O projeto Fronteiras do Pensamento, com apoio cultural da PUCRS, apresenta, no dia 1º de julho, conferência com o filósofo e escritor britânico Roger Scruton, intelectual que analisa as grandes correntes do pensamento ocidental. O evento ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), a partir das 19h45min. A temporada 2019 traz como tema Sentidos da Vida, guiando as falas dos oito conferencistas internacionais. Os ingressos para Porto Alegre estão esgotados.
Considerado um dos mais importantes filósofos da atualidade, Scruton é autor de obras sobre filosofia, política e estética. Professor na Inglaterra e nos Estados Unidos, é um dos expoentes do pensamento conservador contemporâneo e grande polemista. É autor de obras como Estética da arquitetura, A alma do mundo, O rosto de Deus e As vantagens do pessimismo. Além de seus livros e produções acadêmicas, produziu para a BBC o documentário Por que a beleza importa?.
Assim como Nova York é o principal cenário de seus romances, a cidade foi palco da fala do escritor Paul Auster na segunda conferência do Fronteiras do Pensamento 2019. Impossibilitado de viajar ao Brasil por emergência familiar, Auster falou para cerca de mil pessoas, em 17 de junho, por meio de videoconferência, apesar de não ser um grande entusiasta das tecnologias modernas.
Aos 72 anos, o autor norte-americano não tem celular, computador ou e-mail. Assim como Quinn, personagem de Cidade de Vidro (primeira história de A Trilogia de Nova York) a quem emprestou algumas características, Auster escreve seus romances a caneta e, depois de prontos, passa para uma máquina de escrever, sua há 50 anos. Mas não é totalmente avesso às tecnologias, utiliza o iPad que ganhou da esposa para fazer pesquisas na internet.
Por conseguir evitar muitos dos artifícios tecnológicos, Auster não foi seduzido pelo mundo digital e reflete sobre os novos hábitos que a sociedade vem incorporando. “Quando a internet foi lançada, as pessoas ingressaram em uma era de liberdade humana e as consequências negativas disso nunca foram consideradas. O smartphone faz você se sentir o centro do universo, com o mundo na palma das mãos pode ir a qualquer lugar e falar com quiser. Andando por Paris, que é a cidade do romance, onde os casais andam abraçados e se beijando, vi um lindo casal, mas sequer estavam de mãos dadas, estavam cada um olhando para seus celulares. Fiquei deprimindo com aquilo. Nos restaurantes do meu bairro no Brooklyn, nas mesas com grandes famílias, estão todos olhando para o retângulo brilhante em suas mãos. Não conversam mais. Embora a revolução digital tenha efeitos maravilhosos, também tem efeitos ruins e precisamos pensar seriamente no que estamos fazendo antes que percamos o controle”, analisa.
Sua fala, ao longo da noite, foi interrompida algumas vezes por falha na conexão. Ao retornar em uma das ocasiões, Auster não perde a deixa: “Isso prova que as tecnologias digitais ainda têm um caminho a percorrer”, ri.
O poder dos livros
Ao falar da importância da literatura e dos livros, Auster diz que a clareza das narrativas ajuda as pessoas a entender o mundo. Está presente desde a primeira fase de nossas vidas, desde os tempos mais primitivos de uma sociedade. Todo ser humano, afirma, tem necessidade de histórias assim que começam a falar. As crianças são famintas por histórias, pois as levam a outros lugares, ativam a imaginação, permitem que vivam momentos que seriam aterrorizantes no mundo real, enfrentando seus medos em um ambiente seguro. “Livros e historias não podem te ferir e, quando acostumamos com isso, ficamos famintos por histórias. Os livros podem te transportar, mas é preciso estar à altura deles”, comenta.
Para Auster, não importa o formato, se em papel, em tela ou em áudio, ou o estilo, se romances, contos ou até mesmo histórias em quadrinhos, o importante é ler. “Imagine o mundo sem histórias. Você não consegue. Sem historias para nos guiar, para nos trazer um entendimento do que está nossa volta, estamos perdidos. As histórias nos trazem coerência quando lá fora tudo é caos”, reflete.
