O Grupo de Pesquisa Violência, Vulnerabilidade e Intervenções Clínicas do Programa de Pós-graduação em Psicologia da PUCRS vem desenvolvendo tecnologias sociais com objetivo de qualificar a atuação de profissionais que atuam com populações em situação de vulnerabilidade social. Crianças, adolescentes, mulheres, pessoas idosas e população LGBTQIAP+ que experienciaram violência familiar e comunitária são o principal público-alvo.
Segundo a professora e pesquisadora da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Luisa Fernanda Habigzang, as tecnologias sociais podem ser definidas como as técnicas e metodologias de transformação social através de processos de inclusão, melhoria da qualidade de vida das pessoas e garantia de direitos, propondo a solução de um problema social. Alguns exemplos de tecnologias sociais podem envolver programas sistêmicos de qualificação de profissionais, intervenções para geração de trabalho e renda, equipamentos de baixo custo para resolução de problema social, intervenções para prevenção de saúde, entre outros.
Dessa maneira, no processo de desenvolvimento e avaliação das tecnologias sociais para capacitação já existentes, o grupo vem atuando em parceria com o Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Secretaria da Educação e com o Comitê Interinstitucional de Enfrentamento à Violência contra Mulher do Rio Grande do Sul. Assim, está presente em diferentes frentes, entre elas:
Com isso, professores, enfermeiros, epidemiologistas, sanitaristas, psicólogos e assistentes sociais já foram capacitados pelas iniciativas do grupo de pesquisa, conectando o espaço acadêmico ao social.
“O investimento em tecnologias sociais é um importante caminho para a articulação e desenvolvimento científico e social, contribuindo com a missão da Universidade de desenvolver pesquisas e tecnologias comprometidas com excelência e transformação social”, comenta Habigzang.
Para que esses desenvolvimentos tecnológicos tenham eficiência social, a professora destaca que é fundamental compreender as demandas sociais através de relatórios governamentais e não-governamentais, políticas públicas existentes e legislações vigentes. Além disso, é importante a escuta de gestores e profissionais que atuam no enfrentamento do problema, acompanhados de pesquisas científicas, bem como a participação do público-alvo e a definição clara de indicadores que avaliem a efetividade do impacto.
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Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 tiveram, pela primeira vez, um número de atletas mulheres participando da competição quase igual ao masculino. A edição também foi marcada pela inédita participação de uma atleta transgênero em uma categoria feminina. Celebrado nesta quinta-feira, 23 de junho, o Dia do Atleta Olímpico, foi criado em homenagem à fundação do Comitê Olímpico Internacional, em 1894. A data também tem como objetivo promover o movimento olímpico em todo mundo, incentivando a prática esportiva.
Apesar de, normalmente, o foco das olimpíadas estar voltado às competições, diversas questões sociais permeiam a prática dos esportes. O coordenador do Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos da PUCRS e presidente do Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin, que tem sede na Universidade, Nelson Todt, explica a importância dos Jogos para a visibilidade diferentes temas.
“Os Jogos Olímpicos são o maior evento esportivo do mundo e ele reflete todo o contexto social exterior a ele. Com isso, ao abordar questões sociais em um evento de tamanha dimensão, é dada uma atenção maior a essas problemáticas”.
Em uma parceria entre o eMuseu do Esporte, a PUCRS, a UERJ, a Acnur, a Unesco e a Unic Rio, em agosto de 2021 foi lançada a exposição virtual Reflexões Olímpicas e Dignidade Humana, que abordou Jogos Olímpicos e inclusão através do esporte. Confira uma seleção de momentos, realizada pelo professor Todt, nos quais as questões sociais estiveram presentes no evento e saiba mais sobre a exposição virtual.
Os Jogos Olímpicos tiveram seu início na Antiguidade Clássica. Na época, podiam participar apenas cidadãos gregos, ou seja, homens nascidos no território que hoje conhecemos como Grécia. Nesse contexto, além de não poderem participar dos jogos, as mulheres sequer podiam estar presentes na arquibancada. Esquecida por anos, essa competição foi retomada por Pierre de Coubertin, o criador dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Sua primeira edição, ocorrida em 1896, na cidade de Atenas, também não permitia a participação feminina. No entanto, mulheres passaram a competir na segunda edição, em 1900.
