Nestes tempos de transformação, afetados fortemente pela crise sanitária na qual vivemos, acompanhamos uma aceleração sem precedentes de mudanças – seja nas nossas vidas, nas organizações e na sociedade. Estamos imersos em tempos mais digitais, mais online, mais em redes. Novos desafios e oportunidades. Muitos segmentos de negócios estão frente ao desafio de se reinventarem, em alguns casos, completamente. Na educação, no varejo, na saúde, em diversas áreas.

Temos transformações em curso nas nossas vidas, nas novas formas de nos relacionarmos com os outros, nos nossos espaços, na ressignificação dos ambientes de vida pessoal e de trabalho, bem como nos mecanismos de mobilidade e de convívio social. No mundo dos negócios nenhuma transformação é mais forte que a Transformação Digital (TD).

Ao contrário do senso comum, Transformação Digital não tem a ver com tecnologia diretamente, tem a ver com estratégias e novas formas de pensar. Envolve Inovação Digital, mas mais ainda Transformação Estratégica.

Neste sentido, apesar do Digital no nome, TD não tem a ver diretamente com tecnologia. Tem a ver com a transformação dos modelos de negócios na era digital, ou seja, está mais relacionado com a cultura organizacional do que com o uso de tecnologias, sejam mais antigas ou mais modernas, como IA (Inteligência Artificial), IoT (Internet das Coisas) e Data Science (Ciência de Dados). O processo de transformação digital se dá pela definição de novos modelos de negócio e, principalmente, pela necessidade das organizações compreenderem o que significa e o impacto da revolução digital.

A partir daí pode-se identificar três fatores críticos de sucesso para o processo: as pessoas, a visão de futuro e as lideranças do processo de transformação. A caminhada se dá pelo uso de abordagens próprias da área de inovação, como uso intensivo de técnicas de design thinking e abordagens transdisciplinares no processo. O resultado se expressa em estratégias para o processo de transformação organizacional.

As áreas foco de mudança, uma vez definida a visão de futuro, a metodologia de condução do processo e as estratégias de transformação envolvem, entre outros aspectos, a definição dos referenciais de planejamento (pois estes processos de TD ocorrem neste contexto de desenvolvimento de planos estratégicos), o novo desenho organizacional (como a adoção da estrutura de redes, no modelo de grafos), as funções e perfis dos profissionais (das equipes e lideranças) e as estratégias para o processo de mudança organizacional decorrente.

Somente após esse momento entra a questão das tecnologias ou aspectos tecnológicos do processo. Não que não sejam importantes, mas eles são consequência de uma nova forma de entender e organizar o negócio (e o modelo de negócio) no mundo digital, com foco nos clientes, na cooperação com os parceiros, nos dados vistos como ativos organizacionais, na inovação por experimentação (foco no learnig by doing approach) e geração de uma proposta de valor ao cliente e ao mercado que diferencie e posicione estrategicamente a organização no novo cenário dos negócios.

Do ponto de vista tecnológico, após estas etapas que realmente caracterizam a Transformação Digital, emergem conceitos e abordagens importantes no campo das tecnologias e sua implementação, como o conceito de Plataformas Digitais, para sustentar o novo modelo de negócio desenhado no processo de TD.

Um dos grandes desafios na Transformação Digital é a questão que envolve as organizações tradicionais e, como consequência, mais conservadoras em termos de organização, estrutura organizacional, lideranças e cultura. Existem muitas abordagem e textos sobre inovação e estratégia em empresas nascentes (startups ou não).

Os desafios e abordagens para atuar em negócios nascentes, já nativos digitais, são completamente diferentes em relação ao desafio de transformar uma organização tradicional, analógica, em uma organização digital, preparada para enfrentar os novos entrantes digitais (empresas nascentes e startups) e as novas oportunidades que o ambiente do século XXI (mais digital, mais conectado, mais em rede) oferece.

E a grande transformação não é, de novo, tecnológica, e sim de estratégia e de cultura organizacional. O grande desafio destas organizações, é mudar a cultura analógica para a cultura digital. Esta cultura analógica está presente não só nas infraestruturas muitas vezes ultrapassadas, mas, principalmente, nas pessoas, nos líderes, no modelo de negócio e na forma como se relaciona com seus clientes, com o mercado e com os concorrentes.

