Formado em Ciência da Computação pela PUCRS, com mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação da Universidade e doutorado na King’s College London, o professor e pesquisador Felipe Meneguzzi vem trilhando uma trajetória de sucesso na área da inteligência artificial (IA). Recentemente foi nomeado como conselheiro executivo da Association for the Advancement of Artificial Intelligence (AAAI), maior entidade de IA do mundo, que já teve como membros do conselho grandes nomes da área e hoje é composto por integrantes de universidades como Oxford, MIT, Harvard e Yale. Meneguzzi é o primeiro brasileiro eleito para esse conselho.
Com mais de 20 anos de pesquisa na área de IA, com atuação como professor visitante na University of Aberdeen, na Escócia, e na University of Melbourne, na Austrália, segue a linha de pesquisa de planejamento automático. “Tenho me dedicado a estudos de reconhecimento de objetivos, ou seja, sistemas que tentam identificar o que uma pessoa ou agente está querendo atingir”, comenta.
Para Meneguzzi o futuro da Inteligência Artificial está em potencializar o que os seres humanos já fazem. “Não vejo a IA substituindo o indivíduo, mas sim ajudando e potencializado determinada tarefa, uma forma de expandir a nossa mente”, explica. Para o pesquisador, um exemplo está na desinformação nas redes, onde um ser humano utiliza a IA de forma mal-intencionada para propagar fake news, por exemplo. “A IA possibilita amplificar iniciativas positivas, mas ao mesmo tempo pode ser utilizada de maneira negativa”, adiciona.
Para o pesquisador, carros autônomos, apesar de muito discutidos, também não devem se tornar realidade em um futuro próximo. Esses sistemas estão baseados em aprendizado de máquina que ainda precisa ser muito desenvolvido e avaliado:
“O que eu vejo para o futuro é uma diminuição do número de pessoas fazendo uma mesma tarefa, mas não tarefas que eliminarão totalmente o ser humano. Costumo dizer que tenho uma visão mais positiva sobre a IA”, comenta.
Sobre a presença da IA nas atividades humanas, Meneguzzi reflete ainda que tais inserções deverão trazer alterações na sociedade. “Isso nos fará pensar mais profundamente sobre a dignidade do ser humano, sobre o que é um trabalho digno. Essas reflexões vão ser cada vez mais fortes, reavaliando a humanidade”, completa.
Sobre sua nomeação para a Association for the Advancement of Artificial Intelligence, o pesquisador da Escola Politécnica celebra o reconhecimento de seus pares fora do Brasil. “Acredito que a oportunidade é fruto de contatos. Para a carreira, enquanto pesquisador, avalio a indicação como questão de respeito na área e me orgulha dividir espaço com nomes prestigiosos”, adiciona.
Em Cerro Largo, pequena cidade localizada há cerca de 400 km de Porto Alegre, o Museu 25 de Julho exibia uma múmia egípcia. De acordo com a instituição, ela foi doada por Marcelino Kuntz, que a recebeu como presente na década de 1950. Embora estivesse há mais de meio século na cidade, sua autenticidade ainda não havia sido confirmada, até que, em 2017, pesquisadores da PUCRS a trouxeram à capital gaúcha, onde sua identidade foi confirmada.
No último ano, análises bioarqueológicas realizadas pelos pesquisadores Edison Hüttner, da Escola de Humanidades, Eder Hüttner e Bruno Candeias identificaram células intactas na múmia, batizada como Iret-Neferet. Por essa descoberta, receberam, neste mês, o prêmio Descobertas do Ano da revista Aventuras na História.
“Essa descoberta se torna importante por três motivos: em primeiro lugar, por ser inédito encontrar uma múmia egípcia em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul e, além disso, por ela ter suas células extremamente preservadas e, por fim, pela característica interdisciplinar da pesquisa, cada vez mais relevante no âmbito acadêmico”, explica o professor Luciano Aronne de Abreu, coordenador do Grupo de Identidades Afro-Egípcias.
Para descobrir a idade da múmia, os pesquisadores utilizaram um dos principais métodos de datação de fósseis, o radiocarbono C-14, que leva em consideração o decaimento radioativo do carbono 14, presente nos seres vivos, ao longo do tempo. Assim, conseguiram estimar que Iret-Neferet viveu por volta de 768 e 476 a.C., ou seja, entre o final do Terceiro Período Intermediário (1070-712 a.C.) e o início do Período Tardio (712-332 a.C.).
