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Foto: Luiz Munhoz

“O que é uma vida boa para os mortais?” Esse foi o questionamento que norteou a conferência do filósofo francês Luc Ferry nesta segunda-feira, 11 de novembro. O intelectual escreveu o último capítulo da edição de 2019 do Fronteiras do Pensamento. Com o Salão de Atos da UFRGS lotado, o conferencista conversou com o público gaúcho do Fronteiras pela segunda vez. Há 12 anos, Ferry esteve na capital para o evento inaugural do seminário. Na ocasião, falou da filosofia como ferramenta para que os pais possam projetar a educação dos filhos. Neste ano, foram oito conferências que giraram em torno do tema Sentido da Vida a partir de abordagens como astronomia, cinema e psicanálise. O evento tem apoio cultural da PUCRS.

O que é uma vida boa? Grandes respostas da humanidade
Para chegar a sua conclusão, Ferry retomou quatro grandes respostas da história da humanidade para o grande questionamento da noite. “O que elas têm em comum? Estão todas ligadas a ideia de harmonia”, explicou. A primeira tem relação com a Odisseia, de Homero, que serve de modelo para toda a filosofia grega. Ela conta a história de Ulisses, rei grego que vai da guerra de Tróia para a paz nos braços da família, do caos a harmonia. “O fio condutor da história é que ele vai da vida ruim para a vida boa. Vida boa para Ulisses é a colocação de si mesmo em harmonia com o mundo”, destacou.

A segunda grande resposta é aquela ligada às religiões. “A harmonia não mais com o cosmos, mas com os mandamentos divinos. Em troca, a salvação”, afirmou o filósofo. A terceira questão que buscou resolver a pergunta principal traz uma solução humanista. Ferry contou que com o iluminismo e a democracia, a resposta para uma vida boa foi humanizada, e não é mais a harmonia com o cosmos ou com Deus. “Ela está numa pequena frase conhecida mundialmente: a minha liberdade termina onde começa a do outro”, salientou. O sentido da vida nesta terceira fase é a harmonia com os outros. O francês complementa: “e, se possível, tenho que fazer algo a mais para acrescentar na humanidade”.

Foto: Luiz Munhoz

Foto: Luiz Munhoz

De acordo com o conferencista, a quarta resposta domina o mundo hoje. “Não gosto dela, mas vou contar: Nietzsche diz que faz filosofia com um martelo. Ele é um “desconstrutor”, rompeu com as transcendências passadas. Quebra as três respostas anteriores com esse martelo, pois pensa que elas são alienações que nos privam da nossa liberdade”, explicou. Ferry contou que, uma vez que tudo são ilusões, então só resta o umbigo de cada um, o individualismo, o narcisismo, a preocupação consigo mesmo. “E o que está atrás de si mesmo? A felicidade. O mundo inteiro está inundado de livros sobre lições de como ser feliz. E isso é o resultado destas desconstruções. Hoje ouvimos que temos que aprender a amar a nós mesmos como amamos nossos filhos. Para mim, isso é a definição de loucura”, expôs.

Mas afinal, qual resposta interessa a Ferry?
A quinta resposta é a que apaixona o filósofo. E ele a divide em duas revoluções: a do amor e a da longevidade.

A revolução do amor
Nos anos 50 e 60, os historiadores se interessaram por algo inédito até então: a história da vida privada. Ou seja, a rotina das pessoas comuns, o que elas comiam, como morriam, como se casavam, etc. “Com isso, eles nos ensinaram duas coisas: todos os casamentos eram arranjados, e o capitalismo inventou o casamento por amor”, explicou.

“O grande problema do casal moderno é transformar a paixão em algo como uma amizade amorosa, uma cumplicidade por amor”

“Antes, a mortalidade era baixa, então as pessoas não ficavam casadas por muito tempo. Hoje, elas vivem mais, e ficam casadas por 50, 60 anos, o que pode parecer uma eternidade”, disse o filósofo, arrancando risos da plateia. Sobre o capitalismo, Ferry relembrou que ele trouxe o trabalho assalariado, com isso, o proletariado e o mercado de trabalho. Essa transformação está intimamente ligada a história das mulheres: “Para elas, é uma formidável emancipação. Autônomas financeiramente falando, elas podem escolher com quem querem casar e, mais do que isso, escolher quem amam. Assim nasceu o casamento por amor”.

