O Ministério Público do Rio Grande do Sul lançou nesta quarta-feira (14) o aplicativo “Adote um Amanhã”, desenvolvido pela Agência Experimental de Engenharia de Software (AGES) da PUCRS. O objetivo é apoiar e atender às necessidades individuais de cerca de 800 crianças e adolescentes do acolhimento institucional de Porto Alegre e necessidades coletivas de 70 abrigos e casas lares, oportunizando que pessoas físicas e jurídicas tenham acesso aos pedidos. O aplicativo, disponível para Android e iOS, também está preparado para oferecer bens e serviços relacionados à causa.
“O aplicativo Adote um Amanhã é fantástico. De um lado, as crianças, adolescentes, casas lares e abrigos lançam suas necessidades, individuais e coletivas. E de outro lado, a comunidade, pessoa física ou jurídica, pode contemplar o que está sendo pedido, ou ofertar o que tem à disposição. É uma forma de dar conforto, de oferecer acessos a bens e serviços que eles não teriam se não fosse a possibilidade do app”, destaca Cinara Vianna Dutra Braga, promotora da Infância e Juventude de Porto Alegre.
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O projeto é uma parceria entre a Associação dos Usuários de Informática e Telecomunicações do Rio Grande do Sul (Sucesu/RS), a GX2 Tecnologia e a Agência Experimental de Engenharia de Software da PUCRS, que contou com a participação de 15 alunos.
“A AGES tem como objetivo ser um ambiente prático de aprendizagem, oportunizando aos alunos o desenvolvimento de projetos, como aplicativos, plataformas e sistemas. Então quando recebemos pedidos com impacto social, ficamos muito felizes, pois podemos apoiar e trabalhar em causas que fazem a diferença na sociedade. Os alunos ficam muito engajados com esse tipo de projeto e se sentem felizes em estar desenvolvendo algo que pode mudar o futuro de crianças e adolescentes, como foi o desenvolvimento do aplicativo “Adote um amanhã”, declara a professora Alessandra Dutra, coordenadora da Agência Experimental de Engenharia de Software.
A PUCRS, por meio da Agência Experimental de Engenharia de Software, também desenvolveu o aplicativo Adoção, em parceria com o Tribunal de Justiça do RS (TJRS), que ajuda crianças e adolescentes a encontrarem uma família. A plataforma, que aproxima as crianças do programa de acolhimento institucional gaúcho com possíveis adotantes, traz vídeos, fotos, desenhos, sonhos e expectativas de dezenas de crianças e adolescentes aptos a adoção no Rio Grande do Sul.
Lançado em 2018, o aplicativo já conta com 771 manifestações de interesse. Neste período, 335 crianças e adolescentes foram inclusos na plataforma, resultando em 92 adoções. Outras 42 crianças/adolescentes estão em guarda e 1 criança/adolescente está em estágio de aproximação.
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O grupo de pesquisa Avaliação, Reabilitação e Interação Humano-Animal da PUCRS, coordenado pela professora Tatiana Quarti Irigaray, do curso de Psicologia, divulgou recentemente os dados preliminares de um estudo inédito que mapeia os acumuladores de animais em Porto Alegre. O trabalho é realizado em parceria com o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul (MPRS) e a Secretaria Especial dos Direitos Animais de Porto Alegre (Seda). O objetivo principal é criar um protocolo de identificação, tratamento, prevenção e intervenção para o transtorno de acumulação de animais, que auxilie os pacientes, os promotores e profissionais da área. Após o lançamento da última edição do Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5) pela Associação Americana de Psiquiatria, em 2013, esse transtorno passou a ter uma categoria própria – antes, era apenas um sintoma do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e, agora, é considerado uma manifestação especial do Transtorno de Acumulação. Poucas publicações científicas sobre o tema dificultam uma compreensão mais aprofundada do quadro.
Entre agosto de 2015 e maio de 2016 foram visitadas 64 residências de possíveis acumuladores em Porto Alegre. 48 pessoas receberam a equipe, mas somente 38 aceitaram participar da coleta de dados, que incluiu entrevistas sobre o número e as espécies de animais nos locais; castração; tempo de recolhimento do último animal; o maior número de animais que a pessoa já teve; o período da vida em que a pessoa começou a recolher e o que a levou a começar. Além disso, os participantes respondiam a testes para avaliação cognitiva, de personalidade e psicopatologia.
