O termo microbiota intestinal refere-se à população de micro-organismos, como bactérias, vírus e fungos, que habita todo o trato gastrointestinal, e tem como funções manter a integridade da mucosa e controlar a proliferação de bactérias patogênicas. Pesquisadores da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS identificaram na microbiota intestinal um composto com potencial para reduzir os impactos à saúde causados pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR) – principal agente envolvido em infecções do trato respiratório inferior, em especial a bronquiolite, nas crianças de até dois anos.
Os estudos fazem parte do trabalho da pós-doc do Pós-Graduação de Pediatria e Saúde da Criança Krist Helen Antunes e contou com orientação da professora Ana Paula Duarte de Souza e co-orientação do professor Marco Aurélio, da Unicamp. O projeto teve apoio da Fapergs e Fapesp e seus resultados mais recentes foram divulgados na revista eBioMedicine do grupo The Lancet Discovery Science.
A pesquisa descreve que o acetato de sódio tem efeito antiviral contra o VSR. O resultado é fruto de diversas etapas que envolveram diferentes pesquisadores, como o professor Renato Stein, da Escola de Medicina, e os professores da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Pablo Machado, Cristiano Bizarro e Luiz Augusto Basso, além de estudantes do Programa de Pós-Graduação em Pediatria Saúde da Criança e de Iniciação Científica da PUCRS.
“Os resultados dessa pesquisa abrem portas para futuros estudos de intervenção da microbiota para aumento dos níveis de ácidos graxos de cadeia curta como o acetato possa ter benefício no tratamento e prevenção da bronquiolite causada pelo VSR. Esse vírus é muito prevalente e não existe vacina ainda liberada para uso”, destacou a pesquisadora Ana Paula Duarte.
A pandemia de Covid-19 mudou o cenário de quase todas as outras infecções respiratórias virais, levando transitoriamente a uma grande diminuição de casos. Isso ocasionou, hoje, um surto de bronquiolite por VSR. Esses picos de infecções fora da temporada apresentam uma ameaça para bebês suscetíveis, o que reforça a necessidade de intervenções preventivas novas e acessíveis.
Inicialmente, os pesquisadores usaram diferentes estratégias para alterar a microbiota intestinal em camundongos. Posteriormente, os estudos evoluíram para a coleta de amostras do vírus de crianças atendidas no Hospital São Lucas da PUCRS. Esses vírus isolados foram então aplicados em culturas de células tratadas previamente com acetato. Com esse tratamento, foi possível perceber que o acetato diminui a carga viral do VSR em mais de 88%.
Os avanços da pesquisa também possibilitaram notar que, com a evolução da bronquiolite, descobriu-se que uma maior concentração de acetato estava associada a uma menor gravidade do quadro. Os bebês apresentavam maior saturação de oxigênio – um marcador de preservação da capacidade respiratória – e um menor número de dias com febre.
Para consolidar seus achados, a equipe coletou células das vias respiratórias superiores das crianças examinadas nessa etapa, que já estavam infectadas. Já no laboratório, essas células foram tratadas com acetato. E, de novo, houve redução da carga viral e maior atividade de moléculas antivirais. Além disso, foi notado que este efeito do acetato é específico para o VSR, pois não foi encontrado em pacientes com Covid-19.
A professora da Escola de Humanidades Marília Morosini está entre os 100 pesquisadores mais influentes em Educação da América Latina no Latin America Scientist and University Education Rankings 2022. A docente também aparece entre os 50 cientistas que mais publicaram nos últimos cinco anos. O ranking é desenvolvido pela AD Scientific Index que apresenta os coeficientes de produtividade de cientistas e pesquisadores de todo o mundo baseados nos perfis públicos no Google Scholar, tendo como fundamento a produção total, atividade nos últimos cinco anos e número de citações.
O ranking de produtividade é um instrumento que lista não somente pesquisadores produtivos, mas também pesquisadores com alto fator de impacto em uma determinada área, disciplina, universidade e país, podendo orientar o desenvolvimento de incentivos e políticas acadêmicas. A docente ressalta que este é um importante reconhecimento da atuação científica da Escola de Humanidades e do Programa de Pós-Graduação em Educação, além da PUCRS como apoiadora da construção da ciência.
“Essa posição positiva no ranking reflete um trabalho em equipe e uma trajetória de dedicação à formação de recursos humanos na graduação e na pós-graduação. Assim como destaca as minhas produções enquanto pesquisadora da Educação e coordenadora do Centro de Estudos em Educação Superior da PUCRS”, celebra a docente.
Marilia Morosini realizou seu pós-doutorado na University of Texas, nos Estados Unidos. Atualmente, é pesquisadora 1A pelo CNPq e professora titular na Escola de Humanidades da PUCRS. Foi criadora e coordena o Centro de Estudos em Educação Superior (Cees) da PUCRS. Coordenadora da Rede Sul Brasileira de Educação Superior (Ries) e de projetos nacionais e internacionais sobre Educação Superior (British Council, Fulbright, Alfa/UE, CNPq, Capes, Fapergs), com foco na internacionalização da Educação Superior.
Entre suas principais produções mais recentes, destaca-se a organização de dois volumes da Enciclopédia Brasileira de Educação Superior (EBES). Um trabalho resultado de 6 anos de pesquisas, que busca elucidar questões de docência, investigação, extensão e gestão nos sistemas educacionais público, privado, confessional ou comunitário em órgãos ou autarquias do país nas últimas décadas. São mais de mil páginas editadas pela Editora da PUCRS (Edipucrs).
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Em meio a diferentes conflitos na Europa, o primeiro turno das eleições na França aconteceu neste domingo (10). O atual presidente francês Emmanuel Macron venceu com 27,6% e disputará o segundo turno em 24 de abril com Marine Le Pen que recebeu 23,41% dos votos. Os candidatos se enfrentam em um dos contextos mais conturbados para o país, frente às consequências causadas pela Guerra da Rússia com a Ucrânia. A coordenadora do curso de Relações Internacionais da PUCRS, Teresa Cristina Schneider Marques, que pesquisa as relações internacionais francesas, explica como funciona o sistema eleitoral francês e qual o impacto destas eleições para o continente europeu.