Foto: Luiz Munhoz

Foto: Luiz Munhoz

A revolução do transumanismo
Para Ferry, essa é uma revolução muito contemporânea. Para explicá-la, ele relembrou que quando os gregos, os chineses e os árabes inventaram a medicina, só existia um modelo: o terapêutico. O médico estava lá para tratar e cuidar do doente. “Os transumanistas dizem que chegou a hora de acrescentar a medicina da melhoria do ser humano. Fazer com o ser humano o que se faz com o milho transgênico, resistente à seca na África, por exemplo. Dizendo isso, já ouço meus amigos intelectuais criticando a ideia. E não se trata de criar super humanos, mas aumentar a longevidade humana”, defendeu o conferencista.

Ele ainda fez uma ressalva: “não confundam expectativa de vida e longevidade. A expectativa de vida aumentou ao longo da história, a longevidade não. O máximo que uma pessoa já viveu foi 122 anos”. O filósofo complementou: “os transumanistas dizem que chegou a hora de corrigir as falhas genéticas, por exemplo”.

Consequências das duas revoluções
O que os dois movimentos trouxeram está muito relacionado a ideia de pensamento alargado, de Kant. “Com os horizontes ampliados, entendendo outras culturas, você se humaniza mais. Isso nos permite encontrar mais pessoas que podemos amar. O que dá sentido à nossa vida são os horizontes ampliados”, respondeu.

Finalizando a linha de raciocínio, Ferry apontou que a velhice tem uma vantagem: “uma coisa que um jovem muito inteligente jamais conseguirá substituir é a experiência”.

“E, no fundo, essas duas revoluções dão sentido à nossa existência: o amor, que dá sentido à vida, e o aperfeiçoamento de si mesmo, não para olhar para o próprio umbigo, mas para alongar os horizontes e se relacionar mais com os outros”, completa.

Sobre o filósofo francês
Ferry tem 68 e é formado em Filosofia pelas universidades de Sorbonne e de Heidelberg e doutor em Ciência Política pela Universidade de Reims. Recebeu os graus de Cavaleiro da Legião da Honra e da Ordem das Artes e das Letras da República Francesa, além de prêmios como Droits de l’Homme e Ernest Thorel. Entre 2002 e 2004, foi titular do Ministério da Educação do governo de Jacques Chirac.

Luc Ferry esteve no Fronteiras nos anos de 2007, 2011 e 2015. É um dos filósofos franceses mais lidos da atualidade. Autor de dezenas de publicações sobre temas atuais e questões existenciais, foi com seu livro Aprender a viver que se tornou um best-seller conhecimento em todo o mundo. Na obra, ele mostra como a filosofia pode desempenhas o papel de uma alternativa laica à religião.

O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem, com patrocínio Unimed Porto Alegre e Hospital Moinhos de Vento, parceria cultural PUCRS, e empresas parceiras Unicred e CMPC. Universidade parceira UFRGS e promoção Grupo RBS.

fronteiras do pensamento 2019,sentidos da vidaO projeto Fronteiras do Pensamento, com apoio cultural da PUCRS, encerra a temporada 2019 na próxima segunda-feira, 11 de novembro, com a conferência de Luc Ferry, um dos filósofos franceses mais lidos da atualidade. O evento ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110 – Porto Alegre), a partir das 19h45min, e o ingressos estão esgotados.

Autor de dezenas de publicações sobre temas atuais e questões existenciais, foi com seu livro Aprender a viver que se tornou um best-seller conhecido em todo o mundo. Na obra, ele mostra como a filosofia pode desempenhar o papel de uma alternativa laica à religião.

Luc Ferry é conhecido, pelo público do Fronteiras, como um dos mais esclarecedores convidados ao longo destes anos. É pela capacidade do pensador de abordar questões complexas e atemporais como situações práticas e angústias que habitam em cada um de nós. Esta mesma capacidade o tornou um dos maiores divulgadores da filosofia na contemporaneidade.

E é por isso, também, que ele esteve no projeto nos anos de 2007, 2011, 2015 e retorna agora, no Fronteiras do Pensamento 2019. Ferry é responsável pela conferência de encerramento desta temporada e por trazer a filosofia para fechar um ano em que os Sentidos da Vida são o norte.

Com conteúdo do portal Fronteiras.com.

Foto: Luiz Munhoz

Foto: Luiz Munhoz

O psicanalista e cronista italiano radicado no Brasil Contardo Calligaris foi o conferencista da noite desta segunda-feira, 21 de outubro, no Fronteiras do Pensamento, na noite dedicada à PUCRS, apoiadora cultural do projeto. O evento ocorreu no Centro de Eventos da Universidade e contou com a abertura do grupo de percussão do Centro Social Marista (Cesmar). Calligaris permeou a exposição com histórias de sua vida, sempre na presença do pai, um médico cardiologista italiano.