Como transformar uma cultura analógica em uma cultura digital, do mundo que vivemos hoje, é o grande desafio da TD nas organizações tradicionais. Um desafio de vida e morte. Aquelas que não fizerem esta transição simplesmente perderão mercado paulatinamente e tenderão a seguir o rumo de tantas outras organizações que foram líderes de seus segmentos no passado e hoje simplesmente não existem mais. Ou se tornarão irrelevantes.

Como em todo processo de inovação, na Transformação Digital, os principais fatores críticos de sucesso são (a) as pessoas, qualificadas e motivadas; (b) uma liderança inspiradora e, (c) a capacidade da organização construir uma visão de futuro poderosa e compartilhada.

Para construir as bases para um novo ciclo de crescimento. Para se transformar e inovar para se manter relevante e competitiva, fazendo a transição da cultura analógica para a digital. Em um mundo cada vez mais conectado e em rede. Onde a colaboração entre todos os envolvidos no processo de transformação paute a caminhada. Onde a tecnologia não é mais que a necessária ferramenta para que as pessoas e as organizações alcancem seu potencial de realizações.

Ato Criativo | Ailton Krenak e Vãngri Kaingáng

Vãngri Kaingáng e Ailton Krenak / Foto: Divulgação

No dia 19 de outubro, segunda-feira, às 16h, o Instituto de Cultura promove um bate-papo com o líder indígena, ambientalista e escritor Ailton Krenak e com a ativista, escritora e arte-educadora Vãngri Kaingáng. Com mediação da escritora Julie Dorrico, a conversa é transmitida através do perfil PUCRS Cultura no Facebook e do canal da PUCRS no YouTube – onde fica disponível para acesso posterior.

O evento faz parte da série Ato Criativo, que tem como objetivo aproximar o público de pessoas que criam em diversas áreas da cultura, proporcionando espaços de bate-papo com artistas. Nessa edição, a conversa será voltada para a literatura indígena.

Artistas participantes

Ailton Krenak nasceu em 1953, em Minas Gerais. Líder indígena, ambientalista e escritor, é ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas. Organizou a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia, é comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora. É autor de obras como Ideias para adiar o fim do mundo (2019) e O amanhã não está à venda (2020).

Vãngri Kaingáng nasceu em 1980, na terra indígena de Ligeiro, região norte do Rio Grande do Sul.  Escritora, ilustradora, artesã e arte-educadora, graduou-se em Ciências Biológicas pela Universidade de Passo Fundo. É ativista social pelos direitos das mulheres e dos povos indígenas. É autora dos livros Jóty, o tamanduá (2010) e Estrela Kaingáng: A Lenda Do Primeiro Pajé (2016).

Sobre a mediadora

Série Ato Criativo recebe o líder indígena Ailton Krenak e escritora Vãngri Kaingáng

Julie Dorrico / Foto: Arquivo pessoal

Julie Dorrico é macuxi. Doutoranda em Teoria da Literatura no Programa de Pós Graduação em Letras da PUCRS e mestra em Estudos Literários, é autora de Eu sou macuxi e outras histórias (Editora Caos e Letras, 2019). Em 2019, recebeu primeiro lugar no Concurso Tamoios/FNLIJ. É idealizadora das páginas @leiamulheresindigenas, @literaturaindigenaro e @literaturaindigenarr no Instagram e do canal Literatura Indígena Brasileira no YouTube.

O concurso fotográfico Olhar da Casa, exclusivo para participação de alunos e alunas da PUCRS, teve 207 fotografias homologadas: sendo 38 para a categoria natureza morta; 58 na categoria paisagens da casa; e 111 na categoria retrato. O júri, composto por cinco integrantes das áreas de humanidades, comunicação e artes, selecionou três classificados/as de cada categoria. 

Os autores e autoras da foto classificada em primeiro lugar de cada categoria receberá um kit composto por uma câmera instantânea Fujifilm Instax Mini 9, com bolsa e filme de 10 poses.

Confira as fotos vencedoras

Rayssa de Oliveira Lucas, Paulo Augusto Meissner Pinto e Marina Gonçalves Pozzobon ficaram em primeiro lugar em cada uma das categorias.

Fotos classificadas em segundo e terceiro lugar

Rayssa de Oliveira Lucas, Talyta Teixeira Thomé, Ariane Bueno Gonçalves, Bárbara da Silva Pinto, Martina Scheibel Schwertner e Júllia Kayser ficaram em segundo e terceiro lugar em cada uma das categorias.