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Na dimensão ideológica, as eleições francesas também ganham relevância frente ao atual cenário internacional marcado pelo fortalecimento de um chamado internacionalismo reacionário, que segundo Marques visa questionar processos que se fortaleceram após a queda do Muro de Berlim, como os processos de integração. Para compreender esse cenário na França, cabe lembrar que Emmanuel Macron foi eleito em 2017, com discurso de neutralidade ideológica, afirmando não se posicionar nem à direita, nem à esquerda no espectro político.
Anteriormente, o político foi ministro da economia de François Holande, do partido socialista, mas de acordo com a docente, ao assumir a presidência, Macron colocou em andamento um governo de direita que aprovou duras medidas para a classe trabalhadora. Com efeito, entre as medidas aprovadas entre 2017 e 2022, merecem destaque: a aprovação do fim dos impostos sobre grandes fortunas; a finalização de programas de apoio social (habitação social, por exemplo); a aprovação de complementação à reforma trabalhista que foi aprovada em 2016, mesmo diante de protestos massivos em várias cidades francesas (nuit débout).
A pesquisadora explica ainda que no plano internacional, Macron procurou manter uma imagem de distanciamento da extrema direita, dentre as quais destaca-se o presidente Bolsonaro. Porém, de acordo com a pesquisa Democracias e participação política: Brasil e França em perspectiva comparada, desenvolvida pela docente, as relações entre Brasil e França não foram abaladas nesse período, no ponto de vista econômico, o que indica que Macron visa angariar votos à esquerda e apoio internacional à sua reeleição, que se dá em um contexto interno de fortalecimento dos extremos.
Já a principal rival, a candidata Marine Le Pen, do partido de extrema direita Rassemblement National, assume uma posição negativa quanto à acolhida de fluxos migratórios, contra os debates sobre nacionalidade e identidade francesa, bem como a adesão à uma agenda econômica neo-liberal. Le Pen aparece como forte candidata para vencer no segundo turno, com apenas quatro pontos abaixo de Macron (Segundo o Institut français d’opinion publique – IFOP). Jean Luc Mélenchon, por sua vez, candidato do partido La France Insoumise, de extrema esquerda, apareceu em terceiro.
Teresa Marques pontua que Macron se mantém em um frágil primeiro lugar como um governo de direita, porém candidato da esquerda, tal como ironicamente é apontado pela mídia e as redes sociais francesas. “Assim, temas muito importantes pautam a eleição francesa e, dado as diferentes e extremas posições dos principais candidatos quanto à Rússia, percebe-se que os debates ultrapassam a política doméstica, podendo dar pistas sobre o futuro do internacionalismo reacionário”, comenta.
A pesquisadora desenvolve pesquisas sobre a França nas temáticas de ativismo transnacional, ação coletiva, democracia e movimentos políticos. Atualmente conta com dois projetos em andamento: Democracias e participação política: Brasil e França em perspectiva comparada, com financiamento da BPA/PUCRS e FAPERGS nas Bolsas de Iniciação Científica e Padrões de ativismo transnacional migrante em tempos de ascensão da direita: a atuação política de migrantes brasileiros na Argentina, Estados Unidos e França, com financiamento de boas de IC CNPq.
A pesquisadora explica que as eleições na França impactam em diferentes cenários já que o País ocupa posições centrais em instituições internacionais e blocos regionais que têm grande peso no cenário internacional. O país europeu é um dos fundadores da Organização das Nações Unidas (ONU), e ocupa uma das cinco cadeiras permanentes do Conselho de Segurança, o que lhe garante poder de veto nas decisões do grupo. Além disso, a França ocupa o cargo de presidência da União Europeia (UE). A professora explica que, por conta disso, a forma como o futuro presidente se posicionar vai impactar o cenário europeu.
“As eleições de 2022 são ainda mais importantes no presente contexto, marcado pela Guerra na Ucrânia, dado que atualmente a França ocupa a presidência da UE. Embora o bloco tenha vivido uma crise há poucos anos com o Brexit, ele volta ao centro dos holofotes com o conflito”, destaca a docente.
Ela pontua ainda que os riscos causados pela Guerra forçam um fortalecimento da UE como um bloco, sobretudo para fazer frente aos desafios comuns que agora emergem, tais como a dependência do gás russo e a acolhida do fluxo massivo de refugiados vindos da Ucrânia. “A posição de liderança de um bloqueio contra a Rússia foi ocupada por Macron, sobretudo após a emergência de denúncias de massacres contra civis. Por mais este motivo, a eleição na França pode ter um peso para o desenrolar do conflito e na forma como os europeus lidarão com as suas consequências”, complementa a pesquisadora.
Marques ressalta que, desde a Segunda Guerra Mundial, a França participa ativamente da construção da ordem internacional e que foi fundamental para a validação da chamada diplomacia dos Direitos Humanos europeia. “A partir de uma perspectiva das Relações Internacionais, que assume que as ideias importam, acredito que a França tem grande importância como promotora de agendas globais. Do ponto de vista ideológico, as eleições na França também importam, haja vista que elas podem indicar tendências de fortalecimento da esquerda ou da direita perante o eleitorado”, finaliza.
O sistema eleitoral da França é uma democracia semi-presidencialista ou semi-parlamentarista e o voto não é obrigatório no país. A eleição acontece em dois turnos, o presidente tem um mandato de cinco anos e ele pode ser eleito para dois mandatos.
Conforme explica a pesquisadora, é um regime no qual o presidente é eleito por sufrágio universal direto, para se tornar chefe de estado com prerrogativas próprias. Em teoria, neste regime as responsabilidades são divididas entre o chefe do governo à frente do parlamento e o chefe de estado, mas na prática o chefe de Estado tem mais força visto que ele nomeia o chefe do governo.