Durante a sua infância, a família tinha uma biblioteca em casa e, diante dela, o pai lhe disse que há livros que são escritos para tapar buracos na estante e outros para preservar estes espaços. “Nunca parei de me perguntar quais são os livros que tapam e quais preservam os buracos na estante”, afirmou. Usando esta metáfora, o psicanalista disse que essa ideia – de que sempre faltará um livro para preencher o buraco na estante – nos move, pois nunca encontramos um caminho-mestre que tape esse buraco, em busca de um sentido para a vida.

Estudioso de temas como cultura e psicanálise, em especial sobre a suposta obrigatoriedade da felicidade, do gozo, da beleza e dos excessos, o conferencista afirmou que existe hoje uma crítica ao hedonismo, quando se coloca o prazer acima de tudo: “Para aproveitar os ditos prazeres da vida, é preciso atenção. Somos uma cultura bastante desatenta”, alertou, lembrando da importância de se apreciar a vida concreta, pequenos momentos da rotina. Mais adiante em sua exposição, exemplificou acrescentando que, ao visitar museus, elege três obras para apreciar. Durante algumas horas, fica observando aqueles exemplares e não visita outros dentro do mesmo local, não perdendo assim o foco do que realmente importa para ele.

Apresentação do grupo de percussão do Cesmar Foto: Luiz Munhoz

Apresentação do grupo de percussão do Cesmar
Foto: Luiz Munhoz

Mas afinal, qual o sentido da vida? Em busca dessa resposta, observou que a única verdadeira obra de arte de cada um é a própria vida. O indivíduo tenta reprimir suas dúvidas quando duvida de suas certezas. “O que responde ao medo da liberdade é a boçalidade. Ser boçal é reprimir no outro a liberdade que me apavora”. E concluiu: “o sentido da vida é a própria vida concreta. A que vivemos e da qual morrer faz parte”. Ao final, o psicanalista participou de um bate-papo com o professor da Escola de Humanidades Luciano Marques de Jesus, com mediação do jornalista Daniel Scola.

Sobre Contardo Calligaris

A trajetória de Contardo Calligaris é marcada pela reflexão sobre a existência humana. No consultório de psicanálise ou em seus textos e livros, Calligaris aborda as questões da adolescência e as angústias provocadas pelos desafios contemporâneos. Em 1985, veio ao Brasil para o lançamento de seu primeiro livro de psicanálise, Hipótese sobre o fantasma. Posteriormente, acabou fixando residência no País, onde mora até hoje. Publicou diversos livros, incluindo romances e uma peça teatral. Também criou a série de televisão intitulada Psi, exibida no canal a cabo HBO.

Doutor em psicologia clínica pela Universidade de Provence, iniciou seus estudos nas áreas das letras e da filosofia. Em 1975, foi aceito como membro da Escola Freudiana de Paris, onde morou até 1989. Lecionou na Universidade Paris 8 e teve aulas com os filósofos franceses Roland Barthes e Michel Foucault, além de acompanhar os seminários ministrados pelo psicanalista francês Jacques Lacan, uma grande influência em sua formação. Além de atender nos seus consultórios em São Paulo e Nova York, é colunista da Folha de S.Paulo.

Fronteiras do Pensamento

Esta foi a 7ª conferência do Fronteiras do Pensamento neste ano, cujo tema principal é Sentidos da Vida. A última edição terá o filósofo Luc Ferry, dia 11 de novembro.

fronteiras do pensamento 2019,sentidos da vidaO psicanalista e cronista italiano Contardo Calligaris é o próximo conferencista do Fronteiras do Pensamento 2019, que no dia 21 de outubro, às 19h45min, ocorre no Centro de Eventos da PUCRS. A Universidade é parceira cultural do projeto. O pacote de ingressos está esgotado, mas a comunidade universitária tem acesso a cortesias pelos canais de comunicação internos.

A trajetória de Calligaris é marcada pela reflexão sobre a existência humana. No consultório ou em seus textos e livros, aborda as questões da adolescência e as angústias provocadas pelos desafios contemporâneos. Em 1985, veio ao Brasil para o lançamento de seu primeiro livro de psicanálise, Hipótese sobre o fantasma. Posteriormente, acabou fixando residência no País, onde mora até hoje. Publicou diversos livros, incluindo romances e uma peça teatral. Também criou a série de televisão intitulada Psi, exibida no canal a cabo HBO.

