Lumi: cantor nigeriano é diplomado pela PUCRS

Fotos: Camila Cunha/PUCRS

O cantor nigeriano Lumi se define como uma pessoa que gosta de desafios. Em 2016, chegou à final do programa da Rede Globo The Voice Brasil. Mas sua ligação com o País não é recente. Há 10 anos começou a estudar Engenharia Mecânica na PUCRS. A oportunidade surgiu pelo programa PEC-G, uma parceria entre as embaixadas do Brasil e da Nigéria. Durante a época de estudante, gostava muito de cálculo e conciliava os estudos com a carreira como cantor, que iniciou na época da Faculdade. Em março, voltou ao Campus para cantar na recepção aos novos alunos. O artista relembra os tempos de estudante com carinho e deixa um recado: “Não deixem de lado os seus sonhos. Vocês têm que acreditar. Então aproveitem muito que esse momento é só agora. O tempo não volta”. Daqui para frente, Lumi quer lançar um CD e continuar sua carreira em Porto Alegre, mas não descarta cidades como Rio de Janeiro e São Paulo como possibilidades para viver.

 

Quando começaste a cantar?

Eu comecei quando era muito criança, mais ou menos com 11, 12 anos, numa Igreja, na Nigéria. Eu tinha que fazer o encerramento de um evento e era muito tímido. Minha mãe percebeu que eu não conseguiria ficar na frente de muita gente falando, então ela me ensinou uma música por perceber que eu fico mais à vontade cantando. Cantei e todo mundo aplaudiu. Foi muito legal. Naquele momento eu pensei: acho que quero fazer isso para o resto da minha vida. Eu senti a energia das pessoas. Mesmo criança, eu gostei de estar no palco naquele momento. E foi o início de tudo, na Nigéria.

 

Quais são as principais influências na música?

Tem um artista nigeriano que já faleceu, o Fela Kuti, que é uma lenda. Ele definiu um estilo que hoje em dia tem bastante na Nigéria, o Afro Beat. Agora está bem espalhado. Ele que iniciou este estilo.

 

Como teve início a carreira oficial como Lumi?

Antes de vir para o Brasil, na Nigéria, eu estudava Ciência da Computação. Lumi já existia, mas era mais hobby. Então eu cheguei aqui no Brasil, em 2005, com 21 anos, tinha bolsa de estudos e não podia trabalhar e nem fazer nada remunerado. Um amigo meu, que é DJ, me convidou para cantar em uma festa em Torres. No meio da festa, ele pediu para eu cantar por cima da música. A galera gostou, eu percebi e achei muito legal. Comecei a ir junto com ele, a viajar pelo litoral, pelas praias.

 

Como tu vieste para a PUCRS?

Eu ganhei uma bolsa de estudos. Primeiro eu estudei um ano na UFRGS para aprender a falar português. Em 2006 comecei a estudar Engenharia Mecânica na PUCRS e me formei em 2012. Entrei por um convênio da embaixada da Nigéria com a do Brasil, o PEC-G.

Lumi: cantor nigeriano é diplomado pela PUCRS

O que tu achaste do tempo de estudante na PUCRS?

Era muito legal. Eu era um bom aluno, apesar de faltar muita aula. Às vezes eu tinha um show durante a semana ou ensaio, e tentava conciliar as duas coisas: música e faculdade. Gostava bastante de cálculo, fui monitor nessa área. Muitos alunos que procuravam por mim quando tinham dificuldades na matéria. Eu era a pessoa que, quando não conseguia responder a uma questão, levava para casa e só voltava com a resposta certa, eu gostava muito disso, lidava com um desafio. Meu lugar favorito no Campus era o Centro Acadêmico da Engenharia, onde fica a sinuca. Eu era um dos melhores jogadores. Eu gostava do laboratório de refrigeração também.

 

Qual foi o momento mais inesquecível na Universidade?

