Repositório institucional da Biblioteca Central Ir. José Otão abriga a pesquisa científica e acadêmica da Universidade/ Foto: Bruno Todeschini

Muito além do ensino, a pesquisa acadêmica e científica também é um dos pilares fundamentais de uma universidade. E tão importante quanto os resultados destas pesquisas é o armazenamento e a disponibilização deles para que o conhecimento produzido esteja a serviço dos mais diferentes desafios da sociedade. Para isso, a Universidade possui uma plataforma especialmente destinada a este fim: o Repositório Institucional da PUCRS. Clarissa Selbach, bibliotecária responsável pelo Setor de Tratamento da Informação da Biblioteca Central Ir. José Otão, explica que se trata de um ambiente de armazenamento digital de acesso aberto que abriga e organiza a produção acadêmica, científica e cultural gerada.  

“A ferramenta possui arquivos digitais de artigos, trabalhos em anais, livros, capítulos de livro, teses, dissertações e os documentos institucionais de cunho público produzidos e selecionados pela Administração Superior da PUCRS como, por exemplo, estatutos, anuários, relatórios, entre outros”, explica ela.

O que um material precisa para entrar no repositório? 

O volume de conteúdo armazenado no repositório não é pouco: atualmente, a plataforma possui mais de 60 livros em texto completo, dez mil teses e dissertações defendidas nos Programas de Pós-Graduação (PPGs) da PUCRS, 500 capítulos de livros, nove mil artigos de periódicos e 3.500 trabalhos publicados em eventos. No entanto, há alguns requisitos necessários para que um material seja incluído no repositório: 

Qual a importância de um repositório institucional? 

O repositório é uma possibilidade de garantir a preservação da memória da produção acadêmica e científica da Universidade em formato digital, por tempo indeterminado. Além disso, é um ambiente seguro e controlado, independentemente de término de vínculo do autor com a instituição ou extinção da área de atuação. O software do repositório garante a estabilidade dos trabalhos, tornando a citação a ele tão confiável quanto um jornal acadêmico.  

Clarissa destaca que o repositório é fundamental para uma instituição como a PUCRS, em termos de visibilidade e acessibilidade, pois os trabalhos são disponibilizados de forma on-line e com acesso aberto, permitindo que sejam facilmente encontrados por meio de ferramentas de busca e bases de dados (no Google Scholar, por exemplo), contribuindo para a utilização destas informações pela comunidade

“Nossa ideia é fomentar esta ferramenta para que os professores e pesquisadores disponibilizem seus trabalhos em acesso aberto para que possamos incluir no Repositório. Quanto mais trabalhos publicados nele, melhor também a posição da PUCRS em rankings universitários. São diversos benefícios para a pesquisa acadêmica e a comunidade científica no geral”, pontua Clarissa.

Leia mais 

Pesquisa direito penal

Pesquisa propõe o desenvolvimento de um Direito Penal do Cuidado.

A empatia é descrita como a capacidade das pessoas se colocarem no lugar das outras, sentir o que o outro está sentindo ou conseguir entender através de outras perspectivas. Já a compaixão é o desejo de diminuir o sofrimento do outro, ou seja, se motivar e agir para aliviar alguma situação negativa que esteja acontecendo com o próximo. Essas atitudes capazes de enriquecer as relações e as experiências afetivas em sociedade, são historicamente assuntos estudados pela Filosofia e pela Psicologia, porém mais recentemente o professor e pesquisador da Escola de Direito da PUCRS Fabio Roberto D’Avila vem desenvolvendo estudos inéditos que unem as duas características com Direito Penal.

Com sua pesquisa intitulada Empatia e Compaixão no Direito Penal: Estudos a Partir da Neurociência Cognitiva do Fundamento Onto-antropológico do Direito Penal, o docente apresenta descobertas da neurociência cognitiva sobre as noções de empatia e compaixão para buscar desdobramentos para o direito penal nos processos de conformação do crime e da pena.

Para o pesquisador, os grandes problemas penais da atualidade precisam da compreensão que o Direito não é apenas um instrumento, mas também, um legado de direitos e garantias que conformam um dado estado civilizacional. Com isso, a pesquisa conduzida no Grupo de Pesquisa em Direito Penal Contemporâneo do Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais da PUCRS parte do fundamento onto-ontropológico, que recoloca o ser-pessoa no centro do entendimento jurídico-penal e propõe o desenvolvimento de um Direito Penal do Cuidado.