Círculo mágico
O consagrado escritor revela que leva muito tempo para ter uma boa ideia para um livro, mas não força o processo, espera que aconteça naturalmente, o que pode levar semanas, meses e até anos. Conta que quando está trabalhando em um livro, passa oito horas em seu escritório e se conseguir uma página “decente”, mesmo que incompleta, considera esse um bom dia de trabalho. “Eu geralmente não quero escrever, mas a ideia se torna tão poderosa, que ela me encurrala em um canto e diz ‘você precisa me escrever’. Quando estamos escrevendo, seu cérebro vai em cinco direções diferentes. Escrever romance é como correr uma maratona. É preciso ir devagar e sempre. É preciso saber parar, descansar, não pensar mais nisso até o dia seguinte. Escrever romances é um grande mistério. Eu venho fazendo isso há muitos anos e ainda não entendi completamente”, revela.
Auster escreve para um outro imaginário, alguém que não conhece e nunca conhecerá, um estranho no mundo. E garante que, ao finalizar uma história, ela não pertence mais ao autor, mas aos leitores. “A arte é um presente para outra pessoa. O maravilhoso sobre livros é que que só há uma pessoa fazendo isso naquele momento. Não é uma plateia, é um leitor. O romance é o lugar no mundo onde dois estranhos se encontram em intimidade absoluta. O escritor dá tudo que tem ao leitor e o leitor se abre e recebe isso. Se há uma conexão, é um círculo mágico que se cria”, considera o autor que está trabalhando em um novo livro, ainda sem data de lançamento.
Grande laboratório de experimentação humana
Auster não nasceu em Nova York, mas tem uma forte ligação com a cidade onde mora. Pano de fundo de seus romances, a cidade o encanta pela diversidade de culturas, de idiomas, de pessoas, de religiões, de comidas e pela tolerância. “É claro que há conflitos, mas para que as pessoas possam conviver é preciso ser tolerante, aceitar a alteridade do outro. Se você quer morar aqui, precisa aceitar que não é o centro do mundo. É um dos grandes laboratórios de experimentação humana e da democracia. Amo Nova York e não tenho intenção de viver em outro lugar. É meu mundo e, ao mesmo tempo, ainda me sinto um pouco como um estrangeiro.”
Sentidos da vida
Sentidos da vida é o tema do Fronteiras do Pensamento em 2019, evento que tem apoio cultural da PUCRS. Ao ser questionando sobre o tema, Auster afirma que aos 72 anos ainda não tem essa resposta e acredita que nunca terá. “Todos se perguntam desde o início dos tempos sobre essas questões. Se alguém disser que sabe responder, talvez não seja bom escutar essa pessoa. Essas grandes perguntas existenciais não nos trazem respostas e sim mais perguntas. E essa é a beleza da vida, continuar se questionando. Cientistas, filósofos, artistas o fazem por meio de seu trabalho. Quanto mais sabemos, quanto mais entendemos, novas perguntas surgem.”
Sobre o escritor
Traduzido para mais de 40 idiomas, Paul Auster tem Nova York como cenário de seus romances. O livro A trilogia de Nova York foi eleito pelo jornal The Guardian como uma das 100 melhores obras de ficção de todos os tempos. É membro da Academia Americana de Artes e Letras, licenciado pela Universidade de Columbia e já recebeu prêmios como Príncipe das Astúrias, Ordem das Artes e das Letras da República Francesa e Prix Médicis. Seu mais recente lançamento, de 2017, é o livro 4321, que foi finalista do Man Booker Prize.
O projeto Fronteiras do Pensamento, com apoio cultural da PUCRS, apresenta conferência com o escritor norte-americano, roteirista de cinema e diretor de filmes independente, Paul Auster em dia 17 de junho. O evento ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), a partir das 19h45min, e será realizado, excepcionalmente, por videoconferência. A temporada 2019 traz como tema Sentidos da Vida, guiando as falas dos oito conferencistas internacionais. Os ingressos para Porto Alegre estão esgotados.
Traduzido para mais de 40 idiomas, Auster tem Nova York como cenário de seus romances. O livro A trilogia de Nova York, foi eleito pelo jornal The Guardian como uma das 100 melhores obras de ficção de todos os tempos. Aos 72 anos, é membro da Academia Americana de Artes e Letras e já recebeu prêmios como Príncipe das Astúrias, Ordem das Artes e das Letras da República Francesa e Prix Médicis. Seu mais recente lançamento, de 2017, é o livro 4321, que foi finalista do Man Booker Prize.
