Os professores Juremir Machado e Eduardo Pellanda foram convidados a integrar painel sobre desinformação  na Suíça/ Foto: Matheus Gomes

O tema da Cúpula do Prêmio Nobel deste ano, realizada no final do mês de maio, em Washington D.C., nos Estados Unidos, abordou o combate à desinformação e a crise de confiança em sociedades democráticas. Durante a programação foi lançado o Painel Internacional sobre o Ambiente Informacional (IPIE, sigla em inglês), um consórcio independente e global de cientistas que busca fornecer conhecimento sobre ameaças ao ambiente internacional de informações. Os professores e pesquisadores Eduardo Pellanda e Juremir Machado, da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos), foram convidados a integrar a iniciativa. 

De acordo com o diretor do IPIE e professor da Universidade de Oxford, Phil Howard, a iniciativa é a maior rede global de pesquisa comprometida em construir um ambiente informacional mais saudável. Manipulação algorítmica, vieses, discurso de ódio e deep fakes são algumas das temáticas tratadas pelo consórcio. O projeto conta com mais de 200 pesquisadores de 55 países que irão contribuir com pesquisas e produções em áreas de conhecimento distintas. 

Para Juremir, o painel é uma iniciativa de caráter internacional muito relevante, reunindo instituições e pesquisadores de várias partes do mundo.  

“A ideia é refletir sobre o universo da informação e especialmente da desinformação em tempos de aceleração tecnológica. A questão da desinformação está entre as mais preocupantes da atualidade pelo potencial que tem de ameaçar democracias e de fortalecer perspectivas de negação inclusive da ciência”, comenta. 

Para Pellanda, é uma oportunidade de entender a desinformação como algo multidisciplinar e multicultural. 

“Sentar para discutir o tema com pesquisadores de outros 55 países é extremamente valioso e é uma honra poder colaborar de alguma forma com este tema tão importante. Cada discussão que gerou o painel mostrou a quantidade de desdobramentos prejudiciais que a desinformação pode causar na sociedade. Poder pesquisar com um impacto direto na sociedade é motivador”, adiciona. 

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Repórteres e apresentadores negros são menos de 6% no telejornalismo gaúcho - Pesquisa realizada pelo jornalista Gabriel Bandeira levantou dados dos sete principais veículos do Rio Grande do Sul

Índice de repórteres e apresentadores negros no telejornalismo gaúcho / Foto: Reprodução

Apenas oito, dentre 134. Este é o número total de pessoas negras que atuam nas equipes de reportagem e apresentando os programas dos sete principais veículos de comunicação do estado. Os dados são da pesquisa A gente não se vê por aqui: o jornalista negro no maior grupo de comunicação do Rio Grande do Sul, desenvolvida por Gabriel Bandeira, durante o seu Trabalho de Conclusão de Concurso (TCC) em Jornalismo, na Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos. 

A pesquisa surgiu a partir de um incômodo constante do autor em relação à ausência de pessoas diversas na área da comunicação e começou a ser planejada ainda em 2020, quando a pauta antirracista estava sendo amplamente debatida após os assassinatos de George Floyd, nos Estados Unidos, e de José Alberto Freitas, na Zona Norte de Porto Alegre. 

“O Brasil tem uma ferida aberta com o seu passado escravocrata, que tem ramificações até hoje. E isso só se acentua em um estado de maioria branca, que historicamente coloca a contribuição negra em segundo plano. A pesquisa foi uma das maneiras que encontrei de tornar o racismo estrutural do mercado de trabalho visível para as outras pessoas. O número é chocante, mas, a partir dele, também é possível pensar no que será feito daqui para frente”, afirma o estudante.

No total, negros representam somente 5,97% dos/as profissionais presentes na programação dos telejornais analisados. Além das entrevistas realizadas com jornalistas negros da televisão gaúcha, o trabalho também aborda questões relacionadas ao racismo, à desigualdade racial na mídia gaúcha e questiona o papel dos veículos de comunicação na luta antirracista. 

Impacto de percepções sem diversidade 

Repórteres e apresentadores negros são menos de 6% no telejornalismo gaúcho - Pesquisa realizada pelo jornalista Gabriel Bandeira levantou dados dos sete principais veículos do Rio Grande do Sul

Jornalista Gabriel Bandeira, formado pela Famecos no segundo semestre de 2021 / Foto: Arquivo pessoal

A desproporção presente nas redações dos veículos de comunicação também reflete na forma de abordar questões do cotidiano. O jornalista ressalta que pessoas negras geralmente aparecem em pautas que são, por um estereótipo, mais focadas em temas comunitários, como: carnaval, ações sociais, marginalização, violência urbana, entre outros. “Temos profissionais negros atuando como médicos, advogadas, cientistas e tantas outras profissões que também são importantes para a sociedade. Precisamos dar mais visibilidade para essas vozes plurais em todos os espaços”, afirma. 