Empatia e Compaixão no Direito Penal

As primeiras investigações neurocientíficas sobre empatia e compaixão foram imediatamente associadas aos campos da economia, saúde, educação e não ao Direito ou ao Direito Penal. Porém, conforme explica o docente, os pontos em contato que unem os estudos de neurociência cognitiva e Direito Penal estão nas resoluções sobre a condição humana e a forma como as pessoas se veem e se relacionam em sociedade.

D’Avila complementa que, enquanto os estudos de neurociência cognitiva se debruçam sobre o comportamento humano, sobre a forma de pensar e agir, o Direito Penal formula proposições e respostas a partir justamente de uma dada compreensão do ser do humano e da sua expressão em comunidade. Desta forma, a empatia e a compaixão surgem como elementos-chave para uma melhor compreensão do ser de estar no mundo e, com ela, de toda uma série de possíveis desdobramentos que afetam diretamente o Sistema de Justiça Penal.

Com isso, a pesquisa desenvolvida na PUCRS parte de descobertas da neurociência cognitiva na abordagem sobre a presença do outro na vivência individual e comunitária, tanto o fenômeno do contágio emocional, quanto as comprovações que afirmam a importância da empatia e da compaixão nas relações sociais. Essas noções foram ponto de partida para o desenvolvimento dos estudos que unem o fenômeno empático com a perspectiva do Direito e do Direito Penal.

Primeiramente, conforme apresentado na pesquisa, entender a empatia e compaixão permite uma nova visão, outra concretude e densidade a toda uma forma de compreender a presença humana no mundo. Entendimento que comprova o esgotamento de determinados modelos explicativos da condição comunitária e reivindica a ascensão de um novo Modelo de Pessoa (Menschenbild).

“Seria um Modelo de Pessoa já não mais centrado em interesses individuais, mas construído a partir de um outro que também sou eu, a inaugurar novos olhares sobre a nossa condição humana em sociedade. Ou seja, um necessário e definitivo passo no caminho de uma melhor compreensão da nossa existência e do sentido que essa existência reclama”, complementa.

Outra conclusão apresentada no estudo explica que a forma pela qual as respostas empáticas do cérebro são moduladas, a denotar defeitos de empatia, lança luz sobre dimensões invisíveis do Direito. Desta forma, o tema se destaca de forma relevante sobre grandes campos da juridicidade penal, como ao processo penal, ao direito penal material, à atuação policial e à questão penitenciária. Conforme explica o professor, em todos estes campos, observa-se pontos especialmente sensíveis a fatores inibidores da resposta empática, a colocar riscos relevantes ao bom funcionamento do Sistema de Justiça Penal.

Ciências Criminais na PUCRS

O Programa de Mestrado e Doutorado em Ciências Criminais vem se distinguindo, desde a criação do Mestrado em 1997, por inovar profundamente na abordagem dos problemas relacionados ao sistema penal e à violência em sentido amplo. Mais recentemente o curso foi reconhecido pela nota 5 na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Interessados em iniciar uma pós-graduação stricto sensu já podem se inscrever para ingressar na PUCRS em 2023. O processo seletivo está aberto para 20 programas de mestrado e doutorado em diferentes áreas, até o dia 2 de dezembro. mundo precisa de você em uma das melhores Universidades da América Latina, inscrições abertas para 2023/1, acesse.

Integra Pós: mestrado e doutorado mais próximos da graduação

Integra Pós, programa da PUCRS para seus/suas estudantes, aproxima alunos da graduação do mestrado e doutorado. Incentivando a pesquisa científica e produção acadêmica, alguns dos benefícios são o contato com pesquisadores reconhecidos em suas áreas de atuação, temáticas atuais e vivência da pós-graduação durante a graduação. O programa é composto pelo G-PG, que permite que o estudante escolha disciplinas do mestrado e do doutorado como eletivas, e o G+1, que possibilita que o estudante finalize o mestrado um ano após a graduação.

Alunos e alunas que já tenham cursado pelo menos 50% do seu curso poderão se inscrever até o dia 30 de novembro para o processo seletivo do G+1. Entre as vantagens do programa estão:

Como funciona a iniciativa?

Durante a graduação, o/a estudante poderá cursar entre 12 e 18 créditos de disciplinas da Pós-Graduação, as quais poderão ser aproveitadas como eletivas no seu curso e integralizadas quando ingressar no Mestrado.