“Esqueçam que sou negra, africana e mulher. Lembrem que sou apenas um ser humano como vocês”, ressaltou Graça Machel ao dar início à primeira conferência do Fronteiras do Pensamento em 2019, evento com apoio cultural da PUCRS. A ativista moçambicana apresentou como tema do seu encontro O respeito pela dignidade humana, causa pela qual milita há décadas, defendendo a igualdade de raça, de gênero e o direito ao credo em diferentes religiões, reforçando que todos são iguais, independente das formas externas e diversas identidades. “Morremos e nascemos do mesmo jeito”, lembrou Graça, na noite desta segunda-feira, 13 de maio, no Salão de Atos da UFRGS.
A partir do tema do Sentido da Vida, proposto pelo Fronteiras, Graça trouxe questões relacionadas com a natureza do corpo e como todos os seres humanos estão ligados pela “faísca da vida”, criada no momento do nascimento. Ela destacou a importância da diversidade, ainda que diferenciação na “fabricação” não deva estabelecer caráter de valor. Além disso, apontou que ainda não foi possível esclarecer todos os mistérios do universo, por isso acredita na existência de uma força superior, fruto das religiões.
Um dos pontos enfatizados por Graça foi a aceitação mútua entre os seres humanos. Na sua leitura, lamentou a guerra contra pobres, mulheres, regiões em desenvolvimento e contra a natureza, argumentando que isso cria barreiras psicológicas e estratificação. Para ela, quando outro ser humano é privado da sua dignidade, é a dignidade de todos que está em jogo.
Graça também declarou que não há país no mundo que possa dizer que trata as mulheres como seres humanos completos. “É motivo de celebração quando se tem 30% ou 40% de mulheres no senado. Mas por que não pode ser 50%? Até para as mulheres já se tornou normal aceitar essa condição”, pontuou. Ainda, lembrou que os negros são desconsiderados na hora de criar leis que afetam a sociedade, mas que essa população é de extrema importância e tem muito a acrescentar no desenvolvimento, e instigou a plateia ao questionar: “Nós aceitamos ou provocamos essas diferenciações? ”.
Ao longo de sua fala, Graça conceituou a Natureza como uma entidade que criou o ser humano e os recursos para que ele possa viver em harmonia. Em relação às catástrofes climáticas, disse que “a natureza está zangada e nos manda sinais”. Enfatizou a necessidade de viver em equilíbrio, afirmando que a Natureza fez a “máquina tão perfeita, que é o corpo humano”. A ativista colocou em questão a relevância dos itens básicos à sobrevivência e ao conforto em relação à ganância que tem destruído os recursos naturais. “A família humana decidiu que ter o necessário não era o suficiente. Com isso, nasceram os excessos e a acumulação. Instituímos relações de poder em que uns podem se impor sobre os outros, julgando-se superiores”, refletiu.
Graça afirmou que todas as gerações têm seus desafios, e que “as próximas precisam redefinir agora o seu objetivo e o porquê de nós, seres humanos, existirmos”. Ela acredita que, apesar das facilidades promovidas pelas novas tecnologias, as pessoas necessitam de uma comunicação olho no olho, para lembrarem-se da “faísca da vida”, termo mencionado diversas vezes em seu discurso.
Um de seus temas preferidos também foi abordado: o ativismo dos movimentos sociais, lançando algumas perguntas ao público: “O que enriquece a nossa estadia (na Terra)? Como tocamos o coração uns dos outros? Como compartilhar? Quais as nossas causas? ”. Trazendo seu exemplo de vida, recordou: “Foram os movimentos sociais que permitiram ao meu país, Moçambique, ser livre, porque tínhamos uma causa pela qual lutar”.
Ao final da conferência, Graça foi questionada pelo jornalista Tulio Milman sobre a diferença entre tolerar e aceitar, conceitos que elaborou ao longo da apresentação. A moçambicana argumentou que tolerar cria um elemento de tensão e implica em juízo de valor sobre a outra pessoa, diferentemente de aceitar, quando se reconhece o direito e escolha do outro. “Temos papéis, mas nenhum é superior ao outro”, explicou Graça, sob os aplausos da plateia.
Graça Machel tem uma longa história de luta pelos direitos internacionais dos negros, das crianças e das mulheres. Esteve presente na Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e durante a Luta Armada da Libertação Nacional. Em 1976, ao lado do então marido e presidente de Moçambique, Samora Machel (1933 – 1986), foi ministra da educação e da cultura. A ativista foi nomeada pela Organização das Nações Unidas (ONU), na década de 1990, para o Estudo do Impacto dos Conflitos Armados na Infância, trabalho reconhecido com a Medalha Nansen, concedida pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em 1995. Sua atuação aproximou-a do seu segundo marido, Nelson Mandela, com quem viveu de 1998 até o falecimento líder sul-africano, em 2013.