Também foi encontrado um olho esquerdo artificial, inserido durante o processo de mumificação. Esse elemento é um dos principais amuletos egípcios. Sua origem remonta à mitologia egípcia, a qual conta que o deus Hórus teve seu olho esquerdo arrancado por seu irmão Seth durante uma luta. Foi essa característica que deu origem ao nome da múmia, Iret-Neferet, que significa a mulher de olho bonito. Os pesquisadores contam que por não haver escrita nas faixas que a envolviam e apenas sua cabeça ser conhecida, seria difícil descobrir o verdadeiro nome da egípcia.
Recentemente, em outubro de 2020, os pesquisadores divulgaram no Congresso da Associação Europeia de Osteointegração, em Berlim, na Alemanha, a descoberta de células intactas no corpo da múmia. O processo de mumificação – seja o natural ou o induzido – consiste na preservação dos tecidos, causada pela desidratação do corpo antes que as bactérias responsáveis pela decomposição possam atuar, no entanto, a precisão da preservação celular surpreendeu.
Essa análise, realizada no Laboratório de Anatomia Patológica do Hospital São Lucas da PUCRS, utilizou parte dos ossos cranianos conhecidos como mandíbula e masseter. Neles, foi possível identificar hemácias dentro dos vasos sanguíneos. A existência de células preservadas possibilita que sejam realizadas novas análises, como as de DNA, as quais auxiliariam a identificar características físicas, possíveis doenças e o parentesco de Iret-Neferet.
Em comemoração aos 18 anos da primeira revista impressa da Aventuras da História, na época da Editora Abril, foi lançado, em julho de 2021, o prêmio Descobertas do Ano. O seu objetivo é dar visibilidade a historiadores, pesquisadores, jornalistas e jovens influenciadores que usam o seu espaço na internet para educar, informar e alertar as próximas gerações. Além disso, possibilita que esses profissionais, impactados pela pandemia, sejam valorizados.
Os pesquisadores ganharam a categoria Descoberta do Ano, pela descoberta das células intactas de Iret-Neferet.
O Grupo de Identidades Afro-Egípcias, responsável pela pesquisa, realiza estudos interdisciplinares sobre essas sociedades. Composto por uma equipe renomada de pesquisa, de diferentes universidades, teve como últimas descobertas uma deusa Nimba da etnia Baga/Nalu feita por descendentes africanos, no município de Santo Ângelo (RS) e a cabeça da múmia Iret-Neferet.
Filosofia, Direito, Medicina e Computação são apenas algumas das áreas do saber exploradas em obras recentemente publicadas por pesquisadores e pesquisadoras da PUCRS. Os livros, que podem ser adquiridos no site da ediPUCRS, são de autoria de docentes e estudantes de pós-graduação da Universidade.
Nos últimos anos, a ediPUCRS tem se dedicado a tornar o conhecimento científico mais acessível e popular, com publicações de relevância científica, cultural, social, literária ou didática, de todas as áreas.
Confira nove lançamentos da editora:
1. Dignidade da pessoa humana e o direito das crianças e dos adolescentes
Por Irmão Evilázio Teixeira, reitor da PUCRS
Com profundidade filosófica e teológica, a obra faz um resgate histórico do valor que norteia as atividades relacionadas à pessoa humana e se constitui em um dos viabilizadores da convivência social. Na sequência, mais de 30 anos após a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, traça o difícil e tortuoso caminho enfrentado para a conquista do artigo 227 da Constituição Federal de 1988.
2. Inventário da infância: o universo não adulto na narrativa
Por Paulo Kralik, professor da Escola de Humanidades, e as doutorandas Raquel Belisario e Samla Canilha
Para construir um inventário da infância, o livro investiga obras literárias (e cinematográficas) em que a voz da criança está presente como narradora ou como personagem. Desses estudos emergem questões de duas naturezas: as estruturais, que discutem o ato narrativo em sua complexidade, e as psicossociais e históricas, que avaliam o espaço ocupado pela criança no âmbito da família e da sociedade.
3. Como cuidar do idoso com Alzheimer
Por Newton Luiz Terra, professor da Escola de Medicina
O Alzheimer é uma doença crônica, neurodegenerativa e inflamatória que se caracteriza pelo declínio progressivo das funções corticais superiores. Os sintomas cognitivos decorrentes da atrofia cerebral pela morte dos neurônios influenciam nas atividades de vida diária e nas relações interpessoais. Por isso, a qualidade de vida de pacientes com Alzheimer depende das pessoas ao redor, tornando fundamental o papel de quem cuida.