As grandes cidades pelo mundo têm desempenhado historicamente um papel fundamental como catalisadores da inovação e desenvolvimento de novas tecnologias, conhecimentos, métodos de produção e arranjos institucionais, tornando-as centros de riqueza, oportunidade, diversidade e criatividade. Agora, cidades como Porto Alegre, têm o grande desafio de se reinventarem em um contexto em que o principal fator de desenvolvimento são os talentos.
O Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS e do Parque Científico e Tecnológico (Tecnopuc), professor Jorge Audy, explica que o futuro da capital gaúcha passa por pessoas qualificadas, a inovação, o empreendedorismo e a criatividade. Nesse sentido, o Tecnopuc tem desempenhado, nos últimos anos, um papel central como protagonista na construção do futuro de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, com foco na inovação e no empreendedorismo.
O docente aponta que a diferenciação e competitividade das cidades e territórios requer uma articulação entre os agentes de desenvolvimento como universidades, empresas, governo e sociedade civil organizada. Para isso, as iniciativas devem ter a inovação como base, seja como geração de novas empresas de alto valor agregado e base tecnológica, como startups e spinoffs, na geração de emprego e renda, seja na transformação da gestão pública, na qualidade dos serviços aos cidadãos e na transparência das ações e uso de recursos.
Jorge destaca que as áreas de ensino e pesquisa são a base para a dinâmica de transformação de conhecimento em riqueza e desenvolvimento social, econômico e ambiental. Para o pesquisador, a formação e a capacitação das pessoas tanto no processo de ensino como no processo de pesquisa são fundamentais para criar as condições de criação de novas empresas e, consequentemente, geração de emprego e renda, resultando no desenvolvimento da sociedade.
Com isso, o Tecnopuc atua como um ecossistema de inovação conectado e global. Sendo assim, suas iniciativas são desenvolvidas articuladas com outros agentes de desenvolvimento relevantes da cidade e com o Posicionamento Institucional da PUCRS, de Inovação & Desenvolvimento. Dentre os projetos, se destacam duas estratégias centrais do Tecnopuc e da PUCRS na área de inovação e empreendedorismo na cidade de Porto Alegre, que são a Aliança para Inovação e o Pacto Alegre.
Em 2018, a PUCRS, a UFRGS e a Unisinos lançaram a Aliança para Inovação de Porto Alegre. Uma união entre as universidades com o objetivo de potencializar ações de alto impacto em prol do avanço do ecossistema de inovação e do desenvolvimento da capital gaúcha. A assinatura desta articulação foi realizada com a presença do prefeito de Porto Alegre no período e do presidente da Associação Internacional de Parques Científicos e Tecnológicos (IASP)
Com a Aliança nasceram diversos projetos que visam transformar Porto Alegre e região em referência internacional no ambiente de inovação, conhecimento e empreendedorismo, para isso, as universidades contam com cinco principais projetos: Pesquisa, Formação, Comunicação, Ambiente e Pacto Alegre.
O projeto Pesquisa é fomentado pela capacidade de produção das três universidades. Entre os objetivos, o projeto visa a realização de trabalhos de pesquisa conjuntos nesta área. Já a iniciativa Formação é garantida pela excelência no ensino a ser compartilhado pelas instituições integrantes, o projeto busca ofertar cursos de especialização e mestrados construídos pelas três instituições.
Com o Comunicação, as universidades se dedicam em divulgação científica, troca de saberes e mobilização da comunidade para se engajar como agente de inovação. E com o projeto Ambiente é realizado um intercâmbio de espaços consolidados das três instituições, como polos de referência e modelo de excelência para ações de inovação. O projeto prevê o compartilhamento de estruturas dos parques tecnológicos, entre as iniciativas.
O Pacto Alegre é o principal produto da Aliança ao integrar o setor da administração pública municipal de Porto Alegre como agente de transformação, amparado pela metodologia e expertise de inovação das três instituições de ensino superior, de pesquisa, de extensão e de inovação. Os esforços partiram da Aliança entre a PUCRS, a UFRGS e a Unisinos com a prefeitura de Porto Alegre para unir forças da cidade, de todos os segmentos, em prol de uma agenda comum.
Na 5ª edição da Mesa do Pacto Alegre, que aconteceu em 2021, estiveram presentes 105 entidades para debater o futuro dos projetos desenvolvidos em conjunto. Em três anos de existência, já foram finalizadas 11 iniciativas, 15 estão em andamento e outras 11 aguardam aprovações. No evento, sete projetos foram aprovados para tornar Porto Alegre mais inovadora. São eles: Cidade Educadora, Centro +, Aprendizados da Pandemia, Territórios Criativos, Poa Digital, Startup City e Porto Alegre que Queremos.
“Atuamos na orquestração de todo o ecossistema de inovação da PUCRS, articulando as iniciavas institucionais com as ações no âmbito municipal, seja com relação à Aliança para a Inovação de Porto Alegre, seja com o Projeto Pacto Alegre”, destaca o Superintendente Jorge Audy.
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O envelhecimento é um fenômeno mundial e Porto Alegre expressa com nitidez essa mudança demográfica. De acordo com dados do Observatório da Cidade de Porto Alegre, a capital gaúcha apresenta a maior proporção de idosos na população em relação às demais capitais brasileiras. Os idosos representam 15,04% da população, contra 14,89% da população do Rio de Janeiro e 12,61% de Belo Horizonte. O percentual de pessoas com mais de 60 anos na capital gaúcha é o triplo da capital com menor percentual – Palmas (TO), com 4,37%.
Com este contexto, diversas entidades e pesquisadores se dedicam em atender esta realidade desenvolvendo novas propostas de políticas públicas, projetos e iniciativas de pesquisa. Na PUCRS, destaca-se a atuação do Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG), que atua com diferentes ações interdisciplinares relacionadas à pesquisa na área do envelhecimento. Para isso, o Instituto conta com um corpo docente multidisciplinar e uma estrutura que abrange laboratório de pesquisa básica e clínica.
