XI Seminário Internacional Psicologia e Senso Religioso

Farias destaca papel dos psicólogos brasileiros
Fotos: Bruno Todeschini

Com o teatro do prédio 40 lotado, começou o XI Seminário Internacional Psicologia & Senso Religioso: Experiências Religiosas, Espirituais e Anômalas – Desafios para a Saúde Mental, que ocorre até o dia 23. O professor Miguel Farias, da Universidade de Coventry (Reino Unido), destacou o boom do tema nos dias atuais, citando que há 17 anos teve de deixar Portugal porque não teria quem o orientasse no seu doutorado. Projetou ainda o papel dos psicólogos brasileiros em nível mundial na reemergência da Psicologia da Religião.

Na conferência de abertura, a professora Marta Helena de Freitas, da Universidade Católica de Brasília, fez um panorama da área, começando por sua efervescência inicial, de 1890 a 1920, antes de cair em declínio em nome da “cientificidade”. Os fenômenos religiosos então passaram a ser abordados pelo “avesso”, como ilusão, alienação e loucura. Somente no final do século 20 e início do século 21 houve o crescimento das pesquisas, publicações e eventos. Manuais de diagnóstico em saúde mental hoje diferenciam experiências religiosas e patológicas. Como desafio, Marta lembrou que é preciso inserir o tema na graduação em Psicologia. Só 20% das universidades o abordam como uma disciplina específica.

 

A religião dos cientistas e a ciência dos religiosos

XI Seminário Internacional Psicologia e Senso Religioso

O primeiro debate do evento foi em torno do tema: a religião dos cientistas e a ciência dos religiosos. Marta apresentou estudo com 102 profissionais que atuam em hospitais de Palmas (TO), Distrito Federal, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Todos admitem a presença constante da religião nesse ambiente, representada por rituais indígenas, orações ou objetos sagrados. Notam que a fé melhora a adesão ao tratamento e traz bem-estar, mas também perturba a rotina. Para 95%, o tema não foi abordado durante sua formação, e metade o considera marginalizado. “Alguns psicólogos chegaram ao choro compulsivo quando falaram sobre os conflitos entre suas crenças e os protocolos que herdaram na sua formação”, cita a professora.

Fátima Machado, da PUC/SP, comentou pesquisa com 308 participantes de oito grupos religiosos. O resultado demonstrou baixa crença na ciência, embora a considerem importante em alguma medida. Quanto maior a escolaridade, menor a confiança nesse aspecto, o que surpreendeu os autores do estudo. Quando perguntados sobre o uso para lidar com o mal, 41,7% dos entrevistados consideraram exclusivamente a religião e 52,8%, a religião e a ciência. Quanto ao sofrimento, 33,7% recorrerem somente à religião e 59,5%, a ambas. “A religião hoje interfere até nas políticas públicas. É importante saber como esses grupos pensam porque isso se reflete nas práticas sociais, não só da Psicologia”, afirma Fátima.

Em vídeo, o professor Geraldo Paiva, da Universidade de São Paulo (USP), um dos pioneiros da área, citou estudo com 26 pesquisadores de Física, Biologia e Ciências Humanas, revelando que não há conflito consciente ou incompatibilidade entre fé e ciência.

Revista PUCRS

Wellington Zangari

Sangari concedeu entrevista
Foto: Divulgação/USP

Um dos participantes do evento concedeu entrevista à Revista PUCRS. Wellington Zangari, da USP, destaca o crescimento da área e o desafio de formar profissionais preparados para lidar com fenômenos anômalos ou religiosos. Lembra que mais de 80% dos brasileiros dizem ter experiências mediúnicas ou premonição.

“Nem tudo é fraude, coincidência, loucura ou desenvolvimento da consciência. Do ponto de vista científico, precisamos oferecer explicações mais simples para os fenômenos. Até que sejam suficientes”, destaca o professor.

Seminário Psicologia & Senso ReligiosoO XI Seminário Internacional Psicologia & Senso Religioso discute o tema Experiências religiosas, espirituais e anômalas – desafios para a saúde mental, de 21 a 23 de novembro, no teatro do prédio 40. Promovido pelo Grupo de Trabalho Psicologia & Religião da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia, terá como um dos convidados o psiquiatra e geneticista Robert Cloninger, que fará a conferência de encerramento sobre a relação entre personalidade e experiências religiosas/espirituais, além de tratar de meditação e autotranscendência. Haverá tradução simultânea.

