O Museu de Ciências e Tecnologia (MCT) da PUCRS promoveu, no dia 25 de novembro, o Momento de Acolhimento Sensorial, ação de inclusão e acessibilidade destinada a pessoas com deficiência – principalmente aquelas que possuem Transtorno do Espectro Autista (TEA). A necessidade e motivação para essa iniciativa partiu da compreensão de que acessar alguns espaços públicos muito estimulantes pode ser uma experiência estressante e desafiadora para algumas pessoas.
“O Museu se propõe a criar oportunidades que privilegiem o conforto sensorial e diminuam impactos na interação com o ambiente; ampliando, assim, as possibilidades de acesso para um público cada vez mais amplo e diverso”, explica Gabriela Ramos, museóloga das ações educativas do Museu.
A ação foi concebida, planejada e desenvolvida pelas museólogas do MCT, a partir de uma parceria entre o Museu, a Gepes e o Colégio Marista Champagnat. A organização foi iniciada no dia 19 de outubro, pouco mais de um mês antes do evento. Além das museólogas, também participaram do desenvolvimento do projeto uma pesquisadora da área de inclusão museal e doutoranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEDU), uma psicóloga e analista em diversidade e inclusão da GEPES, uma pesquisadora da área do Transtorno do Espectro Autista e pós-doutoranda em Educação pela PUCRS, uma professora responsável pelo Atendimento Educacional Especializado do Colégio Marista Champagnat e parte da equipe interdisciplinar do MCT. Uma parte importante nesse processo foi a capacitação da equipe do Museu, detalha Gabriela Heck, pesquisadora da área de inclusão museal.
“As capacitações foram momentos de formação com a equipe envolvida no projeto piloto, que ocorreram durante o mês de novembro de 2023. Nesses espaços de formação, desenvolvemos os temas sobre Acessibilidade, Pessoa com Deficiência e especificamente questões relacionadas ao TEA.”
No total, a capacitação foi dividida em três etapas: a primeira foi ministrada por Gabriela Heck, Doutoranda em Educação. Nessa etapa, foram abordados conceitos fundamentais sobre acessibilidade, incluindo a definição de acessibilidade e pessoa com deficiência, conforme a Lei nº 13.146 de 2015, esclarecimentos sobre o uso do cordão/fita de girassóis para identificar deficiências ocultas, segundo a Lei nº 14.624 de 2023. Outras definições importantes incluíram explanações sobre deficiências ocultas, tipos de deficiência, barreiras de acessibilidade, capacitismo e termos capacitistas.
Na segunda etapa, ministrada pela pós-doutoranda em Educação Karla Wunder da Silva, foram apresentados conceitos essenciais e informações relevantes sobre o TEA. Isso inclui a definição do transtorno, aspectos do neurodesenvolvimento e dos transtornos relacionados, a desmistificação de estereótipos associados a pessoas autistas e dados internacionais e nacionais sobre autismo. Além disso, também foram abordadas características típicas, níveis de suporte, comportamentos observáveis com a metáfora do iceberg, STIMS (movimentos estimulatórios/reguladores), desenvolvimento da linguagem e abordagem de situações de agressividade.
Por fim, a terceira etapa teve como objetivo o alinhamento da equipe envolvida, retomando as principais orientações de abordagem e comunicação frente ao público, adequações e recursos desenvolvidos para a iniciativa e um espaço de diálogo para manifestação de dúvidas do time envolvido na ação. Gabriela Heck destaca a importância dessa etapa para o desenvolvimento da iniciativa:
“As capacitações revelaram um potencial colaborativo significativo entre o Museu e outros departamentos da PUCRS, que são responsáveis pela formação de profissionais e pesquisadores em diversas áreas, dispostos a apoiar iniciativas como essa. Essas capacitações proporcionaram oportunidades enriquecedoras para o desenvolvimento pessoal e profissional dos envolvidos, criando espaços significativos para crescimento, trocas e aprendizado”, comenta ela.
Para a iniciativa, foi criada uma sala de acolhimento sensorial, que difere dos demais espaços do MCT: sendo um local longe dos principais estímulos do museu, como barulhos, luzes e aglomeração de pessoas, o espaço tem como objetivo fornecer conforto e segurança para os visitantes. “Nesse espaço, a iluminação, a temperatura, as cores do ambiente, os estímulos e os recursos sensoriais disponíveis são pensados como opção para a autorregulação de pessoas neurodivergentes”, explica Gabriela Heck.
Para essa primeira edição da iniciativa, a equipe do MCT organizou o espaço na sala de ações educativas. Localizada provisoriamente no terceiro pavimento do Museu, em um ambiente reservado. A sala, um ambiente silencioso, é equipada com pufes, tapete sensorial, materiais para desenho, objetos recreativos e brinquedos antiestresse. João Pedro Talamini, de 21 anos, é autista e participou da edição piloto, e afirma ter sido uma ótima experiência.
“Sempre gostei muito de ciências naturais, e desde criança gosto de visitar o Museus da PUCRS. Poder visitar esse lugar com tranquilidade e silêncio, assim podendo desfrutar de todas as exposições de forma mais agradável, foi realmente muito bom”, diz.
João não foi o único a aprovar a iniciativa: a pesquisa de satisfação respondida pelos participantes apontou 100% de aceitação quanto ao nome da iniciativa, 100% de satisfação quanto à pertinência da redução de público (menos circulação e ruídos), um maior engajamento dos visitantes com relação aos conteúdos da exposição e uma maior interação com os experimentos.
A avaliação da iniciativa foi realizada antes, durante e depois da execução do projeto. Além disso, as próprias capacitações trouxeram feedbacks muito positivos, gerando nos atendentes o interesse em participar de mais momentos de formação voltados aos públicos com deficiência e de aprenderem a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Além disso, a inclusão e diversidade dentro da própria equipe do museu contribuiu para a construção do projeto: o desenvolvimento do Mapa Sensorial foi acompanhado por um atendente do museu diagnosticado com TEA e contribuiu com sua experiência e conhecimento sobre as exposições para mapear os espaços e experimentos com maiores estímulos sensoriais. Posteriormente, ele relatou que se sentiu acolhido ao ser consultado, ouvido e reconhecido.
Gabriela Ramos destaca a acolhida da equipe e interação com os atendentes, bem como os recursos criados para a inciativa, como mapas, mochilas e a sala.
“As mochilas, que estavam sendo carregadas pelos atendentes, despertaram o interesse dos visitantes, o que demonstrou a importância de se criar uma identidade visual do projeto para ser adicionada junto a elas e aos demais recursos, visando facilitar a sua identificação por parte do público. Com relação ao espaço de acolhimento sensorial, dos visitantes que a utilizaram, os comentários foram positivos, com sugestões de ter uma sala em cada andar, e a indicação de outros recursos que poderiam ser incluídos, como redes, balanços e uma melhor sinalização”, explica.
A edição piloto do projeto foi um sucesso: e não irá parar por aí! A partir de agora, o Museu vai promover, no terceiro domingo de cada mês, o Momento de Acolhimento Sensorial – e o valor do ingresso é meia entrada para pessoas com deficiência e acompanhantes. A próxima edição já tem data para acontecer: dia 17 de dezembro, das 10h às 11h.
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