A PUCRS se mantém parceira cultural do Fronteiras do Pensamento. Nesta edição, uma das conferências ocorre na Universidade, dia 21 de outubro, no Salão de Atos, com o psicanalista e cronista italiano Contardo Calligaris, radicado no Brasil. Professores e técnicos administrativos da Universidade e da Rede Marista podem adquirir o pacote com todos os oito encontros usufruindo do desconto de 50%. Os ingressos não são vendidos separadamente.
Nesta edição, o tema será Sentidos da Vida – Siga o conhecimento, cultive a inspiração, vivencie o debate, ultrapasse as fronteiras. O evento começa em 13 de maio, com a ativista de direitos humanos Graça Machel, de Moçambique, viúva de Nelson Mandela. Em 17 de junho, será a vez do escritor norte-americano Paul Auster; em 1º de julho, o filósofo e escritor britânico Roger Scruton; em 19 de agosto, o médico congolês Denis Mukwege, Prêmio Nobel da Paz de 2018; em 2 de setembro, a física e astrônoma norte-americana Janna Levin; em 23 de setembro, o cineasta alemão Werner Herzog; em 21 de outubro, o psicanalista Contardo Calligaris; e, em 11 de novembro, o filósofo francês Luc Ferry. Essas conferências ocorrem a partir das 19h45min, no Salão de Atos da UFRGS, exceto a de outubro.
Interessados podem adquirir o pacote de ingressos neste link, após solicitar o código que habilita o desconto pelo e-mail [email protected] ou fone 4020-2050.
O perfil individualista das novas gerações norte-americanas, que não se engajam em causas coletivas ou na política e não se veem como cidadãos, preocupa o cientista político norte-americano Mark Lilla. A democracia em tempos de algoritmos nas mídias sociais, que tendem a mostrar candidatos nas eleições como produtos a serem consumidos por eleitores que só querem ouvir o que lhes agrada é alvo de crítica do filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé. Essas manifestações estiveram presentes nas falas dos dois conferencistas que fecharam o ciclo 2018 do Fronteiras do Pensamento, que em 2018 foi pautado pelo tema central O Mundo em Desacordo: Democracia e Guerras Culturais.
A noite de 19 de novembro foi dedicada à PUCRS, apoiadora cultural do projeto. Antes e após a conferência foram promovidas ações de relacionamento no Salão de Atos da UFRGS. A saudação musical foi oferecida pelo Instituto de Cultura, com a exibição da pianista Mari Kerber e do músico Ale Ravanello, diplomado em Direito pela PUCRS. Houve também a exibição do vídeo Histórias de Transformação PUCRS e, ao final, os participantes receberam a edição especial da Revista PUCRS, comemorativa aos 70 anos da Universidade. A atividade foi prestigiada pelo reitor, Ir. Evilázio Texeira, o pró-reitor de Graduação e Educação Continuada, Ir. Manuir Mentges, o pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários, Marcelo Bonhemberger e assessores da Reitora.
Em sua primeira passagem pelo Brasil, Lilla abriu sua apresentação traçando um histórico dos principais fatos que impactaram o mundo no século 20 e como repercutiram na democracia contemporânea. O cientista político destacou que normalmente são recordados fatos negativos, como as duas grandes guerras e as consequências. No entanto, sinalizou com questões positivas como o movimento de solidariedade a partir dos anos 1950, inspirados nas falas do presidente dos EUA Franklin Roosevelt. Isso, segundo Lilla, durou até a década de 1990, acompanhado de uma mentalidade centrada em uma teoria mais liberal, tendo como ícones Ronald Reagan e Margareth Thatcher. “Nos anos 90, o neoliberalismo fazia muito sentido para países como os EUA e a Grã-Bretanha. Esse comportamento gerou uma atomização da sociedade”, apontou.
Lilla destacou um saudosismo em relação às causas que mobilizaram a segunda metade do século passado. “Considero a luta pelos direitos de negros e gays um dos melhores momentos da história da América. Eles tiveram de convencer uma América branca e masculina a aderir às suas propostas”. Após isso, houve um deslocamento do sentido de solidariedade para a autodefinição, refletiu. O conferencista crê que a mudança de pensamento gerou um neoliberalismo social, afetando o comportamento de jovens. “Temos hoje uma esquerda radical americana, que se opõe ao neoliberalismo tradicional e cria o neoliberalismo social”. Ele criticou que as novas gerações são mais isoladas, egoístas, não se casam e pensam apenas nos próprios problemas. “Estamos nos tornando partículas elementares”, citando Michel Houellebecq.