4. Crônicas da inovação: um olhar reflexivo e provocador sobre o cotidiano da inovação
Por Gabriela Ferreira, professora da Escola de Negócios
A construção do futuro começa pela inovação. E isso é mais do que tecnologias exponenciais, como Inteligência Artificial, Blockchain ou Robótica. Se trata de visão e pessoas dispostas a se arriscar a pensar o novo. As crônicas trazem as experiências de quem, há muitos anos, vive todas as nuances do mundo da inovação, seja como pesquisadora ou gestora de ambientes de inovação, acompanhando de perto os erros e acertos de grandes organizações e startups nesta jornada.
Por Ángela Cuartas (doutora), Geysiane Andrade (doutoranda), Harini Kanesiro (mestra), Juliana Maffeis (metra), Manuela Furtado (mestra), Márcia Bastilho (mestranda) e Vitória Vozniak (mestra), pela Escola de Humanidades
Reúne poemas, listas, contos e fragmentos de autoras e autores que confessam ou inventam pretextos que os mantêm no limbo da página em branco, na tentativa de entender, como dizia Salvador Dalí, “a doce angústia criativa”.
6. Connecting Museums: práticas educativas em ciências e matemática na educação básica
Por Caroline McDonald (GNM), professor José Ferraro (Escola de Humanidades), M. Paul Smith (Oxford), Melissa Pires (Escola de Humanidades) e Renata Medina (Escola de Ciências da Saúde e da Vida)
O livro é resultado de um projeto de internacionalização realizado pelo Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS (MCT), em parceria com o Great North Museum: Hancock (GNM), da Universidade de Newcastle e o Oxford University Museum of Natural History (OUMNH), da Universidade de Oxford. Juntos, desde 2015, os museus têm atuado em ações que contemplam atividades relacionadas à educação, à gestão, à inovação e à liderança em museus universitários de ciências.
7. Diário de uma Pandemia: os primeiros 200 dias de vigília em prol da vida de todos nós
Por Luís Villwock, professor da Escola de Negócios
O livro é fruto do trabalho que está em permanente evolução, cujo ponto final se dará apenas ao término da pandemia. Guiado pelo valor de fazer o bem ao próximo, conta parte da trajetória do movimento solidário e voluntário Brothers In Arms, que visa ajudar profissionais da área da saúde que estão na linha de frente no combate à Covid-19.
8. Contraeducação Histórica: a diagonal do agora e a utopia negativa
Por Bruno Picoli, doutor em Educação pela Escola de Humanidades
O autor propõe uma reflexão sobre as condições de hospitalidade, que deve acolher o Outro no mundo inóspito da contemporaneidade e dos crescentes desafios da Educação em todos os sentidos de crescimento do ser humano. É no Agora que tudo se decide – “o tempo certo está aí”, disse Rosenzweig – e, portanto, é Agora que essa reflexão deve ter lugar e desafiar todo e qualquer desânimo e conformismo.
9. Roteiro para o desenvolvimento dos aspectos computacionais da inteligência organizacional em organizações orientadas a dados – IOODA
Por Beatriz Benezra Dehtear, mestranda da Escola Politécnica, e o professor Duncan Dubugras Alcoba Ruiz
IOODA é um roteiro que habilita analistas de Inteligência Empresarial (BI) a aplicar formas mais complexas de análise de dados. O livro se propõe a simplificar o processo que caracteriza esse tipo de aplicação. IOODA também conduz profissionais na documentação de informações críticas geradas durante sua execução e oferece a possibilidade de realizar avaliações sobre resultados parciais obtidos.
Leia também: 5 passos para lançar um livro de forma descomplicada
Um mecanismo de buscas inédito no judiciário brasileiro, que foi desenvolvido por pesquisadores da PUCRS, começou a ser testado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJRS) em dezembro. Além de facilitar nas pesquisas sobre precedentes de casos, a ferramenta fornece parâmetros objetivos e maior previsibilidade no julgamento, com base em valores fixados a título de indenização por danos morais.
