Nos últimos anos, estudos vêm apontando a preocupante diminuição da biodiversidade mundial. Uma pesquisa internacional realizada sobre o tema, publicada em 2016 na revista Science, alertou que a perda da biodiversidade ultrapassou o “limite seguro” em 58% da superfície terrestre. A supressão da fauna e da flora tem impactos não só no meio ambiente, como também na saúde da humanidade.
“Neste momento em que o planeta enfrenta uma crise de extinção em massa (com perda acelerada de espécies e ecossistemas inteiros), causada por ações humanas que precisam ser revertidas e/ou mitigadas urgentemente, é crítica a necessidade de mais estudos sobre a biodiversidade, pois é isso que embasa toda a tomada de decisão neste contexto”, destaca o professor Eduardo Eizirik, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade (PPG-EEB), da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS.
Eizirik ainda ressalta que o cenário brasileiro é um exemplo preocupante da extinção de espécies. “A perda de biodiversidade e de ecossistemas é um problema muito sério no País, vide o que estamos presenciando no momento com relação ao desmatamento e queimadas na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado, mas também incluindo os demais biomas. Temos uma gigantesca biodiversidade e grande parte dela é ainda desconhecida (muitas das nossas espécies não foram sequer descritas para a ciência). Por isso, a destruição acelerada dos nossos ambientes está causando a extinção de várias espécies que ainda nem foram descobertas pela humanidade”, alerta o professor.
Segundo Eizirik, a pandemia do novo coronavírus evidenciou os problemas causados pela interação humana descontrolada e destrutiva com os ambientes naturais do planeta. “Esta pandemia teve origem a partir de um mamífero silvestre capturado e manipulado para consumo humano sem os cuidados sanitários adequados, e sem preocupação de sustentabilidade desta atividade de caça”, aponta o professor.
Ele ainda destaca a importância das pesquisas científicas para conscientização da sociedade e prevenção de novas pandemias. “É fundamental que sejam intensificados os esforços para educar a humanidade sobre a compreensão da biodiversidade. Caso mantivermos comportamentos atuais, é provável o surgimento de outras pandemias, desse nível ou até piores”, avalia.
O PPG-EEB possui como área de concentração a Ecologia e Evolução da Biodiversidade e desenvolve estudos nas linhas de pesquisa Ecologia Aplicada, Ecologia e Conservação, e Sistemática e Evolução. Estudantes de mestrado e doutorado podem realizar estudos que envolvem a descoberta, descrição e caracterização de espécies, as relações ecológicas entre si e com o ambiente, além de ameaças à sua sobrevivência. Os projetos de pesquisa podem se enquadrar em áreas como ecologia, história evolutiva, genética, genômica, morfologia, paleontologia, fisiologia, comportamento e biologia da conservação, e focam em diversos grupos de animais, plantas e microrganismos.
“Na PUCRS temos um PPG que integra as diversas áreas das ciências da biodiversidade, incluindo disciplinas formativas, seminários e outras atividades inovadoras que preparam o pós-graduando para uma visão interdisciplinar, o que é cada vez mais a realidade no mundo atual”, comenta Eizirik.
Além de laboratórios avançados, o Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade conta com docentes altamente qualificados, vinculados a redes internacionais de pesquisa. A internacionalização dos estudos viabiliza aos estudantes visitas e estágios em laboratórios de ponta de diversos países, bem como a interação com alunos/as do exterior dentro da PUCRS, favorecendo a construção de uma experiência acadêmica de excelência.
Devido a atratividade do PPG-EEB, mais de 20% dos mestrandos e doutorandos matriculados no Programa nos últimos anos são provenientes de vários países da América Latina, Ásia e Europa. Com nota 5 na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o PPG-EEB está com inscrições abertas para os cursos de mestrado e doutorado até o dia 11 de julho.
“A proteção do meio ambiente, em sentido amplo, é a única forma de garantirmos a sobrevivência da espécie humana para o futuro”. A declaração do professor Nelson Fontoura, diretor do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS (IMA), é um alerta cada vez mais atual e necessário. O Dia Mundial do Meio Ambiente, neste 5 de junho, marca o início da Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas e o apelo pela preservação e revitalização da biodiversidade.
Liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o movimento tem como objetivo deter a degradação e tornar os ecossistemas mais saudáveis, inclusive para a manutenção da vida humana. De acordo com a plataforma World Environment Day, o bem-estar de pelo menos 3,2 bilhões de pessoas (40% da população mundial) já está sendo afetado pela degradação dos ecossistemas.
Os dados também apontam que 10 milhões de hectares de florestas são perdidas todos os anos no mundo e formas de degradação, como a erosão dos solos, estão custando ao mundo mais de US$ 6 trilhões por ano em perda de produção de alimentos e outros serviços ecossistêmicos. Como consequência, até 2040 podemos vivenciar o aumento de até 30% nos preços dos alimentos devido a uma redução global de produtividade.
“Muitas áreas foram alteradas de forma muito significativa. Florestas e campos nativos que se transformaram em áreas agrícolas. Rios tiveram seus ciclos de vazão alterados, foram interrompidos por barramentos, e tiveram a qualidade de água comprometida. Áreas marítimas sofreram com escassez de oxigênio, fruto do lançamento de poluentes orgânicos e fertilizantes. De forma geral, esses ecossistemas não só perderam a biodiversidade original, como também se tornaram economicamente improdutivos pelo esgotamento de nutrientes, pela salinização do solo, ou mesmo a desertificação”, ressalta Fontoura.