Para superar, Lilla propôs: “Precisamos redescobrir as virtudes da cidadania. Existe o bem que precisa ser protegido. A única coisa que compartilhamos é a cidadania. Por isso, devemos ser vistos como iguais e enfrentar as forças históricas que minaram a sociedade”, destacou. Ao encerrar sua manifestação, enfatizou: “Democracias sem democratas não duram. Elas decaem para regimes totalitários. Me entristece que o Brasil possa sofrer das mesmas patologias que meu país vive hoje”.
Na sequência do norte-americano, o filósofo brasileiro Pondé destacou que “o mais importante do poder é limitar o poder. Nesse sentido, a democracia é o melhor regime”. Ele analisou o cenário atual com base em pesquisa realizada nos EUA mostrando que as pessoas mais politizadas e engajadas tendem a ser as mais intolerantes, diferentemente do que se pode imaginar. Também citou que grande parte dos eleitores pouco pesquisam sobre os candidatos, mesmo com alto grau de instrução. Esse comportamento se reflete nas mídias sociais, onde se proliferam respostas simples para questões complexas. “As pessoas têm praticado política por ressentimento,” lamentou.
Um dos pontos enfatizados por Pondé é a democracia condicionada aos algoritmos. Ela começa a ficar condicionada à análise dos desejos do eleitor, como produtos comerciais. O filósofo conclui mencionando experimentos para “atenuar os impactos da participação do eleitor”. Citou um recente referendo na Grécia, sobre a situação a adesão ao pacote econômico, no qual a população votou negativamente. No entanto, a Comunidade Europeia relativizou a opinião popular, levando a compreender que a população não entende de economia e, por isso, não é capaz de tratar do tema. No caso do Brasil, referiu a tendência de o Supremo Tribunal Federal legislar, sem que seja um poder representativo. Essa seria uma forma nacional de atenuar a democracia, segundo Pondé, citando o fenômeno chamado de folk theory of democracy, ou mito da democracia.
No encerramento do evento, ao ser questionado sobre o papel da imprensa na atualidade, o filósofo defendeu que “o papel da mídia é de vigilância da liberdade de expressão, de observar as realidades, ser gatekeeper, fazer o filtro. Esse papel fica prejudicado quando ela tenta fazer pregação social e moral”, concluiu.
A conferência final de 2018 do Fronteiras do Pensamento, no próximo dia 19 de novembro, traz a Porto Alegre um debate entre dois grandes pensadores da atualidade: o cientista político norte-americano Mark Lilla e o filósofo brasileiro Luiz Felipe Pondé. A noite será dedicada à PUCRS, apoiadora cultural do ciclo de palestras, e contará com ações de relacionamento promovidas no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), a partir das 19h, onde é realizado o evento. A saudação musical, que antecede a apresentação dos conferencistas, será oferecida pelo Instituto de Cultura, com a exibição da pianista Mari Kerber e do músico Ale Ravanello, diplomado em Direito pela PUCRS.
Professores, técnicos administrativos, mestrandos, doutorandos e Alumni (diplomados) da Universidade contam com 50% de desconto nos ingressos, abatimento válido também para um acompanhante. Os diplomados, para terem acesso ao valor diferenciado, devem portar a carteira Alumni na hora da compra. Informações sobre as carteiras podem ser obtidas pelos contatos da Rede Alumni. Estudantes de graduação têm meia-entrada, se portarem carteira de identificação estudantil, conforme legislação.
Para se inscrever é preciso ligar para o telefone (51) 4020-2050 ou enviar e-mail para [email protected], informando nome completo, telefone e qual modalidade de desconto tem, reservando no máximo dois ingressos. O pagamento e a retirada das entradas são feitos no dia da conferência, na bilheteria do Salão de Atos da UFRGS.