A plataforma, que permitirá maior estabilidade e uniformidade na aplicação da lei, foi criada por Filipe Zabala, professor da Escola Politécnica, e Fabiano Silveira, formado pela Escola de Direito da PUCRS. Na elaboração do sistema “dos mais de 5 mil processos analisados, selecionamos 1.589 recursos julgados nos últimos três anos, que tiveram indenizações por danos morais fixados, variando os valores entre R$ 800 e R$ 5 milhões”, explicam.
Todos os dados analisados são de domínio público, obtidos no site do tribunal, com base na Lei de Acesso à Informação nº 12.527 de 18 de novembro de 2011 e no Decreto 7.724 de 16 maio de 2012, que permitem que qualquer pessoa tenha acesso às informações não confidenciais do poder público.
O objetivo do sistema é auxiliar magistrados e magistradas na tomada de decisões. A procura pode ser feita por matéria, assunto ou palavra-chave, com um menu intuitivo. Em lista, são apresentadas as pessoas julgadas, com número do processo, a ementa, as peculiaridades do caso e os valores aplicados.
“O esperado é que o uso da ferramenta reduza a variabilidade e padronize a atribuição de valores por dano moral para processos similares. Por ter sido desenvolvida em software livre, o TJRS tem pleno acesso ao código-fonte para futuras atualizações sem custo financeiro envolvido na manutenção do sistema”, destaca Zabala.
O lançamento aconteceu no dia 17 de novembro, em uma reunião virtual com o desembargador Alberto Delgado Neto, presidente do Conselho de Informática do TJRS, que elogiou a iniciativa. Também estiveram presentes integrantes da Comissão de Inovação do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (InovaJus) e da Escola Superior da Magistratura (Ajuris).
Leia também: Professores da Escola de Direito integrarão comissão de juristas na Câmara dos Deputados
Em 2019 o Núcleo de Inovação da Ajuris participou de um workshop no Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc). Esse foi o primeiro momento para troca de informações e expectativas, o que resultou na atual parceria.
Um levantamento feito pelo Journal Plos Biology colocou sete professores da PUCRS na lista dos pesquisadores mais influentes do mundo. A pesquisa realizada na Stanford University, nos Estados Unidos, é publicada anualmente e conta com dois rankings: um com o impacto do pesquisador ao longo da carreira (Tabela-S6-career-2019) e outro para um único ano, neste caso referente a 2019 (Tabela-S7-singleyr-2019).
Na lista dos mais influentes ao longo da carreira aparecem quatro pesquisadores da PUCRS, em ordem alfabética: André Palmini (Escola de Medicina), Ivan Izquierdo (Escola de Medicina), Roberto Esser Reis (Escola de Ciências da Saúde e da Vida) e Walter Filgueira de Azevedo (Escola de Ciências da Saúde e da Vida). Já na lista dos mais influentes do mundo em 2019 aparecem: Ivan Izquierdo, Maria Martha Campos (Escola de Ciências da Saúde e da Vida), Moisés Bauer (Escola de Ciências da Saúde e da Vida), Renato Tetelbom Stein (Escola de Medicina), Roberto Esser Reis e Walter Filgueira de Azevedo.
O ranking elenca os 100 mil cientistas mais influentes do mundo, considerando diferentes métricas de produtividade em pesquisa, citações e afins. Além disso, a lista também inclui cientistas que não estão entre estes 100 mil, mas que figuram entre os 2% melhores cientistas em suas áreas específicas de investigação.
De acordo com o levantamento, as métricas de citação são amplamente utilizadas, mas nem sempre de forma correta. Por isso, a Plos Biology criou um banco de dados disponível ao público e que menciona os 100 mil principais cientistas do planeta, considerando informações padronizadas sobre citações, índice h, índice hm ajustado de coautoria, citações de artigos em diferentes posições de autoria e um indicador composto. Neste banco, os dados separados são mostrados para impacto ao longo da carreira e ano único.
Ainda de acordo com o documento do estudo, “são fornecidas métricas com e sem autocitações e proporção de citações para artigos citados. Os cientistas são classificados em 22 campos científicos e 176 subcampos. Os percentis específicos de campo e subcampo também são fornecidos para todos os cientistas que publicaram pelo menos cinco artigos. Os dados ao longo da carreira são atualizados até o final de 2019”.
