Combate ao câncer

Vários fatores devem ser considerados ao definir o melhor tratamento para cada paciente/ Foto: Giordano Toldo

No começo de 2023, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estimou 704 mil casos novos de câncer no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025. As informações são da publicação Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil e destacam que as regiões Sul e Sudeste concentram cerca de 70% da incidência. A pesquisadora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Fernanda Bueno Morrone explica que o câncer é uma doença caracterizada pelo crescimento descontrolado e anormal de células em qualquer parte do corpo. 

De acordo com a docente, essas células crescem e se dividem mais rapidamente do que as células normais e podem invadir tecidos e órgãos próximos. O câncer pode se espalhar para outras partes do corpo através do sistema circulatório ou linfático, o que é conhecido como metástase. Ao todo, foram estimadas as ocorrências para 21 tipos de câncer mais comuns no Brasil, sendo eles o de pele não melanoma (31,3% do total de casos), seguido pelos de mama feminina (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%). 

A professora Fernanda atua com pesquisas reconhecidas internacionalmente pelo seu impacto na proposição de novas estratégias para o tratamento farmacológico e combate aos mais diversos tipos de câncer. Ela conta que vários fatores são levados em consideração ao definir o melhor tratamento para cada paciente com câncer.  

“O objetivo dos tratamentos é eliminar o câncer ou controlá-lo por um período de tempo. Alguns fatores para definir a melhor estratégia incluem o tipo e estágio do câncer, a idade e estado de saúde geral do paciente, bem como a presença de outras condições médicas. Os tratamentos mais comuns para o câncer incluem cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia hormonal e imunoterapia”, destaca.  

Busca por novos tratamentos 

Combate ao câncer

Imunoterapia, terapia-alvo, terapia gênica e radioterapia de precisão estão entre os mais promissores tratamentos contra o câncer/ Foto: Giordano Toldo

No mundo, atualmente se discute muito sobre os avanços na ciência e na busca por novos tratamentos, incluindo novas abordagens de imunoterapia, terapia gênica, terapia com células CAR-T (células T modificadas), radioterapia com prótons, terapia de ondas sonoras e nanotecnologia. Fernanda ressalta que também há pesquisas em andamento para identificar novos alvos terapêuticos e desenvolver novos medicamentos mais eficazes e com menos efeitos colaterais. 

Mais recentemente, houve avanços significativos no desenvolvimento de novos tratamentos para o câncer, e alguns dos mais promissores incluem: imunoterapia, terapia-alvo, terapia gênica, radioterapia de precisão. Esses novos tratamentos estão ajudando a melhorar as taxas de sobrevivência e qualidade de vida dos pacientes com câncer e continuam a ser desenvolvidos e refinados para melhorar ainda mais os resultados do tratamento. 

Na PUCRS, o grupo de pesquisa em Farmacologia do Câncer e Inflamação: aspectos bioquímicos e moleculares, coordenado pela pesquisadora, é responsável por desenvolver pesquisas para encontrar novos tratamentos para várias neoplasias. Em estudos anteriores do grupo, foram encontrados resultados promissores realizando a injeção de células de gliomas com uma enzima que quebra o ATP para diminuir o tamanho do tumor. Conforme salienta a professora, essas descobertas podem contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias farmacológicas para o tratamento dessas neoplasias. 

Atualmente, dois estudos estão em andamento. Uma pesquisa em colaboração com o grupo do professor da Universidade de Harvard Simon Robson, com foco na investigação da resistência do câncer à radioterapia e a resposta imunológica em modelos de tumores cerebrais.  

Além disso, devido à alta prevalência do câncer de esôfago no Rio Grande do Sul, o grupo de pesquisa também está realizando estudos para identificar genes presentes nesse tipo de câncer. Esses estudos são feitos em amostras de pacientes e utilizando grandes bancos de dados internacionais, com a avaliação dos dados obtidos por inteligência artificial. O grupo tem uma parceria com o Centro Internacional de Engenharia Genética e Biotecnologia (ICGEB), ligado à Organização das Nações Unidas, na África do Sul, onde também há muitos casos de carcinoma de esôfago.  

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laboratório de infâncias, desenvolvimento infantil

Foto: Pexels

Em 1959, a Organização das Nações Unidas criou a Declaração dos Direitos da Criança, um momento que marcou na história a infância, como um tema global. Desde então, ampliaram-se os olhares e discussões acerca dos direitos das crianças, bem como o papel das escolas e das políticas em prol desta etapa da vida. Atualmente, além destes assuntos, debate-se muito sobre o sentido do brincar no cotidiano infantil e seu impacto no desenvolvimento das crianças.  

De acordo com Andreia Mendes, professora da Escola de Humanidades e coordenadora do Laboratório das Infâncias da PUCRS (LabInf), o brincar permite que o indivíduo, seja criança ou adulto, perceba o mundo e desenvolva suas relações com o meio físico e social. Em pesquisas realizadas na universidade, descreveu-se que a atividade lúdica de jogos e brincadeiras proporciona momentos propícios para socializar, criar, imaginar, aprender, interagir, conhecer e vivenciar o cotidiano. 

Esta compreensão parte da noção de que, no momento em que as pessoas se relacionam com o ambiente e com outros indivíduos, elas desenvolvem suas capacidades de raciocínio, pensamento, linguagem, comunicação e afetividades. Compreende-se também que o ser humano é uma espécie dialógica, ou seja, que necessita da interação para se desenvolver através dos aspectos motor, afetivo e cognitivo, a fim de construir suas aprendizagens. 

O brincar e o desenvolvimento infantil

Ainda que as crianças, enquanto grupo social, sejam consideradas frágeis, é por meio da relação com o outro e o com o mundo, com subsídios, acesso e intervenção disponibilizados a elas, que os pequenos interagem, aprendem, crescem a fim de que, de forma autônoma e sadia, possam se desenvolver. Na pesquisa A psicologia escolar e educacional pensando as infâncias na pandemia, as pesquisadoras da PUCRS Andreia Mendes, Renata Plácido Dipp e Giovanna Bortoli contam que no ato de brincar a criança ou o adulto fruem a sua liberdade de criação.  