Esses dados também contrastam com a realidade do Brasil que, segundo o IBGE, tem maioria de população negra (56%), mesmo grupo que ocupa a maior parte da força de trabalho (57 milhões, 25% a mais do que os 46 milhões de trabalhadores brancos). Mesmo assim, por questões estruturais consequentes do contexto do racismo histórico, essas pessoas ocupam, em sua maioria, cargos de níveis mais baixos ou com os menores salários. 

O jornalista e professor orientador da pesquisa, Juremir Machado, conta que o processo de elaboração do trabalho foi muito rico: “Gabriel estava muito motivado. O tema e o estudo, que são atuais e pertinentes, tiveram resultados que falam por si. Ele pesquisou bastante, leu muito e fez entrevistas importantes. A excelência do trabalho se confirmou com o parecer da banca, que deu nota máxima à monografia”. Gabriel complementa: “Agradeço a todas as pessoas negras que vieram antes de mim e pavimentaram um caminho possível”. 

Leia também: Estudo aponta que o fato de ser negro no Brasil reduz os rendimentos em 17% 

Quem são os jornalistas negros no telejornalismo gaúcho 

Repórteres e apresentadores negros são menos de 6% no telejornalismo gaúcho - Pesquisa realizada pelo jornalista Gabriel Bandeira levantou dados dos sete principais veículos do Rio Grande do Sul

Banca reconheceu o trabalho de Gabriel Bandeira com nota máxima / Foto: Reprodução

Dentre os 5,97%, cinco são homens e três são mulheres: Fernanda Carvalho, Marck B e Seguidor F (RBS TV); Domício Grillo e Fernanda Bastos (TVE); Marcinho Bléki e Rafael Cavalheiro (SBT RS) e Liliane Pereira (Record TV RS). Band TV RS, TV Pampa e RDC, que somam 36 profissionais de vídeo, não têm nenhuma pessoa negra nesses cargos. 

A pesquisa revisa o trabalho do jornalista e atual doutorando Wagner Machado, publicado em 2009, que encontrou apenas três comunicadores negros dentre 421 jornalistas apurados, somando 0,71% de representação na época. A atualização levou em consideração a programação transmitida entre os dias 14 e 24 de junho de 2021, nas emissoras RBS TV, SBT RS, Record TV RS, TVE, Band RS, RDC TV e TV Pampa. 

Leia também: Onde estão as mulheres negras à sua volta? 

Heróis da saúde, por Juremir Machado

Foto: Ashkan Forouzani/Unsplash

Há categorias que não podem parar numa pandemia. Não param nunca. Mais do que isso, tornam-se mais essenciais do que nunca. Os seus ombros suportam o nosso mundo de tanta fragilidade, medo, incerteza e desconhecimento. No hospital da PUCRS, eu acompanhei o trabalho heroico de médicos e enfermeiros da equipe do doutor Fabiano Ramos. A qualquer hora da noite, sorriam, consolavam, agiam, entregavam-se serenamente ao que estavam fazendo. Eu ficava pensando em cada um deles, moças, rapazes, tão jovens, tão corajosos, tão generosos, tão fundamentais.

Sempre penso nessas pessoas que escolhem as profissões mais difíceis. Como é complexa a natureza humana. Existem os que não sentem medo, os que se dedicam aos outros, os que exercem a grandeza moral com a tranquilidade de quem, fazendo pequenas ou grandes coisas, sabe entregar a vida ao cuidado do próximo. A emoção ainda não me permite falar dos nomes que têm me ajudado. É como se eu guardasse algo sagrado para um momento especial. Penso neles com carinho. Revejo-os por trás de suas máscaras. Lembro-me de cada palavra que me disseram, da tranquilidade, da serenidade, do conhecimento, do sentido de missão,

Sempre digo que heróis são professores, especialmente professores de ensino fundamental e médios, essas mulheres e homens que andam por este Brasil profundo levando luzes, esperanças, consolo, conselhos e informações. Devo acrescentar que o pessoal da saúde não fica atrás. Cada um que entrava no meu quarto, eu me perguntava: como teria escolhido a saúde? De onde viria? Como chegaria em casa depois de uma jornada de trabalho? Como manter a calma em tempos de tanta tensão e incerteza? No entanto, heroicos e impávidos, lá estavam eles todos os dias e noites, tendo a cada entrada de vestir roupas complicadas.

Quero saudar esses profissionais idealistas em geral, hostilizados em alguns lugares, que escolheram cuidar de nós. Neste mundo de serviços, muitas vezes não pensamos que esse não é um serviço como outro qualquer. Deve ser mesmo uma vocação. Vi médicos e enfermeiros, homens e mulheres, jovens ou menos jovens, que carregavam sabedoria nas expressões francas e cristalinas. Eu me sentia tão desemparado. Eles me passavam tanta confiança, tanta força de presença, tanto amparo psicológico. Nessas situações, parece inevitável, há um momento em que a gente se pergunta: por que eu? Por que comigo?

