Sino Missioneiro de 1717

Sino Missioneiro de 1717
Foto: Edison Hüttner

Dois sinos missioneiros do século 18 tiveram sua identidade confirmada pelo professor da Escola de Humanidades da PUCRS Édison Hüttner, coordenador do projeto de Arte Sacra-Jesuítico-Guarani. Os objetos, fundidos em 1717 e 1743, foram encontrados na torre da Igreja de São Martinho da Serra, no interior do Estado, e não estavam em uso. Hüttner chegou até o local após realizar pesquisas que indicavam a presença dos artefatos missioneiros no templo.

Segundo o pesquisador, diversas características identificam os sinos missioneiros, entre elas a presença de uma cruz formada por losangos, estilo de letras em caixa alta e baixa, além de badalo e listras em alto relevo. Os dois sinos são feitos de bronze, segundo análise realizada no Laboratório Central de Microscopia e Microanálise da PUCRS. O de 1717 tem 98 centímetros de altura e 97 centímetros de largura, e uma estimativa de peso de 300 quilos. Tem gravado o ano em números romanos e a frase em latim Ora pro nobilis S. FRANCISCO XAVIER, que significa Rogai por nós, São Francisco Xavier. Já o outro sino, datado de 1743 é menor, tem 53 centímetros de altura e 48 centímetros de largura, com estimativa de peso de 25 quilos. Na parte de cima há a inscrição o ano de 1743, e na parte de baixo, Ora pro nobilis (Rogai por nós). Neste há um corte na base, bem no local em que haveria o nome de algum santo, por isso, não é possível identificar a frase completa.

Sino missioneiro de 1743

Sino foi encontrado em Igreja de São Martinho da Serra
Foto: Edison Hüttner

De onde vieram os sinos?

Os objetos missioneiros teriam origem em saques feitos por militares portugueses nas antigas reduções jesuíticas espanholas, no período de 1812 a 1818. Hüttner conta que, na época, achava-se que os sinos eram feitos de ouro e, por isso, eram muito visados. “Estes sinos foram aos poucos levados para as capelas que os portugueses estavam construindo em algumas cidades, como Caçapava do Sul, Santa Maria e São Martinho”, revela. Segundo ele, Padre Fidêncio José Ortiz trabalhou na capela de São Martinho em 1848 e, provavelmente, tenha levado os dois sinos para a cidade, trazidos do posto militar em São Borja. “Nesta cidade da fronteira oeste estavam muitos sinos saqueados da margem direita do Rio Uruguai onde haviam reduções, hoje território da Argentina e do Paraguai”, lembra. A pesquisa teve a participação do pesquisador Eder Abreu Hüttner, que também estuda a arte sacra jesuítico-guarani.

Em 2017, Edison Hüttner identificou a origem de dois sinos missioneiros encontrados em Caçapava do Sul. Confira na reportagem publicada no site da PUCRS.

 

exposição, deusa nimba, biblioteca, Ir. Édison Hüttner

Getúlio Lima, Klaus Hilbert, Édison Hüttner e Raquel Rech / Foto: Camila Cunha

Até o dia 31 de outubro, a escultura de uma Deusa Nimba estará exposta para toda a comunidade no saguão da Biblioteca Central da PUCRS, após as catracas. Trata-se de uma peça encontrada em Santo Ângelo, cuja identidade foi confirmada pelo coordenador do Núcleo de Estudos em Cultura Afro-brasileiro e Indígena (Neabi) da Escola de Humanidades da PUCRSÉdison Hüttner. A exposição tem entrada franca e é aberta ao público. A abertura ocorreu nesta quarta-feira, 26 de setembro, e contou com a presença do pró-reitor de Graduação e Educação Continuada, Ir. Manuir Mentges, do assessor da Reitoria Solimar Amaro, do atual proprietário da peça, Getúlio Soares Lima, e da arqueóloga do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Raquel Rech, que representou a superintendente do Iphan, Juliana Erpen.