Elas também ressaltam o papel da escola para criar uma sinergia entre a proposta pedagógica, a compreensão dos educadores e da instituição, bem como da família, em última análise, para que se estabeleça e se mantenha uma cultura do brincar e da sociedade. De acordo com as pesquisadoras, a escola tende a cumprir este papel, principalmente em contextos familiares com mais fragilidades.  

Em famílias que não experimentaram a educação e não conseguem estimular os filhos, que sobrevivem em contextos econômicos de precariedade, ou que convivem com violências de diferentes ordens, tais cenários podem reduzir as chances de a família estimular a criança ao estudo e às experiências de brincar. Já em casas com contextos sociais privilegiados, do ponto de vista econômico, também se identificam fragilidades familiares.  

laboratório de infâncias, desenvolvimento infantil

Laboratório das Infâncias / Foto: Giordano Toldo

De acordo com o estudo, as exigências de uma sociedade hiperinformada, digital, competitiva e fugaz (em que cada vez mais os pais são exigidos a se ocuparem com o mundo do trabalho), tendem a estimular brincar menos ao livre e mais à tarefa. Andreia, Renata e Giovanna explicam que em ambos os extremos, crianças com pouco espaço para criar, passam apenas a reproduzir. Desta forma, estes contextos podem gerar às crianças o vazio; elas tendem a se entusiasmar menos pela aprendizagem, podem se tornar adultos mais ansiosos e menos criativos e tendem a esperar pela condução do ambiente e exigir que o outro dê conta de lhe oferecer o melhor caminho para a aprendizagem. 

“O Dia Mundial da Infância agrega muito no debate na garantia do direito das crianças, mas precisamos compreender esta etapa da vida como crucial na formação de um novo adulto. Não é apenas uma fase de passagem, as crianças de hoje serão os adultos de amanhã e que o que se passa na infância marca a vida inteira do indivíduo”, alerta Andreia.

Protagonismo frente ao debate 

O LabInf surgiu de uma parceria entre a Escola de Humanidades e o Centro Marista de Promoção dos Direitos da Criança do Adolescente com o objetivo de desenvolver um projeto integrador na Universidade com foco nas infâncias. É uma estrutura de ensino, pesquisa e extensão idealizada para promover propostas interdisciplinares efetivas e de impacto social na construção de uma sociedade que valorize e dê voz às crianças.  

Através de estudos sobre e com as crianças, e por meio da pesquisa-ação, também busca-se ampliar o repertório formativo de nossos alunos para torná-los futuros profissionais com competências e habilidades para trabalhar junto ao campo das infâncias. O conjunto de estudos desenvolvidos pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Infância(s) e Educação Infantil e dos Grupos de Pesquisa sobre Questões Sociais na Escola e Psicologia e Educação são o berço das ações.  

Participam do LabInf mestrandos e doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Educação, Ciências Sociais e demais programas da PUCRS, além de bolsistas de Iniciação Científica, professores, egressos na condição de colaboradores e estagiários. Cada projeto de pesquisa oportuniza investigar sobre mais temas, como a inserção social da criança imigrante, infâncias indígenas, crianças com TEA, educação inclusiva e educação especial, a importância do brincar, entre outros.  

O interesse institucional em contribuir com o tema permite uma atuação integrada em uma sólida parceria com Centro Marista de Promoção dos Direitos da Criança do Adolescente, o Centro Social Marista Irmão Bertolini e a Escola de Educação Infantil Menino Jesus, o Colégio Rosário e o Serviço de Atendimento e Pesquisa em Psicologia da PUCRS e com uma rede de pais e crianças no estado do Rio Grande do Sul. Saiba mais aqui. 

Respeito não tem idade: o combate à violência contra idosos - Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa reforça a importância de promover ações de cuidado para este público - Unati PUCRS

Foto: Envalo Elements

No mesmo ano em que o Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG) da PUCRS completa 50 anos, acontece a 19ª edição do Simpósio Internacional de Geriatria e Gerontologia. Nos dias 29 e 30 de setembro de 2023, no Teatro do Prédio 40 da Universidade, profissionais e estudantes se reúnem com palestrantes e referências da área de gerontologia para debater temas como envelhecimento ativo, e prevenção e tratamento de doenças geriátricas, para garantir um envelhecimento com qualidade de vida, autonomia e independência.  

Estudantes e pesquisadores interessados em participar podem inscrever seus pôsteres virtuais até dia 31 de maio. As inscrições estão abertas até dia 28 de setembro. No dia 28, acontecerão também workshops, de forma presencial, nas salas 801 e 803 do Prédio 40. As atividades promovidas pelo IGG serão ministradas pelos pesquisadores Lucas Schilling e Gabriel Behr Gomes Jardim com o tema “Como eu trato o quadro demencial?”, e José Roberto Goldim e Livia Haygert Pithan, com o tema “Tomada de decisões em fim de vida”. As inscrições podem ser feitas aqui. 

Confira a programação preliminar do Simpósio 

Sexta-feira (29/09/2023) 

8h às 9h – Palestra de Abertura Supercentenários e envelhecimento saudável, palestrante Yasumichi Arai (Keio University – Toquio, Japão). 

9h às 10h15 – Atualizações em Doenças neurodegenerativas, coordenação Douglas Sato e palestrante Jaderson Costa da Costa (InsCer/PUCRS) Carlos Roberto de Mello Rieder (UFCSPA). 

10h30 às 12h – Casos complexos em Geriatria e Gerontologia, coordenação Rodolfo Herberto Schneider e palestrantes Edgar Nunes de Moraes (UFMG) e Eduardo Garcia (UFCSPA). 