O IGG realizou seu lançamento oficial em 1975, por meio de um intercâmbio médico-científico entre os governos do Brasil e do Japão, via Japan International Cooperation Agency (Jica). Atualmente, o IGG é coordenado pelo professor e pesquisador da Escola de Medicina Douglas Kazutoshi Sato, que dedica sua trajetória científica nas áreas de medicina, neurociências e envelhecimento. O trabalho realizado ao longo destes anos recebeu o reconhecimento da Câmara Municipal que condecorou o Instituto com o Diploma de Honra ao Mérito, em 2018.
Dentre os principais projetos desenvolvidos pelo IGG, estão o Programa de Envelhecimento Cerebral (PENCE) e o Atenção Multiprofissional ao Longevo (AMPAL). Além desses, o Instituto realizou o Estudo Multidimensional dos Idosos de Porto Alegre (EMIPOA), em 2006, e o Estudo Epidemiológico e Clínico dos Idosos Atendidos pela Estratégia Saúde da Família (ESF) do Município de Porto Alegre (EMI-SUS).
A PUCRS em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre desenvolveu um programa assistencial para monitoramento e assistência da saúde mental de indivíduos a partir dos 55 anos do Sistema Único de Saúde (SUS). Estabelecido em 2012, o Programa de Envelhecimento Cerebral (PENCE) foi criado priorizando a capacitação de profissionais da atenção básica de saúde para a saúde mental de indivíduos a partir da meia-idade tendo o Hospital São Lucas (HSL) da PUCRS como referência.
O objetivo geral deste programa foi gerar um fluxo de transferência de conhecimento do centro de alta especialização (Hospital terciário e Universidade) para as equipes de saúde da família das unidades de assistência primária do SUS. A partir disso, com a implementação local de medidas decentralizadas de saúde e a geração de indicadores tornaram possíveis o aperfeiçoamento dessas ações. O foco prioritário foi direcionado para as patologias mais prevalentes e incapacitantes, como a demência e a depressão em que a identificação do risco para o seu desenvolvimento assim como o diagnóstico e tratamento precoces são fundamentais.
Como resultados deste projeto, até o final de 2016, foram capacitados 39 médicos, 54 enfermeiros e 194 agentes comunitários de saúde. Aproximadamente 4 mil indivíduos foram avaliados por meio da iniciativa do PENCE. Desses, 1.500 com suspeita de demência ou depressão receberam avaliação ambulatorial complementar no HSL da PUCRS.
Em 2012, o professor e pesquisador da Escola de Medicina Angelo José Gonçalves Bós coordenou a criação do ambulatório que observou a grande dificuldade dos idosos, principalmente pessoas com 90 anos ou mais, ao se deslocarem ao HSL da PUCRS, gerando a transformação em um projeto de acompanhamento domiciliar: o Atenção Multiprofissional ao Longevo (AMPAL).
Os estudos realizados no projeto apontam que as pessoas nessa etapa da vida apresentam uma diminuição na velocidade da caminhada, alteração no equilíbrio corporal, com mais riscos de quedas, diminuição da força de respiração e muscular, erros alimentares, dificuldades de comunicação, seja por perda auditiva ou distúrbios cognitivos e sintomas depressivos, e diminuição do suporte social dos longevos avaliados.
Outro resultado apresenta as doenças mais prevalentes no grupo estudado. Assim, foram encontrados hipertensão, cardiopatia, colesterol elevado, diabetes e fragilidade, ou seja, enfermidades que necessitam de um acompanhamento a longo prazo por uma equipe multiprofissional.
Um avanço importante para o projeto, aconteceu em abril de 2016, com recursos do Fundo Municipal do Idoso de Porto Alegre, quando se tornou possível expandir o projeto para toda a cidade, assim ampliando a rede de pessoas nessa etapa da vida disponíveis para estudos no projeto. O AMPAL é um dos poucos projetos dedicados a pesquisas com e para esta população com mais de 90 e 100 anos, conta Douglas.
Até então, já foram realizadas novas iniciativas de acompanhamento com mais de 240 nonagenários (mais de 90 anos) e centenários (mais de 100 anos). Os resultados iniciais do projeto da comprovaram a efetividade de diversos instrumentos como a Escala de Depressão Geriátrica, utilizada em uma Dissertação de Mestrado do IGG. Com o estudo foi feita a avaliação da funcionalidade através do grau de facilidade ou dificuldade do idoso em executar atividades relacionadas à vida diária (AFASII – tópico de Tese de Doutorado também em conclusão).
Com mais de 46 anos de atuação, o Instituto de Geriatria e Gerontologia da PUCRS já participou das Pré-conferências dos Direitos da Pessoa Idosa também em parceria com o Conselho Municipal do Idoso, em 2018.
Atualmente o IGG desenvolve uma pesquisa coordenada pelo professor da Escola de Medicina Newton Luiz Terra em parceria com o Hospital de Pronto Socorro, Detran e EPTC, onde acontecerá uma avaliação da funcionalidade dos idosos atropelados no Município de Porto Alegre. O objetivo é divulgar os resultados sobre a funcionalidade dos idosos atropelados bem como iniciar uma campanha de prevenção de atropelamentos de idosos na capital gaúcha.
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No dia 24 de março de 1882, o médico alemão Robert Koch anunciou a descoberta do agente causador da tuberculose, permitindo que pesquisadores e profissionais de saúde pudessem diagnosticar e encontrar a cura para a doença. Por conta disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu a data como o Dia Mundial de Combate à Tuberculose, com o objetivo de salientar as consequências econômicas e sociais, assim como ressaltar a necessidade de investir esforços para combater a epidemia global da doença.
