A virada de ano costuma ser um momento de planejar novas resoluções, tanto para a vida pessoal quanto profissional. Porém, o mundo foi pego de surpresa pela pandemia da Covid-19 logo nos primeiros meses de 2020, transformando totalmente o cenário global. Muitas pessoas que sonhavam em desenvolver suas carreiras se depararam com desemprego, escassez de oportunidades, problemas financeiros e dúvidas sobre regulamentação do trabalho.
E você sabe como mudar esse cenário? Ajudando a entende os impactos do coronavírus e da tecnologia para empresas, mercado de trabalho, profissionais e sociedade.
Esse é um dos papéis de pesquisadores e pesquisadoras que se dedicam a estudar sobre teletrabalho, direitos trabalhistas, inovação no trabalho, previdência em situação de calamidade, entre outros temas. A partir do viés do Direito, entenda a importância da área para a superação de momentos de crise no Programa de Pós-Graduação em Direito da PUCRS (PPGD), que está com inscrições abertas até 30 de outubro, neste link.
O teletrabalho é tendência no Brasil e no mundo. Da mesma forma, o trabalho em plataformas digitais e sem vínculo empregatício. E quem regulamenta tudo isso? Depende. “As empresas devem preparar suas vagas e organogramas pensando no trabalho remoto como algo efetivo e permanente. Além disso, o teletrabalho deve aparecer nas estratégias e documentos empresariais: estratégias no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) e no Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), por exemplo”, explica Denise Fincato, professora da Escola de Direito e coordenadora do grupo de pesquisas em Novas Tecnologias, Processo e Relações de Trabalho da PUCRS.
Porém, se alguém que trabalha entregando refeições por meio de plataformas de delivery passa mal ou sofre um acidente durante o percurso, quem prestará assistência? A popularmente chamada “uberização do trabalho”, apesar de facilitar em alguns pontos para quem precisa trabalhar, por outro lado pode desamparar.
Alguns aplicativos oferecem seguros para entregadores/as, mas a informalidade continua sendo uma realidade. Segundo informações do governo de São Paulo, o número de motoboys que morrem durante o trabalho dobrou de 2019 para 2020. E dados da consultoria Análise Econômica mostram que o número de pessoas trabalhando informalmente entregando de refeições cresceu 158% no mesmo período.
Em termos de impacto tecnológico, a pandemia acelerou a transformação digital, aproximando muitas empresas de recursos pouco explorados anteriormente, como os sistemas em nuvem e de comunicação. Mesmo quem tinha preconceito com as inovações se viu sem alternativas. “Já há indicadores que apontam para reduções nas estruturas de grandes escritórios no pós-pandemia”, destaca Denise.
Da mesma forma, é necessária atenção por parte do Estado, da sociedade e até mesmo da Universidade, segundo Denise. “É importante o apoio social e a oportunização de atividades acessíveis à população em geral, a fim de promover a empregabilidade. O trabalho provê muito mais que subsistência, é fator de identidade, agregação social, realização pessoal e isso não pode fugir do norte de gestores, formadores de opinião e pesquisadores”.
O Direito do Trabalho essencialmente regulamenta as relações entre empregador/a e empregado/a: de um lado, a atividade econômica, e de outro, a prestação do trabalho em condições dignas.
Em períodos de crise essa relação costuma se desequilibrar. É nesse contexto que a pesquisa se mostra importante, com grande variedade de métodos de comparação, investigação histórica e interpretação para propor aos poderes constituídos caminhos a seguir.
Boa parte das Medidas Provisórias editadas pelo Poder Executivo durante a pandemia e das normas editadas pelo Poder Legislativo foram influenciadas por esses estudos, por exemplo, além de embasar decisões do Poder Judiciário sobre os conflitos.
“A ‘fagulha’ da pesquisa foi acesa em mim, não por coincidência, em uma disciplina da faculdade de Direito, na PUCRS”, conta Amália de Campos, mestranda do PPGD. Inspirada pela professora Denise, ela ingressou na área da pesquisa. “Eu me senti desafiada a produzir o meu primeiro artigo científico e foi uma experiência tão instigante e gratificante que eu saí da aula com um artigo selecionado, uma orientadora e a certeza de que a pesquisa seria uma constante na minha vida acadêmica”.
Para Amália, quem trabalha com pesquisa é inconformado/a com dogmas, realidades e a forma com a qual determinadas coisas são conduzidas. “Vejo isso como uma absoluta qualidade, porque é o que permite que se formulem perguntas. A pesquisa, independente da área, vai produzir conhecimento e permitir que a sociedade evolua”.
Nunca se imaginou que o Dia do Trabalho pudesse fazer tanto sentido para o mundo, como acontece neste momento que vivemos a pandemia da Covid-19. Com ela, além de todas as angústias e receios sobre a nossa saúde, passamos a viver incertezas também no mundo do trabalho. Da noite para o dia, sentimos a necessidade de expandir a tecnologia, entender a economia de compartilhamento e até mesmo reformular nosso setting de trabalho.