12h às 13h30 – Almoço. 

13h30 às 15h – Prescrição, desprescrição e iatrogenia medicamentosa, coordenação Cristiane Regina Guerino Furini e palestrantes Pedro Ferreira (HSL) e Vanessa Sgnaolin (PUCRS). 

15h15 às 17h – Cuidados Paliativos, palestrante Claudia Burlá e Lucas Ramos (HSL/PUCRS) 

17h às 18h30 – Inovações Tecnológicas, palestrantes Cesar Augusto Missio Marcon (PUCRS), Johannes Doll (UFRGS) e Ana Carolina Bertoletti de Marchi (UPF). 

Sábado (30/09/2023) 

8h às 9h – Cardiogeriatria, palestrantes Emílio Moriguchi (HCPA) e Virgílio Olsen (UFCSPA).  

9h às 10h15 – Atualização em transtornos do humor, coordenação Alfredo Cataldo Neto e palestrantes Marco Antônio Caldieraro (Inscer), Sérgio Blay (UNIFESP) e Lucas Spanemberg (PUCRS). 

10h30 às 12h – Fragilidade e Sarcopenia, coordenação Carla Helena Augustin Schwanke e palestrante Tiago da Silva Alexandre (UFSCar) e Paulo Rocha (Instituto Português do Desporto e Juventude, Portugal). 

12h às 13h30 – Encerramento. 

Sobre o Instituto de Geriatria e Gerontologia 

Foto: Bruno Todeschini

O IGG foi oficialmente inaugurado em 1973, por meio de um intercâmbio médico-científico entre os governos do Brasil e do Japão, via Japan International Cooperation Agency (Jica). Atualmente, o IGG tem como diretor o professor e pesquisador da Escola de Medicina Douglas Kazutoshi Sato, que dedica sua trajetória científica nas áreas de medicina, neurociências e envelhecimento. 

Atualmente o IGG conta com oito pesquisadores e seis grupos de pesquisa: Grupo de Pesquisa em Epidemiologia, Neurologia e Imunologia (GENIM), Grupo de Estudos em Risco Cardiometabólico (GERICEN), Envelhecimento e Nutrição, Grupo de Pesquisa de Envelhecimento e Saúde Mental (GPESM), Grupo de Estudos em Segurança e Saúde Pública, Grupo de Estudo em Envelhecimento Osteomuscular e Osteoporose (GEOMO), e o grupo de Atenção Multiprofissional ao Longevo (AMPAL). Dentro da sua estrutura conta com o Laboratório de Bioquímica e Genética Molecular. 

Também compõe o IGG a Universidade Aberta da Terceira Idade (UNATI), que proporciona cursos e atividades para idosos e profissionais que visam atuar no processo de envelhecimento. A UNATI tem por objetivo central contribuir para a longevidade com qualidade de vida e autonomia estimulando boas práticas relacionadas à saúde física, mental e funcional às pessoas idosas.   

Entre as ações recentes realizadas no IGG está o Programa de Incentivo a Atividade Física (PIAFI), sob a coordenação do Prof. Dr. Douglas Sato, que beneficia pessoas idosas carentes de Porto Alegre proporcionando a realização de atividades físicas de diversas modalidades, fomentado pelo Fundo Municipal do Idoso de Porto Alegre. 

Leia também: Universidade desenvolve projetos na Capital com mais idosos do Brasil 

história de porto alegre

Foto: Flávio Carneiro e Thales Farias

Porto Alegre está completando 251 anos em neste dia 26 de março. Hoje, abordamos a história da cidade, fundada de 1772, com a criação da Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, um ano depois alterada para Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre. A fundação da cidade está inserida no processo de conquista e expansão dos domínios portugueses ao sul do Brasil em direção ao Rio da Prata, conforme explica o professor e pesquisador da Escola de Humanidades Charles Monteiro. 

O docente dedica sua trajetória acadêmica para desenvolver diversas publicações e pesquisas em torno da história de Porto Alegre e do estado do Rio Grande do Sul. Em sua tese de doutorado, por exemplo, que resultou no livro Porto Alegre e suas escritas, o Charles propôs uma série de reflexões sobre como a história da capital gaúcha foi escrita por historiadores e literários a partir dos anos 40.

Fundação de Porto Alegre

Em participação no livro Viva o Centro a Pé, Charles apresenta uma breve linha do tempo dos acontecimentos que constituíram a cidade. O pesquisador conta que a província e a população do Rio Grande do Sul foram se formando a partir dos conflitos, das trocas comerciais e dos acordos políticos-militares entre portugueses e espanhóis.

Ambos os países foram polos de conquista e colonização do território meridional e disputavam a região povoada por vários grupos indígenas. Nesse período, em 1752, por conta do Tratado de Madri e do projeto da Coroa portuguesa de assentar colonos no território de Missões Jesuíticas, deu-se início ao processo de povoamento do Porto do Dorneles.

Casais açorianos rumando para as missões foram obrigados a aguardar transporte e a pacificação da região envolvida nas Guerras Guaraníticas. Eles então se instalaram próximos ao Arroio Dilúvio, nomeando a região como Porto de São Francisco dos Casais. Mais tarde então, o povoamento se torna a capital da Província, em 1773, passando a ser chamada Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, que futuramente seria a cidade de Porto Alegre.

história de porto alegre

Foto: Joseph Zakauska e Pedro Cavalheiro

Crescimento industrial e populacional da cidade

Avançando para o período da Proclamação da República, em 1889, o pesquisador Monteiro demarca a data como a fase do fenômeno urbano de reorganização social no espaço urbano, decorrentes das mudanças de estrutura política, social e econômica da sociedade brasileira.

“Porto Alegre era o centro político e o porto comercial de exportação e importação em expansão no fim do século 19. Esta evolução comercial e industrial da cidade acarretou seu crescimento populacional e urbano, na modernização dos espaços e dos serviços e nas mudanças de sociabilidade pública”, destaca o professor.

