Mais de 150 povos indígenas já foram infectados pela Covid-19, com 55.667 casos confirmados até a data de hoje, 18 de junho, de acordo com dados da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). No entanto, essa não é a única realidade que preocupa essas populações: disputas pelas terras, violência e dificuldades econômicas estão entre os problemas enfrentados pelos indígenas na atualidade.
A partir das realidades vivenciadas por esses povos, estudantes e professores da Escola de Humanidades da PUCRS desenvolveram ações que têm os povos indígenas como protagonistas. Confira duas delas:
Por meio de um projeto de extensão, o Núcleo de Estudos em Cultura Afro-brasileira e Indígena (Neabi) da PUCRS, ligado ao programa de Pós-Graduação em História, desenvolveu a iniciativa Tecnologia UV-C no auxílio ao combate à pandemia de Covid-19 em aldeias indígenas. Essa ação visa capacitar agentes de saúde que atuam em comunidades das etnias Potiguara, Gavião, Tabajara e Tubiba Tapuya, no Ceará, a utilizarem um equipamento de luz ultravioleta, denominado UV-C INFO, na esterilização de ambientes.
Essa tecnologia é produzida pela Hüttech, empresa que integra o ecossistema do Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (Tecnopuc) e que realizou doações do equipamento para que pudesse ser utilizado nas comunidades. Sua ação consiste na quebra das ligações de DNA e RNA de fungos, vírus e bactérias pela radiação ultravioleta, esterilizando o ambiente. Dessa forma, o ar e as superfícies que contém uma boa iluminação para a ação do UV-C INFO ficam livres desses microrganismos que podem ser nocivos ao ser humano.
O professor Edison Hüttner, um dos responsáveis pelo projeto, explica que essa iniciativa é importante pois os povos indígenas estão suscetíveis a diferentes enfermidades. “Não apenas o coronavírus acomete essas populações, mas bactérias e fungos, também. Por isso, disponibilizamos essa tecnologia aos agentes de saúde, para que as comunidades indígenas pudessem lutar contra a Covid-19, atuando na prevenção de forma mais efetiva”.
Reunindo representantes de oito etnias indígenas (Kaigang, Xokleng-Konglui, Kaiapó, Boe Bororo e Terena, Suiá, Yawalapiti e Puyanawa) de quatro estados diferentes (Acre, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Pará), o Centro de Análises Econômicas e Sociais da PUCRS (Caes) em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS e o Centro de Estudos Europeus e Alemães (CDEA), realizou o evento Povos Indígenas por eles Próprios no dia 17 de junho. A mediação do foi realizada pelo professor Hermílio dos Santos.
Na ocasião, o cacique Moritororeu Boe Bororo, do Mato Grosso, iniciou sua apresentação realizando uma saudação em sua língua nativa e relembrando o multiculturalismo dos povos indígenas brasileiros. Essa população não é homogênea e isso ficou nítido no evento, visto que cada etnia participante possuía uma língua própria pertencente a diferentes troncos linguísticos, como Pano, Aruak, Bororo e Jê. A resistência cultural desses povos também foi um dos assuntos abordados no encontro.
Além disso, foi discutida a disputa pela terra, uma das principais lutas desses povos na atualidade. A ideia do encontro era observar a perspectiva indígena sobre esses temas, por isso, representantes de alguns dos povos do território indígena do Xingu puderam abordar a questão da extração ilegal de madeira na região, apresentando, além de dados, suas vivências e explicando a importância da relação dos indígenas com a terra em que habitam. Um relatório da ONU de 2018 já demonstrava que as regiões habitadas pelos nativos preservam mais o meio ambiente.
Por fim, foram abordadas características culturais específicas das etnias participantes do evento e suas perspectivas futuras em relação a seus povos.
Em breve, esse e outros encontros que discutiram questões indígenas com a presença desses povos, receberão legendas em língua inglesa e serão divulgados para acesso de todos os interessados.
Eles são alguns dos povos mais antigos que existem, mas ainda se sabe muito pouco ao seu respeito. Só na Amazônia Legal, constam cerca de 115 registros de grupos indígenas que vivem em isolamento. Em parceria com profissionais, ativistas e órgãos indigenistas, o professor e pesquisador Hermílio Santos lidera ações e um estudo sobre diferentes etnias da população indígena no País, por meio do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS (PPGCS).