Lilla é especialista em história intelectual, com foco particular no pensamento político e religioso do Ocidente. Completou sua formação nas universidades Wayne State e de Michigan, e fez seu mestrado na Kennedy School of Government na Universidade de Harvard. Sua trajetória acadêmica e a aproximação dos pensadores conservadores o tornaram reconhecido como um “historiador de ideias”. É autor de A mente imprudente – Os intelectuais na atividade política, que traz um perfil de pensadores que fecharam os olhos ao autoritarismo, à brutalidade e ao terrorismo de Estado; e A mente naufragada – Sobre o espírito reacionário, que apresenta o reacionário não como um conservador, mas como uma figura tão radical e moderna quanto o revolucionário.
Pondé é um dos mais polêmicos pensadores do País e autor de uma das colunas mais discutidas da imprensa brasileira, publicada no jornal Folha de S.Paulo desde 2008. Graduado em Filosofia pela USP, é mestre em História da Filosofia Contemporânea pela mesma universidade e doutor em Filosofia Moderna pela USP/Universidade de Paris, além de possuir pós-doutorado pela Universidade de Tel Aviv. Em 2017, publicou Marketing existencial, analisando por que a produção de bens da época atual se confundiu com os anseios existenciais dos indivíduos e deixou de atender à mera satisfação das necessidades básicas. Seu livro mais recente é Amor para corajosos: reflexões proibidas para menores, que tem o amor romântico, chamado pelos medievais de “doença da alma”, como foco principal.
Na noite de segunda-feira (22 de outubro), os escritores Javier Cercas e Alejandro Zambra foram os convidados do Fronteiras do Pensamento. O tema central das duas apresentações foi a literatura, suas definições e magia, a identidade como autores e a necessidade de não se calar, visto que ambos vêm de países marcados por ditaduras.
Traduzido em mais de 30 idiomas, o espanhol Cercas acredita que um romance genial carrega uma ambiguidade permanente e tem como legado ser “um antídoto contra a visão totalitária e dogmática do mundo”. As lacunas deixadas pelo escritor convidam o leitor a encontrar um labirinto e entrar a fundo em um território que só esse tipo de texto pode explorar. “O livro é uma partitura que cada um interpreta à sua maneira.”
Cercas citou três clássicos que perduram no tempo: Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes, Moby Dick, de Helman Melville, e O processo, de Franz Kafka. Em comum, trazem perguntas que levam a respostas contraditórias, gerando mais complexidade. Afinal, Dom Quixote era louco? Por que Ahab está obcecado pela baleia branca, Moby Dick? Qual crime baseia o processo de Josef K.?
O mesmo ponto cego que é o centro do romance moderno aparece no premiado registro histórico Soldados de Salamina. Na obra, Cercas conta o episódio de 1939, no final da Guerra Civil Espanhola, em que Rafael Mazas escapou da morte em um fuzilamento coletivo. Por que foi poupado pelo soldado que o encontra depois? Teórico da Falange Espanhola, Mazas seria mais tarde ministro do ditador Franco.
“O bom político reduz os problemas, resolvendo-os. O bom escritor enfrenta as questões, complicando-as. O genial cria problemas onde não havia. Complicando a vida, a enriquece”, percebe Cercas.
Zambra começou referindo Cercas como um dos escritores que mais admira, “um péssimo político”. A estreia de sua carreira foi como poeta, para ele, um mito chileno. “Temos dois campeonatos mundiais e a Argentina nenhum”, brincou com a plateia, referindo-se a Pablo Neruda e Gabriela Mistral, que conquistaram o Prêmio Nobel de Literatura. “Não que as pessoas lá estejam escrevendo por todo lado, mas é algo plausível.”
Passou para a prosa em um momento de ceticismo e solidão em que nenhuma busca fazia sentido e, ao mesmo tempo, não podia renunciar à luta. De Clarice Lispector segue o conselho de desconfiar do texto. “No Chile há um divórcio entre o falado e o escrito. Muitas frases não podem estar no papel.” Zambra vê o romance como “o eco de um poema reprimido”. “Poetas chilenos se esqueceram de Neruda, mas nós, narradores, não.”
Na sua casa recebiam como brindes coleções de livros, divididas por cores. “Crescemos lendo os chilenos mortos, pois o restante estava no exílio”, conta Zambra, lembrando o período Pinochet. A partir dos anos 90, liam chilenos como estrangeiros e vice-versa. Zambra acredita que a literatura é pessoal e nacional, uma falha, uma luta.
