Mostra fotográfica sobre quilombos no Rio Grande do Sul, painel e apresentações farão parte do 5º Seminário Juventudes Negras e Políticas Públicas, dia 13 de novembro, a partir das 13h30min, nos prédios 8 e 9 do Campus (Avenida Ipiranga, 6.681 – Porto Alegre). O evento busca promover vivências de elementos da cultura negra e reflexões sobre a inserção dos negros na sociedade brasileira, na perspectiva dos direitos humanos. O painel trata do tema Juventudes negras, direitos humanos e interseccionalidades, com abertura às 20h. As atividades artístico-culturais começam às 16h, com oficinas de tranças, stencil e cidadania.
O seminário é anual e integra grupos de Estudos e Pesquisas da PUCRS, como Observatório Juventudes (Centro de Pastoral e Solidariedade), Nepevi – Grupo de Estudos e Pesquisa em Violência, Gejup – Grupo de Estudos em Juventudes e Políticas Públicas e Neabi – Núcleo de Estudos em Cultura Afro-Brasileira e Indígena. Inscrições no local.
A partir de 26 de setembro, uma descoberta histórica estará exposta para toda a comunidade no saguão da Biblioteca Central da PUCRS. Trata-se de uma Deusa Nimba encontrada em Santo Ângelo, cuja identidade foi confirmada pelo coordenador do Núcleo de Estudos em Cultura Afro-brasileiro e Indígena (Neabi) da Escola de Humanidades da PUCRS, Édison Hüttner. Segundo o pesquisador, a peça em madeira foi produzida entre os séculos 18 e 19 por afrodescendentes brasileiros que conheciam a arte, escultura e rituais praticados pelo povo Baga/Nalu, da região do Oeste africano (Guiné, Guiné-Bissau). Huttner ressalta que é a primeira escultura do gênero encontrada em solo americano: “Esta descoberta indica a existência de rituais autênticos de religiosidade de afrodescendentes brasileiros”, afirma, lembrando que os rituais secretos eram realizados somente por homens, e eram proibidos pelo Governo.
A peça foi localizada por um pescador na década de 80 no Rio Ijuí, após uma grande seca. Em 2016, em visita à cidade de Santo Ângelo, Hüttner obteve autorização do atual proprietário da peça, Getúlio Soares Lima, para que ela fosse estudada na PUCRS. A confirmação da origem da escultura veio após dois anos de estudos com a participação de Eder Hüttner, seu irmão, e Klaus Hilbert, coordenador do Laboratório de Arqueologia da Universidade. A estátua passou inclusive por uma tomografia no Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (Inscer).
Curiosidades sobre a Deusa Nimba
– A escultura tem 46,4 cm e 3,70 kg. Segundo os pesquisadores, estava presa em algum local para ser cultuada;
– Os estudos revelaram que a escultura foi esculpida num único troco de madeira por um artista afrodescendente que conhecia a tradição dos povos Baga ou Nalu da Guiné, Guiné Bissau, do Oeste da África;
– A Deusa Nimba era cultuada pela Sociedade Secreta Cimo, nas festas da semeadora e colheita do arroz vermelho (Oryza Gulaberrima). Este arroz foi plantado no Maranhão e Bahia;
– Nimba é considerada a deusa da fertilidade e significa “alma grande”;
– Cada Nimba é uma peça única, com características que revelam a originalidade, a mão do artista e seu contexto. Portanto, a Nimba não é uma cópia idêntica de outra Nimba, não é uma réplica.
Origem da peça
Segundo os pesquisadores, são diversas as hipóteses de como a estátua pode ter chegado até o rio Ijuí. Conheça algumas delas:
-Em 1756, o exército português permanece acampado por oito meses em Santo Ângelo, com a presença de 190 escravos;
-Já em 1765, uma leva de negros da Guiné chega ao RS, vindos da Bahia;
-Mais tarde, em 1784, cerca de 13 mil escravos da Guiné vão para Buenos Aires pelos tratados de comércio entre as coroas ibéricas;
– Em 1814 havia nos Sete Povos Missioneiros 250 negros;
– Durante a Revolução Farroupilha – havia na Villa de Cruz Alta (RS) um quilombo. Na época a região das missões, inclusive Santo Ângelo (RS) pertencia a Cruz Alta. Havia quilombos no RS – com escravos da Guiné.
Sobre a exposição
A peça estará no saguão da Biblioteca Central da PUCRS de 26 de setembro a 30 de outubro. A abertura oficial ocorre no dia 26 às 18h30min. A entrada é gratuita e a curadoria é dos pesquisadores Edison Hüttner, Eder Hüttner e Klaus Hilbert.