O Ciclo Preparatório PUCRS 2017-2018 para Conferência Regional da Educação Superior da América Latina e Caribe (Cres) – Unesco Iesalc teve nesta quinta-feira, 10 de maio, seu encerramento. O painel intitulado Propostas para a Educação Superior no marco dos 100 anos da reforma universitária de Córdoba foi apresentado pelos professores Maria Inês Côrte Vitória, gestora de avaliação da Assessoria de Planejamento e Avaliação (Asplan), e Alexandre Anselmo Guilherme, da Escola de Humanidades, com mediação da professora Adriana Kampff, diretora de Graduação. Ocorrida no 6º andar da Biblioteca Central Ir. José Otão, a atividade contou com a presença do reitor, Ir. Evilázio Teixeira, e do professor da Universidade Santiago de Compostela, Miguel Zabalza, que preside a Associação Ibero-americana de Docência Universitária e, no próximo mês de outubro, será contemplado com o título de Doutor Honoris Causa pela PUCRS.
No primeiro momento do evento, a professora Maria Inês apresentou uma síntese retrospectiva dos 100 anos de reforma universitária de Córdoba. O objetivo foi expor elementos que contribuíssem na elaboração de propostas e reflexões, valorizando o legado de educadores, cientistas e investigadores dedicados ao tema. Na reconstrução histórica, a docente destacou as “ideias-força” do reformismo universitário de 1918, sintetizadas em duas dimensões, Programática e Utópica. A primeira, trazia o princípio de participação estudantil, em paridade com a docente, nas decisões das universidades, bem como e autonomia dessas instituições como forma de soberania. Também incluía o aprofundamento da democratização, com uma reforma pedagógica, tendo o estudante no centro das iniciativas. Já na dimensão utópica, o desejo dos estudantes de mudar a sociedade ficou latente na valorização do latino-americanismo e anti-imperialismo, juvenilismo e velha geração. Na avaliação da docente, a dimensão Programática acabou sendo a mais presente ao longo do tempo.
Seguindo uma linha do tempo, Maria Inês apresentou os ideais que movimentaram os anos 1960 e 1970, as contradições entre expectativas e realidade de mudança frente aos EUA e Europa, e recordou autores como Darcy Ribeiro, no Brasil, e Risieri Frondizi, na Argentina, que refletiram sobre o legado reformista. Graficamente, a professora ilustrou com fotos das revoltas universitárias de 1968, na França e no Brasil, a forma de expressão dos estudantes naquele contexto.
Nas décadas de 1980 e 1990, com as novas problemáticas, categorias e atores no cenário latino-americano, houve a recuperação do debate sobre a universidade num formato diferente das décadas anteriores. Crises política e econômica, transição democrática, globalização e diminuição da força do ambiente acadêmico como espaço laboral concentraram as discussões nas Cres, alinhadas com órgãos internacionais, como o Banco Interamericano de Desenvolvimento. A Cres de Havana (Cuba), em 1996, trouxe novas perspectivas e mostrou desigualdades e carências da Educação Superior, a aumento dos estabelecimentos privados e do ensino a distância, bem como os desafios do novo contexto mundial.
Nos anos 1990, novos marcos legais, fundos de financiamento e o estreitamento da relação entre as Instituições de Ensino Superior o mercado produtivo mostraram um novo ambiente, também mais exigente à academia. Na primeira década do século 21, houve o esgotamento do modelo neoliberal e o neo-intervencionismo estatal, mais pessoas ingressaram no Ensino Superior e, também, ocorreu a ampliação do movimento de internacionalização e de regionalização, voltando o olhar do continente para o continente. Também foram citadas as restrições financeiras e a ampliação de mecanismos de avaliação. No manifesto da Cres de 2008, em Cartagena das Índias (Colômbia), destacaram-se tópicos como a Educação Superior como direito humano e bem público social, além do debate universidade, democratização e inclusão educativa. Tratou-se, ainda, da revisão de políticas de ciência e tecnologia latino-americanas.
O professor Alexandre Anselmo, em sua intervenção, contextualizou as demandas e proposições do ano de 1918, manifestadas pelos estudantes na Conferência de Córdoba, avaliando que muitos dos aspectos se mantém atuais, como a importância da qualidade na relação docente-discente como forma de permanência do aluno; a coerência entre ensino e aplicação do saber; e a assistência social aos universitários, bem como autonomia das instituições.
O docente da Escola de Humanidades criou uma síntese com propostas a partir da fala dos onze painelistas nos seis encontros anteriores do Ciclo Preparatório, conforme segue:
1º Eixo – Desafios da Educação Superior
– Compromisso com a qualidade do Ensino Superior, combinando a missão institucional com as necessidades demandadas pela sociedade.
– Articulação da Educação Superior com a Educação Básica.
2º eixo – Desafios sociais
– Enfatizar o compromisso com a questão social, colocando o conhecimento a serviço da comunidade.