Saiba como se inscrever

Interessados deverão acessar o site neste link e escolher qual o Programa de Pós-Graduação de seu interesse e ler o edital de seleção. As inscrições podem ser realizadas pelo site até o dia 30 de novembro. Os candidatos passarão por análise de currículo e entrevista com a comissão coordenadora do programa.

Dúvidas e mais informações sobre o Integra Pós podem ser obtidas nas Secretarias dos PPGs ou enviadas para o e-mail [email protected].

Professor Nelson Todt participará da Cúpula Internacional do Esporte, no Vaticano / Foto: Arquivo pessoal

Em setembro, o professor e pesquisador da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Nelson Todt participará da Cúpula Internacional do Esporte, no Vaticano. O evento irá reunir representantes de diferentes denominações cristãs e outras religiões, assim como organizações sem fins lucrativos e instituições educacionais de todo o mundo que trabalham pela inclusão na sociedade através do esporte. No final da Cúpula, na presença do Papa Francisco, os participantes serão convidados a assinar a declaração de compromisso de promover em suas instituições e organizações esportivas cada vez mais a dimensão social e educacional do esporte.

A Cúpula é promovida pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida em colaboração com o Dicastério para a Cultura e Educação e a Fundação João Paulo II para o Esporte. Durante a Cúpula, será apresentada uma Declaração convidando o mundo do esporte a olhar para o futuro, abraçando três características fundamentais: coesão, acessibilidade e ser adaptável a todos. O pesquisador da PUCRS foi convidado por sua participação no grupo de trabalho internacional que elaborou esta declaração.

De acordo com Todt, o evento terá a participação de cerca de 200 pessoas do mundo do esporte (atletas, treinadores, dirigentes), de Federações Esportivas Internacionais, mas também de Associações esportivas amadoras. O docente, que atua como coordenador do Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos da PUCRS, será responsável pela coordenação da Sessão sobre “Coesão” que terá a participação do Presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach e do delegado do Vaticano para os Jogos Olímpicos de Paris 2024, Bispo Emmanuel Gobilliard.

Dentre os assuntos abordados pelo evento estão primeiramente a necessidade de reduzir a distância entre o esporte de base e o esporte profissional, na convicção de que a unidade do esporte é um valor a ser preservado e cultivado. A segunda parte debate sobre a garantia de acesso das pessoas pelo direito de praticar esporte, independentemente de suas condições sociais (pobreza, migração e status de refugiado, marginalidade, guerra, prisão, etc.). Por fim, a terceira etapa se concentra na possibilidade de que todas as pessoas possam praticar esporte, mesmo com deficiências físicas ou mentais ou desconforto psicológico.

Um sistema de Inteligência Artificial capaz de ler milhares de exames, prescrições médicas e textos clínicos em segundos. Com essa tecnologia, a NoHarm.ai auxilia profissionais de saúde da área de Farmácia Clínica Hospitalar na tomada de decisão, trazendo maior agilidade nos processos e segurança para os pacientes. Presente em mais de 30 hospitais de todo País, a startup sem fins lucrativos já impactou mais de 90 mil vidas através do cuidado com pacientes. 

A NoHarm.ai ganhou vida a partir da pesquisa do estudante Henrique Dias no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação da Escola Politécnica da PUCRS. Orientado pela professora Renata Vieira, o projeto Validação da Identificação de Eventos Adversos por Aprendizado de Máquina em Ambientes Reais foi o impulso para Henrique unir a pesquisa científica e o empreendedorismo. Por meio dos caminhos proporcionados pelo Track Startup, o projeto saiu da sala de aula e ganhou novos espaços. Atualmente, a startup está instalada no ecossistema do Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc). 

“Realizar o doutorado na PUCRS foi essencial para a NoHarm se tornar um negócio de impacto social. A Universidade possui diversos programas que possibilitam empreender e permitem que estudantes possam se engajar no ecossistema de inovação”, conta o estudante.

A solução promovida pela startup foi pensada em conjunto com Ana Helena Ulbrich, farmacêutica do Grupo Hospitalar Conceição, e contou com a participação de diversos voluntários para o desenvolvimento do projeto.  

Inovação impulsionada pela pesquisa científica 

A tecnologia com base em IA utilizada pela NoHarm atua a partir de dois algoritmos para automação da triagem farmacêutica. Enquanto um faz a priorização das prescrições fora do padrão, o outro trabalha na identificação de pacientes críticos. O sistema indica onde estão os potenciais erros de prescrição, aumentando a qualidade assistencial e a eficiência hospitalar. 

