Na manhã desta terça-feira (22 de outubro), o professor catedrático da Universidade de Coimbra Fernando José de Almeida Catroga recebeu o título de Doutor Honoris Causa da PUCRS, proposto pela Escola de Direito e corroborado pela Escola de Humanidades. Com obras traduzidas para vários idiomas, ele se destaca por sua atuação na área da história das ideias, sendo referência ao pensamento jurídico contemporâneo. Em 21 anos de proximidade com a PUCRS, contribuiu para o desenvolvimento inicial do Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais e também participou de atividades em outros programas. A homenagem é a máxima distinção concedida pela Universidade como reconhecimento dos méritos do homenageado e por sua atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos.
Na solenidade, entremeada por apresentações musicais, o reitor Ir. Evilázio Teixeira ressaltou que os estudos de Catroga articulam temas em contornos mais complexos e interdisciplinares. “O professor nos convida a olhar para a história e a contemporaneidade em um exercício de interpretação e escuta. A verdade passa a ser vista como abertura e não como horizonte último.” Essa verdade sob metamorfoses prevê o amor ao próximo e o respeito à alteridade, apontou o reitor.
Ao saudar o professor Catroga, a coordenadora do PPG em Ciências Criminais, Ruth Gauer, lembrou sua atuação de duas décadas na Universidade, ministrando dez cursos e 20 aulas inaugurais e conferências, além de ter se tornando “embaixador da PUCRS junto à Universidade de Coimbra”, orientando e encaminhando alunos para a sua instituição. Segundo ela, Catroga foi imprescindível para que a PUCRS tenha alcançado o nível de excelência e o reconhecimento atual – considerada pela Capes a melhor pós-graduação do Brasil, entre públicas e privadas, e pelo Ranking Universitário da Folha de São Paulo, de 2019, como a melhor privada na área da pesquisa.
Sobre a produção de Catroga (com a publicação de 23 livros, 73 capítulos de livros e sete em coautoria ou coordenação), Ruth sublinha que “se recusa a qualquer forma de pensamento único, é atento aos contrários e à pluralidade”.
Ao se dizer emocionado e honrado com a distinção, o professor afirmou ter testemunhado a atuação da PUCRS em prol da função social e comunitária do conhecimento e seguindo princípios que fazem da educação o motor da cidadania. Segundo ele, nunca se falou tanto em identidade e patrimônio em um momento em que a história passa a ser vítima da desvalia dos poderes hegemônicos. Em contraposição “à ilusão do presenteísmo, do convite à simplificação dos fatos”, Catroga advoga em favor da historiografia, da epistemologia do complexo, uma chave para a busca de respostas para os desafios da existência. Lembrando Kant, encerrou sua fala perguntando: “O que posso conhecer? O que posso fazer? O que posso esperar? O que é o homem?”.
A entrega do título de Doutor Honoris Causa ocorreu durante o 10º Congresso Internacional de Ciências Criminais – Memória e Ciências Criminais e 19º Congresso Transdisciplinar de Ciências Criminais do Itec-RS, que se encerra nesta quarta, dia 23 de outubro. Com ênfase no olhar interdisciplinar sobre as ciências criminais, o evento começou na segunda-feira.
A cerimônia de abertura contou com o decano da Escola de Direito, Fabrício Pozzebon, e com a coordenadora do PPG, Ruth Gauer. Pozzebon reforçou a importância do estudo e da pesquisa sobre o complexo assunto da violência, indo além de posições ideológicas. Relembrou que integrou a primeira turma do Pós em Ciências Criminais, em 1999. O programa formou 493 mestres e 45 doutores. “É uma grande satisfação continuar vendo o brilho nos olhos de professores e alunos diante a extensa e complexa temática das ciências criminais”, adicionou.
A conferência de abertura foi proferida pelo professor da Columbia University, nos Estados Unidos, Bernard Harcourt. Autor de livros como The Counterrevolution: How Our Government Went to War Against Its Own Citizens (2018) e Exposed – Desire and Disobedience in the Digital Age (2016), Harcourt chamou a atenção para a intensa presença digital dos indivíduos, fazendo com que as redes sociais compilem dados sobre seus usuários, varejistas consigam informações sobre seus consumidores e agências de inteligência monitorem em tempo integral a sociedade.
De acordo com o professor, estamos construindo o que chama de sociedade expositiva – uma plataforma para níveis sem precedentes de exibição, observação e influência, que estão reconfigurando nossas relações políticas e remodelando as noções do que significa ser um indivíduo. Ainda que toda essa exposição esteja acontecendo de forma voluntária, alterou que é preciso pensar nas consequências.