Estamos vivendo tempos antes impensáveis, com crise sanitária, população desamparada, trabalhadores com seus ofícios ameaçados e empresas com suas receitas comprometidas. Todas essas questões graves suscitaram um esforço coletivo. Pode parecer ambivalente: embora isolados, em pleno confinamento, nunca estivemos tão próximos uns dos outros, repensando a solidariedade e a nossa própria condição humana.
No universo do trabalho, o contexto pandêmico veio como um terremoto. As fissuras que se abriram colocaram o Direito do Trabalho a criar soluções jurídicas com a finalidade de mediar os interesses de seus protagonistas: empregado e empregador. Ademais, a problemática dos autônomos e informais é outra resultante dessa atividade sísmica.
Neste momento de crise, novas discussões sobre ideias de proteção social e do trabalho surgiram, e o Estado foi obrigado a repensar programas para garantir a renda básica, preservar os empregos e as empresas. Trata-se de um momento de reinvenção e de superação nos mais diversos âmbitos de nossas vidas: o home office deixou de ser um fantasma; muitas famílias ressignificaram sua convivência; as pessoas passaram a temer menos o encontro consigo mesmas; e, principalmente, nunca se viu uma corrente de solidariedade tão forte.
Nos últimos anos se chegou a cogitar a extinção da Justiça do Trabalho, e inúmeros foram os comentários no sentido de que o Direito do Trabalho não tinha mais utilidade. Porém, essa doença veio nos lembrar de seu inquestionável papel como regulador da sociedade. Assim como os profissionais da saúde estão sendo expoentes no front de combate à pandemia no que diz respeito à saúde fisiológica e mental das pessoas, o Direito do Trabalho tem se mostrado indispensável no sentido de zelar pela saúde econômica do país, harmonizando seus pilares de sustentação: valor social do trabalho e livre iniciativa.
Em tempos de quarentena, ter um ambiente adequado para estudar ou trabalhar em casa auxilia a manter a saúde mental e física em dia. Alguns cuidados simples fazem toda a diferença para um home office mais confortável e saudável. É importante estar atento em relação à postura, à luminosidade do espaço onde as tarefas costumam ser desempenhadas e ao posicionamento do computador e demais equipamentos utilizados durante o expediente, por exemplo.
Seguir a rotina como se estivesse saindo para estudar ou trabalhar pode ser o primeiro passo para manter a qualidade de vida no home office. Para o professor do curso de Fisioterapia da Escola de Saúde e da Vida e Líder da Fisioterapia do Centro de Reabilitação HSL/PUCRS, Pedro Henrique Deon, trocar de roupa, tomar café da manhã e se preparar para a jornada de trabalho ou estudo ajuda a manter o foco nas atividades. “Outra sugestão é que se respeite os horários de pausa e de refeição que você teria no ambiente físico. Essas atitudes ajudam a desenvolver um comportamento de trabalho”, pontua.
Saiba mais: Rotina em casa: gerenciar o tempo auxilia a manter a produtividade
Estando em casa, nem sempre é fácil resistir à tentação de trabalhar no sofá. Porém, segundo o professor Deon, além de descaracterizar um ambiente de trabalho, o sofá não permite um alinhamento adequado da coluna vertebral para se trabalhar com um notebook, por exemplo. “Esse hábito é contraindicado, pois pode resultar em dores na região cervical e lombar”, destaca.
Ainda em relação a quem utiliza notebook, o ideal seria contar com teclado e mouse extras, uma vez que ele foi criado originalmente para trabalhos em ambiente externo ou de transporte. “Para realizar uma atividade que demanda um tempo prolongado de trabalho, esses acessórios são importantes para a saúde postural”, indica.
Antes, durante e depois do expediente, é importante realizar alguns exercícios de alongamento, pois isso permite que o corpo tolere a postura de trabalho. Além disso, Deon sugere intervalos ou pausas rápidas durante o dia. “Cerca de 10 a 15 segundos são suficientes para mudar a nossa postura de trabalho, espreguiçar ou realizar um alongamento. Se você trabalha sentado, levante-se e estique seu corpo. Se trabalha em pé, agache-se e relaxe suas costas. Esses comportamentos fazem com que a atividade seja mais produtiva e evita dores indesejadas”, recomenda o professor, pontuando que, quem utiliza notebook e não possui teclado e mouse extras, deve realizar essas pausas com ainda mais frequência.
