Liberal, cristã progressista e transgênero. Desta maneira, a economista norte-americana Deirdre McCloskey se apresentou no Fronteiras do Pensamento, ocorrido na última segunda-feira (6), no Salão de Atos da UFRGS, em Porto Alegre. Deirdre é Ph.D. em Economia pela Universidade de Harvard e sua dissertação foi agraciada com o Prêmio David A. Wells, em 1973.
Em sua palestra, a economista declarou que não gosta da palavra “capitalismo”, pois é um conceito que está fora do contexto do mundo moderno. Ela acredita que o acumulo de capital é a melhor forma para o crescimento de uma nação.
A palestrante fez uma comparação com os “nossos ancestrais”, os quais a classe média produzia e consumia em torno de 2 dólares por dia. “Atualmente, no Brasil, a média de renda per capita é 40 dólares por dia. Na Inglaterra, é 100, e, nos Estados Unidos, 130. Num comparativo, a porcentagem de pessoas que vivem com 2 dólares por dia é bem menor. Essa não é uma ideia maluca de economia, pois somos enormemente mais ricos que no passado”, aponta. Mesmo com os problemas como a corrupção (Deirdre brincou que vem de Chicago, local onde essa prática é constante), essa preocupação é pequena comparada ao crescimento econômico que vem ocorrendo durante os anos.
A economista lembrou que o grande enriquecimento vai além da Revolução Industrial. “Antes, os nossos ancestrais tinham poucas roupas para vestir, por exemplo. A partir do liberalismo, de Adam Smith, com as ideias de liberdade, igualdade e justiça, foi possível que as pessoas pudessem se desenvolver e abrir o seu próprio negócio”, analisa.
Críticas à esquerda e a Piketty
O último palestrante no Fronteiras do Pensamento, ocorrido no dia 28 de setembro, o economista Thomas Piketty foi alvo de Deirdre. Para ela (em tom humorado), Piketty tem uma ideia francesa sobre a economia, a qual quem ganha mais tem que repartir mais. “Eu já tenho a visão escocesa e de Adam Smith. Ou seja, oferecemos um ponto de partida para a pessoa, com educação e saúde, e, desta maneira, é possível seguir a sua vida”, diz. Além disso, comentou que Piketty, em seus livros, se esqueceu de mencionar o capital humano, o qual é o principal elemento para o crescimento da economia nos dias de hoje. “Thomas também exagera na questão da desigualdade social”, critica.
Ainda, segundo a economista, é dever de todos ajudar os pobres, mas a solução não está em se aproveitar da renda de pessoas que estão produzindo. “Os meus amigos da esquerda pensam em perseguir os milionários. Eu discordo. Quando as pessoas estão libertadas, podem inovar e assim criar uma meta para o crescimento econômico”, complementa.
Projeções para o Brasil
Em um gráfico, Deirdre mostrou números aproximados de gerações (no período de 1990-2016) que projeta quanto tempo que os países com políticas econômicas liberais ou não liberais precisam alcançar a renda real per capita dos Estados Unidos. China e Chile demorariam uma geração. Já a Índia seria em duas. No entanto, o Brasil precisaria de seis gerações para atingir o mesmo índice dos norte-americanos. “Os países que adotam o livre comércio levam vantagem. No caso dos brasileiros, é preciso valorizar mais as pessoas. Aquelas que têm dinheiro são julgadas. É preciso deixar claro que empresas produtivas fazem bem ao país. A recomendação é que sigam os exemplos de Coreia do Sul e Chile. Uma sociedade econômica livre, com liberdade de expressão, tem grandes chances de chegar ao patamar dos Estados Unidos”, sinaliza.
No encerramento da palestra, a economista ainda sentenciou: “A liberdade é o âmago do mundo moderno.”
Civilização
A temporada 2017 do projeto Fronteiras do Pensamento tem como tema Civilização – a sociedade e seus valores. Com parceria cultural da PUCRS, o evento traz a Porto Alegre, até o mês de dezembro, conferencistas internacionalmente reconhecidos para abordar a busca por reconstrução, consciência e resgate de valores.
Para lembrar os 150 anos da obra O Capital, de Karl Marx, o Programa de Pós-Graduação em Filosofia, da Escola de Humanidades, realiza a palestra do professor da UFRGS Fernando Dillenburg, mestre e doutor em Filosofia. Parte do evento Conjunturas, ocorre no dia 17 de agosto, às 18h, no auditório do prédio 5. Entrada franca.
Válido como duas horas de atividade complementar, é promovido pelos Grupos de Pesquisa Lógicas de Transformação e Filosofia & Interdisciplinaridade.
O Capital – Livro I – o processo de produção do capital foi publicado em 1867, o Livro II – o processo de circulação do capital, em 1885, e o Livro III – o processo global da produção capitalista, em 1894. O alemão Karl Marx aprofunda e sistematiza a crítica às formas de sociabilidade do mundo moderno. Elabora conceitos de mercadoria, capital, mais-valia, lucro e juro e renda fundiária. O autor examina a dinâmica do capital, sua gênese histórica e contradições.
Uma das linhas de pesquisa de Fernando Dillenburg é Os esquemas de reprodução de Marx e a teoria da dependência de Ruy Mauro Marini. Investiga as consequências econômicas e políticas dos recortes metodológicos utilizados pelos dois autores. Em outro estudo aborda A crítica de Marx às categorias da economia política, analisando as opiniões do filósofo sobre concepções de economistas políticos.