Segundo o pesquisador, a peça em madeira foi produzida entre os séculos 18 e 19 por afrodescendentes brasileiros que conheciam a arte, escultura e rituais praticados pelo povo Baga/Nalu, da região do Oeste africano (Guiné, Guiné-Bissau). Huttner ressalta que é a primeira escultura do gênero encontrada em solo americano: “Esta descoberta indica a existência de rituais autênticos de religiosidade de afrodescendentes brasileiros”, afirma, lembrando que os rituais secretos eram realizados somente por homens, e eram proibidos pelo Governo.A peça foi localizada por um pescador na década de 80 no Rio Ijuí, após uma grande seca. Em 2016, em visita à cidade de Santo Ângelo, Hüttner obteve autorização do atual proprietário da peça, Getúlio Soares Lima, para que ela fosse estudada na PUCRS. A confirmação da origem da escultura veio após dois anos de estudos com a participação de Eder Hüttner, seu irmão, e Klaus Hilbert, coordenador do Laboratório de Arqueologia da Universidade. A estátua passou inclusive por uma tomografia no Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (Inscer).

Deusa Nimba

Klaus Hilbert, Édison Hüttner e Éder Hüttner
Foto: Camila Cunha

Curiosidades sobre a Deusa Nimba

– A escultura tem 46,4 cm e 3,70 kg. Segundo os pesquisadores, estava presa em algum local para ser cultuada;

– Os estudos revelaram que a escultura foi esculpida num único troco de madeira por um artista afrodescendente que conhecia a tradição dos povos Baga ou Nalu da Guiné, Guiné Bissau, do Oeste da África;

– A Deusa Nimba era cultuada pela Sociedade Secreta Cimo, nas festas da semeadora e colheita do arroz vermelho (Oryza Glaberrima). Este arroz foi plantado no Maranhão e Bahia;

– Nimba é considerada a deusa da fertilidade e significa “alma grande”;

 Cada Nimba é uma peça única, com características que revelam a originalidade, a mão do artista e seu contexto. Portanto, a Nimba não é uma cópia idêntica de outra Nimba, não é uma réplica.

– A madeira esculpida é da árvore Guajuvira.

Origem da peça

Segundo os pesquisadores, são diversas as hipóteses de como a estátua pode ter chegado até o rio Ijuí. Conheça algumas delas:

-Em 1756, o exército português permanece acampado por oito meses em Santo Ângelo, com a presença de 190 escravos;

-Já em 1765, uma leva de negros da Guiné chega ao RS, vindos da Bahia;

-Mais tarde, em 1784, cerca de 13 mil escravos da Guiné vão para Buenos Aires pelos tratados de comércio entre as coroas ibéricas;

– Em 1814 havia nos Sete Povos Missioneiros 250 negros;

– Durante a Revolução Farroupilha – havia na Villa de Cruz Alta (RS) um quilombo. Na época a região das missões, inclusive Santo Ângelo (RS) pertencia a Cruz Alta. Havia quilombos no RS – com escravos da Guiné.

 

Sinos Missioneiros de Caçapava do Sul

Sinos Missioneiros de Caçapava do Sul.
Fotos: Édison Hüttner

Na Paróquia Nossa Senhora da Assunção, no centro da cidade de Caçapava do Sul, dois sinos de missões jesuíticas do século 18 são badalados diariamente. Suas origens eram desconhecidas, mas uma pesquisa do professor da Escola de Humanidades Édison Hüttner, coordenador do projeto de Arte Sacra-Jesuítico-Guarani da PUCRS, identificou, em fevereiro deste ano, que eles foram fundidos nos anos de 1715 e 1732. A data, inclusive, é anterior à criação oficial do Rio Grande do Sul, em reduções jesuíticas que atualmente correspondem a cidades da Argentina e Paraguai. Também participaram da pesquisa o padre Rudinei Lasch, pároco da Igreja, e o pesquisador Éder Abreu Hüttner.

 

Os Sinos Missioneiros

CIDDCCXIV OPPIDO S. CAROLI

CIDDCCXIV OPPIDO S. CAROLI

O professor conta que os sinos estiveram em disputa na Batalha de San Carlos, à época província jesuítica do Paraguai, e eram objeto de cobiça do Império brasileiro, sob a expectativa de que tivessem ouro e prata em suas composições. Pesquisa realizada no Laboratório Central de Microscopia e Microanálise da PUCRS revelou, entretanto, que eles são feitos de bronze. Um dos sinos mede 70cm x 70cm e tem impresso, em números romanos, duas datas: 1714 e 1715. Na parte superior, em latim, diz pertencer ao povo de São Carlos, atualmente província de Corrientes, na Argentina.