No final do evento, o mediador Sergius Gonzaga reuniu perguntas em torno do tema democracia e situação brasileira. Aos gritos de #elenão, vindos da plateia, Cercas demonstrou preocupação com as eleições presidenciais, lembrando que o país não está distante do que ocorre no ocidente, a exemplo da ascensão de Donald Trump nos EUA. “O nacional-populismo é uma máscara pós-moderna do totalitarismo dos anos 30. A história não se repete. Nós repetimos nos erros. A busca de líderes carismáticos e de culpados entre mexicanos, árabes. Não estamos conscientes dos riscos à democracia.” Zambra disse não poder crer que “alguém a favor da ditadura e contra minorias sexuais vença”.
Respondendo a outro questionamento do público, Cercas vê o termo “leitura obrigatória” como contraditório. “Ler é um prazer. Daria Júlio Verne e Stevenson para um jovem de 15 anos e não Dom Quixote.” Causou risos na plateia ao dizer que essa obra prima não ganharia o Prêmio Cervantes, pois na época era “de segunda categoria”, reforçando que literatura é entretenimento. “Não é para gente séria e professores, é para o povo.”
Zambra recomenda que os docentes escolham livros que não conheçam. “Não devem ter medo de horizontalizar o assunto, permitir o diálogo.”
A PUCRS é parceira cultural do evento. Professores, técnicos administrativos, mestrandos, doutorandos e Alumni (diplomados) da Universidade contam com 50% de desconto no pacote de ingressos para as conferências, abatimento válido também para um acompanhante. Os diplomados, para terem acesso ao valor diferenciado, devem portar a carteira Alumni na hora da compra. Informações sobre as carteiras podem ser obtidas pelos contatos da Rede Alumni. Estudantes de graduação têm meia-entrada, se portarem carteira de identificação estudantil, conforme legislação.
Para reservar (no máximo dois ingressos), é preciso ligar para o telefone (51) 4020-2050 ou enviar um e-mail para [email protected], informando nome completo, telefone e modalidade de desconto. O pagamento e a retirada das entradas são feitos no dia da conferência, na bilheteria do Salão de Atos da UFRGS.
A próxima conferência do Fronteiras do Pensamento, em 19 de novembro, terá um novo debate especial com o cientista político e historiador Mark Lilla e o filósofo Luiz Felipe Pondé. O evento ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), às 19h30min. O mundo em desacordo: democracia e guerras culturais é o tema da temporada de 2018.
Uma maneira irreverente e rebelde de mostrar a arte. Essas são as principais características de Ai Weiwei, artista, arquiteto, cineasta e ativista político chinês, que foi o conferencista do Fronteiras do Pensamento, realizado na última segunda-feira, dia 8 de outubro, no Salão de Atos da UFRGS. Weiwei abordou vários temas, entre eles, as suas mais recentes obras desenvolvidas no Brasil. A abertura do evento foi realizada pelo curador da sua exposição, Marcello Dantas, que antecipou à plateia alguns trabalhos que o artista exibirá no país. Com início no dia 20 de outubro, a mostra acontece no Oca, no Parque Ibirapuera, em São Paulo.
Dantas destacou que esta será a maior exposição do artista chinês em todos os tempos. Para concebê-la, Weiwei realizou uma grande imersão no país, montando três ateliers nas cidades de Trancoso (Bahia), Juazeiro do Norte (Ceará) e São Paulo (São Paulo).
Para a sua exposição, o artista buscou identidades culturais no Brasil, que foram interpretadas pelos seus métodos e pensamentos por meio de uma arquitetura modular. Ele buscou a biodiversidade e a produção de figuras brasileiras, como o dramaturgo e romancista pernambucano Ariano Suassuna, que criou a tipografia de alfabeto armonial e que também terá seu trabalho revisitado a partir do olhar do artista. As obras envolveram pessoas e técnicas brasileiras.
Entre os destaques, está o Raiz, uma série de obras feitas com centenárias raízes do pequi-vinagreiro, espécie de árvore típica da Mata Atlântica baiana atualmente em risco de extinção, encontradas desenterradas na região de Trancoso. Também criou um trabalho que enfatiza na escravidão no Brasil, representada por palavras marcadas por ferros em brasa em couros de vaca, simbolizando o que era feito nas faces dos escravos.
Já em Duas Figuras representa a identidade sexual do brasileiro e, para isso, usou dois corpos, o seu próprio e de uma modelo, que foram moldados em gesso. Outra obra é o barco de refugiados, que terá três metros de altura, infláveis e todo preto, que vai circular por praias do país. E o Terezas que demonstra o sentimento de fuga e alguns museus serão decorados com grandes cordas confeccionadas por presidiárias da Penitenciária Feminina de Tremembé, no estado de São Paulo.