No dia 24 de agosto, segunda-feira, às 21h, o Instituto de Cultura promove um bate-papo com o cantor e compositor Vitor Ramil sobre a obra de Jorge Luis Borges (1899-1986), escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta. A conversa é transmitida no perfil PUCRS Cultura no Facebook e no Canal da PUCRS no Youtube – onde fica disponível para acesso posterior.

O evento faz parte da série Ato Criativo. Nessa edição a conversa será mediada pelo diretor do Instituto de Cultura, Ricardo Barberena, que conversa com Vitor Ramil sobre sua relação criativa com a obra do escritor argentino. Além disso, Vitor vai cantar poemas de Jorge Luis Borges e conversar sobre o processo de musicar sua obra.

O quê? Ato Criativo com Vitor Ramil e a poesia de Jorge Luis Borges

Quando? 24 de agosto

Que horas? às 21h

Onde? Canal da PUCRS no YouTube e perfil PUCRS Cultura no Facebook

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Não é preciso ser um profissional para apreciar a fotografia / Foto: Julia M. Cameron/Pexels

Documento, registro histórico, arte ou mesmo uma maneira de voltar no tempo e relembrar boas memória. A fotografia é multifacetada e, para apreciá-la, não é preciso ser um profissional da área. Com as câmeras dos smartphones, que se desenvolvem a cada novo modelo, fica mais fácil se animar com a ideia de fazer alguns cliques – seja para compartilhar em alguma rede social ou guardar de recordação.

Nesse 19 de agosto, Dia Mundial da Fotografia, reunimos algumas orientações sobre como construir um bom registro apenas com o celular. As dicas são do artista visual e fotógrafo Maciel Goelzer e você pode conferir o vídeo completo no IGTV do Instituto de Cultura da PUCRS.

Iluminação

Esse é um ponto essencial para se pensar em uma boa fotografia. Para um registro suave e delicado, a luz de janela é uma boa opção. Com uma luz mais forte e direta, é possível fazer uma foto contrastada e com recortes.

Para utilizar a iluminação da forma correta, é interessante prestar atenção na função da fotometragem, que faz com que o celular leia e registre a incidência de luz em um ponto específico. “Se quisermos fazer uma fotografia em que a pessoa está no sol, devemos fotometrar pela parte onde o sol está incidindo. Automaticamente, o celular irá entender que esse ponto precisa estar bem exposto”, explica Goelzer.

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Uma boa luz e um enquadramento que dê conta do que se quer contar fazem a diferença / Foto: Pexels

Assim, é possível evitar que uma foto fique “estourada”, por exemplo, com pontos muito mais claros do que outros. Para fazer essa fotometragem, basta tocar com o dedo em cima do ponto de luz.

Enquadramento

Para uma fotografia harmoniosa, é necessário um bom enquadramento – e isso significa enquadrar exatamente o que se quer contar com a imagem. Nesse período de quarentena, Goelzer sugere fazer registros dos familiares em casa ou mesmo construir uma espécie de diário, utilizando esse recurso para contar uma história e construir lembranças.

“A fotografia vai longe de regras e de normativas. Ela é uma lembrança que a gente vai abraçar.” Maciel Goelzer 

Concurso estimula a observação sobre o ambiente cotidiano

O concurso fotográfico Olhar da Casa, promovido pelo Instituto de Cultura, tem como objetivo promover a criatividade nesse período de distanciamento social. A iniciativa propõe a exploração da casa em sua totalidade, incluindo lugares, móveis, objetos, pessoas e animais que habitam. Podem participar estudantes de graduação e pós-graduação, e as inscrições seguem até 31 de agosto. Clique aqui para saber mais.

No próximo domingo, 16 de agosto, às 17h, o Instituto de Cultura da PUCRS promove um bate-papo dentro da série Ato Criativo sobre o projeto Ensaios de Morar. Participam da conversa a curadora do projeto, Alice Castiel, e as artistas Kaya Rodrigues, Thays Prado e Thayan Martins, com mediação de Luiza Rabello. O evento é transmitido através do perfil PUCRS Cultura no Facebook e do Canal da PUCRS no Youtube – onde fica disponível para acesso posterior.

