Muitos profissionais da Psicologia, principalmente no Brasil, ainda consideram a homossexualidade um transtorno mental ou um desvio do que seria considerado o “normal” socialmente. Com a evolução de estudos sobre o tema, o principal resultado obtido foi a ausência de evidências empíricas para esse tipo de abordagem. Angelo Brandelli, professor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida e coordenador do Grupo de pesquisa sobre preconceito, vulnerabilidade e processos psicossociais da PUCRS, coordenou uma pesquisa inédita no Brasil sobre esse tema.
“De acordo com a literatura, esses profissionais frequentemente praticam intervenções que visam mudar ou reparar a homossexualidade”, explica o artigo publicado. O estudo avaliou as atitudes corretivas (AC) dos profissionais da Psicologia em relação a pacientes lésbicas, gays e bissexuais (LGB), através de um questionário online.
A análise mostrou que 29,48% dos(as) profissionais aplicam AC quando solicitado pelo(a) paciente, e 12,43% quando não, o que agravaria a situação. Ao todo, foram 692 psicólogos registrados que participaram da pesquisa.
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As investigações demonstraram que os preconceitos mais identificados nos depoimentos, para justificar a aplicação de atitudes corretivas, foram:
A aplicação adequada de intervenções psicológicas com a população LGB deveria se dar por meio de aceitação, apoio e o desenvolvimento da identidade sexual, destaca um trecho da pesquisa.
Pessoas que se identificam como LGB apresentam maior sofrimento psíquico e maior procura por serviços de saúde mental. Historicamente, essa evidência foi apontada como indicativo de um estado psicopatológico ligado à essas variações da sexualidade. No entanto, hoje se sabe que a piora na saúde mental destes grupos se deve a uma maior exposição, violência e discriminação por parte da sociedade.
“As variações na orientação sexual devem ser encaradas com normalidade. Sejam nos seres humanos ou nas demais espécies animais. Homossexualidade e bissexualidade são manifestações perfeitamente saudáveis da vida humana. O que deve ser curado, e ainda precisamos avançar muito na busca por este remédio, é o preconceito”, explica Brandelli.
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Há 30 anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) removeu a homossexualidade da classificação internacional de doenças, em 17 de maio de 1990. A data ficou conhecida como o Dia Mundial e Nacional de combate à LGBTfobia. Mesmo sendo um procedimento frequentemente relatados por pacientes, a resolução 001/99 do Conselho Federal de Psicologia proíbe essas técnicas e terapias “corretivas”, consideradas equivocadas.
No início do século 20, a psiquiatria e a psicologia construíram diferentes técnicas na tentativa de curar o que na época era tido como uma doença. “Estas supostas terapias corretivas não mostraram sucesso na mudança da orientação sexual, produzindo, inclusive, extremo sofrimento. Importante ressaltar que diversas sociedades médicas e psicológicas no Brasil e no mundo proíbem a sua realização, de forma a minimizar os danos que podem causar”, ressalta o pesquisador.
O grupo de pesquisa enfatiza a importância social de estudos sobre a psicologia do preconceito, sobretudo nos modelos da cognição social e do minority stress – termo que descreve níveis cronicamente elevados de estresse que membros de grupos minoritários ou estigmatizados enfrentam.
Além disso, o projeto também avalia a relação com processos psicossociais, como educação e saúde, e promove novas atitudes em relação a preconceitos. Os principais estudos do grupo abordam os efeitos da discriminação nos processos de saúde e adoecimento, especialmente a saúde mental e a sexual.
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O projeto original foi concebido por pesquisadores italianos da Sapienza Università di Roma, na Itália, com aplicação no Brasil por Brandelli. Também participaram Damião Soares, aluno de mestrado da Universidade Federal do Ceará; Mozer de Miranda, aluno de mestrado da Universidade Federal do Sergipe; Jean Vezzosi, aluno de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPG) da PUCRS; e os conselhos regionais de Psicologia do Distrito Federal e de Minas Gerais, que divulgaram a pesquisa nos estados.
Angelo Brandelli Costa, além de coordenar o grupo de pesquisa, é consultor das agências das Nações Unidas e tem pesquisas nas áreas de psicologia social e da saúde. A ênfase da sua área de atuação envolve temas sobre preconceito, sexualidade, gênero, HIV/Aids e saúde integral da população LGBTIQ+. É professor do (PPG) em Psicologia da PUCRS.
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