O termo microbiota intestinal refere-se à população de micro-organismos, como bactérias, vírus e fungos, que habita todo o trato gastrointestinal, e tem como funções manter a integridade da mucosa e controlar a proliferação de bactérias patogênicas. Pesquisadores da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS identificaram na microbiota intestinal um composto com potencial para reduzir os impactos à saúde causados pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR) – principal agente envolvido em infecções do trato respiratório inferior, em especial a bronquiolite, nas crianças de até dois anos.
Os estudos fazem parte do trabalho da pós-doc do Pós-Graduação de Pediatria e Saúde da Criança Krist Helen Antunes e contou com orientação da professora Ana Paula Duarte de Souza e co-orientação do professor Marco Aurélio, da Unicamp. O projeto teve apoio da Fapergs e Fapesp e seus resultados mais recentes foram divulgados na revista eBioMedicine do grupo The Lancet Discovery Science.
A pesquisa descreve que o acetato de sódio tem efeito antiviral contra o VSR. O resultado é fruto de diversas etapas que envolveram diferentes pesquisadores, como o professor Renato Stein, da Escola de Medicina, e os professores da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Pablo Machado, Cristiano Bizarro e Luiz Augusto Basso, além de estudantes do Programa de Pós-Graduação em Pediatria Saúde da Criança e de Iniciação Científica da PUCRS.
“Os resultados dessa pesquisa abrem portas para futuros estudos de intervenção da microbiota para aumento dos níveis de ácidos graxos de cadeia curta como o acetato possa ter benefício no tratamento e prevenção da bronquiolite causada pelo VSR. Esse vírus é muito prevalente e não existe vacina ainda liberada para uso”, destacou a pesquisadora Ana Paula Duarte.
A pandemia de Covid-19 mudou o cenário de quase todas as outras infecções respiratórias virais, levando transitoriamente a uma grande diminuição de casos. Isso ocasionou, hoje, um surto de bronquiolite por VSR. Esses picos de infecções fora da temporada apresentam uma ameaça para bebês suscetíveis, o que reforça a necessidade de intervenções preventivas novas e acessíveis.
Inicialmente, os pesquisadores usaram diferentes estratégias para alterar a microbiota intestinal em camundongos. Posteriormente, os estudos evoluíram para a coleta de amostras do vírus de crianças atendidas no Hospital São Lucas da PUCRS. Esses vírus isolados foram então aplicados em culturas de células tratadas previamente com acetato. Com esse tratamento, foi possível perceber que o acetato diminui a carga viral do VSR em mais de 88%.
Os avanços da pesquisa também possibilitaram notar que, com a evolução da bronquiolite, descobriu-se que uma maior concentração de acetato estava associada a uma menor gravidade do quadro. Os bebês apresentavam maior saturação de oxigênio – um marcador de preservação da capacidade respiratória – e um menor número de dias com febre.
Para consolidar seus achados, a equipe coletou células das vias respiratórias superiores das crianças examinadas nessa etapa, que já estavam infectadas. Já no laboratório, essas células foram tratadas com acetato. E, de novo, houve redução da carga viral e maior atividade de moléculas antivirais. Além disso, foi notado que este efeito do acetato é específico para o VSR, pois não foi encontrado em pacientes com Covid-19.