Confira algumas sugestões de alongamentos para serem feitos ao longo do dia:
Leia também: Exercícios físicos são benéficos no combate ao estresse
Pensando na importância da ergonomia para a saúde de quem está trabalhando em casa durante a quarentena, a equipe de Segurança do Trabalho da Gerência de Gestão de Pessoas da PUCRS elaborou um material com dicas para organizar da melhor maneira um escritório em casa. Confira abaixo algumas delas, juntamente com recomendações do professor Deon:
Com as medidas de prevenção de disseminação do Covid-19, muitas pessoas tiveram suas rotinas modificadas, passando a estudar e/ou trabalhar de forma remota. E, para quem não é acostumado com esse formato, a adaptação pode ser um desafio. A grande diferença, segundo a professora do curso de graduação e do PPG em Psicologia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida, Rochele Fonseca, está na perda de orientação e de organização de fora pra dentro da rotina padrão.
Essa mudança pode acabar prejudicando o processo cognitivo e socioemocional, dificultando o gerenciamento do tempo. Por isso, uma boa maneira de driblar esse problema é organizar uma nova rotina em casa e fazer o possível para segui-la.
Uma questão bastante levantada quando o assunto é estudar e trabalhar em casa são as distrações. Resistir à tentação de realizar tarefas domésticas em paralelo às atividades profissionais pode ser difícil estando em casa. Por isso, é importante reservar um tempo para essas tarefas e procurar conclui-las no período estabelecido para isso. “Na jornada de trabalho ou estudo, também vale a recomendação de escolher um local adequado, com menos estímulos para garantir o foco. E o uso de aplicativos de gerenciamento de tarefas e de tempo podem ajudar a assegurar que teremos momentos para não trabalhar e que veremos o resultado do trabalho acontecendo”, destaca a também professora da graduação e do PPG em Psicologia Manoela de Oliveira.
Quem vive com familiares ou divide apartamento com amigos pode enfrentar desafios ainda maiores. Conciliar os horários de todos os moradores da casa nem sempre é uma tarefa fácil. Por isso, algumas dicas são compartilhar como funciona sua rotina; deixar claro que, mesmo em casa, você segue suas atividades normalmente; e dividir as responsabilidades domésticas. “Temos que entender que a rotina de todos dentro de casa mudou e que isso tem que ser absorvido aos poucos por cada membro da família ou da casa”, explica Rochele.
No caso de pessoas com filhos em casa, esse pode ser um bom momento para desenvolver a resiliência nas crianças. Além disso, é uma oportunidade de aproximação. “Assistam a programas juntos, auxiliem nas tarefas escolares – dentro de suas possibilidades –, brinquem e leiam com e para seus filhos”, sugere a professora. Nesse momento de confinamento, também é essencial respeitar quem está próximo, entendendo que, em alguns momentos, é normal querer ficar mais recluso e quieto.
Além da rotina de trabalho e estudo, manter hábitos saudáveis é importante. Exercícios físicos e uma alimentação equilibrada são aliados na manutenção da saúde. E, para não perder o ritmo, apesar de as idas à academia não serem possíveis, buscar sites, aplicativos e vídeos com orientações para praticar atividades em casa é uma boa opção. “Uma iniciativa que tenho achado bem interessante são educadores físicos e instrutores que disponibilizam aos seus alunos rotinas de exercício online”, diz Manoela. Ela ainda cita o exemplo de professores de dança que propuseram à turma fazer uma coreografia a distância, cada um treinando em casa e compartilhando vídeos. A ideia é que, quando possam se reencontrar, dancem todos juntos. “Esse é um bom momento para exercitar a criatividade e a solidariedade”, completa.
As mesmas dicas servem para alimentação: buscar sites e páginas em redes sociais com foco em receitas simples e saudáveis, principalmente para quem não tem o hábito de cozinhar em casa. E Manoela ainda indica: “Vale a recomendação de estudar algumas dicas antes de ir ao supermercado e ter certeza de que levou todos os ingredientes necessários, a fim de evitar sair muitas vezes”.
Por serem um grupo de risco, os idosos precisam tomar ainda mais cuidado. Como muitas pessoas nessa faixa etária mantêm atividades fora de casa, o confinamento pode ter como prejuízo o aumento de chance de perdas cognitivas, devido ao próprio envelhecimento, associado ao estresse e à redução de exercícios físicos e de convivência social. “Para que isso não aconteça, pessoas na terceira idade podem fazer ligações de áudio ou vídeo com amigos e familiares, ler muito, fazer jogos como caça-palavras e palavras cruzadas e desenvolver suas habilidades manuais, como pintura, dança e bordado”, indica Rochele.
Para evitar uma maior dificuldade de readaptação quando a situação se estabilizar, ter um bom planejamento nesse momento de isolamento é essencial. Pensando em uma organização que faça sentido agora e que também possa ser facilmente transposta para a rotina original, provavelmente essa transição será suave. “Estabelecer limites, como hora para acordar, para se alimentar, para fazer exercício, para trabalhar e/ou estudar e para dormir ajuda na organização e no rendimento em tempos de quarentena, mas é um hábito que pode ser mantido depois que a vida voltar ao normal”, conclui Manoela.