Apesar disso, apenas em 1991 se tornou obrigatória a inserção de categorias femininas em todas as modalidades esportivas. Na edição posterior a essa determinação, em 1992, menos de três a cada dez atletas eram do gênero feminino. Somente nos Jogos Olímpicos de Tóquio, a competição passou a ter um patamar próximo da plena igualdade de gênero. Atualmente, as mulheres representam 48,8% dos/as atletas e a expectativa é de que em 2024 a igualdade seja ainda maior.
Em 1968, no pódio da competição de 200 metros rasos, os atletas que conquistaram o ouro e o bronze, Tommie Smith e John Carlos, levantaram os punhos cerrados utilizando uma luva preta durante a execução do hino nacional dos Estados Unidos. Esse gesto é conhecido como símbolo dos Panteras Negras, movimento afro-americano. Na época, a luta contra a segregação racial nos EUA estava em um dos seus momentos mais críticos, após o assassinato de Martin Luther King Jr. Por conta da manifestação política, que era vedada pelo Comitê Olímpico Internacional, os atletas foram penalizados.
Nos Jogos Olímpicos de Tóquio houve uma flexibilização dessa proibição. As manifestações políticas não serão passíveis de punição, desde que não aconteçam no pódio ou durante os eventos. Também não é permitida qualquer ação que tenha uma pessoa, país ou organização como evidente alvo. Antes mesmo da abertura oficial, protestos contra o racismo foram realizados nas competições do Futebol Feminino: jogadoras das seleções da Grã-Bretanha, Chile, Estados Unidos, Suécia e Nova Zelândia ajoelharam-se antes do início de suas partidas, um gesto que relembra a morte de George Floyd, ocorrida no ano passado.
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Dora Ratjen representou a Alemanha no salto em distância feminino em 1936. Anos após a competição, ele descobriu sua identidade de gênero masculino ou intersexo. Aos 21 anos, o atleta alterou seu nome para Heinz Ratjen.
Após a carreira no esporte, a polonesa Stella Walsh, medalhista em atletismo nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932, e nos de Berlim, em 1936, também teve descoberta a identidade de gênero intersexo.
Ratjen e Walsh não foram os únicos casos, outros atletas intersexo competiram em determinado gênero. A questão ainda gera controvérsia no esporte, seja por preconceito ou sob o argumento de que o desequilíbrio hormonal traria vantagens a esses competidores.
Em Tóquio, foi a primeira vez que o Comitê Olímpico Internacional (COI) permitiu a participação de uma atleta transgênero em uma categoria feminina: a halterofilista neozelandesa Laurel Hubbard. A organização determinou que quem fez a transição do sexo masculino para o feminino, e vice-versa, antes da puberdade, poderá competir na categoria desejada, sem restrições. No entanto, aqueles que realizaram a transição após esse período devem cumprir alguns requisitos. No caso de mulheres transgênero, como Laurel, é necessário comprovar que o nível de testosterona em seu sangue permaneceu inferior a 10 nanomol/litro por ao menos 12 meses antes de sua primeira competição e durante todo o período em que estão competindo.
O Grupo de Pesquisa em Estudos Olímpicos, coordenado pelo professor Todt, realiza, em seu canal no YouTube, as Reflexões Olímpicas, que buscam discutir questões diversas acerca do olimpismo. Alguns assuntos abordados foram LGBTQIA+, liberdade de expressão e gênero.
Além disso, a exposição do eMuseu do Esporte conta com galerias e exposições em 3D, com entrevistas com diversas personalidades e especialistas das áreas de filosofia e estudos olímpicos. A exposição aborda os temas: Esporte e Valores, Intersexualidade, Refugiados e Liberdade de Expressão. A exposição usa como cenário os Jogos Olímpicos e Paralímpicos para tratar temas sociais, humanos e esportivos e a curadoria foi realizada pelos professores Nelson Todt, do curso de Educação Física da PUCRS, e Lamartine da Costa, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
A iniciativa é do eMuseu do Esporte, em parceria com o Comitê Brasileiro Pierre de Coubertin (CBPC), com apoio institucional do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio) e da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), em cooperação com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
É possível visitar a exposição a partir da data de lançamento acessando o site do eMuseu do Esporte.