Doutor em Psicologia Clínica pela Universidade de Provence, na França, iniciou seus estudos nas áreas das Letras e da Filosofia. Em 1975, foi aceito como membro da Escola Freudiana de Paris, onde morou até 1989. Lecionou na Universidade Paris 8 e teve aulas com os filósofos franceses Roland Barthes e Michel Foucault, além de acompanhar os seminários ministrados pelo psicanalista francês Jacques Lacan, uma grande influência em sua formação.

Além de atender nos seus consultórios em São Paulo e Nova York, é colunista da Folha de S.Paulo. Em seu trabalho, Contardo Calligaris aborda temas como cultura e psicanálise, em especial sobre a suposta obrigatoriedade da felicidade, do gozo, da beleza e dos excessos.

O Fronteiras 2019 também terá o filósofo Luc Ferry, dia 11 de novembro. O tema deste ano é Sentidos da Vida.

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Foto: Luiz Munhoz

“Se você não consegue compreender o coração de um homem, não é possível ser um cineasta”. Com essa e outras frases de efeito, o alemão Werner Herzog encantou a plateia que lotou o Salão de Atos da UFRGS na noite desta segunda-feira, 23 de setembro, ao apresentar algumas de suas criações em uma trajetória de décadas de cinema autoral. Conhecido por fazer cinema de forma independente, ele brindou os presentes com trechos de materiais inéditos, ainda brutos, e enfatizou a experiência proporcionada a quem assiste, desde o aspecto estético até as sensações despertadas pela trilha sonora. “Tento criar uma conspiração entre o espectador e o que está na tela”, revelou. O cineasta foi o sexto conferencista da temporada 2019 do Fronteiras do Pensamento, evento com apoio cultural da PUCRS e que, neste ano, é guiado pelo tema Sentidos da Vida.

A forma de trabalho de Herzog é única, e ele faz questão de ressaltar isso a cada momento. Em uma recente produção, filmou com drone uma área desértica na Austrália onde houve a queda de um meteorito há milhares de anos. Esse é um tema que o encanta, pois remete aos mistérios da vida. “Meteoritos comprovam que fora do Universo existem formas que não deveriam existir, com mais de 3,8 bilhões de anos. Ao filmar isso, eu sigo o impulso da minha fantasia”, comentou, destacando a existência dos quase cristais, formas misteriosas que tem pesquisado.

“Tudo que tem a ver com cinema não me traz nada senão alegria. Todos os elementos surgem em uníssono para mim. Eu vejo o filme por inteiro, como se já estivesse na tela”

Embora tenha em suas produções atores conhecidos como Nicolas Cage, que estrelou o filme Vicio Frenético (2009), e Christian Bale, que protagonizou O Sobrevivente (2006), Herzog é enfático ao falar de sua independência em relação à indústria de cinema norte-americana. “Sou um bom contador de histórias. Conto histórias melhor que Hollywood, que é ótima em efeitos especiais, mas na contação fica em segundo plano. Não preciso de Hollywood, nem Hollywood precisa de mim”, disparou, arrancando risos da plateia.

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Foto: Luiz Munhoz

Ao ser questionado sobre seu processo criativo, afirmou que não há uma fórmula clara, e que rechaça o uso de storyboards (sistema de construção gráfica, com desenho quadro a quadro das imagens que serão filmadas). “Esse é um instrumento de pessoas antigas, que não confiam em si mesmas. É uma ferramenta para os covardes”, enfatizou. Herzog também é crítico aos diretores que filmam centenas de horas e passam anos editando os filmes. E dá a dica: “o mercado lá fora não financia você por dois anos”, o que remete à necessidade de filmes enxutos e edições mais rápidas.

“Vocês precisam ler muito, muito mesmo. Senão, serão cineastas medíocres”

A Amazônia peruana foi cenário de um de seus filmes, Fitzcarraldo (1982), e o assunto, que está na pauta internacional, também foi alvo de uma das perguntas ao cineasta alemão. “Globalmente, o que ocorre é parte de uma catástrofe maior, ligada ao consumismo, ao consumerismo, à nossa autodestruição. A Europa ocidental eliminou todas as suas florestas para criar espaços para o gado. Por isso, é preciso muito cuidado ao adotar uma atitude imperialista de dizer o que o Brasil deve fazer. Os efeitos também se estendem para outros países, como a Bolívia, por exemplo”. Ele recomendou que os jovens não devem esperar soluções dos políticos para mudanças, precisando agir por conta própria em nome do que desejam.