Hoje, 08 de julho, são comemorados o Dia Nacional da Ciência e o Dia Nacional do Pesquisador. Datas que foram criadas para destacar a relevância da ciência no nosso País. Ser pesquisador e fazer ciência no Brasil e no mundo é um belo desafio. É necessário ter comprometimento, ousadia, dedicação, paixão, resiliência e habilidades para superar os mais diferentes obstáculos. Entretanto, quais são as motivações para seguir a carreira? Cada um tem causas, aspirações, mas é evidente que todos têm a compreensão sobre o potencial transformador do conhecimento, dimensão que permeia a atuação de um cientista.
A investigação dos grandes problemas contemporâneos e de soluções que melhorem a sociedade e a vida no planeta mobilizam pessoas a transpor as fronteiras do conhecimento. Muito mais do que em outros tempos da história, estamos vivendo um período em que os olhares se voltam com atenção ao trabalho dos cientistas. Pesquisadores do mundo inteiro direcionam seus esforços e recursos à busca de uma vacina, de um medicamento, de avanços que beneficiem a humanidade neste cenário tão crítico. Ao mesmo tempo, também estudam impactos na saúde mental, na educação, na economia e em como haverá de ser a vida pós-pandemia. Muitos têm nos alertado para os riscos que corremos se não mudarmos a interação com o meio ambiente.
Entretanto, o trabalho dos cientistas não depende somente do esforço individual, mas de investimentos no desenvolvimento de um ecossistema que incentive e promova a busca pelo conhecimento científico do ensino fundamental até o ensino superior. Na PUCRS, a qualidade da pesquisa protagonizada por 326 grupos, com mais de dois mil projetos em andamento, é reflexo de um conjunto de estratégias e ações estruturantes que dizem respeito à qualificação do corpo docente, à infraestrutura, bem como ao incentivo à interdisciplinaridade e internacionalização.
Comemoramos a data com o lançamento da publicação Excelência em Pesquisa – que apresenta e valoriza o trabalho de mais de 50 cientistas -, para lembrar e ressaltar que nossa universidade só produz investigação de alto nível, em padrão internacional, em diferentes áreas do conhecimento, por causa do trabalho dedicado e incansável das pessoas que a compõem.
Hoje é um dia para celebrar o importante trabalho de todos os pesquisadores que, mesmo nas situações mais adversas, acreditam que é possível transformar o País e o mundo em um lugar melhor. É um dia para reconhecer que o futuro, em todas as suas dimensões, somente é possível com ciência e educação.
Em tempos de pandemia, a corrida contra o tempo para um tratamento eficaz contra o novo coronavírus é acompanhada em diferentes partes do mundo. Na PUCRS, dezenas de pesquisadores estão trabalhando em diferentes frentes para a luta, prevenção e controle da Covid-19. Mas, afinal, como ocorre uma pesquisa clínica? O que precisa ser levado em conta para classificar um estudo como seguro e eficaz?
A diretora de pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação e pesquisadora, Fernanda Morrone, explica que uma pesquisa clínica é definida por qualquer investigação em seres humanos, objetivando descobrir ou verificar os efeitos farmacodinâmicos, farmacológicos, clínicos e identificar reações adversas ao produto em investigação com o intuito de averiguar sua segurança e eficácia. Estas análises poderão contribuir para o registro ou a alteração deste junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Fernanda e a farmacêutica Chaiane Zucchetti escreveram sobre o perfil da pesquisa clínica no Brasil e explicam que o processo de desenvolvimento de um novo medicamento se dá pela descoberta de uma substância candidata a fármaco. Envolvendo ensaios robustos, a pesquisa tem o objetivo de testar os compostos moleculares; identificar novos alvos e confirmar da sua atuação na doença através da pesquisa pré-clínica que geralmente é realizada primeiramente in vitro e posteriormente em animais.
De acordo com as pesquisadoras, de cada 10 mil moléculas analisadas, somente uma transforma-se em medicamento. “Sabe-se que o processo de inovação de fármacos e medicamentos demanda, além de tempo e recursos, centenas de milhões de dólares e em média 10 anos de pesquisa”, afirma Fernanda.
No caso do novo coronavírus, a professora de farmacologia Maria Martha Campos, da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, explica que existem alternativas quanto ao desenvolvimento de fármacos em situações como essa que estamos vivendo. “Há uma modalidade de desenvolvimento que é chamada de ‘accelerated’, onde algumas etapas podem ser avançadas mais rapidamente, quando outra terapia anterior não existe para determinada doença e o risco de morte é iminente”, explica.
