Apenas oito, dentre 134. Este é o número total de pessoas negras que atuam nas equipes de reportagem e apresentando os programas dos sete principais veículos de comunicação do estado. Os dados são da pesquisa A gente não se vê por aqui: o jornalista negro no maior grupo de comunicação do Rio Grande do Sul, desenvolvida por Gabriel Bandeira, durante o seu Trabalho de Conclusão de Concurso (TCC) em Jornalismo, na Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos.
A pesquisa surgiu a partir de um incômodo constante do autor em relação à ausência de pessoas diversas na área da comunicação e começou a ser planejada ainda em 2020, quando a pauta antirracista estava sendo amplamente debatida após os assassinatos de George Floyd, nos Estados Unidos, e de José Alberto Freitas, na Zona Norte de Porto Alegre.
“O Brasil tem uma ferida aberta com o seu passado escravocrata, que tem ramificações até hoje. E isso só se acentua em um estado de maioria branca, que historicamente coloca a contribuição negra em segundo plano. A pesquisa foi uma das maneiras que encontrei de tornar o racismo estrutural do mercado de trabalho visível para as outras pessoas. O número é chocante, mas, a partir dele, também é possível pensar no que será feito daqui para frente”, afirma o estudante.
No total, negros representam somente 5,97% dos/as profissionais presentes na programação dos telejornais analisados. Além das entrevistas realizadas com jornalistas negros da televisão gaúcha, o trabalho também aborda questões relacionadas ao racismo, à desigualdade racial na mídia gaúcha e questiona o papel dos veículos de comunicação na luta antirracista.
A desproporção presente nas redações dos veículos de comunicação também reflete na forma de abordar questões do cotidiano. O jornalista ressalta que pessoas negras geralmente aparecem em pautas que são, por um estereótipo, mais focadas em temas comunitários, como: carnaval, ações sociais, marginalização, violência urbana, entre outros. “Temos profissionais negros atuando como médicos, advogadas, cientistas e tantas outras profissões que também são importantes para a sociedade. Precisamos dar mais visibilidade para essas vozes plurais em todos os espaços”, afirma.
Esses dados também contrastam com a realidade do Brasil que, segundo o IBGE, tem maioria de população negra (56%), mesmo grupo que ocupa a maior parte da força de trabalho (57 milhões, 25% a mais do que os 46 milhões de trabalhadores brancos). Mesmo assim, por questões estruturais consequentes do contexto do racismo histórico, essas pessoas ocupam, em sua maioria, cargos de níveis mais baixos ou com os menores salários.
O jornalista e professor orientador da pesquisa, Juremir Machado, conta que o processo de elaboração do trabalho foi muito rico: “Gabriel estava muito motivado. O tema e o estudo, que são atuais e pertinentes, tiveram resultados que falam por si. Ele pesquisou bastante, leu muito e fez entrevistas importantes. A excelência do trabalho se confirmou com o parecer da banca, que deu nota máxima à monografia”. Gabriel complementa: “Agradeço a todas as pessoas negras que vieram antes de mim e pavimentaram um caminho possível”.
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Dentre os 5,97%, cinco são homens e três são mulheres: Fernanda Carvalho, Marck B e Seguidor F (RBS TV); Domício Grillo e Fernanda Bastos (TVE); Marcinho Bléki e Rafael Cavalheiro (SBT RS) e Liliane Pereira (Record TV RS). Band TV RS, TV Pampa e RDC, que somam 36 profissionais de vídeo, não têm nenhuma pessoa negra nesses cargos.
A pesquisa revisa o trabalho do jornalista e atual doutorando Wagner Machado, publicado em 2009, que encontrou apenas três comunicadores negros dentre 421 jornalistas apurados, somando 0,71% de representação na época. A atualização levou em consideração a programação transmitida entre os dias 14 e 24 de junho de 2021, nas emissoras RBS TV, SBT RS, Record TV RS, TVE, Band RS, RDC TV e TV Pampa.
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Até onde são reais as promessas de uma vida perfeitamente idealizada? Para o escritor e especialista em comportamento humano Gabriel Carneiro Costa, formado em Relações Públicas pela Famecos, a sociedade saiu da era da rigidez e entrou de cabeça na era da complexidade. Antigamente, as vidas das pessoas seguiam roteiros pré-desenhados, com idades definidas para acontecimentos como formatura, casamento e aposentadoria. Hoje, a ideia de felicidade é mais complexa. “Precisamos escolher a profissão mais cedo, ter uma vida rentável, ir à academia, dormir horas o suficiente… Todos vêm idealizando a carreira da maneira utópica”, explicou Carneiro, na palestra principal da Feira de Carreiras, ocorrida nesta quarta-feira e intitulada Não me iluda: o futuro depende de quem faz.
Promovida pelo Escritório de Carreiras e pela Fundação Irmão José Otão (Fijo), a feira tem o objetivo de promover vínculos, empregabilidade e estabelecer uma conexão entre os alunos e o mercado de trabalho. Ao longo dos dias 18 e 19 de outubro, estandes com o RH de diversas empresas estiveram presentes nos saguões dos prédios 11, 30, 32 e 50. Na abertura da palestra, o Pró-Reitor de extensão Ir. Manuir Mentges convidou o público para conhecer os espaços, movimentos e encontros que a Universidade oferece. Segundo ele, as questões em torno do futuro inquietam e instigam, e é função da Universidade auxiliar os alunos a buscar as respostas.
“Cuidado. A realidade a seguir pode não te fazer bem: você ainda vai errar.” A frase destacada em um dos slides deu o tom da palestra de Carneiro. Ele tranquilizou os presentes, garantindo que a carreira perfeita e sem erros não é uma realidade. “Pessoas de sucesso contam que sempre souberam o que iam fazer, mas também tiveram tropeços e dúvidas”, defende. O escritor também critica a famosa afirmação de que “quem quer, consegue”. Para ele, apenas querer alguma coisa não garante que ela será conquistada. “Precisamos analisar nossa vida atual e pensar no que podemos fazer para alcançar a vida desejada. E o que podemos fazer é dar sempre o nosso melhor”, afirmou. Ele ressalta, ainda, que não vale a pena comparar o status de dois profissionais sem comparar a trajetória que os levou até ali.
Segundo Carneiro, é necessário planejar-se em ao menos seis pontos na hora de planejar o futuro. O primeiro é a projeção: “As pessoas sabem na ponta da língua o que querem ter, mas não se perguntam que tipo de profissional querem ser”. O segundo é o caminho e o destino: “É importante olhar o quanto falta para alcançarmos nossas metas, pois é assim que nos planejamos. Mas também é importante perceber que já faltou mais”. O terceiro item fala sobre o valor do esforço, que, para ele, não deve ser o que mais vale. “Valorizamos o cansaço, mas não é por ele que merecemos sucesso, e, sim, pelos resultados que geramos”, argumenta. O amor, o desprendimento do dinheiro e uma visão direcionada às coisas boas também auxiliam no planejamento.
Os momentos finais da palestra foram dedicados a perguntas e conversa com os presentes. Ao longo do evento, Felipe Vargas, do Via Mosaico, fez a facilitação das falas com imagens.