De acordo com Monteiro, Porto Alegre foi uma das primeiras capitais do país a ter um plano urbanístico voltado a atender o crescimento da cidade. Foram propostos alargamentos das ruas principais e construção de novas avenidas, dando início ao processo de industrialização e expansão populacional da cidade, no começo do Século 20.

Imagens de uma cidade moderna

O pesquisador Charles Monteiro também atua na linha de pesquisa em fotografia realizando ligações com sua formação em história. Um exemplo das publicações de sua autoria se destaca o estudo Imagens sedutoras da modernidade urbana: reflexões sobre a construção de um novo padrão de visualidade urbana nas revistas ilustradas na década de 1950. Com a pesquisa, o docente problematiza a forma como revistas ilustradas nos anos 1950 geriram a imagem de um país em transformação e em acelerado processo de urbanização através da fotografia.

Nos anos 50, no Brasil, aconteceu uma “revolução verde”, ocasionada pela introdução de novas técnicas agrícolas e pelo desenvolvimento capitalista no campo. De acordo com Monteiro, este período foi marcado por migrações em massa das regiões agrícolas para os estados mais industrializados. Um grande exemplo deste movimento foi o deslocamento de populações nordestinas para a construção de Brasília.

Neste período, as revistas ilustradas semanais e quinzenais surgiram como alternativa aos jornais cotidianos. Eram periódicos que ofereciam uma nova abordagem dos acontecimentos com imagens e elementos visuais mais chamativos. Elas desempenhavam um papel social influente na forma como a população brasileira passaria a pensar sobre uma variedade de assuntos – como política, artes, vida de famosos, esportes, opinião e entretenimento.

Na pesquisa realizada pelo docente da Escola de Humanidades, foi analisada a fotorreportagem Porto Alegre cresce para o céu e para o rio, da Revista do Globo, que destaca o processo de modernização da capital gaúcha. As fotos realizadas por Thales Farias ilustram a matéria ressaltando grandes construções civis que surgiram na época, como novos edifícios do centro, obras da Avenida Beira-Rio e a ponte sobre o Guaíba, porém os bairros populares da cidade e os problemas advindos desse crescimento não eram foco da revista.

O pesquisador comenta que ao analisar o discurso das revistas deste período é possível notar um maior engajamento pelo discurso de incentivo pelo desenvolvimento das grandes cidades, como Porto Alegre.

“Os principais periódicos passaram a focalizar essencialmente o processo de transformação e modernização da sociedade urbana, deixando de lado as críticas e as contradições que acompanhavam este processo. Com isso, concretizaram a utopia da cidade moderna numa verdadeira pedagogia social, dando velocidade ao processo de mudança de uma forma positiva”, explica Monteiro.

história de porto alegre

Foto: Flávio Carneiro e Thales Farias

Memórias de uma cidade em transformação

No início dos anos 1970, Porto Alegre continuava seu processo de crescimento e transformação. A população da capital passou de 590 mil habitantes para 1 milhão e 530 mil em 1970, marcando o período por uma evolução dos espaços urbanos da cidade. Em sua pesquisa, intitulada como Duas leituras sobre as transformações da cultura urbana de Porto Alegre nos anos 1970: entre memória e ficção, o professor Charles Monteiro analisa narrativas sobre a década na cidade de Porto Alegre e como estas memórias influenciam os dias atuais.

O docente explica que mesmo com a modernização do espaço urbano, demolição acelerada de prédios antigos e a retirada dos bondes existia outro movimento que buscava preservar a memória da cidade. Cronistas, como Nilo Ruschel eram responsáveis por retratar a cidade do passado, uma cultura urbana que se organizava em cafés, bares e restaurantes. Com isso, foi criado o Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo e foram publicados diversos livros sobre a história da capital gaúcha.

Já os escritores, como Moacyr Scliar abordavam a capital do presente e do futuro, relatando seus problemas e contradições nas crônicas. Naquele período, o processo de crescimento da cidade parecia não ter mais volta. Bairros como Bom Fim, Cidade Baixa e Moinhos de Vento cresciam comercialmente e ganhavam vida noturna. Além disso, Porto Alegre tornava-se palco para grandes eventos, como a missa campal com a presença do Papa João Paulo II, em 1980.

Novas alternativas para problemas urbanos

De acordo com Monteiro, a transformação de Porto Alegre segue acontecendo com o passar dos anos. Entre 1991 e 2000, o IBGE apresentou uma taxa de crescimento populacional de 0,93%. Além disso, foram realizados diversos grandes eventos como o Fórum Social Mundial, que colocou a cidade no mapa político e turístico internacional, e a Bienal do Mercosul, que a cada dois anos promove debates artísticos-culturais e promove a integração entre diversos países.

O último grande evento que aconteceu na cidade foi a Copa do Mundo de Futebol de 2014, que atraiu turistas e hospedou as seleções esportivas da Argentina, Honduras, Alemanha, França, Holanda, Argélia, Nigéria, Coreia do Sul e Austrália. O episódio gerou calorosos debates sobre a infraestrutura da capital, e assim, foram propostos novos projetos de revitalização da Orla do Gasômetro, do Cais Mauá e do 4.º Distrito de Porto Alegre.

“Porto Alegre continua a defrontar-se com os desafios que o passado e o presente lhe deixaram, mas parece haver, mais do que em qualquer outro período anterior, maior consciência e participação da sociedade civil na discussão e na busca por alternativas viáveis para o enfrentamento dos problemas urbanos”, finaliza o docente.

Foto: Pexels

O início do mês de março foi marcado pelo movimento do governo brasileiro em aumentar em 9,2% das tarifas de exportação do petróleo cru, com o objetivo de aumentar a arrecadação ao longo dos próximos 4 meses, sem interferir nas políticas de preços da Petrobras. O Ministério da Fazenda estimou a redução de 1% no lucro da Petrobras, mas de que forma estas medidas influenciam os consumidores e impactam na Economia brasileira? 