O estudo deve ser, obrigatoriamente, realizado de acordo com os princípios éticos que têm origem na Declaração de Helsinque. A declaração estabelece normas éticas para a condução das pesquisas envolvendo seres humanos, baseando-se nos direitos, na segurança e no bem-estar dos mesmos. No Brasil, todos os ensaios clínicos são avaliados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição onde a pesquisa é realizada, além de, se necessário, haver uma segunda avaliação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). A aprovação pela Anvisa, através de sua Gerência de Medicamentos Novos, Pesquisa e Ensaios Clínicos (GEPEC) também se torna necessária para pesquisas com medicamentos e produtos para a saúde que precisam de autorização para importação.
O ponto de partida caracteriza-se pela descoberta de uma nova molécula ou seleção de uma molécula já existente, seguido da fase pré-clínica, onde ocorrem testes in vitro e posteriormente in vivo, a fim de verificar se a molécula é segura o suficiente para ser testada em humanos. Com a aprovação dos órgãos regulatórias, a nova substância passa a ser testada em ambiente clínico em três fases de ensaio.
A fase 1 tem como objetivo de verificar a segurança e eficácia, a fase 2 busca avaliar a eficácia e investigar efeitos colaterais e, por fim, na fase 3 busca-se confirmar a eficácia e monitorar reações adversas. Após a última fase, são realizadas novas revisões através dos achados clínicos e pré-clínicos. Somente após essa fase ocorre a comercialização do produto. A fase 4 é caracterizada pela comercialização do produto em investigação e a pesquisa sobre um novo medicamento é mantida mesmo após a aprovação.
A estrutura de um estudo clínico requer uma equipe multidisciplinar, formada por um médico investigador, médicos sub-investigadores, coordenadores do estudo clínico, pacientes, CEPs, patrocinador, órgãos regulatórios do Ministério da Saúde e a indústria farmacêutica ou Organizações Representativas de Pesquisa Clínica, ORPC (em inglês Clinical Research Organizations, CROs).
Na PUCRS, o Centro de Pesquisa Clínica (CPC), localizado no Hospital São Lucas, atua como um dos atores essenciais na condução de pesquisas clínicas. O CPC além de acolher o pesquisador que coordenará e conduzirá a pesquisa, é o elo entre a indústria patrocinadora, os CEPs e CONEP, pois é aquele que fornecerá a estrutura para o pesquisador e é o ponto de referência do sujeito voluntário da pesquisa.
De acordo com os números mais recentes divulgados pela Conep, órgão ligado ao Ministério da Saúde, a comunidade científica já se mobiliza na realização de pelo menos 76 estudos com seres humanos para entender o comportamento da Covid-19. A maioria deles (21) é de ensaios clínicos de possíveis tratamentos para a infecção. O balanço mostra pesquisas com antibióticos, corticoides, plasma convalescente (de pessoas recuperadas) e até células-tronco mesenquimais.
Para Maria Martha, além da estratégia de pesquisa mais acelerada, ainda há outra possibilidade de estudos clínicos que vem sendo bastante explorada para a Covid-19. É o caso da testagem de fármacos que já estão no mercado para o tratamento de outras doenças (como é o caso da cloroquina) ou que avançaram em diferentes etapas de desenvolvimento para outras doenças virais (como é o caso do Remdesevir), com possibilidades de resultados mais rápidos.
“Esse processo é definido como reposicionamento de fármacos, tendo ampla divulgação. Obviamente, uma indústria farmacêutica pode estar desenvolvendo alguma molécula nova para o tratamento da Covid-19, tendo o direito de proteção de patente e exploração do produto. Entretanto, ela deve garantir que o produto chegue a todos os indivíduos afetados pela doença, garantindo a produção e distribuição do fármaco em larga escala”, explica a pesquisadora.
O compartilhamento de informações também atua como aliado na busca por soluções. De forma interessante, Maria Martha conta que os estudos clínicos para a Covid-19 estão registrados no clinical.trials.gov (EUA), permitindo avaliar os estágios dos diferentes ensaios. As melhores revistas científicas internacionais também publicam periodicamente os dados dos estudos clínicos, como é o caso do New England Journal of Medicine, permitindo à toda a comunidade atualização constante dos avanços no combate ao novo coronavírus. O maior sítio de buscas de literatura médica, o PubMed, também está disponibilizando um link direto para as atualizações.
