Concedido pela Câmara Brasileira do Livro, o Prêmio Jabuti é considerado um dos mais tradicionais voltados à literatura no Brasil. Em 2021, a PUCRS tem a honra de anunciar que Jeferson Tenório, doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Letras, e os egressos do mesmo PPG Natalia Borges Polesso e Samir Machado de Machado foram agraciados em três categorias: Romance de Entretenimento, Romance Literário e Livro Brasileiro Publicado no Exterior.
“O maior prêmio, para mim, é que o meu livro chegue a mais pessoas e que seja lido por elas. Fico extremamente contente em ver que as obras estão sendo utilizadas para iniciar jovens à leitura”, conta Jeferson Tenório, vencedor da categoria Romance Literário com a obra O Avesso da Pele. Nela, o doutorando conta a história de Pedro, um homem que se tornou órfão de pai em uma abordagem policial e que sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos.
Samir Machado de Machado, vencedor das categorias Romance de Entretenimento, com o livro Corpos Secos, e Livro Brasileiro Publicado no Exterior, com a obra Tupinilândia, iniciou sua história na PUCRS durante a graduação, em 2000:
“Quando percebi que tinha uma biblioteca como a Biblioteca Irmão José Otão à minha disposição, foi o momento em que, de fato, me tornei um leitor voraz, a caminho de me tornar um escritor – e não imagino que caminho eu teria seguido na vida se não fosse por isso”, relembra.
Sua trajetória enquanto escritor se iniciou aproximadamente no mesmo período, quando participou da Oficina de Criação Literária do professor do curso de Escrita Criativa Luiz Antônio de Assis Brasil. Foi então que ele teve contato com outras pessoas que também possuíam interesse por Literatura. Com alguns deles, montou uma editora pela qual faziam a publicação dos seus trabalhos, o que ajudou a chamar a atenção de editoras maiores. Em 2021, ele concluiu o seu mestrado em Escrita Criativa pela PUCRS, o que fez com que ele se sentisse “mais seguro em relação a algumas questões teóricas que, antes, eu sentia falta ter como bagagem intelectual”, afirma.
Já Tenório, além de mestre pela PUCRS, agora está realizando um doutorado em Teoria da Literatura na Universidade, o que considera fundamental para o desenvolvimento de sua escrita:
“Eu estudo, agora, representações paternas em quatro obras luso-africanas. Compreender a forma como esses personagens são construídos foi fundamental para a criação do Henrique, personagem de O Avesso da Pele”, comenta Tenório.
Na obra, uma doença fatal assola o Brasil e o transforma em uma terra pós-apocalíptica: sem governo, sem leis e sem esperanças. Os sobreviventes tentam cruzar o País em busca de um porto seguro. Samir conta que a obra foi escrita em 2018 e que é apenas uma coincidência o fato de ter sido publicada quando a pandemia se instaurou.
Na história, não se sabe quem foi o primeiro infectado com essa doença, a única certeza é de que o início da epidemia ocorreu no Mato Grosso do Sul. Os doentes tornam-se “corpos secos”: espectros humanos que não possuem mais atividade cerebral, por mais que seus corpos sigam funcionando buscando sangue. Em seis meses, existem poucos sobreviventes, os quais seguirão rumo ao sul do país, buscando um último refúgio. É essa jornada que será narrada.
Identidade, relações raciais, racismo, negritude e violência policial são alguns dos temas que fazem parte da trama dessa obra. Nela, é apresentada a história de Pedro, que perdeu o pai após uma desastrosa abordagem policial. Ele, então, sai em busca sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos.
A história se passa em Porto Alegre e, segundo o autor, a ideia é justamente mostrar a cidade de uma outra perspectiva. “Existe uma segregação muitas vezes não percebida. Policiais se posicionam em locais que são frequentados por pessoas de baixa renda, onde vemos mais negros, enquanto em lugares considerados mais ‘chiques’ isso não é comum”, explica o autor.
No livro, Tupinilândia é o nome dado a um parque de diversões construído em segredo por um industrialista brasileiro na década de 1980, período marcado pela abertura política do Brasil. Ele celebraria o nacionalismo e a nova democracia que se instaurava. Entretanto, em um final de semana em que o parque realizava testes de suas operações, um grupo de militares invade o lugar e faz funcionários e visitantes de reféns.
Duas décadas depois, um arqueólogo recebe autorização para mapear o local, que está prestes a ser alagado pela hidrelétrica de Belo Monte. Ao iniciar os trabalhos, ele descobre um segredo terrível que dará início a uma trama que perpassa a História recente do Brasil e a memória dos anos 1980. Segundo Samir, a sua vontade com Tupinilândia era “escrever uma história de cidade perdida, com todos os clichês naturais ao gênero, mas fazendo com que se curvassem diante da realidade cultural brasileira”.