O professor fez uma relação entre a massiva exposição e o que chama de movimento contrainsurgência, instaurado especialmente nos Estados Unidos, em que a coleta massiva de inteligência, segmentação de minorias e a propaganda pacificadora estão moldando a opinião pública. Se antes o movimento estava ligado a uma estratégia militar, está cada vez mais relacionado à forma de governar no país.
Fernando José de Almeida Catroga nasceu em S. Miguel do Rio Torto, Abrantes, distrito de Santarém (Portugal), em 30 de julho de 1945. Em 1964-1965, ingressou no Instituto Superior de Econômicas e Financeiras (Universidade Técnica de Lisboa). Porém, em seguida, ingressou no Curso de Filosofia. Em 1974, foi contratado como assistente do Grupo de História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Em 1988, apresentou à Faculdade de Letras da instituição a sua tese de doutorado em História Moderna e Contemporânea sobre o tema A Militância Laica e a Descristianização da Morte em Portugal (1865-1911). Em 1990, foi aprovado, por unanimidade, no concurso para professor associado, conquistando a nomeação definitiva em 1995.
Nesse longo percurso, regeu múltiplas disciplinas, destacando-se Epistemologia das Ciências Humanas, História da Educação, História dos Movimentos Ideológicos em Portugal, História da Cultura Portuguesa, Teoria da História, Gênese e Ideia de Nação. Membro da Comissão Nacional Consultiva para as Comemorações do Centenário da República (que funcionou junto à Presidência do Conselho de Ministros até julho de 2011). Também foi membro da Comissão Científica do Congresso “Outras Vozes da República”, organizado pelo Museu da Presidência da República.
Em 1998, foi condecorado pelo Presidente da República portuguesa, Jorge Sampaio, com a Ordem Militar de Santiago da Espada de Portugal, por méritos científicos. Em 2001, recebeu a Medalha de Honra da Universidade de São Paulo. Desde 2017, é Acadêmico de Mérito da Academia Portuguesa de História.
Confira outras fotos da entrega do título de Doutor Honoris Causa ao professor Catroga:
A solenidade de outorga do título de Doutor Honoris Causa ao professor Fernando José de Almeida Catroga ocorre no dia 22 de outubro, às 10h30min, no teatro do prédio 40 da PUCRS (Avenida Ipiranga, 6681 – Porto Alegre/RS). A homenagem será prestada durante o 10º Congresso Internacional de Ciências Criminais – Memória e Ciências Criminais e 19º Congresso Transdisciplinar de Ciências Criminais do ITEC-RS. Professor catedrático da Universidade de Coimbra e com obras traduzidas para vários idiomas, se aposentou em 2015, tendo atuado nas áreas de História das Ideias e História da Cultura, com obras traduzidas em várias línguas. Na PUCRS, participou de conferências e colaborou com o desenvolvimento inicial do Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais, no qual ministrou disciplinas, assim como no Pós em História.
Proposta pela Escola de Direito, a homenagem é concedida a personalidades que se destacam pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou do melhor entendimento entre os povos. Trata-se da distinção honorífica de maior reconhecimento acadêmico de uma universidade, outorgado a quem reconhecidamente reúne tantas virtudes.
Fernando José de Almeida Catroga nasceu em S. Miguel do Rio Torto, Abrantes, distrito de Santarém (Portugal), em 30 de julho de 1945. Em 1964-1965, ingressou no Instituto Superior de Econômicas e Financeiras (Universidade Técnica de Lisboa). Porém, em seguida, ingressou no Curso de Filosofia. Em 1974, foi contratado como assistente do Grupo de História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Em 1988, apresentou à Faculdade de Letras da instituição a sua tese de doutorado em História Moderna e Contemporânea sobre o tema A Militância Laica e a Descristianização da Morte em Portugal (1865-1911). Em 1990, foi aprovado, por unanimidade, no concurso para professor associado, conquistando a nomeação definitiva em 1995.
Nesse longo percurso, regeu múltiplas disciplinas, destacando-se Epistemologia das Ciências Humanas, História da Educação, História dos Movimentos Ideológicos em Portugal, História da Cultura Portuguesa, Teoria da História, Gênese e Ideia de Nação. Membro da Comissão Nacional Consultiva para as Comemorações do Centenário da República (que funcionou junto à Presidência do Conselho de Ministros até julho de 2011). Também foi membro da Comissão Científica do Congresso “Outras Vozes da República”, organizado pelo Museu da Presidência da República.
Em 1998, foi condecorado pelo Presidente da República portuguesa, Jorge Sampaio, com a Ordem Militar de Santiago da Espada de Portugal, por méritos científicos. Em 2001, recebeu a Medalha de Honra da Universidade de São Paulo. Desde 2017, é Acadêmico de Mérito da Academia Portuguesa de História.