Sobre o cineasta

Com filmes e documentários como Aguirre, Fitzcarraldo, Nosferatu e O homem-urso, Herzog é um diretor que retrata o misticismo, o desconhecido e a tragédia no mundo. A partir de uma abordagem autêntica e polêmica, tornou-se mundialmente conhecido por escrever, dirigir e produzir os próprios filmes com baixo orçamento, geralmente em cenários inóspitos.

Agraciado em premiações como o Festival de Cannes, o Bafta e o Globo de Ouro, estudou história, literatura e música em Munique e na Universidade de Pittsburgh. Produziu seu primeiro filme em 1961, aos 19 anos, e sua obra reúne mais de 60 produções.

fronteiras do pensamento 2019,sentidos da vidaO projeto Fronteiras do Pensamento, com apoio cultural da PUCRS, apresenta, no dia 23 de setembro, conferência com Werner Herzog, um dos principais nomes do movimento cinematográfico na Alemanha do pós-guerra. O evento ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110 – Porto Alegre), a partir das 19h45min. A temporada 2019 traz como tema Sentidos da Vida, guiando as falas dos oito conferencistas internacionais. Os ingressos para Porto Alegre estão esgotados.

Com filmes e documentários como Aguirre, Fitzcarraldo, Nosferatu e O homem-urso, Herzog é um diretor que retrata o misticismo, o desconhecido e a tragédia no mundo. A partir de uma abordagem autêntica e polêmica, tornou-se mundialmente conhecido por escrever, dirigir e produzir os próprios filmes com baixo orçamento, geralmente em cenários inóspitos.

Agraciado em premiações como o Festival de Cannes, o Bafta e o Globo de Ouro, estudou história, literatura e música em Munique e na Universidade de Pittsburgh. Produziu seu primeiro filme em 1961, aos 19 anos, e sua obra reúne mais de 60 produções.

Em 2018, lançou o documentário Meeting Gorbachev, em que aborda a vida de Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética. Apresentando heróis com sonhos impossíveis ou pessoas com talentos únicos em áreas obscuras, Werner Herzog acredita que um filme é uma projeção de luz, que fica completa quando cruza com o olhar da audiência.

Com conteúdo do portal Fronteiras.com.

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Foto: Luiz Munhoz

A evolução da ciência sobre os buracos negros no universo foi o foco principal da palestra da astrofísica norte-americana Janna Levin durante o evento Fronteiras do Pensamento, ocorrido na última segunda-feira, dia 2 de setembro, no Salão de Atos da UFRGS. A pesquisadora, escritora – autora do livro A música do universo e doutora em física teórica no Massachusetts Institute of Technology (MIT) comentou das grandes conquistas da física, como: ouvir pela primeira vez o som produzido pela colisão de buracos negros e fotografar um desses intrigantes corpos celestes.

“Vivemos na beira, não estamos no centro do universo. São milhares de estrelas e galáxias e só conseguimos identificar porque emitem luz, já os buracos negros são fenômenos escuros, literalmente sombras”, comenta a pesquisadora. Utilizando animações em sua apresentação, Janna mostrou uma simulação de quando uma estrela vira um buraco negro. “Por dentro, a aparência seria como estivesse a beira da morte. Sabe aquela luz que se enxerga bem no final do túnel, quase se apagando? É essa a imagem”, exemplifica.

Uma das maiores descobertas da física foi escutar os ruídos provocados pelos buracos negros, captados em 2016. Há três bilhões de anos, dois grandes corpos celestes colidiram, resultando em uma explosão intensa e formando um objeto solitário 49 vezes maior do que o Sol. “Quando orbitam, os buracos negros criam ondulações e produzem sons por meio de ondas gravitacionais. As contrações e as expansões fazem com que os sons mudem quando vão se aproximando um do outro, do mais grave ao mais agudo. Quando se colidem também emitem um som”, diz a astrofísica, que inseriu, para a plateia, os ruídos comentados.

Para que essa descoberta fosse concretizada, Janna lembrou de todo o trabalho dedicado, durante 40 anos, do seu amigo Rainer Weiss, físico alemão e um dos principais pesquisadores do Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory (LIGO), local aonde foram captados os sons e que fica situado em duas cidades nos Estados Unidos, nos estados de Washington e Louisiana. O LIGO conta com mais de 800 colaboradores de vários países. Por este trabalho, Weiss recebeu o Prêmio Nobel de Física de 2017.