Para entender melhor essa iniciativa, conversamos com o pesquisador e coordenador do Pós-Graduação em Economia do Desenvolvimento da PUCRS Augusto Mussi Alvim.  

Fatores que influenciam o preço da gasolina 

São muitos os fatores que compõe o preço final da gasolina no Brasil, como: preço do petróleo; política de preços da Petrobras; refino, distribuição e revenda; preço do etanol e impostos. Dito isso, fatores internacionais como a guerra entre Rússia e Ucrânia influenciam os valores do barril de petróleo e, consequentemente, o preço da gasolina brasileira. Além disso, especialistas explicam que o país é autossuficiente na extração de petróleo, porém falta capacidade produtiva de refino no volume que a demanda brasileira exige, por conta disso, é necessário importar combustível.  

A carga tributária é outra questão de preocupação para o governo que afeta no preço da gasolina. Os principais impostos que participam da composição do preço da gasolina são o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o tributo federal Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), o Programa de Integração Social e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/PASEP) e o Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Os dois últimos são programas que incidem sobre a gasolina e visam promover os direitos dos trabalhadores e distribuir melhor a renda nacional e, da mesma forma, beneficiar áreas como a previdência social, a saúde e a assistência social. 

Quais foram as mudanças 

Na gasolina comum, as medidas irão modificar a cobrança do PIS/Cofins para R$ 0,47 por litro. Já o etanol será reonerado, ou seja, tributado novamente, em R$ 0,02 por litro e o impacto para a gasolina será de R$ 0,34 por litro, considerando a redução de R$ 0,13 sobre o combustível, divulgada pela Petrobras. Enquanto isso, a Cide segue zerada, e o gás de cozinha, o óleo diesel e o querosene de aviação ficam isentos por pelo menos quatro meses. 

A expectativa do Ministério da Fazenda com estas mudanças é arrecadar R$ 6,6 bilhões. De acordo com Alvim, a iniciativa do governo em aumentar os tributos sobre a exportação deve reduzir o total de exportações e aumentar a oferta de petróleo cru nos meses de vigência desta medida.  

Foto: Pexels

Porém, o docente explica que, mesmo com estas ações, não deverá ocorrer a atração de novas empresas para o refino de petróleo, conforme pelo Ministério de Minas e Energia. Em sua previsão para os próximos meses, o pesquisador destaca que os efeitos líquidos sobre os Investimentos Diretos Estrangeiros neste segmento de mercado devem ser negativos.   

Vantagens e desvantagens 

Neste cenário, o professor destaca que as vantagens são (1) maior arrecadação do governo federal nos próximos meses, sem interferir na política de preços da Petrobrás e (2) menor preço de petróleo cru no mercado brasileiro devido ao imposto.  

Já as desvantagens são (1) mudança nos preços das ações das empresas do setor devido à queda esperada no lucro das empresas; (2) reduz a confiança de investidores estrangeiros no mercado brasileiro, na medida que o governo altera as regras do jogo de forma inesperada.   

Ainda sobre o tema, Alvim destaca que as medidas impactam a Petrobras nos seguintes pontos: (1) queda temporária no lucro da empresa; (2) redução temporária no preço das ações; (3) aumento dos estoques de petróleo cru. 

Impacto no consumidor 

O pesquisador esclarece que os consumidores de gasolina e diesel não devem ser afetados especificamente por essas medidas. Esse fator ocorre basicamente porque não existem perspectivas de aumento/redução da oferta ou das importações de combustíveis. De qualquer maneira, os consumidores terão maiores preços de combustíveis devido ao retorno da cobrança de PIS e Cofins, os quais não eram aplicados desde o início de 2022.  

“Essa medida de retorno dos impostos federais (PIS e Cofins) segue a mesma linha dos tributos sobre a exportação, e tem por objetivo aumentar a arrecadação federal ainda em 2023”, finaliza Alvim.

Foto: Igor Bandera

O Brasil já foi mais feliz: de acordo com o ranking World Happiness Report (WHR), uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) criado em 2011, o país caiu 11 posições no ranking que mede a felicidade da população. A pesquisa é atualizada a partir de triênios, e o Brasil que ocupava a posição 38º no último ranking (2019 a 2021), se encontra agora na 49ª posição com dados referentes ao triênio de 2020 a 2022.  

Para chegar nesses resultados, o Relatório Mundial da Felicidade é medido a partir de sete indicadores principais, tendo a pergunta “qual nota, entre 0 e 10, você daria a sua vida?” como indicador principal. O estudo também leva em consideração as realidades de cada país, como PIB per capita, apoio social, expectativa de vida saudável, liberdade, generosidade e percepção de corrupção. 

A partir da apresentação do Relatório Mundial da Felicidade ao primeiro-ministro do Butão Jigmi Y. Thinley e ao economista norte-americano Jeffrey D. Sachs, a ONU decidiu proclamar o dia 20 de março como o Dia Internacional da Felicidade. Como uma forma de promover a felicidade e a alegria entre os povos, a criação da data está alinhada a uma agenda global que busca proporcionar felicidade a todos os povos do planeta. 

O pesquisador da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Wagner De Lara Machado destaca que a felicidade é um fenômeno complexo que envolve nosso cérebro e a experiência subjetiva.  

“A felicidade está associada à modulação emocional e ao melhor funcionamento das células de defesa do corpo humano, por exemplo. Da mesma forma, a felicidade quando relacionada à autorrealização, se mostra associada a uma melhor regulação neuroendócrina, isto é, menos indicadores inflamatórios e aumentos dos neurotransmissores que geram bem-estar, como a serotonina, endorfina, dopamina e outros”, explica.     

Quais estímulos provocam a felicidade? 