Durante o doutorado, Henrique publicou 25 artigos científicos com foco no projeto. “Recebi muito incentivo da minha orientadora para realizar as publicações. A pesquisa científica agregou valor não só para a minha trajetória acadêmica, mas também contribuiu para aprimorar e validar a NoHarm, entregando ainda mais valor para a sociedade”, comenta.  

Por três anos consecutivos, a pesquisa realizada por Henrique foi vencedora do Google Latin America Research Awards (Lara). A premiação tem como objetivo impulsionar a inovação e destacar projetos acadêmicos da América Latina que visam identificar e propor soluções tecnológicas para problemas reais do cotidiano das pessoas. 

Leia também: Doutorando da Escola Politécnica ganha prêmio Google pela terceira vez 

“O Henrique chegou para o doutorado com o propósito de fazer uma pesquisa com contribuição social. Ele estudou métodos, adaptou e criou novas soluções, levando em consideração dados reais. O ecossistema da Universidade proporcionou condições para inovação e o Henrique teve habilidade para construir algo novo com contribuição social, como tinha intenção, desde o início”, conta a professora Renata Vieira, orientadora dos estudos. 

Em junho, a NoHarm iniciou a atuação no Hospital São Lucas da PUCRS (HSL), e já atende 500 leitos na instituição. “O HSL sempre foi uma consequência natural do desenvolvimento desse projeto dentro da PUCRS. Nossa expectativa é trazer mais eficiência para o serviço de farmácia, avaliando 100% das prescrições no Hospital, oferecendo mais segurança para os pacientes”, conta Henrique Dias. 

 Leia também: Startup que integra ecossistema do Tecnopuc inicia operação no HSL 

A startup também participou do Rocket 2021, reality show promovido pela RPC, afiliada da Rede Globo no Paraná. Na sua terceira temporada, o programa teve 48 episódios durante seis semanas. Como a única representante gaúcha, das 50 startups do Brasil todo, a NoHarm ficou em 3º Lugar na Órbita Vida.

Leia também: Noharm.ai é uma das selecionadas para participar de reality show da Globo 

Reconhecimento e conexão internacional 

Entre as premiações recebidas pela NoHarm.ai, está o destaque no Innovation Awards, promovido pela Grow+ e divulgado nesta terça-feira, 30 de novembro. A startup conquistou o 2º lugar na categoria Inovação Corporate, em colaboração com o Hospital Mãe de Deus. Com o uso da ferramenta, o HMD alcançou um índice de 93% das prescrições revisadas nas Unidades de Internação na primeira semana da Central de Avaliação de Prescrição.  

Além da parceria com diferentes hospitais brasileiros, a NoHarm também já gerou conexões internacionais. Em novembro deste ano, Henrique representou o Tecnopuc no Web Summit 2021, em Lisboa, um dos maiores eventos de inovação do mundo. Entre os frutos da viagem, estão a aproximação com parques tecnológicos e ambientes de pesquisa de países como Portugal e Estônia.  

“Temos uma tecnologia capaz de impactar vidas no mundo todo. Queremos estar conectados globalmente com a área da saúde, da inteligência artificial, e da economia de propósito. A participação no Web Summit, por meio do Tecnopuc, contribuiu para nos aproximar ainda mais desses tópicos”, conta Henrique.

A startup também está entre os projetos que integram o Navi, hub de inteligência artificial liderado pelo Parque Científico e Tecnológico da PUCRS e pela aceleradora Wisidea Ventures. 

Leia também: Startup de Inteligência Artificial que nasceu na PUCRS participa da missão Tecnopuc ao Web Summit 

Na Semana Nacional da Ciência e Tecnologia, que neste ano acontece entre os dias 2 e 8 de outubro, a pergunta que logo surge é o que temos para comemorar. Ou se há razões apenas para lamentos e protestos. Ninguém tem dúvida da importância de uma política clara por parte dos governos, especialmente o federal, com rumo, estratégias, regras e recursos que nos conduzam a um sistema de ciência e tecnologia mais robusto, aliada ao desenvolvimento do país.

Mas a proposta aqui é trazer uma perspectiva de mais longo prazo: quais são os desafios da ciência e tecnologia brasileiras, independente do apoio maior ou menor dos governos, da crise fiscal mais ou menos severa e do ritmo de superação da pandemia? É possível apontar pelo menos quatro:

Formação do cientista

Como formamos nossos mestres e doutores e para quem? Considerando o propósito de formar mestres qualificados e pesquisadores doutores para o mercado e o mundo acadêmico, precisamos incorporar aos nossos programas maior flexibilidade e agilidade na estrutura, nos requisitos e nas metodologias, que permitam e valorizem, inclusive, interação dos alunos e seus projetos com organizações e empresas.