Para entender melhor as heranças do contato da população indígena com outras civilizações e o contexto dos povos isolados, Santos mantém contato com várias etnias, por meio do WhatsApp. Entre elas, as da Associação Terra Indígena do Xingu (Atix), em Mato Grosso, que representa 16 povos que vivem no território: Aweti, Ikpeng, Kalapalo, Kamaiurá, Kawaiweté, Kisêdjê, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Tapayuna, Trumai, Wauja, Yawalapiti, Yudja.
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Sua pesquisa recentemente aprovada no Programa de Bolsas BPA irá estudar seis etnias, divididas em três grupos, de acordo com o período do primeiro contato: Terena e Bóe-Bororo (Mato Grosso, mais de 100 anos), Panará e Enawenê-nawê (há 40 anos) e Yawalapiti e Kamayurá (Mato Grosso, em torno de 80 anos). Serão realizadas entrevistas biográficas com três gerações de mulheres dessas etnias para entender os seus processos históricos.
No dia 18 de março, às 16h30min, o docente mediará um encontro virtual sobre Povos indígenas isolados no Brasil. Participarão do evento José Assunção Castilhos, especialista no tema que atua na Funai e Antenor Vaz, sertanista e consultor em Sistemas de proteção para povos isolados e de recente contato na América do Sul. Para acessar, acesse o link ou utilize o ID 95413237630 e a senha 457164.
A equipe, composta por estudantes do PPGCS, também tem elaborado ações de integração e recuperação da ancestralidade indígena. Por meio de uma das suas orientandas, que é filha de Tite, o técnico da seleção brasileira, o professor está organizando um campeonato de futebol com a Atix. “Eles gostam muito de futebol e o Tite, além de aceitar nos acompanhar, incluiu a CBF. Estamos em tratativa dos detalhes finais, mas deve acontecer após a pandemia”, explica Hermílio Santos.
E para marcar a contribuição da cultura indígena para a sociedade brasileira, está sendo planejada uma exposição com itens que foram levados para o exterior. No século 19, o primeiro contato com os povos do Xingu foi feito pelo pesquisador e explorador alemão Karl von den Steinen, que recolheu mais de mil objetos do local. Os itens fazem parte de um acervo etnográfico em Berlim, desde 1884.
“A ideia é trazer esses objetos para serem expostos no Xingu, no Senado Federal, e aqui na PUCRS, com o apoio de curadoras como Watatakalu Yawalapiti, uma das lideranças do movimento de mulheres indígenas no Xingu”, acrescenta sobre o projeto chamado Xingu 22, que deve ser parte das comemorações do bicentenário da independência.
Os povos isolados têm uma dependência muito maior do meio ambiente. “Se as florestas estão deterioradas, se a água fica contaminada ou se há contato desprotegido com a população não-indígena, eles podem facilmente ficar doentes. O que para nós é apenas um resfriado, para eles pode ser fatal. As ameaças vêm de muito tempo, mas com a intensificação das ações irregulares e a impunidade as consequências têm sido muito mais graves”, explica o pesquisador.
“Esses povos são patrimônio da humanidade. São brasileiros, mas ancestrais e originários dessa terra”, HERMÍLIO SANTOS.
A partir de leis indigenistas, foram criados espaços exclusivos para que esses grupos possam utilizar a terra sem deteriorá-la. Eles costumam viver como nômades ou seminômades e por isso precisam de áreas vastas. A primeira foi Massaco, em Rondônia, e existem cerca de outras 23 no País.
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Segundo dados divulgados pelo Instituto Socioambiental (Isa), baseados em relatórios da Fundação Nacional do Índio (Funai), apenas 28 dos registros de povos isolados foram confirmados. Além deles, o último censo do IBGE mostra que mais de 817 mil pessoas no brasil são indígenas, com 305 etnias e 274 línguas, representando apenas 0,4% da população total.
De 1500 até a década de 1970 muitos povos foram extintos. Outros fatores como autodeclaração e a dificuldade de contato com os povos isolados também influenciam para o número ser tão pequeno. Do total, mais de 502 mil vivem em zonas rurais e 315 mil habitam áreas urbanas.
As regiões com menor número de indígenas são a Sudeste e a Sul, enquanto a maior concentração está no Norte. O povo Tikuna, residente no Amazonas, apresenta o maior número de integrantes.