Pesquisador Rodrigo Grassi-Oliveria, em pé, com microfone na mão, junto a uma bancada de madeira, apresenta pesquisa sobre crack

Pesquisador Rodrigo Grassi-Oliveria apresentou pesquisa em Brasília / Foto: Arquivo Pessoal

O estudo Alvos de proteção à mulher usuária, realizado desde 2010 pelo grupo interdisciplinar de Neurociência Cognitiva do Desenvolvimento (DCNL), da Escola de Medicina da PUCRS, mostra dados coletados com 1.344 usuários de droga, no Rio Grande do Sul. Destes, 546 eram mulheres consumidoras de crack. Elas apresentaram uma taxa de HIV de 20%, percentual consideravelmente mais alto que a média da população geral, que é de 0,8%. Os resultados foram apresentados, no início de junho, pelo professor do curso de Medicina e pesquisador do Instituto do Cérebro do RS, Rodrigo Grassi-Oliveira, que foi convidado a participar do Seminário Intersetorial de Políticas Sobre Drogas, no Ministério da Cidadania, em Brasília.

Conforme Grassi-Oliveira, “a rede precisa levar em consideração que a doença da dependência química é mais grave nas mulheres porque, de acordo com o estudo, elas consomem mais pedras por dia, sofrem mais na desintoxicação, geralmente são vítimas de abusos sexuais e carecem de estratégias de planejamento familiar e serviços específicos”, destacou.

Cada uma das mulheres tem de dois a três filhos, e essas crianças que se desenvolvem nesse contexto vulnerável também são alvo da preocupação dos pesquisadores. “Com as crianças se desenvolvendo nesse contexto, estimamos que eles sofram maus tratos, como negligência na primeira infância. Para evitar que eles virem os próximos usuários, é preciso focar em prevenção”, enfatizou.

Sinalização para políticas públicas

Ao fim do painel, o secretário de Cuidados e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania, Quirino Cordeiro Júnior, que estava mediando o painel, ressaltou o nível elevado do debate ao unir pesquisas com práticas clínicas – importante para a implementação de políticas públicas. “Quanto mais dados, melhor para entendermos as necessidades, para fortalecer o trabalho e para a busca por alternativas concretas para enfrentar essas questões e melhorar os cuidados e os tratamentos”, concluiu.

O Seminário Intersetorial de Prevenção, Conscientização e Combate às Drogas contou com a participação do secretário executivo adjunto do Ministério da Saúde e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Erno Harzheim, gestor geral da Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas, Pablo Kurlander. O evento foi realizado em parceria com os ministérios da Justiça e Segurança Pública, Defesa, Infraestrutura, Educação, Saúde e Mulher, Família e Direitos Humanos.

 

 

Inscer, Pesquisa, Crack

Pesquisadores do Inscer/PUCRS
Foto: Bruno Todeschini/PUCRS

A PUCRS e o Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul assinaram um acordo de cooperação internacional com a Universidade do Texas – Health Science Center at Houston (EUA) para um estudo inédito sobre dependência à cocaína tipo crack. Coordenado pelo pesquisador do InsCer e professor da Escola de Humanidades da PUCRS Rodrigo Grassi-Oliveira e pelas pesquisadoras Joy Schimitz e Consuelo Walss-Bass, da UTHealth, o estudo terá duração de cinco anos e possui três objetivos principais: promover o mapeamento genético de 1.000 usuários de crack e 1.000 controles (não usuários); avaliar o impacto da exposição à violência/estresse e como isso poderia “marcar” o DNA; e verificar se o vírus HIV poderia modificar o DNA dos usuários em regiões importantes para o funcionamento cognitivo e comportamental.

O orçamento é de 2,6 milhões de dólares e é proveniente do National Institute of Health (NIH) dos Estados Unidos. O InsCer e a PUCRS passam a ser uma das poucas instituições a contar com um investigador principal (PI) responsável por um grant R01 fora do solo americano. O R01 um dos mecanismos mais tradicionais utilizados pelo NIH para dar suporte a pesquisas inovadoras para promover a melhora da saúde humana.

De acordo com Grassi-Oliveira, o Developmental Cognitive Neuroscience Lab (laboratório que coordena) vem coletando sangue de usuários de cocaína tipo crack que se voluntariaram a ceder suas amostras para a criação de um grande biorepositório, contendo as duas mil amostras que serão avaliadas (incluindo controles). Na primeira etapa da pesquisa, o DNA inteiro de cada amostra de sangue será completamente “escaneado” em busca de alterações genéticas que possam estar associadas ao consumo de crack.

Na segunda parte, os pesquisadores partem em busca de marcas no DNA associadas com a exposição à violência e estresse ao longo da vida do usuário. Cada análise possibilitará a investigação de aproximadamente 2,5 milhões de regiões no DNA de cada participante. Na terceira etapa, partindo do mesmo pressuposto das marcas do DNA pela violência ou pelo uso da droga, os pesquisadores contam com um percentual de usuários portadores do vírus HIV, cujas amostras estão no mesmo biorepositório. Neste processo, o objetivo é identificar se a presença do vírus pode, de alguma forma, prejudicar os mecanismos de controle de consumo, dificultando os tratamentos.