Além da possibilidade para o estudante desenvolver projetos mais aplicados, o percurso acadêmico do vocacionado à pesquisa deve contar com maior integração, em trilhas de formação que os coloquem rapidamente em um ambiente de pesquisa. Finalmente, a universidade tem que oferecer ao aluno uma formação mais ampla, que o prepare para desafios enfrentados fora do laboratório, baseada em uma visão de mundo plural e solidária.

Quanto a quem contrata, evidentemente, a disposição de empregar mestres e doutores é proporcional à vocação e à disposição inovadora das nossas empresas, mas, certamente, todos estes avanços na formação do discente – tão necessários quanto complexos – ajudariam na absorção desta mão de obra extremamente qualificada pelo mercado, seja como contratados ou empreendedores.

Impacto social da pesquisa

Se tudo começa pela formação, a ponte entre a pesquisa e a inovação talvez seja o grande desafio brasileiro. Costumamos estar melhores nos rankings mundiais de impacto acadêmico do que nos rankings de inovação ou impacto social. A pesquisa brasileira avançou muito nas últimas décadas, em função dos processos de avaliação, mas se manteve excessivamente limitada ao mundo acadêmico. Ministérios, agências e universidades devem ampliar seu foco em projetos com propósitos de inovação. E aqui não há escolhas de áreas: matemática, química, física, biologia e ciências sociais são fundamentais nos projetos de propósito inovador.

Internacionalização

A integração do Brasil com o mundo é condição para participarmos da “1ª divisão da ciência”. A avalanche do online durante a pandemia nos ensinou que, em muitas situações, a distância geográfica pode ser superada praticamente sem custo. Mesmo que a interação física ainda tenha seu valor no compartilhamento de ideias, o mundo se tornou, paradoxalmente, mais conectado. Neste novo cenário, abre-se uma larga avenida para a internacionalização. Embora o Hemisfério Norte deva ser prioritário em termos da excelência acadêmica, o Brasil tem um potencial de liderança ainda mal explorado com nossos vizinhos latino-americanos.

Adicionalmente, embora a internacionalização se apresente como uma oportunidade, estamos assistindo a uma “fuga de cérebros” e a ameaça de entregar às nações desenvolvidas parte considerável do investimento feito pelo Brasil na formação de seus pesquisadores. Há urgência para políticas de retenção e atração de talentos, e espaço para modelos novos de compartilhamento de pesquisadores com universidades estrangeiras.

Comunicação

A tarefa de comunicar bem o que fazemos pode parecer uma questão menor aos olhos da comunidade acadêmica. Mas a má comunicação ou a falta dela pode ter impacto desastroso à nossa ciência. A sociedade precisa conhecer o retorno já alcançado das nossas pesquisas científicas. Entretanto, os custos da pesquisa são explícitos, facilmente calculados, enquanto seus ganhos são implícitos e, muitas vezes, indiretos. Os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) são bons exemplos, entre vários: o Ministério da Economia não tem dificuldade em mostrar o quanto o Brasil gasta com os institutos, mas certamente o governo e a sociedade não conhecem e não sabem mensurar os ganhos trazidos pelos INCTs ao País.

É fundamental encontrar maneiras de trazer à sociedade o impacto econômico e social da nossa ciência. Vale mencionar o louvável esforço da Embrapa e da FAPESP em desenvolver metodologias que estimam o retorno de suas atividades. Não podemos defender a ciência e a tecnologia apenas no momento das definições orçamentárias.

Se há uma agenda desafiadora pela frente, é preciso reconhecer que já avançamos muito. Temos hoje uma ciência bastante forte – o que talvez seja o passo mais difícil –, considerando o nível de desenvolvimento brasileiro. Precisamos aproximá-la mais da sociedade na formação dos seus pesquisadores, na solução dos problemas reais e na comunicação do que fazemos, além de conectá-la ao mundo. Na PUCRS, estes desafios têm nos motivado e orientado nossas propostas e ações.

