Você está com sono, se arruma para descansar, mas não consegue dormir ou acaba acordando várias vezes durante a noite. Essa é a realidade de muitas pessoas durante a pandemia e que tem atingido grande parte das crianças. É o que mostra a pesquisa Como está o seu sono nessa quarentena?, que investiga os impactos do confinamento domiciliar no sono de adultos e de seus filhos. O estudo, realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Pediatria e Saúde da Criança da Escola de Medicina da PUCRS, deve seguir até o final do período de quarentena causado pela Covid-19.
Segundo a professora responsável pelo estudo, Magda Lahorgue Nunes, pesquisadora do Instituto do Cérebro da PUCRS (InsCer) e do PPG, esses problemas na hora de dormir estão relacionados às mudanças na rotina das crianças e dos adolescentes. “Algumas acabam dormindo mais tarde, outras não estão acostumadas a ficar tanto tempo em casa. É uma dinâmica nova para todo mundo”, explica.
As informações foram coletadas a partir da sétima semana da quarentena, com foco no Rio Grande do Sul. “Houve aumento da prevalência em ambas faixas analisadas, mas, na primeira, dobrou”, destaca Magda. Para comparar os resultados, os dados foram divididos em três partes:
Para coletas as respostas das crianças e dos adolescentes, diferente dos adultos, os pais quem responderam as questões relacionadas à percepção sobre o sono dos filhos/as. E, a partir disso, foram aprofundados os fatores que poderiam ter influenciado nessas mudanças. Os/as pesquisadores/as criaram uma nuvem de palavras com as respostas mais frequentes. Entre os adultos, se destacaram a ansiedade e as preocupações. Já com as crianças foram os hábitos de dormir mais tarde e a falta de rotina.
Magda conta que quase metade da população reclama de insônia, dependendo do País. Conhecida como “insônia subjetiva”, cerca de 20% a 40% das pessoas se queixam de ter problemas para conseguir dormir ou dormem mal. Durante a pandemia, isso pode se intensificar.
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Para Juliana Tonin, da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos, pesquisadora da PUCRS e coordenadora do Laboratório de Pesquisas da Comunicação nas Infâncias (LabGim), a reorganização das atividades escolares e profissionais aconteceu de maneira brusca. E se, para adultos, assimilar tantas informações e adaptações pode ser uma tarefa difícil, para crianças não é diferente.
Confira neste link a matéria completa onde a pesquisadora explica as melhoras alternativas para ter um diálogo afetivo e empático com as crianças durante esse período. Segundo ela, “é preciso deixar claro que essa situação não é algo que está sendo sofrido exclusivamente pela criança, mas, sim, algo que atinge o coletivo, uma condição nova pela qual todos estão passando no momento”.
O desenvolvimento de pesquisas, principalmente em uma pandemia, impacta diretamente no bem-estar das crianças. “A pesquisa busca respostas que ainda não temos ou o aprofundamento das problemáticas já existentes. Por isso, ela tem a sua importância de uma devolutiva a sociedade”, explica Samanta Andresa Richter, doutoranda do PPG.
No estudo Avaliação clínica e manejo da insônia em pacientes pediátricos, também realizado pela professora Magda, de 1999 a 2004, ela alerta que quando uma família procura um profissional com a queixa de que seu filho não dorme, é necessário avaliar todo o contexto. “Já na primeira consulta, a investigação deverá ser completa, isto é, considerar que a criança é corpo e mente e que as experiências pessoais e familiares do dia-a-dia têm uma grande influência em seu comportamento, sendo o sono uma das formas de sua manifestação”, explica.
Para Melissa Taurisano, aluna de Graduação da Escola de Medicina da PUCRS e integrante do projeto, a relevância da pesquisa está ligada à comprovação de informações, evitando consequências negativas no desenvolvimento dos jovens. “Atualmente, muitas pessoas acreditam em qualquer coisa que leem, mas é necessário verificar. A meu ver, o embasamento científico traz a verdade de maneira racional para a sociedade, sem ‘achismos’ e vieses extremos. É uma questão que beneficia a todos”, reforça.
O estudo, que leva em consideração crianças e adolescentes, faz parte de uma força-tarefa multidisciplinar da Universidade que reúne mais de 50 profissionais e pesquisadores, de diversas áreas, na busca por soluções envolvendo a pandemia.