Ao final da conversa que fala sobre o processo criativo do projeto, Juliana Perdigão faz um pocket show apresentando algumas de suas canções criadas a partir de poemas. Nesse dia, ocorre o lançamento do site Ensaios de Morar, que reúne os poemas de Ana Martins Marques com as criações em música e vídeo concebidas pelas 14 artistas participantes e ensaios escritos por Alice Castiel e Moema Vilela.

 Sobre o projeto Ensaios de Morar

Da parceria entre o Instituto de Cultura da PUCRS e o Projeto Concha, surgiu o Ensaios de Morar, projeto que procurou reunir diversas artes e artistas em torno da poesia de Ana Martins Marques. De maio a julho deste ano tão atípico, foram publicados poemas de Ana Martins que foram transformados em músicas e vídeos por 14 artistas do Rio Grande do Sul. A curadorifoi de Alice Castiel, que observou na poesia de Ana Martins diversas imagens relacionadas ao universo da casa, espaço em que passamos a ficar mais tempo em função do isolamento social. Com isso, a curadora convidou as artistas Aline AraújoBel_MedulaB.artCarina LevitanClarissa FerreiraDessa FerreiraGutcha RamilKaya RodriguesNina NicolaiewskyPaula PosadaRita ZartSaskiaThayan Martins Thays Prado para criarem músicas e vídeos a partir de poemas.  

O resultado das criações das artistas pode ser conferido no site que, além de reunir os poemas escritos com os vídeos das artistas, tem identidade visual desenvolvida pela artista Clara Trevisan e ensaios escritos pela escritora e professora da PUCRS Moema Vilela e por Alice Castiel.

Saiba mais sobre as convidadas do evento

Série Ato Criativo recebe Lázaro Ramos e Conceição Evaristo - Live falará sobre o fazer artístico e a trajetória dos convidados, com a mediação de Daniel Quadros e Ricardo Barberena

Conceição Evaristo / Foto: Camila Cunha

O fazer artístico perpassa a escuta, a vivência, a intencionalidade de tornar real. Fazer arte no Brasil, na maioria das vezes, é um desafio vencido por poucas pessoas. Entre elas, estão a escritora Conceição Evaristo e o ator Lázaro Ramos, duas figuras que carregam o peso da representatividade, da reinvindicação pela vida e dos sonhos de toda uma nação, que tem cor, sobrenome e estatística. 

No terceiro encontro da Série Ato Criativo, do Instituto de Cultura da PUCRS, ambos participaram de uma conversa mediada pelo jornalistDaniel Quadros, ativista do movimento negro e LGBTQIA+, e por Ricardo Barberena, diretor do Instituto de Cultura e professor da Escola de Humanidades da PUCRS. O evento transmitido pelo YouTube e pelo Facebook teve mais de 700 telespectadores simultâneos ao vivo e quase quatro mil participantes no total. 

É preciso comprometer a vida com a escrita.” CONCEIÇÃO EVARISTO. 

Quando a escrita está profundamente relacionada com a vida, nasce a Escrevivência. Ela é dinâmica, por vezes solitária, acontece a partir da observação e da vivênciaNão se cria do nada. Crio porque escutei uma palavra, de algum contexto, porque eu vi um fato, porque as pessoas me contaram alguma coisa, ou porque estou sentido algo”, explica Conceição. 

Desde 1995, na época da sua dissertação de mestrado, a palavra Escrevivência tem sido presente nas falas da escritora. O termo é uma referência à experiência de vida da autora e do seu povo, a qual somente o local de fala compreende. “É o desespero de captar uma cena e transformar em palavras, é o meu comprometimento com ela. 

O palco, o real e a vida 

Série Ato Criativo recebe Lázaro Ramos e Conceição Evaristo - Live falará sobre o fazer artístico e a trajetória dos convidados, com a mediação de Daniel Quadros e Ricardo Barberena

Lázaro Ramos / Foto: Camila Cunha

Em diferentes momentos artistas interpretam e encarnam personagens que flertam com situações reais do cotidiano de muitas pessoas. Essa relação entre a vida e a arte é tênue e, para Lázaro Ramos, se mistura. “Eu só vivo porque faço a arte. O que dá sentido à minha vida é a arte. Ela foi responsável por me dar coragem de existir e falar o que eu penso. Foi o que deu sentido de perspectiva para a minha vida. Em um determinado momento eu não sabia que eu podia sonhar, fazer planos, desejar e mais: expressar os meus desejos, recorda o ator. 