Os dados surpreendem. Há uma média de 36 animais por casa, em um total de 1.379 animais entre cães, gatos, patos e pombos. “Esse número é auto relatado pelos participantes. Nas coletas, verifica-se que o número de animais era maior do que o relato. Provavelmente, existam mais de 1.500 animais nessa pequena amostra, vivendo em situações precárias”, explica Tatiana. Vinte e oito acumuladores são mulheres, sendo 19 com mais de 60 anos, e 10 homens, cinco deles com mais de 60 anos. 75% dos entrevistados recebem menos de dois salários mínimos. Apenas sete afirmaram ter todos os animais castrados, e 26 recolheram animais no último ano. “Há um caso de um senhor que chegou a ter 170 cachorros e gatos em sua casa. Em fevereiro de 2015 esses bichinhos foram recolhidos pela Seda, mas já em setembro ele tinha novamente 20. Atualmente, ele já está com mais de 80 animais” conta a pesquisadora.
Devido à dificuldade de acesso às casas, as entrevistas foram realizadas dentro de vans disponibilizadas pelo Ministério Público, com a participação de psicólogos, sendo dois bolsistas de pós-graduação, e dois alunos de graduação em Psicologia da PUCRS. As visitas às casas eram realizadas em parceria com a Seda. Assim, enquanto os participantes respondiam à entrevista, os animais eram examinados e tratados por um veterinário e um fiscal da secretaria.
A partir dos dados coletados, pode-se inferir que há três subtipos de acumuladores. O Salvador/Missionário, que acredita precisar salvar os animais, e por isso os recolhe em excesso, porém tem dificuldade em reconhecer as más condições gerais dos bichinhos; o Sobrecarregado/Desorganizado, que perde o controle em relação a reprodução dos animais, reconhece o problema, mas ainda assim tem dificuldade em doá-los; e o Perverso, que os têm para ganhos secundários, como benefícios de instituições governamentais e não governamentais, ou da comunidade. Frequentemente, esse tipo de acumulador atrai os animais construindo abrigos, deixando água e comida em frente a sua moradia. Pode também ter histórico de furto de animais, e demonstra pouca ou nenhuma empatia e apego aos bichinhos.
Sessenta por cento dos participantes apresentaram ainda sintomas de ansiedade, depressão, problemas de memória, pânico e TOC nos últimos meses. A acumulação de animais causa também isolamento, diminuição da rede social, dificuldades de planejamento e organização. “Não há padrões mínimos de nutrição, saneamento e cuidados veterinários nas residências, e eles não conseguem agir quando são constatadas as más condições. Apesar de todas as evidências, a maioria dos acumuladores acredita e afirma que seus animais estão sendo bem cuidados”, explica Tatiana. Há outras características, ainda, como alterações e perturbações em atividades diárias como sono, alimentação e higiene. “Muitos relatam acordar diversas vezes a noite para separar brigas”, conta.
Desde 2011, a Seda já castrou em torno de 25 mil animais em Porto Alegre. No entanto, a pesquisa verificou que em 31 casas os animais não são castrados, pois o acumulador não permite que o animal seja levado para a realização do procedimento, o que representa um número de 1.116 mil. “A partir de uma estimativa conservadora, considerando que 558 não estejam castrados, e que 279 sejam fêmeas, e tenham 1,5 cios por ano, são gerados seis filhotes por animal em cada cio. A população aumentaria em 2.500 mil filhotes por ano”, explica Tatiana. Em fevereiro de 2016, a Seda mantinha em abrigo 164 cães. Cada cachorro custa, por dia, R$ 11,53, totalizando no ano R$ 4.196,92 por cão. Em cinco anos cada cão tem o custo total de R$ 20.984,60. Em cinco anos, 164 cães custariam R$ 3.441.474,40. “Assim, intervir no transtorno de acumulação de animais é um problema de saúde pública”, alerta a pesquisadora.