De forma pioneira, a PUCRS e a CMPC Celulose Riograndense estudam o uso da tecnologia da hipergravidade para acelerar os processos de crescimento volumétrico e qualidade da madeira para celulose em Eucalyptus e Corymbia. As sementes das plantas foram expostas aos efeitos desse método simulado (nas escalas 3, 5 e 7G, durante o período de um a nove dias, de forma direta e intermitente) no laboratório de Farmácia Aeroespacial Joan Vernikos do Centro de Pesquisa em Microgravidade da PUCRS (MicroG). Atualmente, os materiais seminais estão sendo avaliados em experimentos de campo na área florestal da CMPC, localizada na região de Guaíba (RS). Essa tecnologia está protegida por patente concedida nos Estados Unidos, com o pedido pendente de análise no Brasil e na Europa.
Para a simulação de hipergravidade, as sementes foram acomodadas em papel de germinação umedecido, e então colocadas em um protótipo de centrífuga construída no MicroG. “As sementes foram avaliadas quanto a taxa de germinação, tamanho das raízes e da parte aérea. O grupo controle consistiu de sementes não submetidas aos tratamentos de hipergravidade, mas mantidas nas mesmas condições de umidade, temperatura e luminosidade”, explica a professora Marlise Araújo dos Santos, coordenadora do MicroG.
Ainda, segundo a coordenadora, ao comparar as sementes submetidas à hipergravidade simulada com as sementes do grupo controle, foi observado que a simulação desse método proporcionou um aumento no número de sementes germinadas, assim como um incremento no tamanho e no desenvolvimento das mesmas. “Pesquisas realizadas em outras espécies vegetais, no Centro, demonstraram que a hipergravidade simulada pode alterar qualitativamente e quantitativamente a produção dos óleos essenciais, cujos componentes possuem diversas atividades terapêuticas. A próxima etapa é investigar o comportamento genético de diferentes espécies vegetais frente a diferentes protocolos desse método simulado”, diz.
Na fase atual da pesquisa, as instituições estão investindo no desenvolvimento de um protótipo do equipamento para testes com materiais micropropagados. Essa nova fase de testes envolverá o Laboratório de Biotecnologia Vegetal da PUCRS, onde plantas cultivadas in vitro serão multiplicadas originando plantas-clone para os testes em hipergravidade. Segundo o coordenador do laboratório, professor Leandro Astarita, as plantas micropropagadas são mais suscetíveis a sofrerem modificações permanentes em seu desenvolvimento, permitindo uma avaliação mais precisa de alterações que levam a incrementos em materiais clonais conhecidos. “Possibilita identificar as mudanças e melhorias no crescimento, na qualidade da madeira e no produto final”, complementa.
Segundo Brígida Valente, pesquisadora da CMPC, com base nos resultados obtidos até o momento, é possível concluir que a hipergravidade apresenta potencial de aplicação em programas de melhoramento genético e deve ser cientificamente melhor entendida. “O uso de materiais clonais conhecidos possibilitará identificar claramente as alterações e melhorias no crescimento, na qualidade da madeira, e no produto final para o mercado de celulose”, comenta.
Diante deste cenário de várias possibilidades técnicas, esta é a proposta de sinergia entre PUCRS e CMPC, uma parceria para gerar inovação e criar valor de mercado. Desta maneira, é possível incrementar a competitividade do setor florestal e de celulose como um todo.
A grande expectativa dessa parceria com a CMPC se deve aos resultados positivos obtidos em outros experimentos (em menor escala), realizados pelos pesquisadores do MicroG, como nos casos da salsa, da rúcula e do manjericão. No teste da simulação da hipergravidade com a salsa foi extraído quatro vezes mais safrol (óleo essencial utilizado na fabricação de inseticidas biodegradáveis, de cosméticos e produtos farmacêuticos) do que das plantas controle. Com relação a rúcula, um componente descrito na literatura científica como anticancerígeno correspondeu a aproximadamente 50% da composição do óleo essencial da planta. Já as sementes de manjericão submetidas à hipergravidade geraram 3,5 vezes mais flores.
“Sabemos que o eucalipto é uma planta superior e, possivelmente, não terá o mesmo comportamento que as hortaliças testadas. Por outro lado, a simulação vem gerando reações positivas nas plantas”, enfatiza a coordenadora do MicroG.
Pesquisadores da PUCRS participam da primeira missão espacial brasileira na órbita da Lua. O grupo do Centro de Pesquisa em Microgravidade (MicroG) pretende avaliar o efeito da baixa gravidade, da radiação lunar e da magnetosfera em cultura de células humanas. Para isso, amostras de células serão colocadas dentro de um nanossatélite (pequeno satélite não tripulado), que orbitará a Lua durante seis meses. A missão batizada de Garatéa, que significa “busca-vidas” em tupi-guarani, é formada também por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS), do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Mauá de Tecnologia. A expectativa é de que o lançamento ocorra em 2020.
Serão feitos estudos inéditos que podem ser um grande avanço para as pesquisas espaciais. Pela primeira vez, serão enviadas células humanas para a órbita lunar, com o objetivo de entender como elas se comportam em termos de proliferação, sobrevida e alterações genéticas no ambiente espacial. Essas amostras serão monitoradas à distância a partir de uma transmissão e os dados coletados serão comparados com material semelhante que ficará na PUCRS. “Queremos saber como o corpo reage à exposição da microgravidade e da radiação para futuras expedições a Marte ou à Lua e pensar em alternativas preventivas de saúde e sobrevivência. Temos como hipótese que a combinação dos fatores será maléfica para as células, mas é uma incógnita”, explica a coordenadora geral do MicroG, Thais Russomano.
Para a professora Marlise Araújo dos Santos, coordenadora do Laboratório de Farmácia Aeroespacial Joan Vernikos do MicroG, à qual a pesquisa está diretamente ligada, a participação na missão é a concretização do reconhecimento pelos 17 anos de trabalho dos pesquisadores do Centro de Pesquisas da Universidade. De início, serão cinco profissionais da PUCRS das áreas de Fisiologia, Farmácia e Engenharia envolvidos no projeto. Marlise conta que o experimento e a definição das células que serão estudadas ainda estão em análise, o que depende da capacidade técnica que estará disponível na estrutura onde o material será armazenada.
O satélite brasileiro será enviado ao espaço junto com um grupo de seis satélites de outros países em um foguete, com a cooperação da Agência Espacial Europeia (ESA) e da Agência Espacial do Reino Unido (UK Space Agency). A missão está sendo planejada desde 2013 e será feita por meio de uma parceria público-privada. Além dos experimentos da PUCRS, as outras equipes brasileiras farão a captação de imagens da Lua com câmeras e enviarão colônias de microrganismos (conhecidos como extremófilos) para também observar como se comportam no ambiente cósmico. “Participar da primeira missão brasileira nos coloca em um novo patamar de internacionalização, porque pode proporcionar novas possibilidades para nossos pesquisadores e parcerias para projetos, inclusive pela ampliação do relacionamento com as agências espaciais”, planeja Thais.