Na PUCRS, o Centro de Pesquisas em Biologia Molecular e Funcional (CPBMF) da Escola de Ciências da Saúde e da Vida (ECSV), sede do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Tuberculose (INCT-TB), tem desenvolvido pesquisas que visam contribuir com o conjunto de fármacos utilizados para o tratamento da tuberculose. O instituto é coordenado pelo professor e pesquisador Luiz Augusto Basso, dos Programas de Pós-Graduação (PPG) em Biologia Celular e Molecular e em Medicina e Ciências da Saúde da PUCRS.
O docente explica que as preocupações da OMS em relação à tuberculose são voltadas aos investimentos urgentes em recursos, suporte, cuidado e informação na luta contra à doença. Basso alerta que no contexto da pandemia de Covid-19 os esforços pelo fim da tuberculose foram comprometidos e, por conta disso, as ações devem ser retomadas urgentemente.
De acordo com a OMS, os serviços essenciais de atendimento aos pacientes com tuberculose precisam ser mantidos para assegurar que os ganhos obtidos no passado não sejam ainda mais revertidos. Além disso, a Organização ressalta que é necessário enfrentar as disparidades de acesso aos serviços de saúde para assegurar que o tratamento seja acessível a todos aqueles que necessitarem e que todos os indivíduos, comunidades, empresas e governos desempenham papeis essenciais nessa luta.
A tuberculose (TB) é principalmente causada pelo Mycobacterium tuberculosis e afeta principalmente os pulmões. A doença é transmitida por gotículas carregadas pelo ar quando uma pessoa com a doença tossir, espirrar ou cuspir. A inalação de poucos bacilos é suficiente para infectar um ser humano. De acordo com a OMS, a tuberculose é uma das principais causas de problemas de saúde, uma das 10 principais causas de morte em todo o mundo e a principal causa de morte por um único agente infeccioso, classificação que fica acima de HIV ou AIDS.
Dados sobre a doença alertam que um quarto da população mundial está infectada com o M. tuberculosis, o principal agente causador da tuberculose em humanos. Globalmente, 9,9 milhões de pessoas ficaram doentes da tuberculose e cerca de 1,5 milhão morreram devido a esta doença, em 2020. No Brasil, que possui uma população por volta de 211 milhões de pessoas, o número de novos casos de tuberculose é de 96 mil e total de mortes é de quase oito mil.
O CPBMF, sede do INCT-TB, além do coordenador, é constituído pelos professores Pablo Machado e Cristiano Valim Bizarro da Escola de Ciências da Saúde e da Vida. Os pesquisadores do CPBMF desenvolvem estudos que visam contribuir com o conjunto de fármacos utilizados para o tratamento da tuberculose.
Utilizando estratégias baseadas em alvos moleculares oriundos de rotas bioquímicas essenciais para viabilidade do bacilo ou otimizando estruturalmente compostos químicos a partir de dados de triagens fenotípicas, o grupo tem obtido moléculas promissoras. Os pesquisadores contam que com os artigos científicos e formação de recursos humanos especializados, essas pesquisas desenvolvidas têm acelerado o ritmo de pedidos de proteção intelectual da instituição.
A potência de algumas das estruturas desenvolvidas pelo CPBMF excede em mais de 100 vezes a capacidade de inibição de fármacos como a isoniazida, utilizada como primeira linha de tratamento da tuberculose. Os resultados deste trabalho têm gerado a expectativa de que as pesquisas desenvolvidas na PUCRS possam se traduzir em inovações terapêuticas para o tratamento desse problema de saúde pública global.
“Esses estudos deverão propiciar um melhor entendimento da biologia do M. tuberculosis nos vários contextos fisiológicos do hospedeiro humano e, consequentemente, descortinar novas ferramentas para o combate da tuberculose”, finalizam os pesquisadores.
Fundada no dia 26 de março de 1772, Porto Alegre completa seus 250 anos neste sábado. Para marcar a data, ao longo dos próximos dias serão publicados conteúdos desenvolvidos a partir dos estudos de pesquisadores da Universidade sobre diversos temas que envolvem a Capital gaúcha. O tema que abre esta série especial é o 4.º Distrito, região da cidade que vem passando por mudanças.
Assim como outras grandes capitais brasileiras, Porto Alegre é marcada por sua constante transformação. Atualmente, a arquitetura da Capital é exemplo dessa evolução, pois passa por diferentes épocas e estilos, fazendo com que especialistas debatam sobre novas possibilidades e estratégias para permitir o contínuo desenvolvimento da cidade.
O 4º Distrito de Porto Alegre é um exemplo de como a cidade é um organismo vivo: uma região histórica, que já foi o centro da atividade social e industrial da capital gaúcha e sofreu certo abandono. Mas que, nos últimos anos, vem sendo pauta para diversos estudos que buscam revitalizar a região.
A professora e pesquisadora da Escola Politécnica Cibele Vieira Figueira realiza pesquisas desde 2014 referentes aos bairros históricos de caráter industrial. Atualmente atua como líder do grupo de pesquisa intitulado Cidade, Projeto e Gestão e coordena a linha de pesquisa Função da Propriedade Urbana na Cidade Formal, na qual desenvolveu vários estudos com foco na região do 4.º Distrito de Porto Alegre.
“As pesquisas desenvolvidas visam contribuir para a construção de um olhar sobre a cidade e suas possibilidades de resolver os desafios urbanos, que não fique restrito ao mundo acadêmico, mas que se torne do conhecimento da comunidade em geral e dos agentes envolvidos”, comenta a professora.
O denominado 4º Distrito de Porto Alegre possui uma área de 1.191 hectares, é composta por cinco bairros (Floresta, São Geraldo, Navegantes, Farrapos e Humaitá). A região está no centro de vários debates que acontecem nas últimas décadas por sua riqueza em potencialidades e problemas de naturezas distintas.
Com suas pesquisas, Cibele explica que cada um dos bairros do 4º Distrito apresenta peculiaridades bem definidas, porém todos abrangem a mesma situação que demanda por requalificação de grandes zonas em áreas já consolidadas. Questões de mobilidade, habitação social e patrimônio histórico exigem debates constantes de especialistas e órgãos governamentais.