Foto: Bruno Todeschini

Fisioterapeuta Natália Campos teve a orientação do professor Márcio Donadio Foto: Bruno Todeschini

Dançar, saltar ou simular uma corrida em frente à TV, com um videogame interativo é uma terapia divertida e cientificamente eficaz para pacientes com fibrose cística. Este é o resultado de uma pesquisa que se tornou dissertação de mestrado e artigo, a partir do trabalho realizado no Laboratório de Atividade Física em Pediatria do Centro Infant, referência em investigações e atendimento multidisciplinar a doenças respiratórias infantis. Sediado no Hospital São Lucas (HSL), abriga pesquisadores e estudantes dedicados a encontrar soluções e terapias inovadoras.

A fibrose cística é uma doença genética, ainda sem cura e amplamente estudada por especialistas que buscam alternativas para garantir longevidade aos pacientes – a expectativa de vida depende de diferentes fatores, incluindo as mutações de cada pessoa. Seu diagnóstico começa no nascimento, a partir do Teste do Pezinho.

Leia a matéria completa na Revista PUCRS.

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Bolsista Ana Paula Rauber / Foto: Carolina Luz

Espaço de geração, preservação e divulgação da ciência, o Museu de Ciências e Tecnologia da PUCRS é tema de muitos trabalhos de pesquisa, que envolvem desde as práticas de apoio à educação até o uso das coleções científicas para análise e descrição de espécies. Os maiores beneficiados são os estudantes, abrangendo o Ensino Médio, a Graduação e a Pós-Graduação, nos níveis de mestrado e doutorado.

Um dos assuntos estudados é o Programa Escola-Ciência (Proesc). Ana Paula Rauber, 24 anos, graduanda do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, na Escola de Ciências da Saúde e da Vida, é bolsista BPA (Bolsa para Alunos PUCRS) na Coordenadoria Educacional do MCT-PUCRS. Sobre seu projeto, destaca que “o Museu é uma extensão da sala de aula, principalmente para instituições com impossibilidade de acesso na condição de pagantes. Aqui temos laboratórios que permitem aos alunos conhecer instrumentos que muitas vezes nunca tinham visto, como um microscópio. Existe uma gama de oportunidades pouco exploradas, e a ideia do projeto é essa: explorar mais essas áreas, para garantir o acesso a instituições que, a princípio, não teriam condições”.

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Doutoranda Maria Laura / Foto: Higor Rodrigues

Nas coleções científicas, é possível desenvolver projetos de pesquisa por meio de bolsas oferecidas para alunos da PUCRS pelos programas de Iniciação Cientifica e Iniciação Cientifica Jr. ou por agências de fomento, como Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), além de estágios disciplinares obrigatórios e o Programa de Extensão e Gestão das Atividades de Formação Continuada (Pega).

A doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da PUCRS, Maria Laura Delapieve, 31 anos, pesquisadora do laboratório da coleção de Peixes desde 2008, desenvolve projetos com ênfase na biodiversidade, na sistemática e na taxonomia de peixes de água doce e neo-tropical. Há 11 anos, Maria Laura iniciou sua pesquisa como bolsista de iniciação científica (BPA) e salienta que foi através desse contato que pôde conhecer, como aluna de Graduação, o que é fazer pesquisa acadêmica.

“Ter essa experiência, o contato com os profissionais e professores, compreender a importância das coleções científicas do Museu, conhecendo os trabalhos que são ali desenvolvidos, isso tudo durante a graduação, foi valioso. É explorar para conhecer, para ouvir, para aprender das mais diversas formas e sobre as mais diversas áreas”, relata a pesquisadora.

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Bolsista Henrique Leal/ Foto: Carolina Luz

As oportunidades não estão restritas a universitários. Visitante do Museu desde pequeno, o estudante Henrique Leal de Moura, 16 anos, do 1º ano do Ensino Médio, no Colégio Santa Dorotéia, desenvolve sua pesquisa graças a uma bolsa do Programa de Iniciação Cientifica Jr., motivado por um contato maior com o conhecimento científico. Para ele, as experiências e as oportunidades proporcionadas pela bolsa abrem portas para o futuro.

Para saber mais informações sobre as oportunidades de pesquisa que o Museu oferece, entre em contato pelo e-mail [email protected].

Foto: Myriam Zilles/Pixabay

Foto: Myriam Zilles/Pixabay

Um estudo publicado recentemente na Revista Nature Communications demonstrou que uma dieta rica em fibras protege contra infecção pelo vírus sincicial respiratório grave (VSR), um dos principais causadores de bronquiolite em crianças menores de dois anos de idade. Atualmente não existem tratamentos ou medidas preventivas para enfrentar essa doença. A pesquisa, realizada em camundongos, faz parte do trabalho de doutorado da aluna Krist Antunes, do Programa de Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança da PUCRS, e teve orientação da professora da PUCRS Ana Paula Souza, com colaboração dos professores Renato Stein, da PUCRS, e Marco Vinolo, da Unicamp, além pesquisadores associados da Argentina e dos Estados Unidos.