Na última avaliação quadrienal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) 2013-2016, o Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) alcançou o nível máximo de excelência: conceito 7. A coordenadora, Cláudia Brescancini, destaca três pontos fortes decisivos para chegar ao topo: as parcerias internacionais em projetos de pesquisa, com ações de reciprocidade; a produção intelectual qualificada do corpo docente e discente; e a qualidade da formação oferecida pelos cursos nas áreas de Linguística e Literatura. “Além dos quesitos que identificam um programa de excelência, desenvolvemos também projetos de impacto social, como os voltados à educação básica e ao ensino do português como língua adicional”, completa Cláudia.
Até 11 de outubro, estão abertas as inscrições para os Processos Seletivos aos cursos de Mestrado e Doutorado do PPGL para ingresso no primeiro semestre de 2019. Os detalhes sobre disciplinas, linhas de pesquisa e disponibilidade de bolsas parciais podem ser obtidos neste link.
Em 2012 foi criado o mestrado e doutorado em Escrita Criativa, o primeiro programa no Brasil com essa área de concentração. A tradição da PUCRS nessa área vem de longe. Desde 1985, por exemplo, há a Oficina de Criação Literária para incentivar a produção artística de novos autores. Com reputação nacional e ministrada pelo premiado escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, formou mais de 800 alunos vindos de vários estados, muitos com projeção nacional.
Outro destaque são os acervos literários e documentais do Delfos – Espaço de Documentação e Memória Cultural – disponíveis para investigação e aulas in loco sobre o processo criativo dos escritores através do manuseio e da análise dos manuscritos, correspondências, fotografias e anotações registradas em livros e outros materiais que integram o local.
O PPGL mantém 22 parcerias internacionais. A cooperação para intercâmbios e projetos com instituições da Europa, EUA, Canadá e América Latina está fortalecida. Nos últimos anos também se intensificaram a realização de eventos, publicações, intercâmbio de professores e alunos, para estágios e pós-doutoramento, e de alunos para estágios de doutoramento e coorientações de teses. “São muitas as oportunidades para doutorandos realizarem estágios em universidades parceiras no exterior”, observa Cláudia.
A coordenadora mostra ainda a importância de manter essas relações de forma perene. “Nossas parcerias internacionais, cada vez mais consolidadas, contribuem para o avanço dos projetos de pesquisa em andamento e, consequentemente, a qualificação da produção de alunos e docentes.”
O PPGL segue a política da PUCRS, que estimula a saída de um professor por semestre para pós-doutoramento no exterior. Ações que possibilitem levar sua expertise a programas de pós em consolidação em outras regiões do Brasil são também um compromisso contínuo do programa.
A estrutura atual conta com dez núcleos de pesquisa e 27 grupos de pesquisa certificados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Um aspecto que diferencia o PPGL é a forte interdisciplinaridade. Bons exemplos são a interação da Linguística com Psicologia, Medicina, Engenharia e Educação e da Literatura com História, Filosofia e Comunicação. Produto tradicional e de prestígio da produção acadêmica, a revista Letras Hoje tem 51 anos, periodicidade trimestral, indexadores internacionais e conceito B1 pela Capes.
SAIBA MAIS |
Diplomados pelo Programa desde a sua criação, em 1970 |
1.558 |
Professores titulados (doutores e pós doutores) |
24 professores, sendo 15 com pós-doutoramento |
Bolsistas de produtividade CNPq |
9 bolsistas |
Alunos de fora do Estado |
26 alunos (SC, PR, ES, SP, MG, RJ, GO, MT, BA, PB, SE, PI, PE, AL e RO) |
Alunos de fora do País |
2 alunas oriundas da Colômbia e Venezuela |
Alunos em estágio doutoral |
5 doutorandos em estágio sanduíche (Alemanha, EUA, França e Espanha) |
Professores integrantes de comitês e diretorias de associações |
7 docentes |
Bolsas de estudo |
Capes/Proex e CNPq |
A Noite do Livro, celebrada em Porto Alegre na sexta-feira, 23, agraciou o Delfos – Espaço de Documentação e Memória Cultural da PUCRS, o doutorando do Programa de Pós-Graduação em Letras, Gustavo Melo Czekster, e o diplomado do curso de Criação Literária, Samir Machado de Machado, com o Prêmio Açorianos de Literatura 2017. O trabalho de registro e conservação de acervos de escritores, cineastas, jornalistas e coleções da cultura do Rio Grande do Sul, bem como promoção de atividades relacionadas à literatura, rendeu o prêmio de Relevância Cultural ao Delfos. Já Czekster e Machado de Machado conquistaram os troféus nas categorias Contos e Narrativa Longa, respectivamente. Em sua 24ª edição, a cerimônia de entrega foi realizada no Teatro Renascença, organizada pela Coordenação do Livro e Literatura da Secretaria Municipal de Cultura.
Prêmio por aclamação
O diretor do Instituto de Cultura da PUCRS, professor Ricardo Barberena, destaca que “o prêmio foi concedido ao Delfos por aclamação, uma homenagem como instituição, por sua capacidade de traduzir a cultura no Rio Grande do Sul, especialmente no campo da literatura. Ele faz justiça a um longo trabalho promovido há quase dez anos por muitas pessoas, tendo em vista a preservação e a divulgação cultural no Estado”, ressalta. O docente, que também atua como coordenador executivo do Delfos, lembra que o local reúne os três elementos do sistema literário: o autor, a obra e o leitor. “Uma prática permanente é a atração de grandes nomes da literatura contemporânea, brasileiros e internacionais, o que garante o fluxo de um público heterogêneo e plural ao nosso espaço”, afirma.
