Como o jovem brasileiro vê a família? Ela influencia na vida dele? Qual o seu conceito de religião? O que quer para o futuro? Essas e outras questões foram respondidas na pesquisa Projeto 18/34: as ideias e aspirações do jovem brasileiro sobre conceitos de família, divulgada pelo Núcleo de Tendências e Pesquisa do Espaço Experiência, da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS.
Foram entrevistados 1,5 mil jovens de 18 a 34 anos em todas as regiões do Brasil, solteiros ou namorando, que responderam a 35 perguntas sobre hábitos de lazer e consumo, sonhos e mídia. Do total de entrevistados, 67,1% estão solteiros e 32,9% namorando. Quanto à orientação sexual, 72,1% se declaram heterossexuais, 16,1% homossexuais e 11,8% bissexuais. E 61,93% dos entrevistados apenas estudam, enquanto 36,4% exercem algum tipo de trabalho.
Sete formatos de família* foram utilizados para a parte qualitativa do estudo: díade nuclear; nuclear ou simples; alargada ou extensa; reconstruída, combinada ou recombinada; homossexual feminina e masculina; monoparental feminina e masculina; e unitária. Segundo o coordenador do estudo, professor Ilton Teitelbaum, ainda que os modelos apresentados não sejam os mais tradicionais, o apego à família ficou claro na pesquisa: 88,1% dos entrevistados disseram que ela é fundamental ou muito importante, contra apenas 11,9% que afirmaram ser irrelevante ou pouco importante.
Amor, respeito e diálogo aparecem como atributos essenciais para uma família ideal. Outros 47,5% afirmaram que seus valores vêm da criação de casa e da vivência de mundo, assim como os pais e os namorados aparecem como os maiores influenciadores sobre as decisões a serem tomadas (41,4%). Quando perguntados sobre que tipo de família menos agrada, a opção “nenhuma” é predominante em todas as regiões. “Essa geração está rompendo com o previamente estabelecido. Para eles, o formato de família é o que fica bom para cada um, não importa se for homem e mulher, uma família formada de um novo casamento ou homoafetiva”, afirma o pesquisador.
O estudo mostra que os jovens querem estar com a vida consolidada antes de ter filhos. A primeira preocupação é com a estabilidade financeira (82,4%), seguido por estabilidade emocional (77,1%) e por ter um trabalho (76,2%). É padrão em todas as regiões a preferência por ter um ou dois filhos (totalizando 64%), mas 17,1% dos respondentes pretendem não ter filhos. Em todas regiões predomina a ideia de que qualquer pessoa pode representar a figura materna ou paterna, sem vinculação de gênero.
Para Teitelbaum, uma das surpresas foram os dados a respeito da religião. “Ateus, agnósticos e os que praticam a fé sem religião somam 32,14%, quase alcançando o número dos que se declararam católicos, que são 34,3%. Isso mostra o aumento do número de jovens sem religião no Brasil, um país predominantemente de católicos” afirma. Com relação às opções de lazer, acessar as redes sociais é a atividade preferida de 72,7% dos entrevistados, na frente de opções como ir a festas, ouvir músicas e praticar esportes. A importância da internet também ficou evidente: 92,9% dos entrevistados a consideram como importante no dia a dia. “Há evidências de que o jovem não prioriza ou está saindo menos de sua rotina para tarefas fora do eixo estudo-trabalho-casa, deixando um pouco de lado atividades como praticar esportes, sair para festas, ir ao shopping ou ir em restaurantes”, lembra. Segundo ele, a dupla jornada de tarefas, a falta de segurança e a crise econômica podem estar desencorajando a preferência por atividades fora do lar.
E com relação ao futuro financeiro? “A geração Y quer viver bem, nem que seja preciso viver com menos”, alerta o professor. A grande maioria quer ganhar o bastante para ter pequenos luxos e para se sentir confortável (86,27%). O maior objetivo de vida, para 72,87%, é viajar pelo mundo conhecendo outras culturas.
Formatos de família utilizados na pesquisa:
Díade Nuclear: Duas pessoas em relação conjugal sem filhos (não há descendentes comuns nem relações anteriores de cada elemento).
Nuclear ou Simples: Uma só união entre adultos e um só nível de descendência pais e seu(s) filho(s).
Alargada ou Extensa: Coabitam ascendentes, descendentes e/ou colaterais por consanguinidade ou não, para além de progenitor (es) e/ou filho(s).
Reconstruída, Combinada ou Recombinada: Família em que existe uma nova união conjugal, com ou sem descendentes de relações anteriores, de um ou dos dois cônjuges.
Homossexual Feminina e Masculina: Família em que existe uma união conjugal entre 2 pessoas do mesmo sexo, independentemente da restante estrutura.
Monoparental Feminina e Masculina: Família construída por um progenitor que coabita com o(s) seu(s) descendente(s).
Unitária: Família construída por uma pessoa que vive sozinha, independentemente de relação conjugal sem coabitação.