Situações de pandemia, como a que estamos vivendo atualmente causada pelo novo coronavírus, geram impactos na vida de todos. Em um contexto de mudança de rotina, distanciamento físico, excesso de notícias e consequências econômicas e sociais, é comum que surjam sentimentos como emoções negativas, como medo, tristeza, raiva, solidão, estresse e ansiedade. Pensando nessa realidade, pesquisadores e estudantes de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS e da PUC-Campinas se uniram com o objetivo de ajudar as pessoas a lidarem com esse desconforto emocional, dando origem à Força-Tarefa PsiCOVIDa.
O grupo surgiu com a missão de contribuir para o bem-estar das pessoas com conhecimento científico durante a pandemia. Para isso, os integrantes desenvolvem produtos de comunicação e orientação, como cartilhas, folhetos, minicursos e vídeos, baseados na ciência da psicologia e de áreas afins.
Conforme conta Wagner de Lara Machado, professor da graduação e do PPG em Psicologia e um dos coordenadores gerais da FT-PsiCOVIDa, tudo teve início com uma matéria para o site da PUCRS sobre sugestões de cuidados com a saúde mental neste período de pandemia, para a qual foi convidado a ser fonte. Ele e a mestranda Juliana Weide começaram a traduzir conhecimentos teóricos em práticas, fundamentadas na Psicologia Clínica, que poderiam ser acessíveis às pessoas em situação de quarentena/distanciamento social. “Essas sugestões tinham por objetivo a regulação emocional e o controle do estresse. Pedimos uma revisão do material para a professora Sônia Enumo, do PPG de Psicologia e Ciências da Saúde da PUC-Campinas, e, como não conseguimos incorporar todas as sugestões na matéria, decidimos por dar continuidade ao projeto”, conta Machado.
Sônia incorporou mais dois alunos à equipe: Eliana Vicentini e Murilo Araújo, ambos doutorandos em Psicologia na Puc-Campinas. A equipe começou a se reunir de forma online e a conversar para alinhar a proposta. “Reconduzimos a revisão da literatura e localizamos estudos indicando estressores e estratégias de enfrentamento específicos para situações de crise, especialmente a pandemia da Covid-19. Assim, deu-se início à redação da Cartilha para enfrentamento do estresse em tempos de pandemia”, pontua o professor.
O material é dividido em três grandes seções. A primeira apresenta informações sobre estresse e seu enfrentamento; a segunda aborda a identificação de sinais que indicam que a capacidade de lidar com o estresse pode não estar sendo suficiente; e, a última, fala sobre a identificação de estressores e estratégias de enfrentamento específicas para o contexto da epidemia da Covid-19. Segundo Machado, a ideia do grupo é que, por ser um material acessível, a Cartilha seja compartilhada e utilizada não apenas por profissionais, mas por toda a comunidade neste momento de desafio.
Para o professor, o grande diferencial do material é o embasamento teórico atual, enfatizando o bem-estar psicológico e a saúde mental em tempos de calamidade. “As sugestões de enfrentamento presentes na Cartilha podem prevenir o agravamento de dificuldades no manejo do estresse e promover qualidade de vida neste contexto de pandemia”, conclui.
A força-tarefa originada a partir do grupo que se reuniu para o desenvolvimento da Cartilha já conta com mais de 100 integrantes de 12 universidades, entre pesquisadores, alunos de graduação e pós-graduação, profissionais de diversas áreas e professores. Dividida em times de trabalho, a equipe está desenvolvendo cerca de 20 novos produtos. A Cartilha para enfrentamento do estresse em tempos de pandemia está sendo traduzida para o inglês e para o espanhol e, posteriormente, será distribuída gratuitamente por meio de universidades e entidades científicas.
Clique aqui para acessar e baixar a Cartilha
Três nomes da PUCRS estão representando a Universidade em uma importante frente estratégica em relação ao novo coronavírus. O Comitê Científico de Apoio ao Enfrentamento da Pandemia Covid-19, formado a pedido do governo do Estado e organizado pela Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia, reúne pesquisadores das universidades gaúchas e autoridades científicas de diversas áreas do conhecimento relevantes para o enfrentamento do contexto atual. Entre os integrantes, estão o professor da Escola de Negócios, Ely José de Mattos; o chefe do serviço de Infectologia do Hospital São Lucas da PUCRS (HSL), Fabiano Ramos; e o superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS, professor Jorge Audy.