– Promover conhecimentos, visando resolver problemas relacionados ao desenvolvimento humano como a equidade nas dimensões social, econômica e científica e cultural.
3º eixo – Diversidade cultural e multicultural
– Desenvolver projetos educativos para incluir e aceitar as diferenças e a diversidade.
– Desenvolver projetos educativos visando educar para o mundo globalizado e preparar para interagir com a América Latina.
4º eixo – Tecnologia e Inovação
– Visar à integração universidade – sociedade – empresa.
– Desenvolver projetos educativos para a nova sociedade na nova economia.
5º eixo – Desenvolvimento Sustentável
– Desenvolver programas educativos voltados à sustentabilidade ambiental para professores, estudantes de graduação e de pós-graduação.
– Desenvolver projetos de pesquisa com foco no desenvolvimento sustentável com impacto local e regional (e global).
6º eixo – Internacionalização
– Enfatizar a importância da Internacionalização em Casa (IaH) e da Internacionalização do Currículo (IoC), visando a uma internacionalização completa da Universidade.
– Desenvolver projetos e conhecimentos conectados ao cidadão global, preparando-o para a nova sociedade e economia.
Ao final das apresentações, o professor Miguel Zabalza foi convidado a fazer uma manifestação. Em sua fala, lamentou a redução do ambiente universitário como espaço de pensar, educar e investigar, enquadrando-se na lógica dos governos, que muitas vezes desvalorizam os pesquisadores e suas biografias. “Um investigador, hoje, somente é visto a partir dos conceitos que lhe são atribuídos pelas agências de fomento, independentemente de suas contribuições acadêmicas”, criticou. Em seu país de origem, a Espanha, disse que há um “stand by” emocional, no qual a universidade não é vista como um ambiente de alegria e entusiasmo, não sendo mais possível desfrutar o ato de ser professor. “Um dos trabalhos que temos pela frente é o de recuperar a alegria e a emoção dos professores. A universidade precisa retomar sua importância para a sociedade”, enfatizou Zabalza, repercutindo o sentimento de quem tem uma atuação voltada à formação de professores.
No desfecho das atividades, o Ir. Evilázio Teixeira pontuou que “o Cres é um posicionamento relevante do continente latino-americano frente ao cenário internacional que se apresenta”. Ainda complementou que existem aproximações importantes das IES locais com a Europa e os EUA, mas é preciso ampliar o relacionamento com os países da região (América Latina). Por fim, disse que “precisamos retomar os conceitos fundantes de uma universidade, como comunidade e espaço de seres aprendentes”.
O Ciclo Preparatório PUCRS ao Cres configurou-se num espaço de reflexão na comunidade acadêmica, entre novembro de 2017 e maio de 2018, abordando os temas centrais da Terceira Conferência Regional da Educação Superior da América Latina e Caribe (Cres) – Unesco Iesalc de 2018. O evento será realizado na Cidade de Córdoba, Argentina, em junho de 2018, a partir do qual serão levadas contribuições à Conferência Mundial de Educação Superior, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), prevista para 2019, em Paris (França). A comissão organizadora do Cres, agora, irá elaborar uma carta manifesto com as contribuições e reflexões da PUCRS sobre a Educação Superior.
O Reitor, Ir. Evilázio Teixeira, e o Vice-Reitor, Jaderson Costa da Costa, receberam nesta quinta-feira, 18 de maio, os professores Sue Robson, Steve Walsh e Joana Filipa Almeida, da Newcastle University. O grupo de pesquisadores veio a Porto Alegre para o seminário Internationalisation of Higher Education in the UK and Brazil: A partnership between Newcastle University and PUCRS, ocorrido no último dia 16, quando foi consolidada a parceria acadêmica entre as duas instituições.
Desde 2016, um grupo de pesquisadores da PUCRS, do qual fazem parte os docentes Alexandre Anselmo Guilherme e Marilia Morosini, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Escola de Humanidades (PPGEdu), mantém contatos e trabalhos sistemáticos em parceria com a Newcastle University (Reino Unido), integrante do Russel Group, uma rede formada por 24 universidades britânicas de excelência.
O seminário dessa semana, promovido pelo Centro de Estudos em Educacao Superior (CEES), da Escola de Humanidades, discutiu a perspectiva da internacionalização a partir de redes de pesquisa nos contextos do Reino Unido e Brasil; o incentivo à reflexão sobre as pesquisas e práticas docentes e institucionais por meio de trocas de experiências; e o reforço do diálogo, da produção e da circulação do conhecimento acerca da internacionalização na Educação Superior.
Uma das propostas apresentadas no evento foi a internacionalização at home do ensino e da pesquisa, ou seja, sem a necessidade de viagem a outros países. Essa é uma realidade no continente europeu e pode representar uma inovação para os currículos acadêmicos no Brasil.