No dia 2 de dezembro, em meio a ferramentas, latas de tinta e 64 voluntários, as praças da Ilha da Pintada começavam a tomar forma. Nem mesmo o sol forte desanimou os participantes do Mutirão Solidário, promovido pelo Projeto de Voluntariado do Centro de Pastoral e Solidariedade da PUCRS e o Grupo Universitário Marista. Divididos em três equipes, eles tiveram a missão de revitalizar três praças da região ao longo do final de semana. No domingo, por terem alcançado a meta, os grupos se juntaram para recuperar uma quarta praça. A iniciativa foi idealizada com o objetivo de recuperar alguns dos únicos espaços coletivos de lazer da região e de proporcionar uma verdadeira imersão e escuta da comunidade. Para isso, os participantes passaram a noite do dia 2 ao dia 3 de dezembro no local, contando com a ajuda dos moradores em todos os momentos – desde a limpeza e a pintura das praças até a preparação de refeições.
A equipe de voluntários foi composta por diversos setores da comunidade universitária, dentre alunos, diplomados, professores e técnicos administrativos. No dia 1 de dezembro, o grupo se reuniu para alinhar as ações e dar início ao clima solidário. O Vice-Reitor da Universidade, Jaderson Costa da Costa, agradeceu o interesse dos participantes na construção de uma cultura de solidariedade, citando uma frase do escritor russo Leon Tolstoi: “Só seremos universais se conhecermos e amarmos nossa aldeia”. Também estiveram presentes o pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários Ir. Manuir Mentges e o assessor da reitoria Solimar Amaro.
No final de semana, as equipes se dirigiram às praças da Rua do Sossega, da Mauá e do posto de saúde da Ilha. Cortaram a grama, recolheram o lixo, lixaram e pintaram os brinquedos. Conforme as revitalizações das praças aconteciam, os moradores da Ilha da Pintada se aproximavam e participavam do momento. Teresinha Carvalho da Silva, de 74 anos, registrava cada parte da ação com a câmera do celular. “É muita emoção ver todos trabalhando voluntariamente aqui. Isso para mim é inédito, nunca aconteceu. É algo que precisa ser compartilhado, para que sirva de exemplo para outros lugares e outros jovens”, afirmou, garantindo que as praças serão utilizadas com muito carinho pela comunidade. Vitória da Luz e Érika Soares, ambas com 16 anos, moram na Ilha da Pintada e se juntaram ao grupo de voluntários. “Quase não temos aonde passear aqui na Ilha, então, assim que ficamos sabendo do mutirão, resolvemos vir ajudar”, contou Érika.
A Pastoral procurou a comunidade da Ilha da Pintada com o intuito de fazer um trabalho diferenciado e promover interação com uma nova realidade. Quem fez a ponte entre os moradores da região e a universidade foi o padre da Rede de Comunidade das Ilhas, Rudimar Dal Asta. “Nossa comunidade aceitou o projeto com carinho e agradece muito. É um trabalho que vai nos ajudar bastante”, conta. Ele explica que, antes, não eram muitos os espaços de convivência na ilha. “Nos encontrávamos na praça central em datas comemorativas, mas eram momentos isolados. A PUCRS trouxe outra expectativa. Agora, todas as praças servem para encontros, partilha, confraternização”, agradece o padre Rudi, como é conhecido na região.
Para o diplomado em Ciências da Computação Alexandre Seki, de 31 anos, ver as crianças aproveitando os novos espaços foi a parte mais gratificante da experiência. “Convidamos algumas para ajudar na revitalização e elas foram se enturmando. Isso é ótimo, pois acaba integrando as pessoas que vão usufruir das praças”, ressalta. Juliana Kittel, de 25 anos, é natural de Adelaide, na Austrália. Está no Brasil para participar de uma missão voluntária com os Maristas, na Amazônia. Em janeiro, ela embarca para Manaus. Ao ser acolhida pelo Centro de Pastoral e Solidariedade, ficou sabendo da ação e resolveu participar. “É importante colocar a mão na massa, conhecer outras realidades. E é muito legal ver como os brasileiros trabalham em grupo. Eles são muito simpáticos e acolhedores. Quando voltar para a Austrália, vou compartilhar essa experiência com meus amigos”, garante.
Natália Gabineski, da Pró-Reitoria Acadêmica, afirma que o mutirão foi uma oportunidade para conhecer novas pessoas. “Precisamos olhar para a comunidade e entender que eles têm muito mais a nos dar do que nós a eles. E estar junto a pessoas com quem cruzamos no campus e muitas vezes nem sabemos quem é, todas pelo mesmo ideal, é muito emocionante”, completou. O professor da Escola de Negócios Augusto Alvim ressalta a importância da iniciativa. “A Universidade tem que atuar nesse processo de organizar as pessoas de forma comunitária. Principalmente nas grandes cidades, todos estão cada vez mais isolados, sem nenhuma função ativa na sociedade. Isto é uma semente para ampliarmos essa participação comunitária e gerarmos uma dinâmica própria na sociedade”, argumenta.
Transformação. Empatia. Doação. Reunidos em uma roda ao final da ação, os voluntários tentaram definir o mutirão em algumas palavras. Eles concordaram que foi mais do que um simples trabalho manual, configurando um importante espaço de trocas de experiências e de imersão em outras realidades. Os voluntários surpreenderam-se com a recepção dos moradores, que concederam casas para que eles tomassem banho e prepararam peixe na taquara, refeição típica da região. Para o Marcelo Bonhemberger, diretor do Centro de Pastoral e Solidariedade, a iniciativa representa o caráter transformador que a Universidade tanto preza. “Nestes dois dias, vocês fizeram a diferença na sociedade”, concluiu.