“O primeiro passo é conhecer em profundidade o que ali existe, permitindo uma leitura adequada da área, identificando suas necessidades e possibilidades, para ser possível a definição de estratégias de intervenção que garantam a desejável qualidade do resultado”, ressalta.
A região, antes uma potente zona industrial, ligada ao principal acesso à cidade e muito próxima ao centro urbano, atualmente se encontra abandonada. A área sofreu com o abandono das fábricas e com o afastamento gradativo de residentes, e por conta disso, Figueira comenta que o 4º Distrito clama por mudança.
Atualmente há um processo espontâneo promovidos por pequenos empresários que apostam no lugar por sua história, patrimônio e localização. Muitos negócios e iniciativas nos últimos anos estão retomando a qualidade da região, como o Hostel Boutique, o Centro Cultural Vila Flores e, mais recentemente, diversos novos bares. Dentro deste contexto, a pesquisadora da PUCRS acredita que as possibilidades de intervenção devem atuar pela reabilitação e requalificação urbana do 4.º Distrito.
“Entende-se que seria necessário para Porto Alegre estimular exemplos que permitam combinar propriedades urbanas dentro de um projeto que reconheça sua capacidade de reabilitação e requalificação, favorecendo sua preservação e integração à vida urbana, em novas dinâmicas. Somando as ações, torna-se possível realizar melhores transformações e desenvolvimento local”, destaca a pesquisadora.
Em 2017, os estudos produzidos para pesquisa resultaram na participação do maior concurso universitário de urbanismo do Brasil, o Urban 21, sendo a proposta apresentada intitulada Reconhecer: olhar o urbano através do detalhe a vencedora da 3.ª edição do concurso. O trabalho foi realizado em conjunto com alunos da Escola Politécnica, Francine Franco, Carol Solaro, Lucas Gomes, Eduarda Rossato, Aloisio Gianesini Junior, Barbara Remussi, Ricardo Rossi e Gustavo Franco. O objetivo da premiação é incentivar e mobilizar os estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo a pensar novas possibilidades sobre transporte, acessibilidade, densidade urbana, geração de energia e outros assuntos relacionados para construir cidades mais vivas e saudáveis.
Atualmente, através da integração dos professores Caroline Kuhn e Jaime Federice, da Escola Politécnica, a pesquisa investiga em profundidade o território, georreferenciando as informações e buscando equações de análise que evidenciem os valores da região. Entende-se que o material produzido possa ser base para traçar novas possibilidades de desenho urbano para o 4.º Distrito em diferentes aspectos como mobilidade, arquitetura e sustentabilidade social.
A professora salienta que, dada a extensão da área analisada, foram fundamentais a integração de estudantes através de diferentes projetos que promoveram conhecimento de softwares e sua aplicação no território.
Em etapa de finalização, o artigo Metodologia para reconhecimento de áreas de renovação e requalificação em zonas urbanas com tecido histórico. Aplicação em região industrial obsoleta do 4°distrito de Porto Alegre, RS apresentará cenários possíveis que envolvem questões de requalificação e renovação do território. As propostas se dão a partir do patrimônio existente da região, sem demolir ou apagar a história presente na área, com o discurso de vislumbrar o futuro, aprender com o passado e valorizar a memória urbana da cidade.
Esta etapa de recopilação e revisão envolve também os bolsistas de Iniciação Científica Fernando Feitoza e Carolina Rogatti, que estão engajados com o desafio que envolve estudo analítico para o planejamento urbano.
“É de extrema importância a discussão sobre a noção de patrimônio, o valor do espaço construído e a complexidade de gerência de sua preservação, especialmente quando envolve propriedade privada para realmente não desenvolvermos cidades a partir da destruição”, destacaram os pesquisadores na apresentação do projeto.
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As transformações geradas pela tecnologia e pela internet estão cada vez mais impactando nossa forma de viver. Isso influencia tanto hábitos simples, como pagar uma conta ou pedir comida em casa, quanto processos mais complexos, como o rumo de uma eleição. Diversas pesquisas vêm sendo realizadas sobre essa temática, intitulada tecnopolítica. Na Universidade, o pesquisador e professor das Escolas de Direito e de Humanidades Augusto Jobim do Amaral dedica sua atuação acadêmica a estudos sobre os impactos da evolução digital na política.
O docente, que desenvolve pesquisas sobre tecnopolítica nos Programas de Pós-Graduação em Ciências Criminais (PPGCCRim) e em Filosofia (PPGFil), explica ainda que o conceito diz respeito ao modo como processos de ação, comunicação e gestão políticas são modulados pela tecnologia. Segundo ele, se essas transformações podem trazer benefícios, também podem criar profundas instabilidades nas democracias modernas.
Atualmente as práticas tecnológicas produzem efeitos fundamentais nas relações de poder. Augusto explica que os mais profundos dilemas em termos políticos, éticos, jurídicos, sociais e comunicacionais nos dias de hoje são compostos pelas dinâmicas forjadas por uma cultura tecnológica. Isso acontece quando existe uma automatização do pensamento, ou seja, quando o pensamento se torna cálculo e vemos a tecnologia como solução de nossos problemas sociais e políticos, em uma espécie de utopismo digital.
Um exemplo desse movimento, citado pelo pesquisador, é quando as pessoas utilizam aplicativos de monitoramento da alimentação. Além de, em alguns lugares, o usuário estar fornecendo dados como referência para preços de planos de saúde, ele é deslocado do real problema de saúde pública na direção de uma responsabilização pessoal. “Em outros termos, somos desviados de um problema coletivo sobre, por exemplo, a indústria de alimentos, que contribui para a obesidade e outros problemas de saúde. Assim, cria-se uma noção que os problemas são individuais e não de todos”, explica Augusto.