Lázaro conta que sempre tenta trazer o racional para dentro de seus trabalhos e, que por ser algo que o mobiliza tanto, às vezes se confunde com a vida real. Já passei por momentos em que eu interpretava um personagem, chegava em casa e me relacionava da maneira dele e isso não foi bom. 

Rodeada de livros, não, mas de palavras 

Uma afirmativa com duas ou mais intenções. Por um lado, Conceição Evaristo foi criada rodeada por muitas palavras, de uma família muito falante, que contava histórias ao mesmo tempo em que sua mãe fazia bonecas caseiras. “O meu texto é muito marcado por essa oralidade”, afirma. Esse cuidado de buscar na expressão popular a essência do que se quer trazer para o texto é um aspecto dessa vivência. 

Por outro lado, a expressão também é uma crítica social. Enquanto diversos escritores e escritoras podem afirmar com muito orgulho que aos 12 anos leram Machado de Assis, esse é um privilégio distante da realidade de grande parte da população brasileira. “O destino da Literatura me persegue, a partir desses locais subalternizados, como uma forma de quebrar esse imaginário da escritora que tem que nascer com o livro colado 

Além disso, ela ressalta que não é necessário muito esforço para entender uma linguagem universal: a do corpo que fala. Através das expressões, um simples resmungo, a mensagem está dada. 

A arte é atemporal 

De geração em geração, a arte, assim como outros conhecimentos, evolui e acompanha os contextos de seus momentos. O diálogo entre essas diferentes realidades também gera novas soluções.  

Eu me sinto grata à vida. Porque chega aos 73 anos e ter essa oportunidade de dialogar, de saber se sou aceita e recebida com tanto carinho pelos mais jovens, me certifica de que a minha vida valeu e vale a pena. Vocês me certificam de que eu estou seguindo o caminho certo.” CONCEIÇÃO EVARISTO. 

Conceição comenta sobre um princípio das culturas africanas com as pessoas de mais idade, de aprender com a experiência e com aconselhamento. Mas também do princípio regendo as sociedades tradicionais africanas, o princípio do tempo espiralado. A mesma referência que se tem com o mais velho, o mais velho tem com o mais novo. Porque, segundo a autora, o mais novo potencializa o mais velho. 

Ter voz é ter responsabilidade 

Lázaro Ramos ressalta que asuas escolhas não são as mesmas de qualquer outro ator. Às vezes eu estou tão cansado que eu só queria fazer um personagem cômico, dar risada e me divertir com a plateia. Isso não é uma coisa que acontece constantemente. Porque eu tenho noção de que eu sou uma exceção. Um ator ter as oportunidades que eu tive, com personagens tão variados, de ser respeitado, de ter investimento em mim, não é o que acontece com a maioria dos atores negros no meu País. 

O ator conta que a sua história também foi narrada pelo ativismo que, mesmo não sendo uma posição tranquila, é um local de responsabilidade. “Durante muitos anos a gente falou do ativismo, sem falar nas nossas sensações mais particulares, mais imediatas e mais privadas. A carreira de um artista no nosso País não é estável, não há sucesso e nem fracasso para sempre. Não sei o que acontecerá daqui alguns anos, mas eu tenho certeza de que essa semente que foi plantada lá atrás, na Bahia, no Bando de Teatro Olodum, vai me acompanhar para sempre e será um norte para as minhas primeiras escolhas”, destaca. 

Representatividade não, presença 

As novas narrativas contadas através da arte, por Conceição Evaristo e Lázaro Ramos - A escritora e o ator, a experiência e a juventude, uma mesma inspiração: abrir portas para que histórias reais sejam contadas

Daniel Quadros, Ricardo Barberena, Lázaro Ramos e Conceição Evaristo / Foto: Reprodução / PUCRS Cultura

Ana Maria Gonçalves, escritora mineira, foi mencionada pela sua fala sobre a importância de ocupar espaços. Lázaro relembrou de um comentário da amiga: “Ana me falou que ela não queria mais saber de representatividade. Ela queria presença!” 

Ser uma referência solitária, uma exceção, é um problema. Existem muitas pessoas talentosas que não têm o seu talento visto e reconhecido, por falta de oportunidades, destaca o ator. “Não quero me sentar nesse lugar de referência e achar que está tudo resolvido. Fora todos os discursos e ódio, da vontade de silenciar, esse processo só vai ser construído quando a gente conseguir dialogar”, acrescenta. 