Ainda serão levantados dados de georreferenciamento para identificar possíveis efeitos regionais do confinamento domiciliar, podendo avaliar: a sonolência excessiva durante o dia; sinalização de piora na qualidade do sono; e se essas modificações são permanentes ou transitórias.
Magda Lahorgue Nunes é professora da Escola de Medicina da PUCRS desde 1991 e coordenadora acadêmica do InsCer desde 2014, além de ser membro do Serviço de Neurologia do Hospital São Lucas da PUCRS desde 1990. Tem título de especialista em Pediatria (SBP-AMB) e Neurologia (ABN-AMB) com áreas de atuação em Neurologia Infantil e Medicina do Sono.
O conceito 6 do PPG obtido pela Capes é consequência do trabalho de vários profissionais ao longo de muitos anos. Com linhas de pesquisas produtivas em áreas básicas e aplicadas relacionadas à Saúde da Criança, gera produções científicas de alto fator de impacto social e estratégico para a área da saúde. O programa está com inscrições abertas até o dia 19 de junho!
Verificar os impactos do confinamento domiciliar como medida de contenção, em função da pandemia de Covid-19, na qualidade do sono de adultos e de seus filhos, é o principal objetivo do estudo liderado pela vice-diretora do Instituto do Cérebro (InsCer) e professora na Escola de Medicina da PUCRS, Magda Lahorgue Nunes. O estudo faz parte de uma força-tarefa multidisciplinar, da universidade, que reúne mais de 50 profissionais e pesquisadores, de diversas áreas, na busca por soluções envolvendo a pandemia.
É nesse sentido que, o estudo pretende, ainda, levantar dados de georreferenciamento para identificar possíveis efeitos regionais do confinamento domiciliar, bem como a presença de sonolência excessiva diurna e avaliar se, nos casos em que os indivíduos respondentes sinalizarem uma piora da qualidade do sono durante o confinamento domiciliar, se estas são modificações permanentes ou transitórias. Esses dados partem de uma iniciativa mais ampla que pretende, também, estudar o impacto da Covid-19 e da quarentena em aspectos cognitivos e comportamentais das crianças, com especial interesse nas crianças com transtornos do desenvolvimento, durante e após a pandemia.
O grupo, liderado pela vice-diretora do InsCer, é constituído por neurologistas infantis, psiquiatras, psicólogos e educadores e as atividades previstas versam sobre diversos temas, que vão desde pesquisas a nível molecular e de marcadores de estresse, alterações acadêmicas e comportamentais a questões de influência no sono.
Por se tratar se tratar de um estudo de base populacional, o questionário, que avalia os impactos do confinamento domiciliar, devido à pandemia de Covid-19, no sono, foi desenvolvido para que os respondentes pudessem participar de forma online, com anonimato opcional, intentando atingir o maior número de pessoas possível, em todo o Brasil. O questionário está disponível neste link.
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Desde que a pandemia do novo coronavírus se iniciou e, especialmente, quando o distanciamento social causado pela quarentena se tornou uma realidade, muitas pessoas têm observado mudanças no sono. Sonhar e lembrar dos sonhos – muitas vezes mais perturbadores do que de costume – com uma frequência maior do que a normal é uma delas. Outra questão bastante comentada é a dificuldade para dormir. Se você se enquadra em um desses casos, pode ter certeza de que não está só. E há explicações para isso.
Primeiramente, é importante dizer que todos nós sonhamos todas as noites – e não há nada de errado nisso. Pelo contrário. Segundo a professora da Escola de Medicina e vice-diretora do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer) Magda Lahorgue Nunes, sonhar é uma atividade benéfica para o cérebro, demonstrando que sua função está normal. “Existem várias teorias em relação à função dos sonhos, entre elas a de que ajudam a consolidar memórias, a regular o humor e a treinar comportamentos não apresentados quando estamos acordados”, explica.
O motivo de nem sempre lembrarmos do que sonhamos é que essa recordação depende da transferência de conteúdo da memória recente para a remota, e isso só é possível quando existe algum grau de despertar (chamado de microdespertar) após o sonho ter acontecido.
Do ponto de vista da psicanálise, sonhar também é algo positivo e até mesmo importante – principalmente em um contexto de pandemia. Conforme a professora do curso de Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Carolina de Barros Falcão, trata-se de uma atividade elaborativa, uma via por meio da qual podemos significar o que estamos vivendo.
