Tendo em vista os crescentes índices de atropelamentos de animais silvestres na região Sul da capital, o professor Júlio César Bicca-Marques, junto à turma do 7º semestre de 2017/2 do curso de Ciências Biológicas da Faculdade de Biociências, resolveu agir. Através do trabalho Campanha Cidadã, da disciplina de Biologia de Conservação, eles criaram uma petição alertando para as condições impróprias da rodovia ERS-118, que está localizada no extremo Sul de Porto Alegre e registra cada vez mais atropelamentos de animais como bugios, graxains, gambás, gatos-do-mato, tatus, entre outros. A iniciativa gerou uma parceria entre o Laboratório de Primatologia e o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER), que pretende tomar providências objetivas para diminuir as mortes dos animais silvestres.
Lançada no dia 17 de setembro, a petição tinha a meta de alcançar 10 mil assinaturas. Pouco mais de duas semanas depois, já haviam sido contabilizadas 25 mil. Atualmente, são mais de 44 mil assinantes das mais diversas partes do mundo – Estados Unidos, Canadá, Europa, Austrália e Japão são algumas das regiões que aparecem na lista. O plano inicial era recolher os resultados e apresentar ao DAER, mas o diretor-geral do departamento ficou sabendo da repercussão da iniciativa e entrou em contato por conta própria com o professor Bicca-Marques, dispondo-se a auxiliar.
Os desenvolvedores da ação entregaram ao DAER uma lista com dez pontos críticos, apontando o que deveria ser alterado nas estradas. Dentre os itens, sugeriram que fossem implantados redutores de velocidade: lombadas (uma eletrônica e várias tradicionais), placas sinalizadoras (a ideia é reduzir a velocidade máxima do trecho de 60km/h para 40 ou 50km/h) e pontes de corda, que ficam suspensas no ar e são utilizadas pelos animais para realizar a travessia entre as áreas de floresta.
Para Bicca-Marques, a conservação das espécies é extremamente importante para a manutenção do ecossistema. As florestas da zona sul de Porto Alegre já estão bastante fragmentadas, principalmente por terem perdido espaço para o ambiente urbano e por serem atravessadas pelas estradas. Ao tentarem chegar ao outro lado, os animais acabam sendo atropelados, o que gera uma redução significativa de suas populações. “Os bugios, por exemplo, são muito atingidos. E eles são os maiores dispersores de sementes de muitas espécies de árvores nativas da nossa região. Sem este serviço, ocorre o empobrecimento da floresta e das espécies animais que a habitam”, explica o professor. Ele espera que os resultados da iniciativa estimulem outros cursos, tanto da PUCRS quanto de outras instituições, a adotarem atividades semelhantes em seus currículos.
O trabalho da disciplina conduzida por Bicca-Marques consiste na criação de petições que chamem a atenção da população para a crise da biodiversidade. O objetivo é estimular a integração e cidadania ativa das turmas, além de conscientizar a população. “Isso é necessário para que os alunos sejam bons cidadãos e façam algo de fato. Assim, vão poder ter iniciativas por conta própria depois”, defende Bicca-Marques. A primeira tentativa de Campanha Cidadã, realizada no primeiro semestre de 2017, chamou atenção para o excesso de plástico utilizado na embalagem de refis de lâminas de barbear.
O projeto com o DAER faz parte das 200 ações em comemoração ao Bicentenário Marista. Doações de sangue e de livros, revitalização de espaços públicos, aulas de português para imigrantes e visitas a pacientes internados em hospitais são apenas alguns exemplos de ações cadastradas na plataforma Maristas em Rede. O projeto já conta com mais de 150 ações – número que cresce a cada dia. A meta é que sejam atingidas as 200 iniciativas até o final de 2017, ano que marca o bicentenário marista no mundo.
Podem ser cadastrados projetos nas áreas de educação, inovação, espiritualidade, cidadania e direitos humanos, esporte, sustentabilidade, arte e cultura, que sejam desenvolvidos em locais onde a Rede Marista está presente. A comunidade é convidada a participar sugerindo novas iniciativas ou cadastrando-se como voluntária e/ou apoiadora nas ações que já estão acontecendo – basta acessar a plataforma online.
O grande entusiasmo da professora Clarice Alho, da Faculdade de Biociências, pela área de genética fica evidente em poucos minutos de conversa. Dedicada ao tema há 30 anos, a pesquisadora coordena o Laboratório de Genética Humana e Molecular da PUCRS, com foco especial em genética forense, área em que é considerada referência no país. “O uso das informações de DNA para esse fim é o nosso principal objetivo. Dentro desse tema, temos diversos projetos”, aponta. O grupo de pesquisa que coordena tem vários estudos publicados na Forensic Science International, a mais importante publicação da área. Entre eles destaca-se a identificação de mutações nas porções do cromossomo 2 que são de interesse forense, divulgado em 2015.
A principal pesquisa trabalhada no momento envolve a identificação de marcadores para características externas visíveis, e conta com o fomento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Por meio do estudo, será possível identificar, através do DNA, características como a pigmentação de pele, cabelo e olhos, usando materiais genéticos para fins forenses criminais, civis ou históricos. O trabalho conta com a participação de mestrandos, doutorandos e pós-doutores do Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular, além de estudantes em estágio formal, em Iniciação Científica da Graduação e até do Ensino Médio (Iniciação Científica Júnior).
Para desenvolver esse e outros projetos, o laboratório mantém parcerias com a International Centre of Forensic Sciences da University of Florida, Forensic Chemistry Department da Florida International University, Instituto de Criminalística do Paraná, Universidade Federal do Paraná, Universidade Católica de Brasília e Instituto de Medicina Legal e Criminalística de São Paulo. “Temos aproximado pessoas para trabalhar conosco especialmente nesses fins”, salienta. Desde o ano passado, o espaço também abriga a divisão de Genética Forense para Investigação Criminal, uma parceria com a Polícia Federal do Rio Grande do Sul. É o primeiro laboratório do gênero na Polícia Federal fora de Brasília e possibilita análises de casos envolvendo vestígios biológicos, como fios de cabelo, ossadas ou sangue coletados nos locais de crimes.
Além da dedicação à pesquisa, Clarice também está presente na sala de aula, lecionando as cadeiras de Genética na Faculdade de Biociências. Para o futuro, um dos desejos é continuar unindo teoria à prática, possibilitando que as descobertas sejam usadas para a solução de problemas no dia a dia. “Não adianta descobrirmos uma nova forma de identificação de material genético se ela não for colocada em prática em benefício da sociedade”, conta. Outro plano é continuar trabalhando com o projeto Pai Presente, realizado pelo Ministério Público, em parceria com o Laboratório, que faz identificação de paternidade. “Em cerca de 30 dias, resolvemos a situação de uma criança, ajustando a vida e o futuro dela. É muito importante essa presença na sociedade, dando esse auxílio com as ferramentas que estão ao nosso alcance”, finaliza.