Outro exemplo são os aplicativos que têm como objetivo auxiliar o serviço de trânsito e manutenção de uma cidade. Nesse caso, o app ajuda a identificar onde há buracos na rua para saná-los o mais rápido possível, sem discutir a causa dessas ocorrências. “Gerenciam-se os efeitos sem perguntar ou discutir as escolhas políticas em torno do orçamento na manutenção das vias públicas que poderiam explicar e evitar a tamanha quantidade de defeito nas vias”, conclui o professor. Para ele, por mais banais que sejam estas situações, sinalizam um sintoma de algo muito mais radical na direção de uma espécie de “morte da política”.
Augusto comenta que o problema se amplifica quando a tecnologia é utilizada como verdade absoluta, sem que as pessoas percebam que os algoritmos e dados automatizados produzidos em larga escala foram criados a partir de escolhas políticas que não são neutras. O docente conta que em bancos, por exemplo, são utilizados e-scores para prever a possibilidade de adimplência das pessoas tendo como base onde habita ou com quem se relaciona. Já dispositivos de predição criminal buscam prever se a pessoa voltará a delinquir ou mesmo determinará sua pena a cumprir levando em consideração a cor da pele, onde mora, se possui amigos com passagem na polícia, entre outros proxies que configuram opiniões (muitas vezes preconceituosas) no formato de código.
“Esses e outros sistemas tecnológicos apenas reforçam preconceitos. Porque dentro destes algoritmos nada mais estão do que escolhas políticas escolhidas que nada são neutras. Assim, eles ampliam o racismo da seletividade penal e invisibilizam as piores desigualdades”, finaliza Augusto.
Recentemente, Amaral organizou o livro intitulado Algoritarismos, junto com o professor espanhol Jesús Sabariego, da Universidad de Sevilla (US), e com o pesquisador do PPGCCRim Eduardo B. Salles. A obra reúne 34 pesquisas expostas em quatro idiomas sobre as principais questões relacionadas à tecnopolítica na atualidade. A publicação é produto de financiamento da União Europeia (UE), da Fundação para Ciência e Tecnologia de Portugal, do Ministério de Ciencia y Innovación da Espanha e da Marie Curie Actions, da UE.
O estudo é fruto de um longo histórico de parceria entre a PUCRS e a US, da Espanha, em especial da relação entre os dois professores, Augusto e Jesús. Desde 2017, Jesús participa de iniciativas do PPGCrim da PUCRS. Nesta cooperação internacional, o Augusto realizou missão de trabalho na Espanha, através do Capes-PrInt, onde encaminhou projetos, como este livro. O projeto contou também com o doutorando do PPGCCrim da PUCRS Eduardo Salles, que realizou cotutela entre as duas instituições.
No livro, o docente, em conjunto com 48 pesquisadores de diferentes nacionalidades, apresenta questões sobre a era atravessada digitalmente e os impactos relevantes nas dinâmicas humanas, principalmente em termos de violência e controle social.
As discussões avançam criticamente na reflexão tecnopolítica em temas como big data, datafied society, surveillance capitalism, solucionismo digital e inteligência artificial e direitos humanos na era digital, sobretudo nas nuances europeias e latino-americanas. De acordo com Augusto, uma crítica da violência neste viés deve apontar os efeitos redutores em nossas vidas colocados em favor de lógicas de controle, de violação de direitos e de produção e de violações éticas. Além disso, para o professor, vivemos em um modo de cultura monotecnológica, ou seja, na busca por uma máxima eficiência.
“A discussão a partir desse viés é fundamental, sobretudo porque se diferencia de um mero conformismo, de uma assimilação asséptica e acrítica deste estado de coisas digital. Para além de um tecnofobia, vivemos na busca por uma espécie de solução mágica aos nossos maiores dilemas políticos”, explica.
O Transtorno de Acumulação de Animais recentemente passou a ser estudado e classificado como doença pela Medicina. O distúrbio é definido quando existe a acumulação de muitos animais e a falha em proporcionar padrões mínimos de nutrição, saneamento e cuidados veterinários. Os ditos acumuladores de animais também não conseguem agir em condições deteriorantes como doenças, fome ou morte e em condições do ambiente, como superpopulação, ou situações extremamente insalubres.
A decana e professora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Tatiana Irigaray explica que novas pesquisas sobre o assunto estão sendo desenvolvidas para entender as causas do Transtorno. “Caracteriza-se por dificuldades persistentes do indivíduo em doar ou se desfazer de animais, em consequência de uma forte percepção da necessidade de conservá-los e de sofrimento associado ao seu descarte”, comenta.
O grupo de pesquisa Avaliação, Reabilitação e Interação Homem-Animal (ARIHA), coordenado pela professora, realizou revisão sistemática do perfil dos acumuladores. Os resultados apresentaram que, em maior proporção, 90% eram do sexo feminino e acumulavam, em média, mais de 30 animais. Nestes casos, também foi possível levantar que as condições das habitações eram insalubres, e os animais mais acumulados eram cães e gatos.
“Concluiu-se que devido à carência de estudos empíricos sobre a temática, pesquisas necessitam ser realizadas para construir estratégias de intervenções para sanar o grande sofrimento que o transtorno produz para a pessoa, para sua família e para os animais”, destaca Irigaray.
Outro estudo empírico conduzido pelo mesmo grupo buscou investigar as características de uma amostra composta por 33 indivíduos que acumulavam animais. Os participantes apresentaram em média 61 anos de idade e 9,39 anos de escolaridade, o equivalente ao ensino fundamental completo. Os resultados deste estudo encontraram maior prevalência de mulheres (73%) e idosos (64%) na amostra, como apresentado em estudos anteriores.
A média por acumulador foi de aproximadamente 41 animais e apenas 22% dos participantes mantinha todos os seus animais castrados. O tempo de acumulação dos animais foi, em média, 23,09 anos e o número total de animais acumulados foi de 1.357, sendo 915 cães, 382 gatos e 50 patos. 56,7% dos participantes também acumulavam outros objetos.
