O conteúdo de um artigo produzido pelos pesquisadores do Centro de Pesquisas em Biologia Molecular e Funcional da PUCRS (CPBMF) e seus colaboradores foi destacado pela American Chemical Society (ACS) como “outstanding work” (trabalho excelente, em tradução livre). Com o título 2-(Quinolin-4-yloxy)acetamides Are Active against Drug-Susceptible and Drug-Resistant Mycobacterium tuberculosis Strains, o paper, publicado no periódico ACS Medicinal Chemistry Letters, foi destaque na seção Biological e Medicinal Chemistry do site da ACS. O trabalho descreve o planejamento e síntese de compostos candidatos a fármacos para o tratamento da tuberculose. De acordo com o professor Pablo Machado, da Faculdade de Farmácia e um dos autores do texto, “esse destaque atesta, por parte de uma importante e influente sociedade científica, a qualidade da pesquisa desenvolvida em nossa Universidade”.
O artigo apresenta compostos potentes capazes de inibir o crescimento do Mycobacterium tuberculosis (principal agente causador da tuberculose em humanos). As estruturas sintetizadas são ativas contra cepas sensíveis e resistentes à isoniazida (fármaco de primeira linha utilizado clinicamente para o tratamento da tuberculose). Além disso, as moléculas demonstraram atividade contra o bacilo (Mycobacterium tuberculosis) em um modelo de infecção em macrófagos. Finalmente, a permeabilidade adequada, moderadas taxas de metabolização in vitro, ausência de sinais de cardiotoxicidade e a inibição reduzida de algumas enzimas do sistema microssomal hepático indicam que esses compostos são candidatos para o desenvolvimento de um fármaco novo para o tratamento da tuberculose.
De acordo com o professor Pablo, “o fato de as moléculas não afetarem a atividade das enzimas mais importantes do sistema microssomal P-450 demonstra que os compostos apresentam baixa possibilidade de interação com medicamentos antirretrovirais (tratamento da AIDS). Lembrando que a coinfecção tuberculose-AIDS tem sido descrita como um problema de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o tratamento existente carece de alternativas terapêuticas mais seguras”, ressalta.
A pesquisa é desenvolvida por professores, estagiários de pós-doutorado, alunos de pós-graduação e bolsistas de iniciação científica. A American Chemical Society é considerada uma entidade que possui grande influência no meio científico, e publica alguns dos periódicos científicos de maior fator de impacto no mundo. Embora o CPBMF possua vários artigos publicados nos periódicos da ACS, essa foi a primeira vez que a sociedade destacou um trabalho do grupo como “excelente”.
Congresso de Química
Esta semana, pesquisadores do CPBMF estarão em São Paulo para o 46º Congresso Mundial de Química, promovido pela União Internacional da Química Pura e Aplicada (IUPAC), que acontece pela primeira vez em um país da América Latina. O evento, entre os dias 7 e 13 de julho, é organizado pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ) e conta com o patrocínio da American Chemical Society.
INCT em Tuberculose
O CPBMF faz parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Tuberculose (INCT-TB), que teve renovação no ano de 2016. Os esforços do INCT-TB estão centrados no desenvolvimento de fármacos, vacinas e novos métodos diagnósticos para tuberculose no Brasil. Desde 2008, a sede do INCT-TB está localizada no CPBMF, no Parque Científico e Tecnológico (Tecnopuc), prédio 92A.O INCT-TB é formado por cerca de 40 pesquisadores de 22 centros de pesquisa, distribuídos em nove estados brasileiros.
A PUCRS teve dois novos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia reconhecidos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Ciências Forenses, sob a coordenação de Roberto Esser dos Reis; e o Instituto Nacional de Saúde Respiratória Pediátrica (INSaRP), sob o comando do médico e professor Renato Tetelbom Stein. Outro Instituto, o INCT em Tuberculose, coordenado pelo professor e pesquisador Diógenes Santos, teve sua renovação aprovada.
Segundo a pró-reitora de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento, Carla Bonan, as novas aprovações permitem a formação de redes de cooperação científica interinstitucional de caráter nacional e internacional, a fim de desenvolver atividades de pesquisa em áreas na fronteira do conhecimento, buscando soluções para questões nacionais. “A aprovação de três propostas de INCTs, coordenados pela PUCRS, expressa a excelência e o reconhecimento nacional e internacional da pesquisa desenvolvida na Universidade. O resultado se deve ao protagonismo dos nossos grupos de pesquisa em temas com impacto para a nossa sociedade, bem como a qualificação e dedicação de nossos pesquisadores”, garante.
Criado a partir de experiências com pesquisas forenses realizadas há anos com as polícias federal e civil, o Instituto de Ciências Forenses trabalhará aspectos técnicos relacionados à produção, análise e interpretação de provas materiais, tão necessários aos profissionais envolvidos em todas as etapas da Justiça e da Segurança Pública. “E é grande a demanda de pesquisa que atenda às particularidades da criminalidade nacional”, explica a coordenadora, professora da Faculdade de Biociências Clarice Alho. Estão incluídas as áreas de Genética, Química e Toxicologia, Perícia Ambiental, Informática e Ciências Criminais.
O INSaRP está relacionado ao Centro Infant da PUCRS, criado em 2012, e aborda a pesquisa científica em nível internacional na área de doenças respiratórias infantis. Estuda, ainda, alternativas de prevenção primária de inúmeras doenças infecciosas e crônicas que acometem crianças e têm impacto até a vida adulta. O grupo de pesquisadores e médicos também atende crianças com doenças respiratórias no Hospital São Lucas.
No INCT em Tuberculose a proposta é continuar desenvolvendo fármacos e vacinas para tuberculose no Brasil, com o intuito de validar um diagnóstico rápido e confiável para a detecção de Mycobacterium tuberculosis sensível e resistente a fármacos. Localizado no prédio 92, no Parque Científico e Tecnológico (Tecnopuc), ele é formado por cerca de 40 pesquisadores de 22 centros de pesquisa, distribuídos em nove estados brasileiros.