Perto de completar 90 anos, Nathalia Timberg, um dos grandes nomes do teatro brasileiro, protagonizou uma noite memorável na PUCRS na quinta-feira, 21 de março. Em promoção do Instituto de Cultura, em parceria com o Theatro São Pedro, com entrada franca, a atriz falou para um público atento no Salão de Atos. Advertiu que seria repetitiva, seguindo a própria Fernanda Montenegro na sua vinda à PUCRS, em 2018, mas não poderia deixar de mencionar que “a educação decorre da cultura, e não o oposto”. A frase foi uma resposta à atriz Sandra Dani, que participou como uma das entrevistadoras, sobre como ela via a questão da atual censura à arte. Nathalia comentou ser espantoso que em pleno século 21 haja esse tipo de cerceamento da liberdade, o que acontece não somente no Brasil.
Ao relembrar 1968, quando se perguntava sobre o seu caminho como ser social, citou um diretor italiano que lhe disse: “Quando você atua sobre a inteligência e a sensibilidade de um povo, faz mais do que qualquer panfleto. Não é preciso realizar um tratado de filosofia”.
A força e o papel do teatro estiveram no centro da conversa de Nathalia com Sandra e o ator e diretor Luiz Paulo Vasconcellos, mediada pelo cineasta Carlos Gerbase, professor da Escola de Comunicação, Artes e Design – Famecos. Para a convidada principal, o teatro é “uma tribuna onde melhor se discute o homem e a sociedade” ou “o sonho em estado de vigília”.
Nathalia vê o ator como um intérprete, alguém que precisa mergulhar em um universo novo de um autor, diretor e personagem. No caso dos clássicos, além de se manter fiel ao texto, deve torná-lo palatável, trazer para o momento atual e alcançar a plateia. “O ator viaja pelo seu mundo e pela forma de expressão do ambiente em que vive. De repente, tem de abandonar sua maneira de falar e assumir estilos que os autores abordados proporcionam. A desconstrução deve passar pela construção e conhecimento desse universo infinito e conseguir comunicá-lo,” argumenta a atriz.
Na comparação entre teatro, cinema e televisão, a atriz conclui que “não se pode imputar ao veículo o pecado de quem lida mal com ele”. “Quanto mais primária é a formação de um público, mais responsabilidade tem quem se propõe a se comunicar com ele”, defende.
Hoje vê o teatro como sendo de uma minoria. No início da carreira, atuava várias vezes por semana. Recorda ainda a ousadia do seu grupo, com Fernanda Montenegro, Sérgio Britto e Ítalo Rossi, de fazer grandes nomes da dramaturgia universal. Com a novela O direito de nascer, teve consciência do alcance da televisão e da sua responsabilidade.
A sua fala terminou como começou, com o público de pé aplaudindo. Só que, desta vez, instigado pela atriz, em homenagem à memória de Eva Sopher, por sua luta à frente do Theatro São Pedro.
Em visita à reitoria, antes do bate-papo no Salão de Atos, Nathalia fez questão de lembrar o papel de Eva, mantendo Porto Alegre “acordada”. Também expressou sua preocupação com o empobrecimento da linguagem e o sucateamento da formação. Acompanhada de sua produtora, foi recebida pelo reitor Ir. Evilázio Teixeira, pelo vice-reitor, Jaderson Costa da Costa, pelo chefe de gabinete da Reitoria, Alexander Goulart, pelo presidente da Fundação Theatro São Pedro, Antonio Hohlfeldt, também professor da PUCRS, pelo diretor do Instituto de Cultura, Ricardo Barberena, e por Gerbase.
A atriz está em cartaz desta sexta-feira a domingo – de 22 a 24 de março, no Theatro São Pedro, com o documentário cênico Através da Iris. Na peça, Nathalia vive a nova-iorquina Iris Apfel, 97 anos, empresária, designer de interiores e uma das referências mundiais na arte pop e no mundo fashion. Com texto de Cacau Hygino e direção de Maria Maya, a peça retrata uma entrevista de Iris, reconhecida por seu jeito exuberante, que surpreende por sua autenticidade e liberdade de ser e agir.