Com essa pesquisa, o grupo realizou a proposição de que o Transtorno de Acumulação de Animais é uma nova categoria nosológica (classificação científica de doenças), com características distintas do Transtorno de Acumulação. Foi apontado que, ao contrário dos objetos acumulados, os animais são seres vivos, por isso, não obstruem os ambientes domiciliares, como na acumulação de objetos. Além disso, os processos de descartar ou doar animais também se diferenciam dos processos de descarte do acúmulo de objetos, visto que existe um vínculo afetivo e vidas.
Novas pesquisas avançam no assunto para buscar entender quais são as melhores estratégias de intervenção para cada caso. “Ainda não sabemos como tratar os indivíduos acumuladores. Vimos que a retirada dos animais não resolve, pois em pouco tempo a pessoa volta a acumular. Com os avanços das pesquisas poderemos propor melhores formas de agir”, comenta Irigaray.
O grupo de pesquisa ARIHA, sob a coordenação de Tatiana Quarti Irigaray, tem como objetivo desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão nos quais aborda diferentes temas relacionados à avaliação e reabilitação psicológica, envelhecimento, saúde mental, aspectos da interação humano-animal e o uso de animais em terapia. O objetivo principal é desenvolver estratégias de avaliação e intervenção que possibilitem ações preventivas e de tratamento.
O envelhecimento populacional é um fenômeno que tem ocorrido em escala global. Segundo estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU), entre 2015 e 2050, a população com mais de 65 anos será de 28% na Europa, 23% na América do Norte e mais de 18% das populações da Ásia, da América Latina, do Caribe e da Oceania. Essa crescente parcela da população tem movimentado diversos setores da sociedade. Nessa nova realidade, desafios estão surgindo para pesquisadores da Ciência da Computação na busca por soluções para proporcionar uma melhor saúde do idoso.
É o caso do grupo de pesquisa em Sistemas Computacionais para Monitoramento da Saúde do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Ciência da Computação, que conta com a participação dos pesquisadores César Marcon e Fabiano Hessel e do pesquisador Alfredo Cataldo Neto do PPG em Gerontologia Biomédica, além de alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorados de ambos os programas.
O grupo atua com o emprego de sistemas computacionais para melhorar a qualidade de vida de pessoas da terceira idade. O sistema computacional subjacente ao projeto é baseado em um dispositivo vestível, em inglês wearable, do tipo relógio, que contém diversos sensores para monitoramento não-invasivo.
“Com este trabalho desenvolvido pelo grupo de pesquisa, vamos conseguir agregar uma nova dimensão sobre a saúde das pessoas, sendo possível agregar esta informação para a previsão de situações de risco em diferentes circunstâncias”, comentou o docente César Marcon.
Marcon explica que o wearable coleta dados do idoso e repassa os mesmos para uma estação base, normalmente posicionada na residência do idoso, através de uma rede sem fio, com isso, a estação base repassa parte destes dados para uma central. Conforme a análise do monitoramento, como por exemplo, a detecção de um problema de saúde, a central pode repassar as informações para outros atores associados ao sistema, tal como profissionais de saúde e familiares, de forma a que estes tomem as providências necessárias.
As pesquisas desenvolvidas pelo grupo que estão em andamento têm foco essencialmente no dispositivo vestível e nos algoritmos de análise posicionados na estação base e na central. Desta forma, é possível reconhecer atividades diárias, detectar e prever possíveis quedas e extrair diversas informações da pessoa de terceira idade.
O docente explica que através de sensores de geolocalização (GPS) e de movimentação (magnetômetro, barômetro e acelerômetro), o software localizado na estação base utiliza técnicas de aprendizado de máquina para inferir qual atividade, seja caminhando, escovando os dentes, dormindo e sentado, o idoso está realizando em um determinado momento.
“O conhecimento destas atividades permite inferir sobre a saúde do idoso e inclusive tomar decisões sobre outras áreas de pesquisa, como detecção e prevenção de quedas e consumo eficiente de energia por parte do wearable”, complementa Marcon.
Quedas têm sido um dos maiores problemas de saúde para idosos. Estima-se que há uma queda para um em cada três indivíduos com mais de 65 anos e que um em 20 daqueles que sofreram uma queda sofram uma fratura ou necessitem de internação, de acordo com o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia. A prevenção de quedas é uma tarefa difícil devido à variedade de fatores que as predispõem.
Desta forma, como comenta o pesquisador, a criação de um sistema que identifique corretamente uma queda pode auxiliar para recuperar rapidamente o idoso. Os grandes problemas associados a essa detecção estão na geração de falsos positivos, uma batida do braço na mesa pode ser detectada como uma queda, por exemplo; e falsos negativos, como um desmaio em um momento que o idoso está próximo do chão ser detectado como estado de dormindo.
Por conta disso, no wearable desenvolvido, são utilizados os mesmos sensores empregados nas atividades diárias do idoso e inclusive o estado detectado na atividade diária, permitindo assim, reduzir falsos positivos e negativos. Além disso, a prevenção de quedas segue princípio similar à detecção, mas agrega sensores de pressão arterial, temperatura, respirações por minuto, oximetria e batimento cardíaco para que seja gerado um alarme para o idoso em uma situação de inferência de queda futura.
O sensor fotopletismográfico (PPG, do inglês photoplethysmograph) posicionado no relógio retorna dados crus que permitem extrair diversas informações sobre uma pessoa. Entre essas informações estão o batimento cardíaco, pressão sanguínea, oxigenação e taxa de respiração. Com isso, de acordo com Marcon, a qualidade da análise dos dados do PPG implica em obter dados com diferentes graus de eficácia e eficiência.
Normalmente, o aumento da eficácia implica redução da eficiência e vice-versa, desta forma, este eixo da pesquisa está em analisar e propor diferentes algoritmos com diferentes graus de eficácia e eficiência. Além disso, estudos recentes apontam que o PPG pode ser usado também para detectar situação de stress; uma das pesquisas que está sendo desenvolvida com o sensor fotopletismográfico é a coleta dos dados obtidos com o sensor PPG e uma correspondente análise no estado emocional de pessoas sensoriadas.