As fibras, após ingeridas, geram a produção de ácidos graxos de cadeia curta no intestino, principalmente acetato, propionato e butirato. Em um dos experimentos, feito de maneira preventiva, os pesquisadores colocaram acetato na água de beber de camundongos por três semanas, e após, infectaram os animais com o VSR. Em outro teste, considerado terapêutico, primeiro infectaram o roedor com o vírus e, após, deram água com acetato como tratamento. Nos dois casos, tanto na prevenção quanto no tratamento, houve a diminuição da carga viral e dos sintomas causados pelo vírus, como perda de peso e inflamação nos pulmões.

Os pesquisadores também fizeram o experimento diretamente com fibras, incluindo-as na ração dos animais, e, do mesmo modo, os resultados foram muito positivos no sentido de proteger os animais da infecção pelo vírus. Para as testagens foi utilizada também uma dieta rica em carboidratos e com zero fibras: “Interessante ressaltar que o animal que ingeria a dieta zero fibras ficava muito pior, os sintomas eram bem mais severos em comparação aos que tinham acesso à dieta controle”, afirma Krist.  “ É a primeira vez que esse mecanismo é descrito:  uma substância que a nossa própria microbiota produz, que é o acetato, nos protege mediando uma resposta anti-viral contra uma infecção respiratória. Essa é a grande novidade do estudo”, relata Ana Paula.

Coleta de dados em bebês

Em uma segunda etapa do estudo, foi avaliado o nível de ácidos graxos de cadeia curta nas fezes de bebês menores de um ano infectados com o VSR, internados no Hospital São Lucas da PUCRS. Os resultados preliminares mostraram que as crianças que têm menos ácidos graxos de cadeia curta nas fezes são aquelas que ficam mais tempo hospitalizadas e necessitam de suporte de oxigênio por períodos maiores. “Esses dados nos indicam que os bebês que fazem os quadros mais graves de bronquiolite têm menor nível desses ácidos graxos no organismo” confirma Ana Paula.

Reflexo da mudança de padrão alimentar do brasileiro              

Krist lembra que o padrão alimentar mudou muito e que o consumo de fibras caiu bastante: “As diretrizes dizem que temos que consumir 25 gramas por dia e o brasileiro consome somente 15 gramas”. Ela alerta que as fibras alimentares solúveis, que levam à produção de acetato, estão presentes em frutas como maçã (principalmente na casca) e na laranja, em maior quantidade na parte branca.

Próximos passos

Para que a pesquisa comece e ser realizada em humanos são necessários ainda muitos passos, como estudos dos dados de segurança e protocolos, o que demanda, além de tempo, apoio financeiro. Renato Stein, que também é médico pneumopediatra, diz que a intenção é pesquisar, no futuro, formas de proteção para a gestante, já que o VSR atinge principalmente bebês desde o início da vida: “Queremos saber se mudando a dieta da gestante ou dando um suplemento que aumente os níveis de ácidos graxos de cadeia curta haverá benefícios para o bebê”, afirma. Os primeiros testes devem ser realizados em modelo animal.

 

cres, ciclo preparatório

Arquiteto Chefe do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da HP Brasil, Antônio Gomes,
Foto: Camila Cunha

A pesquisa científica, tecnológica e a inovação como motor do desenvolvimento humano, social e econômico. Este foi o tema debatido em mais um encontro do Ciclo Preparatório PUCRS 2017-2018 para a Terceira Conferência Regional da Educação Superior da América Latina e Caribe (Cres) – Unesco Iesalc de 2018. O evento ocorreu no dia 21 de março, no 6º andar da Biblioteca Central. Os painelistas foram o Arquiteto Chefe do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da HP Brasil, Antônio Gomes, e o Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS, Jorge Audy. O mediador foi o professor Éder Henriqson, Decano da Escola de Negócios da PUCRS.

