Pesquisa avalia benefícios da descafeinação da erva-mate feita de forma eco-friendly

Erva-mate consumida na forma de chimarrão tem uma concentração de cafeína superior que a do próprio café / Foto: Camila Cunha

Símbolo do Rio Grande do Sul, o chimarrão faz parte do dia a dia de muitos gaúchos como item indispensável. Ao nos aproximarmos das celebrações do 20 de setembro, uma pesquisa desenvolvida na Universidade mostra como a tecnologia de materiais pode impactar positivamente neste hábito popular. A erva-mate consumida na forma de chimarrão tem uma concentração de cafeína entre 1,0% e 2,5 %, ou seja, maior que a concentração de cafeína do próprio café. E o que aconteceria se essa composição fosse modificada de forma limpa? 

A pesquisa desenvolvida pelo professor da Escola Politécnica Eduardo Cassel tem como escopo a extração supercrítica – processo que utiliza o solvente na condição de fluido supercrítico – de cafeína da erva-mate. O principal diferencial desse estudo é a utilização do CO2 como solvente, considerado uma tecnologia limpa. De acordo com o pesquisador, esse tipo de processo de extração apresenta vantagens em relação aos processos tradicionais com solventes em estado líquido, uma vez que o CO2 é inerte, barato e atóxico. 

Descafeinação da erva-mate: Uma matéria-prima, três produtos diferentes 

Cassel conta que a partir de uma mesma matéria-prima (erva-mate) é possível obter três produtos: erva-mate descafeinada, cafeína e compostos antioxidantes. O projeto de purificação e nanoencapsulação/nanoemulsão de cafeína, vinculado ao Edital MAI do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – Programa de Mestrado para a Inovação, tem como objetivo obter novas formas de uso da cafeína na área de cosméticos e de alimentos.  

“Com a extração podemos utilizar a cafeína para compostos antioxidantes em cosméticos, bebidas energéticas, suplementos alimentares, além de incorporar um novo produto no mercado que é a erva-mate descafeinada”, acrescenta.

O professor ainda destaca que esse processo opera em alta pressão e que sua principal qualidade é o fato de ser seletivo à cafeína, sem alterar significativamente as propriedades sensoriais da erva-mate usada para o chimarrão. O estudo foi desenvolvido no Laboratório de Operações Unitária  (Lope), utilizando a unidade de extração supercrítica desenvolvida, implantada e validada pelo grupo de pesquisa sediado no Lope. 

A pesquisa também contou com a parceria da empresa Baldo S.A., por meio do primeiro projeto de pesquisa em cooperação em empresa desenvolvido na PUCRS que utilizou os incentivos da Lei do Bem. Este estudo envolveu o Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia de Materiais (duas teses de doutorado, uma dissertação de mestrado e quatro alunos de Iniciação Científica) e o curso de Engenharia Química. 

PPG em Engenharia e Tecnologia de Materiais está com processo seletivo aberto 

O Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Tecnologia de Materiais (PGETEMA) está com edital aberto para os cursos de mestrado e doutorado até o dia 29 de outubro. Com nota 5 na Avaliação Quadrienal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o PPG conta com diversas linhas de pesquisa nas áreas de concentração Engenharia e Tecnologia de Materiais e Materiais e Processos RelacionadosSaiba mais.

Laboratório de Farmacologia Aplicada, Farmácia, câncer, pesquisa

Foto: Camila Cunha – PUCRS

Tomar chimarrão pode ter relação com a alta incidência de câncer de esôfago no Sul do País? Ao tentar responder a essa pergunta, uma pesquisa da Faculdade de Farmácia, em parceria com a Engenharia, avaliou os efeitos específicos da erva-mate. Para surpresa do grupo, alguns compostos da bebida típica do gaúcho reduzem as células tumorais. “O efeito benéfico está relacionado ao extrato como um todo e não com a cafeína presente na erva”, esclarece a professora Fernanda Morrone, do Laboratório de Farmacologia Aplicada, líder do estudo. O Laboratório de Operações Unitárias, do curso de Engenharia Química, é o responsável por extrair os compostos. Estão sendo feitas infusões de erva-mate com e sem cafeína e ricas em outras substâncias, como flavonoides e testadas no tratamento das células de câncer de esôfago.

A próxima etapa será o teste das substâncias em células normais do esôfago para avaliar se contribuiriam para a prevenção do câncer. Estão em andamento estudos epidemiológicos sobre o consumo de chimarrão e incidência da doença. Também haverá o acompanhamento de pacientes para verificar fatores de risco, tratamentos e interações medicamentosas. O grupo pretende ainda testar os compostos em células cancerígenas de bexiga.

Na região Sul, o câncer de esôfago é o quinto tipo mais frequente em homens, segundo o Instituto Nacional de Câncer (2016), sem considerar os tumores de pele não melanoma. O alto índice pode estar associado ao consumo de bebidas quentes. Deve-se evitar água fervida no chimarrão. A temperatura que não traz riscos é menor do que 70 graus (ao chiar a chaleira).

 

Biobanco estimula pesquisas

biobanco, Instituto de Pesquisas Biomédicas, amostras de tecido humano

Foto: Bruno Todeschini – PUCRS

As pesquisas na área da oncologia são estimuladas com a organização do Biobanco, composto por material biológico humano. A PUCRS tem a primeira coleção do Estado regularizada na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Até 2011, essas amostras apenas podiam ser armazenadas para estudos de execução imediata. “Nem sempre o pesquisador tem um projeto no momento da coleta das amostras, com hipótese, cronograma e orçamento definidos, e é uma lástima descartar um material raro ou difícil de se encontrar. Agora se torna possível guardá-lo para uso futuro. As tecnologias também mudam, permitindo novos estudos”, afirma a professora Clarice Alho, da Faculdade de Biociências, que, representando a Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento, elaborou o projeto do Biobanco.

O chefe do Serviço de Oncologia do Hospital São Lucas e professor da Escola de Medicina, André Fay, diz que a iniciativa coloca a Universidade numa posição diferenciada, proporcionando um avanço científico e assistencial. “Em um trabalho colaborativo, estabelecemos o Biobanco, que permitirá a realização de protocolos de pesquisa ao longo das gerações.”

Os materiais da oncologia ficam no Instituto de Pesquisas Biomédicas. Tecidos de câncer de cólon estão armazenados por iniciativa dos professores Henrique Fillmann e Lúcio Fillmann. E, em dezembro de 2016, começaram a ser reunidas amostras de pacientes submetidas a biópsia da mama no Hospital. O projeto-piloto avalia as condições de captação do material e armazenamento.

A reportagem completa, Uma revolução contra o câncer, tema de capa da última Revista PUCRS, pode ser acessada aqui.