O sonho é uma atividade mental que acontece enquanto estamos dormindo. Ele é consequência da ativação cortical que ocorre na fase REM (rapid eye movement, ou movimento rápido de olhos) do sono. Esse estágio chega após três outras fases: N1 (transição da vigília para um sono mais profundo, mas ainda leve), N2 (desconexão do cérebro com os estímulos do mundo real) e N3 (sono profundo, com descanso da atividade cerebral).
No estágio REM, o cérebro volta a ficar ativo, tanto quanto o de uma pessoa acordada. Por isso, conforme Magda, a atividade fásica que ocorre nessa fase se relaciona com a imagética visual dos sonhos, permitindo que tenhamos sonhos complexos, semelhantes a histórias. Em uma noite, podemos ter entre quatro e seis ciclos de sono, incluindo os estágios não-REM e REM, sendo que cada um deles dura cerca de 90 minutos.
Conforme a professora Carolina, a psicologia tem muitas teorias diferentes para o sonho – algumas que coincidem mais com o olhar médico, outras que se afastam um pouco. “A psicanálise vai trabalhar com uma leitura e com um modelo de psiquismo que não descarta o corpo e o orgânico, mas que pensa que os processos psíquicos não estão apenas relacionados com os processos biológicos”, ressalta.
Para a leitura psicanalítica, o sonho é uma produção psíquica muito importante. “Temos, no sonhar, uma atividade muito privilegiada de trabalho psíquico, porque estamos ‘protegidos’ da realidade. E é por isso que podemos sonhar as coisas mais malucas que existem”, destaca Carolina.
Segundo a vice-diretora do InsCer, os sonhos são construídos com base em experiências remotas e em preocupações atuais. E a vivência intensa do tema coronavírus e de tudo o que essa pandemia implica pode ser uma explicação para estarmos nos lembrando mais dos sonhos. “As restrições de convívio social, a quebra de rotina, questões financeiras, o medo e a ansiedade sobre a gravidade do que está acontecendo já são motivos fortes o suficiente para sonharmos mais”, aponta Magda.
Carolina complementa dizendo que a pandemia da Covid-19 fez com que todos precisassem mobilizar suas vidas de forma muito rápida, fazendo adaptações no modo de viver e tolerando perdas muito contundentes na rotina. “Um motivo para que tantas pessoas estejam sonhando mais pode ser porque estão recorrendo a todas as possibilidades de trabalhar psiquicamente. O sonho tem sido uma forma muito importante de descarga dessas intensidades que estamos vivendo, do psiquismo encontrar uma forma de dar conta e de elaborar tudo isso”, diz.
A professora de Psicologia ainda aponta que, além dos acontecimentos atuais, na hora de se analisar um sonho e tentar entendê-lo, é preciso levar em consideração todo o contexto da pessoa que o sonhou: “Não sonhamos só por causa do coronavírus, da pandemia ou das restrições que estão impostas. Sonhamos porque essas situações de hoje tocam naquelas que já eram as nossas questões, nossos conflitos. Quando sonhamos, resolvemos essa dupla mobilização: a interna, do nosso mundo psíquico; e a externa, daquilo que nos invade – nesse caso, o tema da morte, do adoecimento”. Carolina conclui reforçando que o fato de as pessoas estarem sonhando significa que estão metabolizando as situações traumáticas que estão vivendo nesse momento de pandemia, e que isso é algo muito positivo.
Em relação à dificuldade para dormir, Magda destaca que as mudanças na rotina podem ser um dos causadores. “Queixas de insônia estão sendo muito frequentes durante a quarentena. Isso certamente é decorrente de quebras nas rotinas, da falta de necessidade de cumprir horários, além do relaxamento nos aspectos de higiene do sono, como variações no horário de dormir e de acordar e o uso excessivo de telas”, afirma.
Para manter a saúde do sono, apesar de todas mudanças e das preocupações causadas pela pandemia, é importante tentar seguir uma rotina. “Ter um horário para dormir e acordar, evitar o uso de telas pelo menos 30 minutos antes de dormir, não fazer uso excessivo de álcool, optar por refeições leves à noite e evitar bebidas com cafeína podem ajudar”, sugere Magda.
O InsCer desenvolveu uma pesquisa para avaliar como está o sono da população brasileira durante a quarentena. O participante, de acordo com sua idade e/ou a idade de seus filhos, é direcionado a um questionário específico para fazer essa avaliação. Ao fim, será redirecionado a uma página com informações sobre como é o sono normal nas diferentes faixas etárias e receberá dicas, conforme a idade, de como dormir bem. A pesquisa está disponível neste link.
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