Foto: Igor Bandera

A felicidade com frequência é descrita por especialistas como um estado de alegria, contentamento, satisfação, euforia entre outros afetos. Wagner explica que essa parte mais emocional da felicidade possui disparadores conhecidos como atividades prazerosas, eventos de vida positivos, e estados internos que possuem grande influência da personalidade.  

Nos casos em que a felicidade é concebida através da autorrealização, isto é, a expressão máxima do potencial pessoal, ela depende mais do engajamento em atividades que geram sentido e desenvolvimento contínuo alinhadas aos propósitos de vida de cada um.  

O docente da PUCRS conta que existem vários circuitos cerebrais envolvidos na experiência da felicidade. Por exemplo, as atividades que geram envolvimento profundo e sensação de significado, tendem a se associar com uma atividade do córtex pré-frontal e frontal. Já a felicidade advinda de estados emocionais mais intensos está associada a uma atividade do córtex orbitofrontal e do sistema límbico.   

Durante a pandemia de Covid-19, pesquisas evidenciaram o papel da felicidade na resiliência individual frente ao enfrentamento ao momento. De acordo com Wagner, nesses casos, a felicidade é tanto antecedente como consequência do processo de resiliência, dependendo do aspecto observado e da dinâmica do indivíduo.  

“Por exemplo, pessoas com uma percepção mais nítida do seu sentido e propósito de vida conseguiam lidar melhor com adversidades, mantendo seus níveis de motivação. Já os afetos positivos eram tanto resultado deste processo quanto antecedentes, uma vez que pessoas que experimentam mais afetos positivos podem ter uma melhor autorregulação emocional, mesmo frente a novos estressores”, finaliza o professor.

Foto: Rodnae Productions/Pexels

Com o título Herdeiras – Narrativas Biográficas de Três Gerações de Mulheres Negras em Três Regiões de Economia Escravista, o projeto do professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS Hermílio Santos foi selecionado para participar do Programa Cátedra Tübingen da Universidade de Tübingen na Alemanha. A pesquisa busca entender três períodos escravistas da história do Brasil: o ciclo do açúcar em Pernambuco, o do ouro e do diamante em Minas Gerais, e do Charque no Rio Grande do Sul.  

Para realizar a pesquisa, Hermílio utiliza como único método a análise reconstrutiva de narrativas biográficas de três gerações de mulheres negras de uma mesma família que residem em regiões marcadas pela exploração da mão-de-obra escravizada. Como sociólogo, tem interesse em compreender a sociedade brasileira contemporânea, mas para isso o professor acredita que é preciso olhar para a história para compreender o presente e poder enfrentar o futuro. 

“A gente não pode, tendo essa experiência de mais de 300 anos de escravidão, eu diria até que a gente não vai a lugar nenhum se a gente não compreender como esse fenômeno da experiência escravocrata de toda a sociedade brasileira, de norte a sul, chega aos nossos dias. Sobretudo para a população negra, em especial para as mulheres negras que são o tema da minha pesquisa.” 

A pesquisa ainda está no início, porém o professor já conseguiu observar que a escravidão brasileira é muito mais complexa do que aparenta, e por isso vai exigir um minucioso estudo sociológico sobre o assunto.  

“As entrevistas com essas famílias vão revelar como a herança escravista está presente e como está ausente. O que eu tenho visto até agora é que o tema da escravidão em algumas famílias não é sequer mencionado de uma geração para outra. Algumas mencionam os seus preconceitos, mas até agora na pesquisa raramente vejo essa menção”. 

Intercambio acadêmico com a Alemanha 

Hermílio Santos

Foto: Bruno Todeschini

Com parceria da CAPES e da Universidade de Tübingen, o objetivo do Programa Cátedra Tübingen é realizar um intercâmbio acadêmico entre universidades e centros de pesquisa brasileiros e alemães. A Universidade de Tübingen mantém um Centro de Estudos Latino-Americano e Brasileiro, e o professor Hermílio ressalta que a Alemanha possui grande interesse no Brasil, logo levar a pesquisa ao país faz todo o sentido.  

“E a gente não pode esquecer que a Alemanha, por ser um país com atuação Global, com as suas empresas, governo e organizações civis atuando globalmente. E eles também têm uma presença forte na sociedade brasileira, então eles prezam muito conhecer a sociedade nas quais atuam, que é o caso da sociedade brasileira” 

O professor ministrar um seminário e palestras sobre o tema na Alemanha, e com o intercâmbio entre as universidades, Hermílio espera que os estudantes se interessem pela temática e venham ao Brasil e à PUCRS. “Quero que venham e vejam a PUCRS como uma universidade onde eles poderão fazer parte dos seus estudos de mestrado ou doutorado, por exemplo. Então a minha estratégia é despertar o interesse para poderem vir fazer parte dos seus estudos”, finaliza.  

Série de matérias vida pós-pandemia

Foto: Unsplash

Os efeitos da pandemia de Covid-19 na Educação serão o centro do debate entre pesquisadores de todo o Brasil, durante evento que acontece no Campus da PUCRS, nos dias 9 e 10 de março. O encontro é promovido pela Rede Recupera Brasil, consórcio que une dez programas de pós-graduação e oito universidades do País para conduzir pesquisas sobre essa temática.  

A PUCRS participa da iniciativa com o Programa de intervenção multiprofissional de redução de danos da pandemia para estudantes, pais e professores: evidências de mapeamento cognitivo, de saúde física e mental, e laboral, que será implementado pela Rede Recupera Brasil por meio de edital concedido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

O encontro acontece no Auditório 923, do Prédio 11, e conta com programação voltada para alunos do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS e demais alunos da graduação. Conforme o coordenador do projeto, professor Alexandre Anselmo Guilherme, a estimativa é que novos pesquisadores, doutorandos e mestrandos façam parte da Rede Recupera Brasil nos próximos anos, graças à disponibilização de bolsas do projeto.  