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Foto: Bruno Todeschini

Os profissionais da saúde, heróis do cotidiano, pareciam me responder silenciosa e empaticamente: não importa, estamos aqui contigo para o que der e vier. Eu me sentia constrangido em incomodá-los, em tocar a campainha por um desconforto qualquer, eles liam meus pensamentos e me estimulavam a não hesitar. Imagino o combate desses heróis em todo o Brasil. Eles são os soldados na linha de frente. A luta será longa e com meios limitados. Cada ato será de valentia, de missão e de humanidade. Quantas vezes, por alguma coisa irrisória ou nem tanto, desacreditamos na humanidade. Os heróis da saúde renovaram a minha crença na humanidade, no humanismo e no humanitarismo. Meus heróis agora têm nome, profissão, rostos por trás das máscaras.

“Imagino o combate desses heróis em todo o Brasil. Eles são os soldados na linha de frente. A luta será longa e com meios limitados. Cada ato será de valentia, de missão e de humanidade.”

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Juremir Machado / Foto: Bruno Todeschini

*texto originalmente publicado no jornal Correio do Povo

No dia 1º de janeiro, completarei 40 anos de Porto Alegre. Grande parte deles passados na Famecos, a Faculdade de Comunicação da PUCRS. A marca Famecos é tão forte que, mesmo com a mudança do nome para Escola de Comunicação, Artes e Design, a sigla permaneceu. Em 1980, quando entrei na Famecos, fiquei deslumbrado. Foi lá que conheci amigos eternos como Telmo Flor e David Coimbra. Lá, entre jovens descolados e professores maravilhosos, aprendi muito. Aprendo até hoje. Vou fechar 25 anos como professor na Famecos. Neste quarto de século, mudou quase tudo: passamos da máquina de escrever aos tablets.

O jornalismo deu um salto vertiginoso em tecnologia. Continua, na essência, sendo a arte de apurar e contar grandes histórias, especialmente, como diz uma famosa tirada, aquilo que alguém gostaria de esconder. A Famecos acompanha essas transformações, reinventando-se a cada dia. Está mais bonita no seu espaço clássico, o prédio 7. Professores com doutorado e pós-doutorado ensinam, aprendem e pesquisam. Estudantes ganham prêmios e apresentam trabalhos em eventos internacionais de renome. A sala de aula muda, fica mais dinâmica, para que se cumpra a meta de sempre: preparar para o trabalho, a reflexão, a interpretação dos fatos, a leitura do mundo, a cidadania.

Em tempos de governos hostis ao jornalismo, com represálias para enfraquecer o campo, como fulminar o registro profissional, a Famecos renova-se enfatizando a importância do diploma universitário. É quase impossível ser bom aos 20 anos de idade, salvo para gênios improváveis, sem passar pelos bancos de uma faculdade. Jornalismo não é inspiração nem sorte. É trabalho, repertório, sistematização, cultura, método. A Famecos tem um jeito próprio, descontraído, livre, jovem, que se associa à seriedade e à permanente qualificação dos seus professores. Não para nunca. É um vaivém de colegas indo a grandes congressos, uma profusão de publicações, atualizações em tempo real.

Nestes 40 anos, primeiro como estudante de graduação e especialização, depois como professor, nunca deixei de me encantar com o espírito Famecos: leveza, seriedade, alegria, forma e conteúdo. Alguns dos melhores caras de cinema, internet, games, comunicação organizacional, publicidade, design, estudos de imaginário, estão na Famecos. Eu vivo o dia a dia da Famecos. Tudo isso para mim é normal. Tem momentos, contudo, em que eu me pego pensando: como tudo isso é legal! Que bela construção. A maior ingenuidade de um jornalista é achar que o tempo de faculdade não contou para a sua formação. Há mentalidades simplórias e positivistas que ainda pensam a educação como quartel. Aprende-se de várias formas, dentro e fora da sala de aula. O tempo de maturação de cada um é diferente. A semente germina.

Falo da Famecos por ser assim: há dias em que me comovo com os lugares onde vivo, que me fazem crescer, ficar melhor, apesar de minhas limitações, sonhar e querer mais. A grande riqueza da Famecos são seus alunos e professores. Quanto devo a esses colegas que me ensinam diariamente sem cobrar! E a esses alunos com olhos brilhando!

O curso de Jornalismo da Famecos

O bacharelado em Jornalismo da PUCRS já formou cerca de 5 mil profissionais, reconhecidos no mercado pela qualidade do ensino. O curso está com inscrições abertas já para o próximo semestre e conta com uma infraestrutura completa, com aulas práticas que capacitam os alunos para trabalhar em todas as plataformas e áreas do Jornalismo.