Foco em experiências

O executivo da HP iniciou a palestra comparando as linhas de transmissão de dados de 20 anos atrás com as atuais. “Hoje em dia, muitos usuários tem a possibilidade de terem 200 megabytes, a um custo aceitável, para assistir filmes em casa”, exemplificou. Devido à velocidade de inovação, fez possíveis projeções de lembranças de um futuro próximo. “Poderemos ter ao invés da foto do primeiro cachorro a do primeiro robô. Ao invés da primeira viagem, uma primeira viagem espacial. Num passado recente, não imaginávamos viver tão a frente do que estamos agora. Logo, precisamos saber como trabalhar com essas mudanças”, comentou.

Gomes enfatizou que, para o desenvolvimento de produtos, a HP foca nas experiências de vida. “É preciso observar as megatendências, que estão moldando a sociedade e economia, que são a rápida urbanização, a mudança demográfica, a hiper globalização e a aceleração da inovação”, disse.  Dentro dessa realidade, a parceria entre HP e CriaLab tem sido um lugar que entende e resolve esses problemas, permitindo a criação de soluções.

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Superintendente de Inovação e Desenvolvimento da PUCRS, Jorge Audy
Foto: Camila Cunha

Impacto do futuro do trabalho

“Recentemente, me perguntaram sobre as tendências do futuro do trabalho. Na verdade, já mudou e muita gente não se deu conta”, foi dessa maneira que Audy iniciou a sua palestra. O executivo da PUCRS salientou que vivemos na era exponencial, na qual o crescimento é muito mais veloz. “São 7,5 bilhões de pessoas no mundo, sendo que 4 bilhões são usuários internet e 3,2 bilhões são ativos em redes sociais. Além disso, são realizadas 3,5 milhões pesquisas no Google por minuto. Isso demonstra que a transformação já aconteceu”, frisou.

Outros dados mostram essa mudança global. Nos Estados Unidos, em 1917, as dez maiores empresas eram do ramo de petróleo, telefonia e alimentação. Já em 2017, quase todas são relacionadas à tecnologia, sendo que as cinco mais importantes (Apple, Google, Amazon, Microsoft e Facebook) surgiram dentro dos ambientes de inovação de universidades. A publicidade também teve os mesmos efeitos. No ano passado, as mesmas cinco empresas de tecnologia foram as maiores anunciantes.

Audy também comentou que, apesar do grande desenvolvimento de parques tecnológicos espalhados pelo Rio Grande do Sul, ainda faltam incentivos financeiros no país, principalmente na formação de pesquisas. “Para termos uma noção, se o Canadá não formasse mais doutores em pesquisa, o Brasil teria 20 anos para conseguir empatar com aquele país”. Além disso, o superintendente de inovação alertou a queda em índices de inovação e transferência de conhecimento para a indústria no Brasil.

Conclusões do ciclo

No encerramento, o mediador, o professor Eder Henriqson destacou que os painelistas mostraram o grande potencial de sinergia que existe entre empresas, parques tecnológicos e universidades. Principalmente, com a consolidada parceria estratégica entre a PUCRS e a HP, que formou diversas pessoas e pesquisadores, além de ser uma peça fundamental dentro ecossistema de inovação.

O questionamento professor foi em relação aos 15 anos desta aliança. Gomes enfatizou que o capital humano é raro no país e, praticamente, só existe por meio das universidades e o desafio está na geração de novas tecnologias. Já Audy lembrou que, inicialmente, o foco dos parques tecnológicos era de atrair grandes empresas para que, em torno delas, outras menores e startups pudessem crescer. O momento atual é de consolidar essas parcerias com empresas estratégicas, bem como alavancar fortemente a geração de startups em um curto prazo de tempo.

Próximo evento

No dia 12 de abril, ocorre próximo encontro na PUCRS, que terá o tema O papel estratégico da educação superior no desenvolvimento sustentável. Como palestrantes estarão a diretora do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Naturais, a professora Betina Blochtein e o coordenador da Iniciação CientíficaJúlio Bicca Marques. A medicação será com a Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesq), Carla Bonan.

A programação completa do ciclo pode ser acessada neste link. Já os textos relacionados aos encontros na Universidade podem ser consultados pelo Portal PUCRS.

Sobre o Ciclo Preparatório

O Ciclo Preparatório PUCRS conta com sete encontros, que se configuram em um espaço de reflexão na comunidade acadêmica. Cada evento busca discutir algum dos temas centrais abordados pela CRES. Ao final da programação, será elaborada uma carta manifesto sobre a Educação Superior, com as contribuições e reflexões dos representantes da Universidade. A CRES será realizada em junho, na Cidade de Córdoba (Argentina), promovido pelo Instituto Internacional da Unesco para a Educação Superior na América Latina e no Caribe (Iesalc-Unesco).