O Brasil já foi mais feliz: de acordo com o ranking World Happiness Report (WHR), uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) criado em 2011, o país caiu 11 posições no ranking que mede a felicidade da população. A pesquisa é atualizada a partir de triênios, e o Brasil que ocupava a posição 38º no último ranking (2019 a 2021), se encontra agora na 49ª posição com dados referentes ao triênio de 2020 a 2022.
Para chegar nesses resultados, o Relatório Mundial da Felicidade é medido a partir de sete indicadores principais, tendo a pergunta “qual nota, entre 0 e 10, você daria a sua vida?” como indicador principal. O estudo também leva em consideração as realidades de cada país, como PIB per capita, apoio social, expectativa de vida saudável, liberdade, generosidade e percepção de corrupção.
A partir da apresentação do Relatório Mundial da Felicidade ao primeiro-ministro do Butão Jigmi Y. Thinley e ao economista norte-americano Jeffrey D. Sachs, a ONU decidiu proclamar o dia 20 de março como o Dia Internacional da Felicidade. Como uma forma de promover a felicidade e a alegria entre os povos, a criação da data está alinhada a uma agenda global que busca proporcionar felicidade a todos os povos do planeta.
O pesquisador da Escola de Ciências da Saúde e da Vida Wagner De Lara Machado destaca que a felicidade é um fenômeno complexo que envolve nosso cérebro e a experiência subjetiva.
“A felicidade está associada à modulação emocional e ao melhor funcionamento das células de defesa do corpo humano, por exemplo. Da mesma forma, a felicidade quando relacionada à autorrealização, se mostra associada a uma melhor regulação neuroendócrina, isto é, menos indicadores inflamatórios e aumentos dos neurotransmissores que geram bem-estar, como a serotonina, endorfina, dopamina e outros”, explica.
A felicidade com frequência é descrita por especialistas como um estado de alegria, contentamento, satisfação, euforia entre outros afetos. Wagner explica que essa parte mais emocional da felicidade possui disparadores conhecidos como atividades prazerosas, eventos de vida positivos, e estados internos que possuem grande influência da personalidade.
Nos casos em que a felicidade é concebida através da autorrealização, isto é, a expressão máxima do potencial pessoal, ela depende mais do engajamento em atividades que geram sentido e desenvolvimento contínuo alinhadas aos propósitos de vida de cada um.
O docente da PUCRS conta que existem vários circuitos cerebrais envolvidos na experiência da felicidade. Por exemplo, as atividades que geram envolvimento profundo e sensação de significado, tendem a se associar com uma atividade do córtex pré-frontal e frontal. Já a felicidade advinda de estados emocionais mais intensos está associada a uma atividade do córtex orbitofrontal e do sistema límbico.
Durante a pandemia de Covid-19, pesquisas evidenciaram o papel da felicidade na resiliência individual frente ao enfrentamento ao momento. De acordo com Wagner, nesses casos, a felicidade é tanto antecedente como consequência do processo de resiliência, dependendo do aspecto observado e da dinâmica do indivíduo.
“Por exemplo, pessoas com uma percepção mais nítida do seu sentido e propósito de vida conseguiam lidar melhor com adversidades, mantendo seus níveis de motivação. Já os afetos positivos eram tanto resultado deste processo quanto antecedentes, uma vez que pessoas que experimentam mais afetos positivos podem ter uma melhor autorregulação emocional, mesmo frente a novos estressores”, finaliza o professor.
A chave ou a base do ser humano é a teimosa vontade de fazer com que a vida tenha sentido. Essa foi a mensagem central do segundo dia de Open Campus, que contou com a participação do professor, filósofo e coordenador do curso de Filosofia da Escola de Humanidades da PUCRS Luciano Marques de Jesus e de uma das principais referências sobre Felicidade nas Organizações, Carla Furtado, professora do PUCRS Online.
Parafraseando o neuropsiquiatra austríaco Viktor Emil Frankl, Luciano e Carla trouxeram aspectos importantes da sua teoria. Segundo ele existem três formas principais de atribuir sentido à vida:
É possível dar sentido ao nosso trabalho desde as tarefas mais simples até as mais sofisticadas e isso depende muito mais da forma que você se coloca e impacta o seu entorno e as pessoas. São os valores criativos, aquilo que se faz para o mundo.
O que Frankl chama de valores vivenciais são as experiências: de viver a amizade, o amor, a arte, a música. São coisas que a vida e o mundo oferecem e ajudam as pessoas a se sentirem mais completas.
Luciano conta sobre a tristeza que sente ao ouvir alguém dizer que “era feliz e não sabia”. Segundo ele “vivemos em uma sociedade desatenta, não estamos prestando atenção nas coisas que nos acontecem”. Por isso essa frase acaba por se repetir mais do que as pessoas gostariam.
“Às vezes estamos no ensino fundamental e queremos ir para o médio. No médio queremos ir para a faculdade. Na faculdade queremos tralhar. E quando vemos a vida passou e não vivemos nada”, explica o professor sobre a necessidade de viver cada etapa da vida cheia de sentido.
Para isso são utilizados os valores atitudinais, segundo Frankl. O sofrimento fará parte da vida, mas é necessário enfrentá-lo. “Quando não conseguimos mudar a realidade que nos circunda, está nas nossas mãos mudarmos a nós mesmos”.
“Ser feliz no trabalho não é modismo, é uma urgência”
Carla Furtado é professora e pesquisadora na área de Psicologia Positiva, o movimento que investiga cientificamente a felicidade. “Estamos em um tempo que compreendemos que a vida não tem banco de horas”, destaca.
Há algumas décadas o sonho médio dos brasileiros e brasileiras era poder ter “a vida que sempre sonhou” no dia em que se aposentasse. Hoje, o momento é diferente: “Sabemos que o tempo que não é vivido bem não vai para uma poupança”.
“Quando olho para a vida encarando a segunda-feira ou horário de trabalho como algo muito pesado, focando na sexta-feira, nos finais de semana ou nas férias, o que sei é que estou deixando a vida passar”, acrescenta.
As pessoas convivem com emoções felizes e tristes. E esses sentimentos não estão ligados ao consumo, por exemplo. É possível ter o prazer de adquirir algo, mas isso passa, pois é volátil.
Dois pilares são vividos simultaneamente, podendo variar em diferentes fases: de um lado está uma vida com mais emoções positivas do que negativas, conectadas principalmente às relações. E do outro estão o sentido e o significado de vida que, em casos bem-sucedidos, podem até ser acompanhados de um propósito.
O sentido é cognitivo: conseguir compreender de maneira racional o que traz sentido para a vida. Já o propósito é algo que existe com esse sentido lógico e que já está em operação na sua vida.
“O propósito tem um segredo… A ciência sabe que o que sustenta toda a percepção de felicidade não são as emoções, mas sim essa âncora que chamamos de propósito. Ela faz com que a gente olhe para a vida, para além das dificuldades, e entenda que vale a pena viver, apesar das circunstâncias“.
Segunda a definição de Santo Agostinho, felicidade é “seguir desejando aquilo que já se possui”.
Com mais de 200 atividades gratuitas para quem tem interesse em ingressar na graduação, o Open Campus 2020 contou com convidados e convidadas especiais de diferentes áreas. Marlova Noleto, diretora e representante da Unesco no Brasil, abriu o evento com uma conversa sobre Escolher mudar o mundo. Já o encerramento ficou por conta da youtuber Débora Aladim, com dicas sobre Como estudar utilizando as redes sociais.
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Confira a live completa com Luciano Marques e Carla Furtado sobre Onde encontrar o sentido da vida e a felicidade nas carreiras: