A pandemia impactou a vida de pessoas no mundo todo, cobrou reações imediatas das autoridades e exigiu da população força e resiliência. A área da educação também precisou se reestruturar e uma nova dinâmica de ensino ganhou espaço, expondo fragilidades e enfatizando desigualdades sociais. Durante este longo período de distanciamento social em que vivemos, já se somam 13 meses de aulas remotas, além de uma série de aprendizados e desafios enfrentados por professores e professoras, principalmente da educação básica.
No Dia Mundial da Educação, celebrado neste 28 de abril, o contexto de dificuldade reforça a importância de ações que ampliem os investimentos em educação, valorizem os profissionais da área e democratizem o acesso aos ensinos básico, técnico e superior.
Com o intuito de contribuir com essas reflexões, o estudo Impactos da Pandemia na Pessoa Docente, desenvolvido na Escola de Humanidades da PUCRS e coordenado pela professora Bettina Steren, junto com o seu grupo de pesquisa PROMOT (Processos Motivacionais em Contextos Educativos), identificou nuances da experiência pessoal e profissional dos professores e professoras durante esse período de crise. O grupo faz parte do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUCRS, um dos melhores do País, com nota 6 segundo a Capes, e referência internacional.
A pesquisa ouviu mais de 200 participantes de dezenas de municípios do Rio Grande do Sul e de localidades de fora do Estado e do País, que responderam a um questionário online com 25 perguntas, em maio de 2020. O número mais expressivo de participantes é de docentes de escolas públicas (74,8%), que atuam no Ensino Fundamental (40%) e com mais de 15 anos de docência (36,6%). Eles também representam a maioria (93,6%) das instituições que adotaram o ensino remoto emergencial.
Dificuldade no uso de tecnologias, adaptação curricular, comunicação, sobrecarga de trabalho e realidade socioeconômica dos estudantes foram os desafios profissionais mais citados pelos participantes. Quando questionados sobre os desafios pessoais, os pontos que mais impactaram a atuação dos docentes foram a expectativa de atender às necessidades tanto dos estudantes e dos pais como das coordenações, e a dificuldade de cativar as turmas sem a possibilidade de contato físico – proporcionado em sala de aula.
De acordo com a pesquisadora, apesar dos obstáculos, os docentes seguem ativos buscando formas de minimizar os impactos negativos da pandemia no futuro dos estudantes – especialmente daqueles que possuem menos recursos:
“Há professores e professoras, juntamente com estudantes, buscando incansavelmente formas de manter o ensino e os processos de aprendizagem em ação. Na visão de docentes de escolas públicas e privadas, segundo dados da pesquisa, a experiência destes dois anos tem contribuído em certa medida para o desenvolvimento da autonomia dos estudantes, assim como a valorização da escola e autoconhecimento emocional”.
Além das dificuldades, os professores da educação básica também citaram os aprendizados desse período de docência remota. Dentre os aspectos profissionais, estão o acesso a novas tecnologias e metodologias de ensino, o aprimoramento do planejamento docente e o desenvolvimento profissional. Na perspectiva pessoal, empatia, autoconhecimento, planejamento e resiliência foram os aprendizados mais citados.
Para o pós-pandemia, Bettina ressalta que as pesquisas sobre bem-estar e mal-estar docente apontam para a necessidade de valorização profissional, representada por melhores condições de trabalho, sejam elas referentes à infraestrutura das escolas, programas de formação docente continuada, aumento salarial, ações governamentais, respeito à trajetória e escuta de cada professor e professora:
“Os estudos indicam, também, a necessidade de institucionalização de redes de apoio nas comunidades escolares em parcerias com universidades e profissionais de diferentes áreas, como apoio psicológico, rodas de conversas e metodologias ativas na resolução de problemas e construção do conhecimento”.
Para o professor e decano da Escola de Humanidades, Draiton Gonzaga, o Dia Mundial da Educação reforça que o presente e o futuro do País passam, necessariamente, pelas mãos de docentes que contribuem para a formação de cidadãos e cidadãs. Profissionais e cidadãos do futuro dependem de educação de qualidade para dar continuidade à sua trajetória no ensino superior nas mais diversas áreas e construir o amanhã, inclusive, como professores e professoras.
E é a base para esse futuro que é moldada coletivamente no hoje, afirma Ana Soster, decana associada da Escola de Humanidades. “A Universidade exerce um papel fundamental na formação das pessoas que sonham em ensinar. É na interação com o ensino básico e com a comunidade que fortalecemos a função social da docência e contribuímos para as mudanças. No ambiente acadêmico, aprendendo a ensinar, é que compreendemos o quanto esse processo é permanente e contínuo”, destaca.
O próximo dia 10 de agosto será o primeiro dia de aula do segundo semestre letivo de 2020 para a maioria dos alunos de Graduação da Universidade. Após um período de desafios e aprendizagem tanto para estudantes, quanto para os professores, em que as aulas passaram a ser ministradas de forma remota em função da pandemia, o início de um novo ciclo vem sendo preparado com planejamento e dedicação para garantir um cronograma de aulas seguro, flexível e eficaz.
O Seminário de Desenvolvimento Acadêmico organizado pela Pró-Reitoria de Graduação e Educação Continuada (Prograd), desta vez totalmente online, faz parte desse movimento e foi pensado para promover, entre os docentes, aprendizagens sobre recursos tecnológicos e metodológicos para qualificar a mediação online.
Iniciado no dia 23 de julho, com o tema Perspectivas da Educação em Tempos de Pandemia, o encontro com uma série de webinars que vão até o final do dia 24 foi também um momento de ressaltar e compartilhar estratégias e cases criados ao longo destes meses, especialmente orientados pelo Grupo de Mediação Online e pelos Núcleos de Inovação Pedagógica das escolas. Os participantes debateram sobre como promover o engajamento, como minimizar a sobrecarga cognitiva e como a avaliar o processo de aprendizagem em atividades remotas.
Segundo o pró-reitor de Graduação e Educação Continuada, Ir. Manuir Mentges, a transição do ensino presencial para o remoto vivenciada no primeiro semestre, de maneira rápida e sem sobressaltos, só foi possível devido a um efetivo trabalho de cooperação e flexibilidade do corpo docente e técnico.
O conteúdo dos webinars está disponível para todos os colaboradores na área do Moodle, em Recursos de Mediação On–line. Há ainda uma comunidade com tutoriais para metodologias e recursos tecnológicos e espaços síncronos para apoio no planejamento das aulas e utilização dos recursos, com suporte do GT de Mediação On-line e dos Núcleos de Inovação Pedagógica (NIPs).
Aulas remotas emergenciais X EaD
No primeiro dia de atividades a professora Lúcia Giraffa, da Escola Politécnica e líder do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Tecnologias Digitais e Educação a Distância, ressaltou que a Universidade encerrou uma etapa de ensino síncrono remoto emergencial e agora ingressa em um período de aulas remotas planejado.
Segundo ela, uma disciplina presencial não pode se “transformar” em disciplina a distância da noite para o dia, nem ser vista dessa forma simplesmente por estar acontecendo a distância em função das circunstâncias atuais. “Adaptar provisoriamente o ensino presencial para ensino remoto não é EaD. Não temos tutores, temos professores mestres e doutores produzindo material para o contexto de suas disciplinas que seriam ministradas presencialmente e acompanhando, de maneira personalizada, suas turmas”, comenta.
A nova fase envolve uma maior organização e planejamento das disciplinas, o incentivo à autonomia discente e mediação pedagógica, avaliação em cursos remotos, além de metodologias específicas.
“A tecnologia no ensino não é uma novidade. Viemos de mais de 30 anos de pesquisa aguardando que a Educação desse uma verdadeira chance para a experimentação do uso de tecnologias digitais. Isto aconteceu agora, na emergência da pandemia, e estamos experimentando, criando, adaptando, avaliando possibilidades. Tudo isso nos fortalecerá ainda mais quando for possível o retorno presencial, no contexto pós pandemia”, explica.