Anño 1732 – Ssma. TRINIDAD

Anño 1732 – Ssma. TRINIDAD

O segundo, do ano de 1732, tem impresso, além do ano, seu local de fundição: a redução jesuítica de La Santísima Trinidad do Paraná, tombada pela Unesco em 1993 como patrimônio da Humanidade e, atualmente, pertencente ao Paraguai. Ele mede 60cm x 60cm, possui escritas em espanhol e também imprime o nome de seu fundidor, o índio Iganatius Guarepi.

A análise de Hüttner também identificou que os dois objetos possuem semelhanças com outros sinos missioneiros, como a tipografia impressa e símbolos de cruzes formadas por pequenos losangos. A Paróquia abriga, ainda, um terceiro sino, brasileiro, fabricado no ano de 1950.

 

A União de Três Países

Sinos missioneiros foram abençoados

Sinos missioneiros foram abençoados.
Foto: Roger Fotografia

Diariamente, os sinos argentino, paraguaio e brasileiro, entoados juntos, representam a união da história dos três países. A pesquisa de Hüttner e a identificação dos objetos missioneiros impacta em novidades sobre a história das missões no sul da América. Segundo o professor, os sinos poderiam estar perdidos ou fundidos, mas a própria história local de Caçapava do Sul os preservou. “Essa descoberta também é importante para a população e sua identificação com a história da cidade”. Ele finaliza refletindo que os sinos são anteriores à criação da própria Paróquia Nossa Senhora da Assunção.

Na última sexta-feira, 31 de março, os sinos missioneiros foram abençoados em uma cerimônia aberta à população da cidade e também foram escolhidos seus padrinhos, resgatando uma tradição da igreja. Na oportunidade, também foi inaugurada uma exposição sobre as descobertas da pesquisa. Hüttner pretende levar o estudo ao conhecimento de representantes da Argentina e Paraguai, aproximando a relação com os países através de suas histórias.

Pesquisa encontra pedidos de fiéis em peças barrocas de 300 anos

Fotos: Cristiane Weber – InsCer/RS / PUCRS

O Projeto de Arte Sacra-Jesuítico-Guarani da PUCRS, liderado pelo pesquisador e professor da Escola de Humanidades Edison Hüttner, acaba de realizar mais uma descoberta: a presença de ouro e pedidos de fieis em imagens sacras com idade estimada em 300 anos ou mais, pertencentes ao Museu de História Natural do Centro de Pesquisa e Documentação (Cepal) de Alegrete. A pesquisa foi apresentada à comunidade da cidade na sexta-feira, 18 de novembro, às 19h, no Cepal. As imagens foram analisadas no Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer/RS), em técnica de tomografia computadorizada, e no Laboratório Central de Microscopia e Microanálise da Universidade, para identificação de elementos como o ouro.

Pesquisa encontra pedidos de fiéis em peças barrocas de 300 anos

Analisando o percurso da arte sacra jesuítico-guarani do Rio Grande do Sul, o pesquisador afirma que a atual etapa compreende a análise das imagens de Santo Antônio e Imaculada Conceição, peças de aproximadamente 20 centímetros que se caracterizam por esculturas missioneiras, ambas confeccionadas em madeira cedro. As peças foram analisadas a partir de 2015, quando se iniciou a investigação sobre suas origens. “As características apontam para uma arte barroca, em policromia, muito bem confeccionadas. E essas análises comprovam nossa tese de que são missioneiras”, afirma Hüttner.  Ao trazer as peças para Porto Alegre, ele observou os indícios de ouro analisados no laboratório e posteriormente, no InsCer, foram encontrados outros sinais. “Nesta tomografia, observou-se a parte oca das peças. Dentro de Santo Antônio, encontramos papéis com nomes de pessoas, entre pedidos como bênçãos, casamentos e encontro de objetos perdidos”. Já na imagem de Imaculada Conceição foram encontrados orifícios que indicam uma origem missioneira, como pontos que abrigavam a luz crescente, presente nessas peças.