Para Conceição, essa é uma questão que precisa ser trabalhada todos os dias. “O meu primeiro lugar de recepção foi o movimento negro. Então eu acho importante a gente ter cuidado com esse lugar de exceção, dessa representatividade. Se não, a gente fica representando a gente mesmo. É a representação do eu sozinho”. 

A força da coletividade 

A hashtag #ConceicaoEvaristoNaABL tomou conta das redes em 2018 quando a escritora decidiu concorrer pela sétima cadeira da Academia Brasileira de Letras, podendo se tornar a primeira mulher negra a ocupar o posto. Mais de 40 mil assinaturas foram coletadas em pouco tempo. O Lázaro, inclusive, também se manifestou nas redes sociais em forma de apoio à campanha. 

Conceição afirma que, apesar do resultado, a sua candidatura foi um marco na história da ABL que não será esquecido. A ação ascendeu o debate sobre os espaços que ainda podem e devem ser ocupados por pessoas que refletem a realidade do Brasil e do mundo. 

Série Ato Criativo 

Assista a live completa do terceiro encontro da série Ato Criativo, com a escritora Conceição Evaristo e o ator Lázaro Ramos. 

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Um dos maiores atores da cultura brasileira, Ariclenes Venâncio Martins, conhecido como Lima Duarte, será o homenageado com a entrega do Mérito Cultural PUCRS no dia 19 de agosto às 20h em cerimônia online pelo canal da Universidade no YouTube. Na ocasião, o artista também fará a leitura de excertos de João Guimarães Rosa e Padre Antônio Vieira.

A honraria Mérito Cultura PUCRS simboliza o reconhecimento institucional de uma personalidade do meio cultural. O homenageado é alguém que tenha transformado a sua vida numa trajetória de defesa da cultura, enquanto instrumento de humanização e educação. Com entrega anual, o Mérito Cultural PUCRS está inserido nas diversas ações que buscam transformar a Universidade em um polo cultural e já premiou, em 2018, a atriz Fernanda Montenegro que, na oportunidade, apresentou a leitura dramática Nelson Rodrigues por ele mesmo, e, em 2019, a cantora Maria Bethânia, que marcou sua volta aos palcos no espetáculo Claros Breus, que teve apresentação única no Rio Grande do Sul, no Salão de Atos Irmão Norberto Rauch, na PUCRS.

Ariclenes Venâncio Martins, nascido num povoado chamado Nossa Senhora da Purificação do Desemboque e do Sagrado Sacramento (MG), filho de um boiadeiro e de uma artista de circo, sempre manteve um pé na roça e outro no mundo cosmopolita. De Zeca Diabo a Sinhozinho Malta, Lima Duarte trouxe à teledramaturgia nacional um grande personagem: o brasileiro comum.

Com a mesma naturalidade, foi o empresário Salviano Lisboa, de Pecado Capital, e o elegante Dom Lázaro Venturini, de Meu bem, meu mal (1981). Das classes abastadas aos estratos mais humildes, sua galeria de personagens revela uma profunda dimensão humana. A doçura de Sassá Mutema, em O salvador da pátria (1989), foi capaz de parar o Brasil a cada episódio. Numa determinada ocasião, ao ser comparado a Charles Chaplin e Marlon Brando, Lima Duarte definiu em uma frase seu projeto artístico: “Somos todos atores de um papel só. O meu é o brasileiro”.

Entretanto, essa profunda identificação não impossibilitou que o ator representasse um indiano em Caminho das Índias (2009) ou um turco em Belíssima (2005). Segundo o próprio ator, ao ser perguntando sobre os seus múltiplos papéis, sua vida foi marcada pelo constante encontro de mundos antagônicos: “O que muito me honra e engrandece é o fato de ser, na elite dos atores brasileiros, o único de formação rural, um caboclo que virou ator. E todo o meu esforço tem sido no sentido de servir minha gente, de não envergonhá-la e de dizer, a cada personagem: ‘Olha! Eu sou um de vocês!’ Mesmo tendo sido Hamlet, Padre Antônio Vieira, Macbeth, Otelo… Tudo caboclo, como eu!”.

