O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), que mede a inflação oficial do País, atingiu 1,25%, no mês de outubro, o maior número desde 2002. Com isso, o IPCA atingiu 10,67% nos últimos 12 meses, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Coordenador do Programa de Pós-Graduação (PPG) em Economia do Desenvolvimento, o professor Augusto Mussi Alvim explica que a política econômica brasileira no século 21 sempre esteve marcada por uma orientação pelo controle da inflação através das metas definidas pelo Banco Central.
“De uma maneira geral, independentemente da legenda partidária no governo federal brasileiro, a política de metas de inflação tem sido fundamental para seu controle. Em 2021, a meta é de 3,75% e a expectativa para inflação supera os dois dígitos, o que contribui para que boa parte dos agentes já apostem em maiores reajustes de preços. Se consideramos desde o plano Real, o IPCA somente superou os dois dígitos em 1995, com 22,41% a.a.; em 2002, com 10% a.a.; e em 2015, com 10,67% a.a.”, destaca.
Analisando inicialmente cenário global, a pandemia da Covid-19 contribuiu para mudanças significativas e estruturais em diversas instâncias, como na organização das cadeias de valor globais e regionais, na organização do mercado e do espaço de trabalho, na forma de fazer negócios e no consumo e investimentos na maior parte dos países do mundo. Essas alterações têm desencadeado oscilações generalizadas nos preços, que no curto e médio prazo se apresentam como um desalinhamento entre o poder de compra e os preços dos produtos.
No Brasil, uma série de fatores contribuem para o aumento da inflação. De acordo com a professora do PPG em Economia do Desenvolvimento, Izete Pengo Bagolin, alguns exemplos são os aumentos nas taxas de juros e nos preços dos combustíveis – que afetam tanto os gastos das famílias quanto os custos de produção de diversos produtos. Além disso, há um aspecto que ainda é herança do histórico inflacionário pré-regime de metas de inflação que reajusta diversos preços com base na inflação.
O principal efeito da inflação está no poder de compra imediato das pessoas, afetando o planejamento e a capacidade de investimento da população. “Além de conseguir comprar menos no supermercado, as pessoas pagarão mais juros em prestações, terão mais dificuldade de pagar dívidas, enfrentarão maiores reajustes de mensalidades das escolas e diversos outros problemas”, explica a professora Izete.
Este impacto é ainda mais intenso nas classes mais pobres da sociedade, que dependem da renda para necessidades básicas, como explica o professor Augusto. Ele pontua que a elevação dos preços também contribui para o aumento da desigualdade social brasileira, intensificada neste tempo de pandemia.
“Como não foram realizadas mudanças estruturais no País como, por exemplo, a reforma tributária e fortes investimentos em educação, para alcançar níveis de excelência no ensino básico e médio público, nos momentos de crise (pandemia) o País tende a voltar a mostrar alguns problemas antigos, como elevado custo de produção, elevada desigualdade social e inflação”, observa.
As medidas para evitar a inflação no País a curto prazo são restritas e nada fáceis no atual contexto, em função das causas estarem ligadas a fatores externos ou legais, como explicam os especialistas da Escola de Negócios. A professora Izete Bagolin acredita que a situação no próximo ano não deve se alterar de forma muito significativa em relação ao cenário de 2021.
“Apesar da melhoria do quadro sanitário do País, o próximo ano será difícil em função do ambiente político e incertezas eleitorais. Possivelmente, uma retomada mais consistente, com investimentos de longo prazo, atração de investimento estrangeiro e crescimento econômico mais expressivo só serão possíveis ocorrer quando o ambiente institucional interno melhorar”, sugere.
Já o professor Augusto Alvim pondera as grandes lições que a pandemia trouxe para a população brasileira. “Independentemente das ações do setor público, a sociedade do nosso País mostrou a capacidade de se organizar e cooperar em momentos de extrema dificuldade. E, em tempos de estagflação, torna-se ainda mais importante relembrar como é importante criar novas formas de trabalho, de negócios e de ações colaborativas. Por isso, acredito que 2022 seja um ano de readaptação e de busca por novas oportunidades de negócios e trabalhos, com mudanças positivas para o povo brasileiro”, anseia.
No Programa de Pós-Graduação em Economia do Desenvolvimento da Escola de Negócios da PUCRS, o assunto é tema de diversas pesquisas. A tese de doutorado de Marívia de Aguiar Nunes, com orientação do professor Augusto Mussi Alvim, abordou a política monetária brasileira no período pós-metas de inflação, realizando uma avaliação da regra de Taylor, uma estimação da taxa de juros real neutra e uma análise dos impactos do crédito direcionado.
Já a tese de doutorado de Eduardo Rodrigues Sanguinet analisou a geografia da integração nas cadeias globais de valor e as oportunidades de desenvolvimento na América Latina, contou com orientação do professor Augusto Mussi Alvim e do professor Miguel Atienza, da Universidade Católica do Norte, do Chile.
Sanguinet, orientado pelos professores Miguel Atienza, Augusto Mussi Alvim e também Adelar Fochezatto, ainda publicou um estudo neste ano no qual foram realizadas simulações hipotéticas das decisões da política de mitigação da Covid-19 para compreender os impactos regionais na integração nas cadeias de abastecimento, considerando as cadeias de valor nacionais e globais.
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