Delfos recebe grandes expoentes da literatura
Barberena acrescenta que “hoje existem mais de 50 acervos abrigados, com acesso a pesquisadores. Também recebemos mais de 50 escritores em palestras, cursos, conferências e saraus literários. Uma das principais características dos eventos que promovemos é o fato de serem abertos à comunidade, contando sempre com a presença de estudantes de Graduação, Pós-Graduação e visitantes interessados na literatura”, recorda. De acordo com o docente, o Prêmio Açorianos também representa um reposicionamento na área da cultura, no qual a PUCRS pretende atuar como novo polo na Capital.
Promoção e memória da cultura
Inaugurado em 4 de dezembro de 2008, o Delfos tem o objetivo de promover a cultura e preservar a memória ligadas à cultura gaúcha ou a escritores por meio da conservação de documentos doados ao espaço e de realização de atividades culturais. No espaço localizado no 7º andar da Biblioteca Central Ir. José Otão, é possível encontrar documentos e raridades referentes às áreas de Letras, Artes Jornalismo, Cinema, História e Arquitetura, que são preservados, acondicionados e disponibilizados a pesquisadores cadastrados. Seu acervo é composto por documentos ligados à cultura gaúcha ou a escritores, entidades ou autoridades representativas para o Rio Grande do Sul.
Não há amanhã
Gustavo Melo Czekster, 41 anos, é doutorando em Escrita Criativa pela Escola de Humanidades da PUCRS, formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUCRS e mestre em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O escritor foi o vencedor da categoria Contos por Não há amanhã, obra com 30 narrativas que oscilam em torno da busca de um sentido. No livro, o autor trata da dúvida sobre o que anima o ser humano e dá coesão para seguir em frente. Através de narrativas nas quais o fantástico surge por entre as dobras e fissuras do cotidiano, mostra o quão próximo se estaria do delírio, da instabilidade, do medo de descobrir que a existência seria um abismo profundo.
Para Czekster, a conquista é, na verdade, um reconhecimento aos leitores, que interagem de várias formas com a história. “Um livro não existe sem leitores, e acredito que o Não há amanhã está cumprindo bem a missão que lhe era destinada: despertar dúvidas e inquietações, fazendo com que os leitores entrem nas engrenagens das suas histórias e, ao mesmo tempo em que se divirtam, também questionem a realidade que os cerca”, afirma o vencedor da categoria Contos.
Homens Elegantes
Samir Machado de Machado, 37 anos, diplomado nos cursos de Criação Literária e Publicidade e Propaganda pela PUCRS, conquistou a categoria Narrativa Longa pela obra Homens Elegantes. O fundador da Não Editora já havia sido indicado duas vezes, por O Professor de Botânica e Quatro Soldados, e foi vencedor por três vezes em categorias não-literárias, por melhor capa. “A importância para mim é que esse é o primeiro prêmio literário que ganho por meu trabalho como escritor, exatos dez anos após eu iniciar minha carreira ao ter criado a Não Editora entre, 2007 e 2018, e ele ainda vem da minha cidade natal”, afirma Machado.
Na trama, um soldado brasileiro é enviado a Londres com a missão de investigar uma rede de contrabando de livros eróticos para o Brasil, em 1760, e se deslumbra com os luxos e excessos da alta sociedade europeia. O texto foi destacado pelo incrível detalhamento dos costumes da época, e seu equilíbrio com o enredo de espionagem, que faz dele uma narrativa de ritmo vertiginoso.
Sete indicações
Na atual edição do Prêmio Açorianos a Universidade teve sete indicações de escritores, sendo que na categoria Narrativa longa, todos os concorrentes eram estudantes ou diplomados PUCRS. Confira a lista dos indicados e os títulos das obras:
Narrativa longa
Alexandra Lopes da Cunha (Doutoranda PPGL), por Demorei a gostar da Elis
Cristiano Baldi (Doutorando PPGL e professor de Letras e Escrita Criativa), por Correr com rinocerontes
Samir Machado de Machado (Alumni de Criação Literária), por Homens elegantes
Contos
Gustavo Melo Czekster (Doutorando PPGL), por Não há amanhã
Crônica
Tiago Germano (Doutorando PPGL), por Demônios domésticos
Infanto-juvenil
Marcelo Spalding (pós-Doutorando PPGL), por Liga de literatura: imaginação sem fim
Ensaio de literatura e humanidades
Renata Lisbôa (Doutora pelo PPGL), por Psicanálise, criatividade e o indizível da experiência de Manuel de Barros
O Prêmio Açorianos
Instituído em 1977 pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, através de sua Secretaria de Cultura, é uma premiação para os melhores do ano as áreas de música, teatro, dança, literatura e artes plásticas e é considerado o mais importante prêmio cultural do estado do Rio Grande do Sul.