O diretor do IMA ainda salienta que a recuperação de ecossistemas degradados é capaz de trazer não apenas ganhos ambientais, por meio da preservação da biodiversidade, mas também ganhos econômicos e sociais através dos serviços ecossistêmicos (segurança hídrica e climática, por exemplo), melhoria das condições de saúde da população e aumento da perspectiva de renda decorrente de um ambiente íntegro.
Para Fontoura, as mudanças ambientais, principalmente o incremento do aquecimento global, são especialmente preocupantes pela velocidade em que estão ocorrendo. O professor explica que o último ápice glacial ocorreu há 22 mil anos, com o aquecimento gradativo de cerca de 6°C ao longo de 17 mil anos e ápice de temperaturas há cerca de 5 mil anos. “Neste período, a taxa média de aquecimento foi de 0,35°C a cada mil anos. Por outro lado, no ano de 2020 as temperaturas foram em média 1,2°C acima das temperaturas pré-industriais (1880), representando uma taxa de aumento de temperatura 24 vezes maior do que no término da última glaciação. Ou seja, o problema não é apenas a mudança, mas principalmente a velocidade da mudança”, aponta.
O professor ainda relembra que devido ao distanciamento social causado pela pandemia, em abril de 2020 verificou-se uma redução de 17% nas emissões globais de CO², com média de 7% para o todo o ano passado, mas que os níveis estão sendo recuperadas gradativamente, e hoje as emissões já são similares aos momentos pré-pandemia. “Aparentemente o saldo ambiental da pandemia foi ruim. Entretanto, verifica-se que houve uma mudança de cultura nas relações de trabalho, e o home office veio definitivamente para ficar. Isso por si só já é capaz de determinar ganhos ambientais futuros decorrentes da diminuição do transporte diário de pessoas, e este talvez seja o ponto mais positivo”, pondera o diretor do IMA.
A PUCRS administra uma área de conservação ambiental com aproximadamente 2.400 hectares: a Reserva Particular do Patrimônio Natural Pró-Mata, maior RPPN do Rio Grande do Sul. Localizada no Município de São Francisco de Paula, no Bioma Mata Atlântica, a reserva constitui-se como uma unidade de proteção integral, em que é possível encontrar espécies ameaçadas como o puma, a jaguatirica e o tamanduá-mirim, dentre uma fauna e flora muito diversificada.
A Universidade também integra um consórcio com 14 universidades europeias e latino-americanas que tem como objetivo melhorar a gestão ambiental das instituições. O projeto é financiado pela Comunidade Europeia, através do programa Erasmus+.
Desde o início de 2020, professores e pesquisadores da PUCRS integram uma equipe interdisciplinar que visa a estruturação e implementação de Laboratórios de Inovação Social para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas. O projeto faz parte da iniciativa Climate Labs, reunindo instituições da América Latina e Europa para o fortalecimento das capacidades de pesquisa e inovação. Na PUCRS, a ação é coordenada pelo professor da Escola de Negócios Lucas Roldan.
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A Secretaria do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema) lançou na sexta-feira, 14 de setembro, o Programa de Voluntariado em Unidades de Conservação (UCs), em evento no Palácio Piratini. A PUCRS teve papel fundamental na elaboração da portaria que propõe articular a oferta e a demanda de voluntários para atuar nas 23 UCs do Rio Grande do Sul, para promover o intercâmbio de experiências, potencializar a formação técnica e científica de cidadãos interessados na questão ambiental. Na oportunidade, foi assinado um protocolo de intenções envolvendo a Sema, a Secretaria do Desenvolvimento Social, Trabalho, Justiça e Direitos Humanos e o Consórcio das Universidades Comunitárias do RS (Comung) para viabilizar o programa, que tem a Portaria 121/2018 publicada no Diário Oficial do Estado.
No início de 2018, a Sema manifestou interesse em fazer parceria com a PUCRS para atuar com voluntariado em unidades de conservação (UCs), que representam uma porção de território, legalmente instituída pelo poder público e protegida por leis, onde se busca a preservação de características naturais relevantes. A aproximação entre o Governo do RS e a Universidade foi estabelecida pela Assessoria de Cooperação Internacional da PUCRS, que acionou o Centro de Pastoral e Solidariedade. A partir deste ponto, a Pastoral apresentou sua proposta de voluntariado, por meio da Rede Solidariedade, que serviu de modelo para o programa recém-lançado.
O envolvimento da PUCRS se deu por três vias. Inicialmente, a partir da capacitação no primeiro semestre para coordenadores das UCs, ocorrida no Parque Estadual de Itapuã, em Viamão, ministrada pela agente de pastoral Jaquelini Alves Debastiani, responsável pelo programa de voluntariado, e por Silvia Zuffo, responsável pelo projeto da Rede Solidariedade. Na sequência, foi articulada a aproximação com o Comung, para que mais universidades pudessem ser integradas à ação. Por fim, houve participação na elaboração da Portaria 121/2018, com consultoria técnica e compartilhamento de experiências ao longo dos últimos meses em reuniões no Campus com os servidores da Sema.
Atualmente, está em análise uma parceria da Secretaria diretamente com a PUCRS, num convênio que pode ser firmado em breve. A proposta é proporcionar a estudantes estrangeiros em mobilidade acadêmica a oportunidade de atuarem em atividades voluntárias voltadas à preservação ambiental. Para saber mais informações sobre o Programa de Voluntariado em Unidades de Conservação (UCs), acesse a notícia publicada o site do Governo do Estado RS.