Foi o dia da formatura, no Salão de Atos. Foi o melhor momento da minha vida, porque nesse dia eu cantei “Let it Be”, dos Beatles. Foi muito lindo. Geralmente quando tem aquele momento de homenagem aos pais, eles pedem para os pais levantarem e levarem flores. Nós fizemos diferente. Foi uma surpresa, ninguém sabia, nem os professores. Nesse momento, todos os formandos levantaram, fizeram uma linha em frente ao palco e eu estava com o microfone na mão. E então um formando começou a tocar saxofone e um convidado tocou piano. Eles tocaram sozinhos por um tempo o início da música e o pessoal já estava gostando. Aí eu saí do meio da galera com o microfone e comecei a cantar. Agora imagina o Salão cheio, todo mundo em pé. Esse foi o melhor momento da Faculdade. Foi um dia inesquecível, meus pais vieram da Nigéria especialmente para isso. Eles estavam no meio do pessoal e chorando sem parar.

 

Tu vieste para o Brasil só pelo programa ou já existia uma relação com o País?

Todo mundo fala e gosta do Brasil, isso é fato. Por causa das praias, do carnaval, tudo mais. E eu sou uma pessoa que gosto muito de desafios. Na Nigéria, eu estudava Ciência da Computação, estava no terceiro ano, mas não gostava. Eu queria fazer Engenharia. E surgiu essa oportunidade na Embaixada. Eu deveria fazer uma prova e esperar a seleção. Fiz a prova e fui selecionado. Eu vi que seria um desafio, mais uma coisa para fazer na minha vida. Decidi ir e encarar. Mesmo sem falar a mesma língua.

Lumi: cantor nigeriano é diplomado pela PUCRS

Quanto tu vieste para o Brasil foi melhor ou pior do que tu pensavas?

Primeiro me perguntaram em qual a cidade eu gostaria de estudar. Recebi muitos materiais para ler sobre as cidades brasileiras, mas logo me informei sobre o Rio de Janeiro e não li mais nada. Minha mãe estava junto e disse que eu não conseguiria estudar no Rio de Janeiro. Por isso não escolhi. Li tudo e decidi que deveria ser Porto Alegre a minha primeira opção. E quando cheguei aqui fiquei muito feliz com a minha escolha. O ambiente aqui é diferente da Nigéria, por exemplo.

 

Como surgiu a oportunidade de participar do programa?

Como eu já fazia música e trabalhava em casas noturnas, chegou um momento em que eu decidi que precisava de mais um desafio na minha carreira. Enviei um vídeo cantando e falando um pouco sobre quem eu sou e a minha trajetória. Fui chamado e antes de chegar na televisão passei por várias etapas, porque antes de aparecer na TV o participante enfrenta diversas seleções.

 

Como foi a experiência?

Aprendi muito musicalmente. Eles trabalham com profissionais ótimos. Nossa fonoaudióloga era maravilhosa, aprendi muita coisa com ela, porque trabalha com muitos artistas conhecidos. Foi um treinamento completo.

 

O que tu pretendes para o futuro?

Quero lançar o meu primeiro CD, já lancei um EP. Mas EP não é um CD completo. Agora quero fazer isso. E vou indo conforme a música me levar. Pretendo continuar aqui em Porto Alegre, mas, quem sabe, São Paulo ou Rio de Janeiro também são possibilidades.

Foto: Bruno Todeschini - Ascom/PUCRS

Foto: Bruno Todeschini – Ascom/PUCRS

Como foi cantar para os alunos no evento de recepção aos calouros?

Voltar como ex-aluno para cantar é gratificante. Porque eu já passei por isso, já fui um novo aluno. E bem ou mal eu pude servir como exemplo para eles. Porque iniciei aqui a Faculdade e consegui me colocar na posição deles. Estou em casa. Me senti em casa.

 

Como ex-aluno, o que tu poderias dizer para os calouros? Qual mensagem tu deixas para eles?

Não deixem de lado os seus sonhos. Vocês têm que acreditar. Dentro da Faculdade, aprendemos várias outras coisas além da matéria que está sendo passada dentro da sala de aula, como amizade. Então aproveitem muito que esse momento é só agora. O tempo não volta.