos eficaz.  

Os resultados do projeto revelam que o engajamento do cliente nas mídias sociais é impulsionado pela satisfação, emoções positivas e confiança, mas não pelo comprometimento. A satisfação é um indicador mais forte do engajamento do cliente em alta (vs. baixa) conveniência, B2B (vs. B2C) e Twitter (vs. Facebook e Blogs).  

Sampaio explica os resultados sobre as principais plataformas de mídia disponíveis. Por exemplo, com a pesquisa, o Twitter é indicado como a plataforma de mídia mais provável para melhorar o engajamento do cliente por meio da satisfação e emoções positivas. A rede oferece um mecanismo rápido e eficaz de comunicação via mídia social, devido ao seu limite padrão de contagem de palavras.  

Já o Facebook, por outro lado, está atualmente sofrendo um declínio de 50% no envolvimento do cliente como resultado de feeds de notícias informativas e da falta de confiança do usuário. No caso do Instagram, são escassos os dados disponíveis para estabelecer relações claras de engajamento do cliente, já que a plataforma ainda é relativamente nova.  

Consumo hedônico e consumo utilitário 

Com o estudo, notou-se que o engajamento do cliente também tem um valor substancial para as empresas, impactando diretamente o desempenho da marca, a intenção comportamental e o boca-a-boca. Assim, o consumo ligado a afetividades, sentimentos e simbologias (hedônico) rende um engajamento quase três vezes mais forte do cliente para os efeitos do desempenho da empresa do que aquele consumo voltado a certo objetivo (utilitário).  

Porém, como ressalta o professor, ao contrário da sabedoria gerencial convencional, o boca-a-boca não melhora o desempenho da empresa nem media os efeitos do engajamento do cliente no desempenho da empresa.  

“As descobertas desta pesquisa ajudam a resolver inconsistências em trabalhos anteriores, testando se o envolvimento do cliente é motivado por satisfação, emoções positivas, confiança e comprometimento”, complementa Sampaio. 

Destaque internacional 

A pesquisa foi publicada no Keller Center Research Report (KCRR), periódico que apresenta as principais publicações acadêmicas do mundo nas áreas de marketing, vendas, gestão, tecnologia e ética. O KCRR é desenvolvido pela Keller Center for Research da Baylor University, dos Estados Unidos, considerada uma fonte confiável de pesquisa acadêmica de ponta posicionada para que as empresas utilizem conteúdo acadêmico relevante e imparcial da revista para informar e aprimorar suas práticas de negócios, em especial para o setor imobiliário. Está ligado a Hankamer School of Business que possui diferentes programas bem classificados entre as universidades americanas de negócio, combinando aprendizagem em sala de aula, experiência prática no mundo real, uma base sólida em valores éticos e uma visão global. 

A pesquisa ainda recebeu o prêmio de Melhor Artigo em Marketing Publicado em Periódicos Internacionais no IX Encontro de Marketing (EMA 2021) promovido pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Anpad). Apesar de a publicação ser recente, o artigo já possui mais de 50 citações de acordo com o Google Scholar.

Professora dá dicas de como evitar dívidas em 2022

Foto: Envato Elements

Na última década, especialistas perceberam que ocorreu um elevado crescimento no nível de endividamento no Brasil. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) do mês de outubro de 2021, o endividamento das famílias aumentou 0,6 ponto percentual entre setembro e outubro, alcançando 74,6% dos lares no país.

As decisões de consumo a crédito, ou seja, de fatores de endividamento por parte dos brasileiros, têm sido um dos assuntos mais pesquisados e comentados ultimamente. A professora e pesquisadora da Escola de Negócios Frederike Mette participou da realização de um estudo exploratório com indivíduos de baixa renda para entender o comportamento do consumidor endividado.

Em sua pesquisa, Frederike aponta que há uma preocupação geral relacionada à falta de alfabetização financeira, de conhecimento financeiro e de educação financeira da população. Além disso, estudos recentes no Brasil têm se voltado para tentar entender o comportamento do consumidor com base na Economia Comportamental e Psicologia Econômica.

Relação com o dinheiro está ligada às emoções

De acordo com a psicanálise, que vem ser a origem da Economia Comportamental, tradicionalmente a relação das pessoas com o seu dinheiro está diretamente ligada a emoções. Assim, os indivíduos utilizam o dinheiro para impressionar e influenciar outras pessoas, para sentir-se poderosos e ganhar status na sociedade.

“Na nossa sociedade, o dinheiro está relacionado a poder, talento, habilidade, beleza, saúde, inteligência, sucesso, liberdade, independência, segurança, esperteza, bênção, merecimento, status, bem-estar. Ele é utilizado pelas pessoas no sentido de ostentação”, explica Frederike Mette.

Na pesquisa, foram realizadas entrevistas individuais com consumidores das classes D e E. Com isso, foram levantados os principais fatores relacionados ao acúmulo de dívidas não pagas. Dentre os motivos, destacam-se as compras por impulso, pagamento do valor mínimo das faturas do cartão de crédito, uso de financiamentos e empréstimos para aquisição de bens ou até mesmo para pagar outra dívida e fatores imprevistos ou eventos não planejados.

Fim de ano e cuidados financeiros importantes

Nessa época de fim de ano, onde há festas, encontros, momentos em família e muitas trocas de presentes entre as pessoas, é comum que elas estejam muito mais propensas a consumirem de forma rápida e ignorarem o planejamento financeiro que deveria ser feito para os gastos. A professora Frederike pontua que para evitar o desequilíbrio financeiro, é fundamental que haja um planejamento futuro mensal, para agir com cautela e procurar identificar certos pontos.

“Primeiramente, é importante que exista um cuidado com o valor mensal disponível para compras dentro do orçamento individual ou familiar. Além disso, é importante que exista uma atenção redobrada com o valor mensal disponível para compras para entender o quanto é possível comprometer-se com dívidas e parcelas nesse momento”, destaca.

Como se planejar para evitar dívidas em 2022

Após compreender qual é a sua realidade financeira, é possível criar objetivos e metas. Outra opção é realizar investimentos, para se obter uma certa estabilidade financeira no futuro. Frederike explica que para começar a investir, o primeiro passo é definir bem o perfil de investidor. Ou seja, o quanto de risco a pessoa está disposta a correr e em quanto tempo ela precisará do dinheiro.

“Se for uma reserva de emergência, a pessoa deve optar por investimentos sem risco e que tenha liquidez rápida, ou seja, rapidez no resgate do valor. Se for para o futuro, como previdência, pode correr mais risco e buscar opções sem muita liquidez, como planos de previdência complementar”, exemplifica.

Para buscar mais informações ou ajuda para realizar investimentos, a dica é sempre consultar as instituições financeiras seguras e que estejam cadastradas pelo Governo no site do Banco Central e da CVM. A pesquisadora complementa que começar a investir pode ser um bom caminho para evitar endividamento.

“Investir gera uma sensação de proteção ao indivíduo, o que aumenta o seu bem-estar e, consequentemente, tende a reduzir sua propensão a compras por impulso. Além disso, não é necessário muito dinheiro para começar, é possível iniciar com 50 reais, basta dar estes primeiros passos”, indica.

Leia também: Inflação: o próximo ano exigirá novas formas de trabalho, negócios e ações colaborativas