Outros assuntos do evento são O transtorno de transe, possessão e as experiências religiosas/espirituais, com o psicólogo Miguel Farias, e A religião dos cientistas, com Geraldo José de Paiva. O psiquiatra Alexander Moreira de Almeida abordará Diagnóstico diferencial entre experiências religiosas/espirituais e transtornos mentais, bem como pesquisas em neurociências relacionadas ao tema. O psicólogo Wellington Zangari falará sobre as experiências interpretadas como telepatia, saída do corpo, mediunidade e como pesquisá-las academicamente ou trabalhar com pacientes que acreditam apresentar tais fenômenos.

Participam os professores da PUCRS Jaderson Costa da Costa, Ângelo Brandelli Costa, Irani Argimon e a bolsista de pós-doutorado Letícia Alminhana.

Inscrições pelo site.

 

Apresentações de trabalhos

O prazo para envio de pôsteres ao evento vai até o dia 15 de agosto. Deverá ser enviado um resumo de até 300 palavras por e-mail, contendo introdução, objetivos, método, resultados e conclusões ou considerações finais.

 

Crenças religiosas e manifestações sincréticas

Segundo o Censo de 2010, mais de 90% da população brasileira afirma possuir uma crença religiosa e inúmeras pesquisas apontam para o caráter sincrético das manifestações. O evento pretende apresentar visões de pesquisadores renomados do País e do mundo para falar sobre as contribuições da Psicologia da Religião e da Psiquiatria na área.

 

Os conferencistas

 

Robert Cloninger Robert Cloninger é psiquiatra e geneticista, com doutorado em Psicologia, e professor da Universidade de Washington em Saint Louis/EUA. Diretor do Center for Well-Being, é criador de um dos modelos de personalidade mais utilizados em pesquisas do mundo todo.

 

 

Miguel FariasMiguel Farias, PhD, psicólogo, doutor em Psicologia Experimental e professor nas Universidades de Oxford e Coventry, do Reino Unido, coordena o Laboratório sobre Crenças, Espiritualidade e Comportamento em Coventry.

 

 

Geraldo José de PaivaGeraldo José de Paiva, graduado em Filosofia, mestre e doutor em Psicologia Escolar, com estágio pós-doutoral em Psicologia da Religião, é professor aposentado da Universidade de São Paulo. Considerado o principal pesquisador da área de estudos em Psicologia da Religião no País, é membro da International Association for the Psychology of Religion (IAPR).

 

 

Alexander Moreira de AlmeidaAlexander Moreira de Almeida, psiquiatra, doutor em Psiquiatria e com estágio pós-doutoral, é professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (Minas Gerais), onde fundou o Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde, da Faculdade de Medicina.

 

 

Wellington ZangariWelligton Zangari, psicólogo, mestre em Ciências da Religião, doutor em Psicologia Social e estágio pós-doutoral na mesma área, é professor da Universidade de São Paulo. Fundou e coordena o Laboratório de Psicologia Anomalística da Faculdade de Psicologia com a pesquisadora Fátima Regina Machado.

Experiências Religiosas/Espirituais e Fenômenos Anômalos: Diagnóstico, Manejo e PesquisaEstão abertas as inscrições para o único curso do Brasil que trata da compreensão e da prática profissional em relação a Experiências Religiosas/Espirituais e Fenômenos Anômalos: Diagnóstico, Manejo e Pesquisa, oferecido pela Escola de Humanidades da PUCRS. A perspectiva das aulas é estritamente acadêmica e o enfoque é a saúde mental. O curso busca auxiliar os participantes a identificar diferenças entre experiências anômalas saudáveis e patológicas, além de apresentar possibilidades de manejo clínico de pessoas que dizem ter tido experiências anômalas e/ou religiosas/espirituais. As inscrições estão abertas e podem ser realizadas até 20 de outubro no site educon.pucrs.br. Informações adicionais pelo telefone (51) 3320-3727.

As aulas serão ministradas pela professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUCRS Letícia Alminhana, que pesquisou sobre o tema recentemente na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Além dela, o professor Leonardo Martins, da Universidade de São Paulo, especialista no assunto, também será docente do curso. As atividades ocorrem nos dias 21 de outubro, das 17h às 21h15min, e 22 de outubro, das 8h50min às 12h25min e das 14h às 20h. As aulas serão na sala 407 do prédio 11 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 – Porto Alegre).