A astrofísica americana também mencionou outro grande marco para a física realizado neste ano: a revelação da primeira imagem de um buraco negro. Essa captação foi possível por meio da conexão de potentes radiotelescópios espalhados pelo mundo, que, por mais que esse corpo celeste não emita luz, foi possível enxergá-lo no meio do anel de matéria brilhante que gira em torno do mesmo. “São cerca de um bilhão de buracos negros em nossa galáxia. É por isso que é difícil acreditar que não exista vida em outros lugares”, analisa.

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Foto: Luiz Munhoz

Próximas descobertas

Quando questionada sobre as próximas descobertas que estão por vir, Janna salientou que, no último século, devido às grandes conquistas por parte da física, permite acreditar que o futuro seja promissor. “Conseguimos captar algo que nem pensávamos, o som no buraco negro”, ressalta.

Ainda, segundo Janna, 95% do universo é escuro, sendo que 25% é matéria escura. “Mostra que tem muito para ser descoberto pela ciência. O universo possui dimensões extras. É possível demonstrar que o Bing Bang não tenha sido o único”, projeta.

Incentivo a bolsas para pesquisas

Indagada pela astrofísica gaúcha Thaisa Storchi Bergmann, que contextualizou os recentes cortes, por parte do Governo Federal, em relação às bolsas de pesquisas no Brasil, Janna foi perguntada sobre a importância destes investimentos e como estão os incentivos nos Estados Unidos. A pesquisadora americana frisou que também existem problemas de investimentos em seu país e que, em alguns casos, o dinheiro arrecadado é proveniente de outros tipos de receitas. “As pesquisas inspiram as pessoas, realizam mudanças maiores. Costumamos fazer descobertas maravilhosas. Em nossos projetos, temos cientistas de vários países, inclusive do Brasil. O que proporcionamos com esses estudos são presentes que damos ao mundo”, finaliza.

Fronteiras do Pensamento

Denis Mukwege respondeu às várias perguntas da plateia, com a mediação de Daniel Scola/Fotos: Luiz Munhoz

O médico Denis Mukwege – Prêmio Nobel da Paz em 2018 – aproveitou o palco do Fronteiras do Pensamento, na segunda-feira à noite (dia 19 de agosto), para fazer um apelo por justiça e paz na República Democrática do Congo e pela criação de um fundo global para os sobreviventes. O Hospital Panzi, que criou há 20 anos, no seu país, já tratou 55 mil mulheres vítimas de violência sexual. “Até hoje os corpos delas têm sido um campo de batalha. Essa é uma estratégia de guerra que destrói gerações. Comunidades inteiras são forçadas a saírem de seu território em benefício de mineradoras”, denunciou o conferencista, aplaudido várias vezes pela plateia, que lotou o Salão de Atos da UFRGS. O projeto conta com o apoio cultural da PUCRS.

O seu relato contundente da realidade do Congo, governado por uma coalisão de grupos rebeldes que acabaram no Exército e na Polícia, provocou no final a pergunta de um espectador: “Como podemos ajudar?”. O que fazer diante dos 6 milhões de mortos e desaparecidos da região leste do país pelos conflitos envolvendo o coltan, uma mistura de dois minerais usados em eletrônicos, como os smartphones? Um dos caminhos apontados pelo médico e ativista é cobrar que as Nações Unidas tirem da gaveta um relatório do Alto Comissariado dos Direitos Humanos que detalha 617 casos. Recentemente, o Tribunal Penal Internacional fez a primeira condenação por crime sexual no Congo, o que é visto por Mukwege como uma vitória, mas ainda tímida.

Sentido da vida

Denis Mukwege, Fronteiras do Pensamento

A conferência começou com o relato do médico sobre a origem de sua missão, lembrando que o tema do Fronteiras deste ano é Sentidos da vida. Com problemas no parto, quando nasceu, teve uma grave infecção generalizada, e a família contou com o apoio de uma professora primária sueca que travava a luta contra a mortalidade infantil na África. O pai, pastor protestante, também foi uma fonte de inspiração. Aos 8 anos, acompanhou-o numa visita a uma criança doente e se deu conta de que queria fazer Medicina para salvar vidas. “Como fui ajudado, eu queria me dedicar aos outros, pouco importa o preço a pagar.”

Depois de formado pela Universidade de Burundi, Mukwege se concentrou nas crianças, mas logo se deu conta do também alto índice de mortalidade materna. Concluiu seus estudos em Ginecologia e Obstetrícia na Universidade de Angers, na França. Também possui PhD pela Universidade de Bruxelas, na Bélgica. Mas decidiu voltar ao Congo, em meio à guerra, e dedicar sua atuação a devolver a dignidade a mulheres.