A principal obra da exposição é uma escultura que faz a réplica de uma árvore centenária. A origem da ideia veio após uma visita de seu pai, o poeta Qing Ai, em 1954, quando visitou a América Latina. Essa vinda à região do continente rendeu um livro com poemas. “Como li essa obra, queria saber mais sobre a América Latina. Quando cheguei, pela primeira vez, em 2015, queria muito aprender, criar uma conexão, principalmente com o Brasil. Visitei vários ateliers e realizei pesquisas que chegaram a essa imagem da árvore antiga”, recorda.
Com 35 metros de altura, a árvore, que já está condenada, foi copiada tridimensionalmente e será modulada em ferro. Uma equipe da China veio até o país permanecendo por 100 dias. Dividida em 100 pedaços, a construção da escultura será parecida como o do pagode, um tipo de torre com múltiplas beiradas, comum na China. “Se me perguntarem porque eu fiz isso, não sei dizer. Você pode perguntar para alguém, porque você ama aquela pessoa. Ela não vai saber dizer o porquê. Eu senti a possibilidade de fazer isso (a escultura) e fiz”, explicou.
Abordado pelos temas, Weiwei frisou que, como em todo o mundo, é algo não desejável. “Temos que lembrar do dia seguinte, ver a importância dos indivíduos. Do muro de Berlim até os dias de hoje, outros 70 muros foram construídos com pessoas fugindo da guerra. Além disso, cresce a intolerância, como nos Estados Unidos, com o Trump, e o neonazismo na Alemanha”, exemplificou.
Segundo o artista, o ódio no mundo tem aumentado após a globalização. “O capitalismo contribuiu para crescer os conflitos regionais. As grandes empresas vêm aumentando as diferenças entre as classes sociais”, sentenciou.
Com relação à escravidão, para ele é algo muito triste para o desenvolvimento humano, fato que ocorreu não só no Brasil, mas em vários países colonizados. “É importante apreender com esse passado. Hoje, vivemos num mundo que se deve olhar mais a condição e os direitos humanos, que sempre devem ser discutidos. É algo que temos que lutar constantemente”, apontou.
“Escrever é o meio mais eficiente, algo que não podemos vender. É registro mais preciso dos seus pensamentos. É o que eu mais gosto de fazer, talvez seja por influência do meu pai”, comentou Weiwei.
Em relação à comunicação, o artista lembrou o quão a internet é restrita em sua terra natal, um restrição regional das redes sociais. “Não é possível a livre manifestação, que é controlada por policiais. Se você fizer algo errado, vão bater na sua porta e dizer que querem tomar um chá na sua casa. Um amigo meu advogado postou algumas frases no Twitter e pegou cinco anos de cadeia”, disse.
Quando se tornou mais atuante na internet, realizando críticas mais abertas, Weiwei lembrou que foi espancado por policiais. “O meu site chegou a ser fechado. Na China, se você digitar o meu nome, vai aparecer nada. A internet é uma ferramenta que o indivíduo pode expressar a sua própria informação”, finalizou.
A PUCRS é parceira cultural do evento. Professores, técnicos administrativos, mestrandos, doutorandos e Alumni (diplomados) da Universidade contam com 50% de desconto no pacote de ingressos para as conferências, abatimento válido também para um acompanhante. Os diplomados, para terem acesso ao valor diferenciado, devem portar a carteira Alumni na hora da compra. Informações sobre as carteiras podem ser obtidas pelos contatos da Rede Alumni. Estudantes de graduação têm meia-entrada, se portarem carteira de identificação estudantil, conforme legislação.
Para se inscrever é preciso ligar para o telefone (51) 4020-2050 ou enviar um e-mail para [email protected], informando nome completo, telefone e qual modalidade de desconto, reservando no máximo dois ingressos. O pagamento e a retirada das entradas são feitos no dia da conferência, na bilheteria do Salão de Atos da UFRGS.
A próxima conferência do Fronteiras do Pensamento será em 22 de outubro com dois escritores: o espanhol Javier Cercas, reconhecido por explorar em seus livros os limites entre a realidade, e o chileno Alejandro Zambra, considerado um dos mais relevantes autores da literatura latino-americana contemporânea. O evento ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), às 19h30min. O mundo em desacordo: democracia e guerras culturais é o tema da temporada de 2018.