A carreira de Lima Duarte é uma travessia de coragem, bravura e dedicação. Em 1946, chega a São Paulo, depois de duas semanas numa boleia de caminhão de frutas. Na capital paulistana, passa a viver de pequenos bicos, inclusive como carregador na feira. Ao tentar uma vaga na rádio, é humilhado e chamado de “voz de sovaco”, devido ao seu timbre.  Apesar desse revés na Rádio Tupi, consegue uma vaga de aprendiz de sonoplasta. Logo depois seria convidado por Oduvaldo Vianna a assumir um papel na radionovela Rádio Romance Royal Briar. Na histórica primeira transmissão da TV Tupi, em 1950, Lima Duarte estava ao lado de Assis Chateaubriand e Lolita Rodrigues.

Em 1951, fez parte do elenco de Sua vida me pertence, a novela em que um galã, Walter Forster, beijou a mocinha, Vida Alves, pela primeira vez no vídeo. Depois participou da novela O Rouxinol da Galileia (1968), O drama dos humildes (1964) e Os irmãos corsos (1966), entre outras.  Lima Duarte, ainda na Tupi, dirigiu Beto Rockfeller em 1968. Convidado pela Globo, consagra-se como um ator definitivo numa impactante sucessão de personagens. Lima Duarte também atuou na peça Arena contra Zumbi, de Augusto Boal, que evidenciou um dos momentos marcantes na cultura brasileira nos anos de resistência ao golpe militar.

Hoje, no ano em que a TV brasileira completa 70 anos, Lima Duarte converteu-se num verdadeiro fundador e desbravador desse veículo de comunicação que transformou a sociedade contemporânea. Falar em Lima Duarte é falar em TV Brasileira, em teatro brasileiro, em cinema brasileiro, em cultura brasileira. Sua história se confunde com a história de todos nós.

Série Ato Criativo recebe Lázaro Ramos e Conceição Evaristo - Live falará sobre o fazer artístico e a trajetória dos convidados, com a mediação de Daniel Quadros e Ricardo Barberena

Conceição Evaristo e Lázaro Ramos / Foto: Camila Cunha

A série Ato Criativo receberá a escritora Conceição Evaristo e o ator Lázaro Ramos para uma conversa sobre arte, cultura e as obras ao longo de suas carreiras no dia 28 de julho, terça-feira, às 21h. O evento será mediado pelo jornalista Daniel Quadros e por Ricardo Barberena, diretor do Instituto de Cultura e professor da Escola de Humanidades da PUCRS. O bate papo será transmitido pelo Canal da PUCRS no Youtube e pela página do PUCRS Cultura no Facebook.

O Ato Criativo se propõe a aproximar o público de personalidades e criadores de diferentes áreas da cultura, proporcionando espaços de bate-papos e trocas com artistas. Nesta edição, os convidados falarão sobre suas trajetórias profissionais, projetos e criações recentes, compartilhando as particularidades de seus processos criativos.

Sobre os convidados

Lázaro Ramos é ator, apresentador, cineasta e escritor. Iniciou sua carreira artística em 1994 ao entrar para o Bando de Teatro Olodum. De 1998 a 2002, foi âncora do Fantástico. Ganhou notoriedade no cinema ao interpretar João Francisco dos Santos no filme Madame Satã (2002). Atuou em diversos espetáculos teatrais, filmes e novelas, ganhando prêmios e atingindo extenso reconhecimento por sua carreira. É autor dos livros Paparutas (2000), A Velha Sentada (2010), O Caderno de Rimas do João (2014), O Coelho Que Queria Mais (2017), Na Minha Pele (2017) e Sinto O Que Sinto: e a incrível história de Asta e Jaser (2019).

Conceição Evaristo nasceu em Belo Horizonte (MG), no ano de 1946. É romancista, contista e poeta. Ganhadora dos prêmios Jabuti de Literatura (2015); Faz a Diferença, na categoria Prosa (2017); e Cláudia, na categoria Cultura (2017). É mestre em Literatura Brasileira pela PUC do Rio de Janeiro (1996) e Doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (2011). Estreou na literatura em 1990, publicando seus contos e poemas na série Cadernos Negros. É autora dos livros Ponciá Vicêncio (2003), Becos da Memória (2006), Insubmissas lágrimas de mulheres (2011), Olhos D’água (2014), Histórias de leves enganos e parecenças (2016) e Poemas da recordação e outros movimentos (2017).  Atualmente, leciona na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) como professora visitante.