Uma das maiores atrocidades a que assistiu foi o atentado ao hospital no povoado de Lemera. “A fossa comum em que estão enterradas as vítimas lembra a banalidade do mal”, reforça. Esse crime nunca foi reconhecido. Mukwege volta a falar “na amnésia e no silêncio do mundo”. “A epopeia desses mártires nunca foi contada por nenhum Homero”, sublinha. Porém, garante que não vai se resignar a um horror que não poupa nem bebês ou idosas. Para ele, outro fato doloroso é tratar filhas das vítimas.

Atentados

Respondendo a uma pergunta da plateia sobre a sua segurança pessoal, o médico contou que já sofreu seis atentados em 20 anos. Em 2011, o ministro da Saúde da República Democrática do Congo disse para ele não falar na Assembleia Geral da ONU, ameaçando-o. Cancelou de véspera a sua participação em Nova York, mas não deixou de ir no ano seguinte para pedir pela condenação dos grupos rebeldes. Resultado: foi recebido na volta em sua casa por homens armados, que fizeram seus filhos de reféns e balearam fatalmente seu segurança. Hoje ele recebe proteção de soldados das forças de paz da ONU e resolveu morar no Hospital de Panzi com a mulher. Após minutos de silêncio, emocionado, o médico relatou que o restante da família deixou o Congo.

Outra questão feita a ele, na conversa mediada pelo jornalista Daniel Scola, foi a responsabilidade das grandes empresas que se beneficiam da extração do coltan. “Elas sabem o destino desses minérios de sangue, a martirização das mulheres que têm o seu aparelho genital destruído. Tudo isso está documentado em publicações científicas.”

Os próximos convidados do Fronteiras do Pensamento são Janna Levin, Werner Herzog, Contardo Calligaris e Luc Ferry.

Mais sobre a trajetória de Mukwege

O médico é considerado o maior especialista do mundo em reparação interna de genitais femininos. Também coordena programas de HIV/Aids em seu país. Em 2008, recebeu o Prêmio Olof Palme e o Prêmio Direitos Humanos das Nações Unidas por seu trabalho de proteção aos direitos e à dignidade de milhares de mulheres congolesas. Em 2014, o médico recebeu um dos mais importantes prêmios do mundo, o Sakharov.

fronteiras do pensamento 2019,sentidos da vidaO projeto Fronteiras do Pensamento, com apoio cultural da PUCRS, apresenta, no dia 19 de agosto, conferência com o médico Denis Mukwege, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz. O evento ocorre no Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), a partir das 19h45min. A temporada 2019 traz como tema Sentidos da Vida, guiando as falas dos oito conferencistas internacionais.

Diante da procura por passaportes, que se esgotaram em maio, o Fronteiras do Pensamento Porto Alegre abriu um lote extra com 60 pacotes. Os ingressos não são vendidos separadamente. Professores e técnicos da PUCRS têm desconto de 50%. Interessados podem adquirir  neste link, após solicitarem o código que habilita o desconto pelo e-mail [email protected] ou fone 4020-2050.

Além de Mukwege, o Fronteiras do Pensamento Porto Alegre ainda receberá Janna Levin, Werner Herzog, Contardo Calligaris e Luc Ferry.

Trajetória de Mukwege

Denis Mukwege

Foto: Bruno Todeschini

Denis Mukwege, médico ginecologista, já tratou mais de 30 mil mulheres e meninas vítimas de violência sexual na República Democrática do Congo. Conhecido como Dr. Milagre, descreve o estupro como uma “arma de destruição em massa”. Por seus esforços, Mukwege foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz 2018, ao lado da ativista dos direitos humanos yazidis Nadia Murad. O médico é considerado o maior especialista do mundo em reparação interna de genitais femininos. Também coordena programas de HIV/Aids em seu país.

Em 2008, recebeu o Prêmio Olof Palme e o Prêmio Direitos Humanos das Nações Unidas por seu trabalho de proteção aos direitos e à dignidade de milhares de mulheres congolesas. Em 2014, o médico recebeu um dos mais importantes prêmios do mundo, o Sakharov.

Graduou-se em medicina pela Universidade de Burundi e, após testemunhar a precariedade no atendimento às mulheres, concluiu seus estudos em Ginecologia e Obstetrícia na Universidade de Angers, na França. Também possui PhD pela Universidade de Bruxelas, na Bélgica. Mas decidiu voltar ao Congo, em meio à guerra, e dedicar sua atuação a devolver a dignidade a mulheres. Em 2012, sofreu um atentado, no qual um de seus colaboradores morreu, um mês após proferir na ONU um discurso pedindo a condenação dos grupos rebeldes.