“A Capes foi muito feliz e visionária com os editais voltados para os efeitos da pandemia de Covid-19, criando redes de universidades brasileiras para o desenvolvimento de pesquisas voltadas para temáticas específicas”, pontua o professor. 

Sobre o programa 

O Programa de intervenção multiprofissional de redução de danos da pandemia para estudantes, pais e professores: evidências de mapeamento cognitivo, de saúde física e mental, e laboral iniciou em 2022 e tem vigência até 2026. A iniciativa é liderada pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUCRS e conta com a coordenação do professor Alexandre Anselmo Guilherme e com a participação dos docentes Wagner de Lara Machado, Manoela Ziebell de Oliveira, Ana Maria Pandolfo Feoli, Karen Priscila del Rio Szupszynski, assim como o pesquisador de pós-doutorado Nicolas de Oliveira Cardoso, e os doutorandos Juliana Markus e Felipe de Oliveira.   

Além da participação da PUCRS, a Rede Recupera Brasil engloba docentes e discentes das universidades Mackenzie, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Católica de Brasília (UCB), Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP), Universidade FEEVALE e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).  

Serviço:   

O quê: Evento Rede Recupera Brasil   

Data: 9 e 10 de março 

Horário: das 10h às 12h, das 14h às 16 e das 16h30 às 18h 

Local: Auditório 923º andar, prédio 11.  

Foto: Camila Cunha

Segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os idosos representam atualmente 14,7% da população brasileira – 31,23 milhões de pessoas, em números absolutos. O dado é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada em julho de 2022. Diante de um contexto em que as pessoas acima dos 60 anos ocupam uma parcela demográfica cada vez maior, é fundamental que se pense em quais aspectos podem melhorar a qualidade de vida delas, promovendo o envelhecimento saudável. 

Esse é o tema da pesquisa Avaliação do Programa de Incentivo à Atividade Física Para Idosos (PIAFI), coordenada por Rafael Baptista, professor e pesquisador do Instituto de Geriatria e Gerontologia (IGG), da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS. O objetivo da pesquisa é investigar os fatores que podem contribuir para o envelhecimento saudável, como a cognição e a interação social, tendo como foco a promoção de atividades físicas e cognitivas para idosos. Entrevistas, avaliações físicas e cognitivas, e análises de dados qualitativos e quantitativos estão entre os métodos utilizados na pesquisa.  

Fatores que contribuem para o envelhecimento saudável 

O estudo realizado pelo Laboratório de Avaliação e Pesquisa em Atividade Física da PUCRS, a partir dos idosos que participam do Programa PIAFI, também da PUCRS, busca investigar as relações entre a saúde e o bem-estar dos idosos. O professor Rafael explica que isso é feito por meio da implementação de atividades físicas, cognitivas e sociais que atendam às necessidades individuais de cada participante. “Isso envolve a avaliação biomecânica da marcha dos idosos, testes funcionais e avaliação da composição corporal. Esses procedimentos fornecem informações importantes sobre o estado de saúde geral do indivíduo e ajudam a orientar a prescrição de exercícios e outras atividades”, destaca ele. 

Rafael conta que os resultados da pesquisa têm se mostrado promissores: segundo ele, as descobertas iniciais apontam que a prática regular de atividades físicas da melhor idade traz grandes benefícios para o envelhecimento saudável, principalmente em termos de mobilidade, autonomia e funcionalidade dos idosos. No entanto, ele destaca que os exercícios físicos não são um fator isolado: 

“A nossa pesquisa adota uma abordagem mais holística e integrada, que considera uma variedade de fatores, incluindo atividades físicas, cognitivas e sociais, avaliação biomecânica da marcha, testes funcionais e composição corporal, a fim de promover o bem-estar e a saúde dos idosos de forma geral.” 

Rafael Baptista, professor e pesquisador da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, coordena o projeto/ Foto: Jonathan Heckler

O projeto de pesquisa, coordenado por Rafael, também envolve aproximadamente dez pesquisadores e professores, além de alunos de graduação e pós-graduação da Universidade que participam como bolsistas ou voluntários. A pesquisa também conta com uma parceria entre a PUCRS e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por meio da participação de professores e doutorandos da instituição. Outra parceria que, segundo o coordenador, tem se mostrado fundamental para o sucesso da pesquisa, é com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, que fornece recursos para a implementação do PIAFI. “Isso também possibilita a identificação de idosos que podem participar da pesquisa e a coleta de dados em um contexto real de atendimento à população idosa”, acrescenta ele. 

Quer se aprofundar no assunto?  

Seguindo essa linha, o PUCRS Online abriu as inscrições para a Pós-Graduação em Envelhecimento saudável: Prevenção, Tratamento e Cuidado. O curso tem o objetivo de formar profissionais capacitados para atuar no campo do envelhecimento humano, com ênfase na promoção da saúde e na prevenção de doenças. Além disso, aborda temas como biologia do envelhecimento, cuidado em saúde, políticas públicas, entre outros.  

O curso é 100% online, trazendo em seu corpo docente tanto professores da PUCRS quanto professores convidados. “Pessoas interessadas em realizar apenas uma ou outra disciplina do curso podem fazê-lo como disciplinas isoladas e recebem um certificado de curso de extensão”, pontua Rafael. Além disso, a pós-graduação se conecta com a pesquisa em andamento: 

“Há planos de promover a integração entre a pesquisa e o curso, por meio da realização de atividades em conjunto, como a promoção de eventos, seminários e cursos para a comunidade. Mas a principal integração é que o PIAFI pode se apresentar como um excelente laboratório para a realização de TCCs”, revela.

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Foto: Divulgação HFACTORS

A PUCRS, em parceria com o consórcio Libra-Petrobras e apoio da Agência Nacional do Petróleo (ANP) encerrou mais uma fase da pesquisa “Integração de Fatores Humanos e Resiliência para o Fortalecimento da Cultura de Segurança na Indústria de Óleo e Gás”. O estudo foi realizado durante três anos e contou com cerca de 40 pesquisadores de várias áreas do conhecimento e que se dedicaram a estudar o campo de exploração de petróleo em alto mar. Além da investigação, o grupo também desenvolveu propostas para melhorar a segurança nessa área.  