Segundo Hüttner essas imagens eram andarilhas, levadas para diferentes lugares como forma de extensão do espaço sagrado. “Eles passeavam com essas imagens entre casas ou mesmo nas Igrejas”.

Sítio Arqueologico de São Miguel Arcanjo

Sítio Arqueologico de São Miguel Arcanjo
Foto: Halley Pacheco de Oliveira

A exposição Helenismo Sul-Americano Missioneiro, promovida pela Escola de Humanidades da PUCRS, segue até 15 de outubro em Porto Alegre. Os visitantes poderão conhecer um novo conceito cultural missioneiro, placas com desenhos cedidas pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, uma réplica da Cruz de São Miguel encontrada em Camaquã em 2013 por pesquisadores da Universidade, desenhos de partes das ruínas, quadro do artista plástico Fabiano Millani, símbolos arquétipos da região missioneira (pedra Itacurú/arenito,  reprodução de desenhos de árvores e pássaros, como a erva-mate e quero-quero e fotos  das ruínas do São Miguel – séculos 18 – 19, desenhos e textos explicativos do conceito da exposição.

A realização do evento é do Projeto de Arte Sacra Jesuítico, coordenado pelo professor Édison Hüttner, com apoio do Núcleo de Estudos em Cultura Afro-brasileira e Indígena da PUCRS (Neabi). Os curadores são Édison Hüttner, Éder Abreu Hüttner e Rogério Mongelos, escritores do artigo Helenismo Sul-Americano Missioneiro, publicado na revista italiana Visione Latino-Americana, da Universidade de Trieste.

A exposição está no Museu Júlio de Castilhos (rua Duque de Caxias, 1205). A visitação ocorre entre terças-feiras e sábados, das 10h às 18h. Informações adicionais pelo telefone (51) 3221-3959.

Sítio Arqueologico de São Miguel Arcanjo

Sítio Arqueologico de São Miguel Arcanjo
Foto: Halley Pacheco de Oliveira

A Escola de Humanidades da PUCRS promove em Santo Ângelo, até o dia 30 de julho, a exposição Helenismo Sul-Americano Missioneiro. Os visitantes poderão conhecer peças missioneiras, como placas com desenhos cedidas pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, uma réplica da Cruz de São Miguel encontrada em Camaquã em 2013 por pesquisadores da Universidade, desenhos de partes das ruínas, entre outros. Também será apresentado um documentário com depoimentos de pesquisadores e imagens das ruínas.

A realização do evento é do Projeto de Arte Sacra Jesuítico, coordenado pelo professor Édison Hüttner, com apoio do Núcleo de Estudos em Cultura Afro-brasileira e Indígena da PUCRS (Neabi), da Karioca Multimídia e outras instituições. Os curadores são Édison Hüttner, Frank Coe e Éder Abreu Hüttner.

A visitação ocorre das 9h às 12h e das 14h às 17h, no Museu Dr. José Olavo Machado (rua Antunes Ribas, 1008 – Meller Sul/Centro – Santo Ângelo). Informações pelo telefone (55) 3312-7193.

 

Vocabulário Português-GuaraniNesta quinta-feira, 14 de abril, ocorre o 3º Círculo de Cultura Indígena, promovido pelo Núcleo de Estudos em Cultura Afro-brasileira e Indígena (Neabi), do curso de Pedagogia da Escola de Humanidades da PUCRS.

Na ocasião, será realizada uma apresentação musical com Celdo Braga, líder do Grupo Imbaúba, que utiliza a música para apresentar os detalhes da Amazônia. Durante o espetáculo, Braga irá expor detalhes da história indígena e da cultura amazonense. O músico é formado em Letras pela PUCRS, além de ser membro da União Brasileira de Escritores.

Logo após, será lançado o livro Vocabulário Português-Guarani, de Mario Arnaud Sampaio. A atividade é aberta ao público ocorre às 19h30min na sala 240 do prédio 15 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 – Porto Alegre). A obra, da editora Martins Livreiro, foi organizada pelo professor da Universidade Edison Hüttner, em conjunto com Zélia Dendena e Raul Selva.