Em 2010, o médico visitou a PUCRS, onde conheceu o Hospital São Lucas e o Centro de Extensão Universitária Vila Fátima.

 

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Fotos: Luiz Munhoz

Reconhecido e aclamado mundialmente por ser uma referência em ideias políticas conservadoras e polêmicas, o pensador e escritor britânico Roger Scruton foi moderado ao falar para uma plateia lotada na terceira noite de conferências do Fronteiras do Pensamento, em 1º de julho. Deu pinceladas em alguns temas controversos contemporâneos, mas se ateve em refletir de forma profunda sobre os sentidos da vida, o tema de sua palestra e também do ciclo de eventos deste ano.

“Somos criaturas ávidas por sentido. Sem sentido é quase impossível aceitar viver. Buscamos significados até onde ninguém os implantou, como nas flores”, refletiu. Tendo como fio condutor a história de sua mãe, Scruton, 75 anos, um dos mais importantes filósofos da atualidade, membro da Royal Society of Literature, condecorado com a medalha da Ordem do Império Britânico e professor da Universidade de Buckingham, relatou um convívio familiar difícil na infância e juventude.

Em busca de sentido

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O filósofo respondeu a perguntas da plateia

Afeto e acolhimento não eram demonstrados por seus pais, o que o levou a fugir de casa aos 16 anos. A mãe, tímida e reclusa, submissa ao marido, um operário sindicalista de personalidade opressora, sofria calada. Vítima de câncer de mama, no fim da vida, no leito, confidenciou aos filhos: “Minha vida foi um fracasso, nunca admiti isso. Mas agora eu sei. Olho para trás e vejo que nunca disse o que queria: que eu amava vocês”. Scruton revelou que carregou as palavras e o desespero da mãe por 50 anos. “Ela buscou o sentido da vida e não encontrou nenhum”, avaliou.

Autor de best-sellers sobre filosofia, política e estética, além de produções acadêmicas e um documentário para a BBC sobre Por que a beleza importa?, escreveu A alma do mundo e A natureza humana, onde diz que o sentido da vida não é o significado que cada um atribui a ela. “É o significado que os outros lhe conferem, através do reconhecimento da minha vontade, da compaixão pelo meu sofrimento e do perdão pelos meus defeitos.”

A redenção, na análise de Scruton, é uma solução para as falhas do passado. Ele questionou por que as pessoas agem, sentem e reagem de certa forma. Segundo o filósofo, a redenção não vem do ego, vem do outro. “Reconhecemos, em nosso ser, que não estamos sozinhos. Que o que importa para nós, a nossa salvação, é o amor, a compaixão e o perdão que os outros nos concedem.” E foi além: “Mais promissor é buscar o sentido da vida não nos acontecimentos que a compõem, mas na visão que a redime”. Acrescentou que o fundamental para uma vida de relações pessoais é o sacrifício. “O pensamento de que os outros poderiam se sacrificar por mim é um pensamento que muda o mundo”, vaticinou.

Em busca da beleza

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“A beleza está desaparecendo do mundo porque vivemos como se ela não importasse”

Diante da relação somente instrumental com o mundo, Roger Scruton defende o papel da beleza. Diz que ela está intimamente ligada ao sagrado, ao contrário da sociedade materialista, que vê todas as coisas como algo que pode ser comercializado e consumido. O estético, enraizado nas comunidades desde tempos ancestrais, em sua percepção, foi construído “no espírito do amor, voltado para os outros”.

Citou que o principal exemplo quando se fala em estética são as cidades, decoradas e ornamentadas, em cada detalhe, para se oferecerem aos olhares e julgamentos. “A vida já me apresentou vários exemplos, mas nenhum como Veneza e a Basílica de São Marcos, com sua cúpula dourada e ordem estética meticulosa”, observou.

Por que a beleza importa? O escritor diz que contemplar o belo é compreender a alma do mundo, tocar o sentido profundo das coisas através do olhar. “Por meio da beleza, implantamos em nosso entorno o sentido de pertencimento que nos vem dos outros; quando a relação eu-você floresce, o outro é trazido para nossas vidas.”

O papel da beleza e do amor nos sentidos da vida leva em conta, de acordo com Scruton, que a condição humana, como a conhecemos, é cheia de tragédias e mistérios. Uma das tarefas da arte seria reconciliar os seres humanos com isso. “É mostrar que, na profundeza do desespero, existe uma beleza que nos liberta”, concluiu.