Uma primeira etapa do projeto já havia ocorrido entre 2017 e 2018, após anos de negociação com o consórcio, com o objetivo de definir e ajustar o foco da pesquisa. Agora, novas fases do trabalho estão sendo negociadas para que os avanços sigam ocorrendo no setor. O professor Eduardo Giugliani, coordenador geral do projeto e do núcleo de pesquisa Human Factors and Resilience Research (HFACTORS), afirma que a pesquisa trouxe uma série de aprendizados: 

Um dos pontos mais importantes foi formar e liderar uma equipe interdisciplinar, com muitas competências e talentos distintos, incluindo professores, pesquisadores, pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos e graduandos. Foi uma trajetória calcada em desafios, unindo áreas de ciências exatas e humanas, com diferentes métodos e abordagens de pesquisa e que, ao final, resultou em achados que fundamentaram a criação de novos métodos e ferramentas aplicáveis na indústria de óleo e gás”, destaca o pesquisador. 

Um legado para a indústria de óleo e gás 

Para identificar as especificidades dessa indústria, o projeto contou com pesquisadores de áreas como Engenharia de Resiliência, Sociologia, Engenharia e Gestão do Conhecimento, Serviço Social, Sociologia, Linguística, Psicologia e Comunicação. Foram usados métodos quantitativos e qualitativos, incluindo questionários, diversos tipos de entrevistas, storytelling, grupos focais e observações de campo, entre outros. A soma chega a mais de mil horas de gravações, centenas de pessoas entrevistas e dezenas de documentos analisados.  

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Foto: Divulgação HFACTORS

Esse trabalho resultou em temas considerados prioritários para se trabalhar com a organização, já que o projeto ocorreu com a participação de representantes da indústria, caracterizando a transdisciplinaridade do processo de pesquisa aplicado. Os pesquisadores identificaram que havia demandas técnicas e não-técnicas para melhorar a cultura de segurança. Assim, foram formados grupos de trabalho para atuar nas áreas, como por exemplo, princípios e conceitos de fatores humanos, liderança, investigação de acidentes, comunicação, cultura justa e autocuidado.   

À medida que as ferramentas eram delineadas, os trabalhadores do setor procuraram identificar sua aplicabilidade, revisão e melhorias. Em alguns casos, os profissionais da indústria de óleo e gás aplicaram as sugestões de forma piloto e adaptaram para a realidade local. Segundo Eder Henriqson, decano da Escola de Negócios e coordenador de pesquisa do HFACTORS, o projeto deixa um legado para a indústria de óleo e gás. 

“No projeto, pudemos apoiar as empresas que lideram esse movimento no contexto nacional. Hoje, por exemplo, a Petrobras está assumindo importante liderança nesse processo. A partir do nosso trabalho, a Petrobras implementou uma grande iniciativa de desenvolvimento organizacional de gestão de mudança chamada Jornada de Fatores Humanos Petrobras.” 

Eder também detalha que a Jornada é coordenada em nível corporativo buscando abrangência de todas as áreas de atuação da empresa. Ela possui uma estrutura de governança organizada em comitês formados por especialistas da empresa que atuam através de cinco alavancas de desenvolvimento: capacitação, aprendizagem a partir de eventos de segurança operacional, cultura justa, indicadores de desempenho e interação com a força de trabalho. 

Ao longo do contrato do projeto, também foram desenhadas estratégias para a disseminação do conhecimento gerado pela pesquisa. Neste sentido, foram elaborados vídeos, documentário, site e matérias jornalísticas, além de uma plataforma interativa para ampliar a sinergia de acadêmicos e pessoas que atuam neste mercado.  

Foto: Eduardo Wannmacher

Recentemente, ocorreu um seminário na sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, em que foram compartilhados resultados desta segunda etapa da pesquisa. Parte dos pesquisadores estava presente para discutir os resultados do trabalho com o setor. O professor Eduardo ressalta a importância da atuação pioneira na área para a PUCRS: 

A excelência em pesquisa da PUCRS contribuiu fortemente para o avanço do conhecimento e otimização de um setor com grande importância para a ciência e para a economia do País, que é o da indústria de petróleo. Entendemos que, dessa forma, colaboramos para o desenvolvimento da sociedade como um todo e também da comunidade acadêmica.” 

Um dos destaques da pesquisa é a constituição de um Centro de Referência em Fatores Humanos e Resiliência na PUCRS (HFACTORS), lançado ao final de 2021. O outro é a criação de um Programa de Pós-graduação em nível de Especialização – Fatores Humanos e Segurança Operacional, atualmente em sua 1ª Edição. O curso é pioneiro no Brasil. 

Sobre o HFACTORS   

O Human Factors and Resilience Research (HFACTORS) é o núcleo vinculado à Escola Politécnica da PUCRS, em parceria com a Escola de Negócios, formado por profissionais de diferentes formações, como Engenharia de Resiliência, Sociologia, Serviço Social, Psicologia, Engenharia, Mídia e Gestão do Conhecimento.  

A equipe estuda e desenvolve soluções, principalmente voltadas à segurança, em sistemas sociotécnicos complexos. O que vincula todos os pesquisadores do núcleo é a abordagem de Fatores Humanos, a qual observa a interação do homem com o ambiente de trabalho, incluindo os fatores ambientais, tecnológicos, individuais e organizacionais, entre outros.  

Fatores Humanos  

A abordagem utilizada pelo núcleo de pesquisa procura basicamente interpretar e entender a relação do humano com tudo aquilo que o cerca. Fatores Humanos são condições que influenciam o comportamento no trabalho, afetando, além do desempenho, a segurança e a saúde do trabalhador.