Sobre os mediadores

Série Ato Criativo recebe Lázaro Ramos e Conceição Evaristo - Live falará sobre o fazer artístico e a trajetória dos convidados, com a mediação de Daniel Quadros e Ricardo Barberena

Série Ato Criativo recebe Conceição Evaristo e Lázaro Ramos. Mediação de Daniel Quadros e Ricardo Barberena

Daniel Quadros é jornalista gaúcho graduado e estudante de Escrita Criativa pela PUCRS. Além disso, é ativista do movimento negro e LGBTQIA+, com participações em diversos projetos. Trabalha com os temas de inovação, ciência, tecnologia, responsabilidade social, educação, diversidade e inclusão. Atualmente faz parte da equipe da Assessoria de Comunicação e Marketing da PUCRS (Ascom) e do projeto AfrotechBR.

Ricardo Barberena nasceu em Porto Alegre, em 1978. Possui Graduação (2000), Doutorado (2005) e Pós-Doutorado (2009) na área de Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É Diretor do Instituto de Cultura da PUCRS, Coordenador Executivo do Delfos/Espaço de Documentação e Memória Cultural e professor do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUCRS. Coordena o Grupo de Pesquisa Limiares Comparatistas e Diásporas Disciplinares: Estudo de Paisagens Identitárias na Contemporaneidade e é membro do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea (GELBC).

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Foto: Divulgação

No dia 23 de julho, quinta-feira, o Instituto de Cultura da PUCRS promove um bate-papo com o médico Marcio Maranhão, às 21hA conversa acontece através do perfil @pucrscultura no Facebook e do Canal da PUCRS no Youtube – onde fica disponível para acesso posterior. A mediação será realizada por Leonardo Araujo Pinto, médico e decano da Escola de Medicina, Ricardo Barberenadiretor do Instituto de Cultura e professor da Escola de Humanidades.  

O evento faz parte da série Ato Criativo, que tem como objetivo aproximar o público de pessoas que criam em diversas áreas da cultura, proporcionando espaços de troca com artistas. Nessa edição, o convidado aborda o processo de criação do livro Sob pressão: a rotina de guerra de um médico brasileiro (2017)que foi feito a partir de depoimentos dados à repórter Karla Monteiro e que inspirou a série de televisão homônima da Rede Globo. Além disso, fala sobre sua rotina enquanto profissional atuante na área da saúde.  

Sobre o participante 

Marcio Maranhão nasceu no Rio de Janeiro, em 1970. Formou-se em Medicina pela UERJ (1994) e especializou-se em cirurgia geral, pelo Hospital da Força Aérea do Galeão e pelo Hospital Souza Aguiar, e em cirurgia torácica, pelo Instituto de Tisiologia e Pneumologia da UFRJ. De 2005 a 2006, trabalhou como plantonista do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e, de 2001 a 2009, foi cirurgião no Serviço de Saúde do Estado do Rio de Janeiro. Atualmente, é chefe do serviço de cirurgia torácica do Hospital do Galeão. É autor do livro Sob pressão: a rotina de guerra de um médico brasileiro (2017).  

Sobre os mediadores 

Leonardo Araujo Pinto é médico e Decano da Escola de Medicina da PUCRSPossui graduação em medicina (UFRGS, 1999), especialização em pediatria (HCPA, 2001), pneumologia pediátrica (PUCRS, 2003) e epidemiologia genética (LMU, Alemanha, 2007), mestrado em pediatria (PUCRS, 2004) e doutorado em saúde da criança (UNICAMP, 2009). Atua como professor e pesquisador do Programa de Pós-graduação em Pediatria e Saúde da Criança da PUCRS.  Tem formação e experiência na área de saúde da criança, com ênfase em doenças respiratórias, atuando principalmente nos seguintes temas: epidemiologia das doenças respiratórias, epidemiologia genética, bronquiolite viral, asma, tuberculose e fibrose cística. 

Ricardo Barberena nasceu em Porto Alegre, em 1978. Possui Graduação (2000), Doutorado (2005) e Pós-Doutorado (2009) na área de Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É Diretor do Instituto de Cultura da PUCRS, Coordenador Executivo do DELFOS/Espaço de Documentação e Memória Cultural e professor do Programa de Pós-Graduação em Letras da PUCRS. Coordena o Grupo de Pesquisa Limiares Comparatistas e Diásporas Disciplinares: Estudo de Paisagens Identitárias na Contemporaneidade e é membro do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea (GELBC).   

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