Multidisciplinaridade na área de saúde é quando pessoas de diferentes campos de atuação trabalham no mesmo caso. Durante a pandemia, mais de 50 profissionais e pesquisadores se uniram em uma força-tarefa para combater a Covid-19. Nesse grupo, também está o trabalho realizado no Centro de Pesquisas em Biologia Celular e Funcional (CPBMF), que impacta em diferentes frentes na contenção do novo coronavírus.
“A sociedade moderna está alicerçada em tecnologias que são consequência direta dos avanços científicos. Em meio à uma crise pandêmica, a importância da pesquisa se manifesta de forma dramática: necessitamos o quanto antes de novos medicamentos para tratar pacientes e de vacinas para prevenir a disseminação da Covid-19”, explica um dos integrantes do CPBMF, o professor Cristiano Valim Bizarro, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular (PPGBCM) da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS.
Segundo ele, uma das prioridades no momento é desenvolver novos testes diagnósticos que sejam confiáveis, mais rápidos e de menor custo, possibilitando que a grande população seja testada. “Além disso, a pesquisa e a ciência são fundamentais para que as tomadas de decisão em diferentes esferas públicas e privadas estejam pautadas em dados embasados e atualizados”, destaca.
O trabalho do CPBMF está relacionado a ensaios de atividades de compostos antivirais em culturas do vírus SARS-CoV-2. Ou seja: desvendar a Covid-19 para poder combatê-la. Confira algumas das iniciativas:
A identificação de possíveis medicamentos
Alunos de diferentes laboratórios decidiram agregar seus conhecimentos em prol de um bem maior. Com a orientação de Celia Carlini, professora da Escola de Medicina e pesquisadora do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer), os doutorandos Matheus Grahl (PPGMCS) e Carlo Moro (PPGMCS), com a mestranda Paula Caruso (PPGBCM), juntaram-se aos alunos orientados por Jaderson Costa da Costa, diretor do InsCer.
Através de uma pesquisa em ambiente controlado, os estudantes obtiveram resultados positivos quanto ao reposicionamento de fármacos já disponíveis no mercado mundial, identificando possíveis agentes terapêuticos com ação antiviral contra o novo coronavírus. “Essa iniciativa dos alunos da Pós permitiu que o grupo integrasse a força-tarefa”, conta Celia.
Testes moleculares
Dentro da força-tarefa, Grahl foi convidado para integrar o subgrupo liderado por Daniel Marinowic, professor da PUCRS e pesquisador do Hospital São Lucas da PUCRS, que buscava inovar um teste molecular para detecção do SARS-CoV-2. O projeto tem perspectivas de ampliar ainda mais as metodologias de exames e aprimorar a precisão na detecção do vírus.
Inteligência artificial contra a Covid-19
“Nossa proposta visa contribuir para o avanço dos estudos computacionais focados em proteínas alvos para a descoberta de fármacos em potencial para tratar a Covid-19. As abordagens computacionais servirão de base modelos de aprendizado de máquina e previsões”, explica o professor Walter Filgueira, coordenador do Laboratório de Bioquímica Estrutural da PUCRS.
Os resultados obtidos em testes controlados ficarão disponíveis aos membros da rede de laboratórios o que permitirá uma integração. Com a participação da doutoranda Gabriela Bitencourt Ferreira (PPGBCM), este projeto foca nas seguintes etapas: seleção de alvos do SARS-CoV-2; elaboração de modelos de inteligência artificial; e busca virtual. As outras etapas serão executadas por diferentes laboratórios da rede.
O mesmo vírus, diferentes resultados
“Nosso grupo tem experiência na área de imunologia. Mais especificamente, trabalhamos com mecanismos de inflamação. Uma das perguntas que nos fizemos é porque algumas pessoas apresentam uma doença tão grave, enquanto outras exibem uma forma moderada ou até sem sintomas”, conta a professora e pesquisadora Florência Barbe Tuana, do PPGBCM.
Para responder a essa pergunta, Florência estuda a comunicação entre dos tipos celulares importantes na defesa de nosso corpo contra o SARS-CoV-2, macrófagos e neutrófilos. Ao entender como acontece a secreção de mediadores inflamatórios e suas vias de controle no contexto da Covid-19, é possível auxiliar no entendimento dos mecanismos de sinalização e sugerir possíveis alvos terapêuticos.
Único laboratório no Rio Grande do Sul
Além disso, o CPBMF está realizando o cultivo de um isolado do vírus SARS-CoV-2, contando com o único laboratório com nível de biossegurança exigido (NB3) para a manipulação do novo coronavírus em operação no Rio Grande do Sul.
Uma plataforma está sendo construída com compostos de uma biblioteca química do centro de pesquisas para pensar formar de combater o vírus. Alguns desses compostos já se mostraram promissores para o tratamento da tuberculose (TB) e serão avaliados para atacar o novo coronavírus.
Também foi montada uma rede de pesquisadores de diferentes instituições gaúchas que fará uso dessa plataforma para novos ensaios e pensar em diferentes estratégias experimentais e computacionais.
Impacto social da pesquisa
“A pesquisa, a ciência e a educação visam atender as expectativas populacionais que emergem de tempos em tempos e possuem notória importância social”, conta Matheus Grahl. Ao longo da história, o desenvolvimento científico se mostrou essencial para sociedades bem-sucedidas, destaca Carlo Moro. Para ele, isso é mais visível no mundo moderno, que é baseado em tecnologia. “Essa importância às vezes pode passar despercebida para quem não está diretamente envolvido com a ciência, mas fica bastante evidente em momentos de crise, como pandemias”, afirma.
Para Cristiano Valim, é gratificante poder contribuir com esse esforço da comunidade acadêmica internacional para o combate à pandemia. “Estamos seguramente vivenciando a maior crise sanitária das últimas décadas e essa situação demanda um esforço coletivo para a busca das soluções tão necessárias e desejadas por toda a sociedade”, acrescenta.
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