O objetivo do Comitê é acompanhar o contexto da pandemia, como números de casos confirmados no Rio Grande do Sul, no Brasil e no mundo, aprendendo com as experiências de outros países. A partir desses estudos, o grupo constrói argumentos para prestar apoio às atividades do Gabinete de Crise e do Conselho de Crise para o enfrentamento do Covid-19. Em uma das cartas emitidas pelo grupo, consta que “O engajamento da comunidade científica neste momento é intenso, e a solução certamente virá da ciência”.
Conforme explica o professor Jorge Audy, a função do comitê é assessorar o governo do Estado com relação à análise de dados e com sugestões de encaminhamentos do ponto de vista acadêmico. Na maioria das vezes de forma remota (eventualmente acontecem reuniões presenciais restritas, com um número reduzido de pessoas), o grupo permanece em contato, discutindo os aspectos que envolvem a pandemia e os estudos que estão sendo realizados em todo o mundo.
Para o infectologista Fabiano Ramos, o mais importante em relação ao Comitê é ter algumas ações coordenadas com a visão de várias instituições em um momento em que a cooperação é muito necessária. “O trabalho em equipe nos possibilita conquistas importantes nesse contexto de pandemia, tanto no que diz respeito ao diagnóstico da doença, quanto à preservação da saúde dos colaboradores de hospitais, por exemplo”, pontua. Em relação ao papel dos médicos dentro do grupo, diz ser, principalmente, o de “traduzir” o que está acontecendo no dia a dia, levando necessidades reais e operacionais.
Conforme destaca Audy, o foco central do Comitê é preservar a vida e a saúde das pessoas. Como uma pandemia se trata de um problema complexo, que ultrapassa a questão da saúde em si, exige uma abordagem multidisciplinar para seu enfrentamento. “São necessárias diferentes visões, não só da área da saúde, mas também de outros aspectos relacionados, como inovação, economia e gestão de saúde”, destaca o superintendente de Inovação e Desenvolvimento da Universidade.
Para o professor Ely José de Mattos, a formação de um comitê científico demonstra confiança na academia. “É uma honra poder debater e contribuir com cientistas de diversas instituições e diferentes áreas, compartilhando minha expertise em economia para o contexto geral”, comenta, reforçando que o trabalho que está sendo realizado é voltado ao auxílio incondicional à população.
Desde sua criação, o Comitê vem divulgando cartas à sociedade gaúcha. Alguns dos temas abordados são a importância das medidas que estão sendo tomadas (como distanciamento social), o uso indevido de cloroquina e seus derivados para tratar o Covid-19, isolamentos vertical e horizontal, entre outras informações baseadas na ciência sobre a pandemia.
Outro comitê do governo do Estado, criado para assessorar diretamente a Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia, conta com a participação do professor Jorge Audy. Também composto por pesquisadores – esses das áreas da computação, da inovação e da epidemiologia –, o grupo, menor que o Comitê Científico, atua no desenvolvimento de modelos de análises de dados e de cenário referentes à pandemia, organizando informações locais e contribuindo para as decisões por parte dos governantes.
Nos dias 24 e 25 de maio, a PUCRS recebe o 9º Encontro de Economia Gaúcha(EEG), organizado e promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da PUCRS e pela Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul (FEE). A ação tem como público alvo professores, pesquisadores, alunos da área de Ciências Econômicas, e áreas afins, profissionais da área de economia e público em geral. Interessados na apresentação de trabalhos devem enviar o arquivo para o e-mail [email protected] até o dia 22 de abril. Inscrições e mais informações no site.
O evento, realizado bienalmente desde 2002 e consolidado como o mais importante encontro acadêmico sobre o assunto no Estado, tem como objetivo propiciar a discussão dos problemas econômicos do Rio Grande do Sul. Sob uma perspectiva metodologicamente pluralista e tematicamente variada. Serão abordadas 11 áreas temáticas, buscando um painel abrangente de discussões sobre a realidade socioeconômica estadual. O 9º EEG ainda busca favorecer a discussão sobre as questões econômicas do Rio Grande do Sul e sua inserção nacional e internacional. Também irá possibilitar que os melhores trabalhos apresentados possam ser agregados para posterior publicação em livro, ampliando a visibilidade e o alcance das problemáticas discutidas. Mais informações pelo telefone (51)3320-3680 ou do e-mail [email protected].