O pesquisador ressalta que um dos principais ganhos do estudo é o de revelar novos alvos de intervenção que promovam meios de auxiliar o tratamento do usuário de crack. “Este é um projeto de descobertas e não necessariamente testar alvos pré-definidos. Queremos usar a alta tecnologia que dispomos nas duas universidades para investigar detalhadamente essas informações no DNA dos usuários e controles”, revela. Com os resultados, Grassi e sua equipe esperam apontar para o desenvolvimento de novas drogas ou tecnologias, implicando, inclusive, em políticas de prevenção. “O que vemos, em geral, é uma busca por tratamento quando o uso já está praticamente fora de controle. O trabalho incessante deve ser feito quando a dependência está se desenvolvendo, ou melhor, antes mesmo de aparecer”. O grupo ainda conta com pesquisadores da UFRGS, da UTHealth e os alunos de doutorado da PUCRS Breno Sanvicente-Vieira e Thiago Wendt Viola.

Contexto Brasil – EUA

Segundo o último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), realizado em 2012 em todo o território nacional, mais de dois milhões de brasileiros são usuários de crack/cocaína ou já consumiram a droga pelo menos uma vez na vida. Isso coloca o Brasil em uma posição bastante preocupante, representando 20% do consumo mundial. Um dos fatores mais impactantes é que apenas 1% destes usuários procura tratamento. No mesmo ano, o Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgou que os Estados Unidos possuem 4,1 milhões de usuários. Números que preocupam os pesquisadores, que uniram esforços a fim de conhecer mais a fundo as interações entre os fatores genéticos e ambientais envolvidos no consumo de crack nos dois países.

Hormônio do amor, crack, mulher, cachimbo, drogas

Foto: Salomão Cardoso / Divulgação

Um medicamento seguro, baseado numa substância produzida pelo próprio organismo, está sendo administrado de forma intranasal em usuárias de crack que fazem tratamento para desintoxicação. A grande questão é saber se a ocitocina, popularmente conhecida como “hormônio do amor”, diminui os sintomas de abstinência, fazendo com que as mulheres controlem a vontade de consumir a droga e ajudando-as nos aspectos afetivos. Realizada pelo Instituto do Cérebro (InsCer) e pelo curso de Psicologia da Escola de Humanidades, a pesquisa inclui pacientes da Unidade São Rafael, do Sistema de Saúde Mãe de Deus, que é o único serviço destinado ao atendimento exclusivo de mulheres dependentes de crack no Estado.

Depois de receberem a substância, as participantes do estudo fazem o exame de ressonância magnética funcional (RMF) no InsCer enquanto observam fotografias que remetem ao crack e outras consideradas neutras. O objetivo é identificar a intensidade de ativação de áreas cerebrais específicas relacionadas com a vontade de usar a droga. Os dados serão comparados com os dos participantes que aspiraram solução fisiológica (placebo).

 

Como o cérebro reage

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Infográfico sobre hormônio do amorO ensaio clínico com a ocitocina é um dos quatro estudos do projeto liderado pelo professor do curso de Psicologia Rodrigo Grassi de Oliveira, também ligado ao InsCer. Trata-se de um avanço de uma pesquisa anterior, realizada com o professor Pedro Ferreira, da Escola de Medicina, utilizando neuroimagem. Os pesquisadores analisaram a atividade cerebral em repouso de homens e mulheres que consomem crack e de voluntários saudáveis.

Infográfico sobre hormônio do amorDurante o exame, eles não deviam pensar em nada durante sete minutos. “Avaliamos como se conectam as redes neuronais e como podem ter sido alteradas pelo consumo da droga”, explica o professor Alexandre Franco, do InsCer e da Faculdade de Engenharia, um dos integrantes do grupo.

Grassi diz que o objetivo é verificar se já no momento de repouso o cérebro tem um funcionamento diferente do padrão em quem é dependente de crack. Os pesquisadores buscam marcadores que revelem áreas afetadas pelo consumo abusivo. Franco destaca que se trata de um trabalho inovador sobre crack. “O que existem são publicações sobre cocaína, mostrando uma redução na conectividade em pontos responsáveis pela visão e movimento.” O projeto é financiado pelo CNPq e Ministério da Saúde na chamada Pesquisas sobre Distúrbios Neuropsiquiátricos e pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça.

A reportagem completa, tema da Revista PUCRS nº 183, você acessa aqui.

 

Drogas, Cocaína

Foto: stevepb / pixabay.com

O Funcionamento do Cérebro em Usuárias de Cocaína – Crack será o tema da próxima palestra do Fórum de Interdisciplinaridade, que ocorre na quinta-feira, 15 de dezembro. Os palestrantes serão o professor do curso de Psicologia da Escola de Humanidades Rodrigo Grassi de Oliveira e o docente da Faculdade de Engenharia Alexandre Rosa Franco. O objetivo da atividade, que é gratuita e aberta ao público, é expor como as drogas afetam a vida das usuárias, os fatores de vulnerabilidade associados ao uso e quais seriam os mecanismos psicobiológicos envolvidos. Além disso, a proposta é abordar técnicas de como medir o funcionamento do cérebro, especificamente a ressonância magnética funcional. Interessados podem realizar a inscrição no site bit.ly/2g502r8.

Os palestrantes, ao lado de uma equipe transdisciplinar, estão desenvolvendo um projeto que irá mensurar a eficiência dos tratamentos contra o vício, não só clinicamente, mas também medindo sua eficácia nas alterações do funcionamento do cérebro. O evento ocorre entre 17h30min e 19h, no auditório do prédio 40 do Campus (avenida Ipiranga, 6681 – Porto Alegre). Será fornecido atestado de participação aos que solicitarem no momento da assinatura da lista de presença. A promoção é da Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento da PUCRS.