Tecnologia é meio, não fim
A PUCRS oferece aos estudantes uma infraestrutura completa, com serviços e suporte para planejamento de carreira e de vida, mas o seu maior patrimônio é o corpo docente. Composto por professores/as e pesquisadores/as qualificados, é reconhecido no País e no mundo pelas contribuições com a ciência e as melhores práticas em suas respectivas áreas do conhecimento.
A coordenadora de Graduação Online, Debora Conforto, ressalta que o modelo pedagógico e tecnológico desenvolvido na PUCRS é centrado no perfil do estudante, mas valoriza de maneira imprescindível a qualidade acadêmica dos professores, que agora contam com uma equipe multidisciplinar de apoio para a criação das disciplinas.
“A tecnologia é sempre meio, não fim. Quem dá sentido é a mediação, é o professor. A força motriz do nosso modelo é o objetivo de aprendizagem, é aonde o professor quer chegar. Estamos buscando os melhores recursos para oferecer conteúdo digital interativo e diversidade de estratégias de mediação. Queremos que nosso estudante seja protagonista, seja ativo, isso é essencial para um pesquisador”, destaca.
No segundo semestre, textos multimodais, vídeos de animações, objetos de aprendizagem interativos, atividades gamificadas, questionários, podcast, fóruns e cases farão cada vez mais parte da rotina de professores/as e estudantes.
Inquietudes frente ao contexto emergencial como diálogo, estrutura, autonomia, capacitação e apoio ao planejamento foram, segundo a professora Adriana Kampff, diretora de graduação, essenciais para construir planos emergenciais assertivos. “Houve muita generosidade, muita qualidade, muito apoio entre os colegas professores e isso é o que nos identifica como universidade. Estamos prontos para um semestre que inicia online e flexíveis, atentos, para seguir com formação continuada para quando for possível voltar a um modelo presencial que vai valorizar mais a interação tecnológica”, disse.
Substituindo o discurso sobre a importância do professor por ações claras e concretas
O perfil dos estudantes, os cenários presentes, os percursos formativos estabelecidos a partir dos currículos são elementos que desafiam a Universidade a revisitar e aprimorar suas práticas. “Nosso objetivo é oferecer meios e ferramentas para que o professor da PUCRS faça parte de uma vanguarda na docência. Nosso projeto de inovação didático-pedagógica visa fazer com que a Universidade se constitua de movimentos constantes de formação continuada do seu quadro de docentes e do seu quadro técnico”, ressalta o pró-reitor de Graduação e Educação Continuada, Ir. Manuir Mentges.
Desde o início da pandemia a Universidade também tem superado inúmeros desafios. Entre eles o de oferecer suporte tecnológico aos discentes para acompanhamento das atividades remotas, normatizar ações e procedimentos, potencializar ainda mais as contribuições à sociedade e oferecer soluções financeiras para que seja possível manter os estudos e os planos para a carreira.
O reitor da Universidade, Ir. Evilázio Teixeira, abriu o Seminário com uma conversa sobre os desafios e responsabilidades de um modelo de gestão participativo que propõe responsabilidades compartilhadas. Ao comentar os desdobramentos que a pandemia determinou, como a necessidade de soluções rápidas, flexíveis e dinâmicas, agradeceu a todos pelo engajamento.
“Nós somos um corpo onde cada um tem um papel fundamental. A Universidade é uma comunidade de professores, estudantes e técnicos que buscam juntos melhorar e transformar o mundo desde o conhecimento. Não basta proclamarmos valores, temos de praticá-los. Por isso nossa projeção pós Covid-19 é seguir na vanguarda da Educação com excelência no ensino, na pesquisa, na inovação e na relevância local, oferecendo nosso melhor à comunidade em que estamos inseridos”, declarou.