Na disciplina de Ecologia de Indivíduos e Populações, do curso de Ciências Biológicas da PUCRS, são estudados modelos simples de crescimento populacional. Estes não envolvem estatística bayesiana (avaliação de hipóteses pela máxima verossimilhança), o uso de redes neurais ou os sistemas de Inteligência Artificial. Entretanto, servem para criar simulações compreensíveis, assim como o desenvolvimento de modelos mentais de relação causa-efeito. “Por meio da técnica, que pode ir sendo atualizada, decidi aplicar estes mesmos modelos para analisar a evolução da Covid-19 no Brasil. Os dados foram obtidos na European Centre for Disease Prevention and Control”, destaca o diretor do Instituto do Meio Ambiente da PUCRS, Nelson Fontoura.
Permanecendo as condições atuais, o modelo, que cruzou dados e realizou cálculos em situação média em todo o país, identifica uma redução gradativa da taxa de expansão da doença, com um número de novos infectados de cerca de 2 mil por dia para os próximos dias, e caindo gradativamente. “Ou seja, estaríamos no pico agora ou em futuro muito próximo, se mantido o isolamento social nos mesmos termos e sem relaxamento”, indica o professor. Essa mesma tendência de números pode ser aplicada para os casos de óbitos.
A análise ainda prevê uma estabilização do número de casos em julho, com cerca de 100 mil infectados, com redução considerável em agosto. “Contudo, considerando que apenas 20% dos infectados apresentam sintomas graves e acorre ao hospital, e levando em conta que nem todos são testados, este número pode ser muito maior, de cinco a dez vezes, ou seja, de 500 mil a um milhão de infectados”, frisa.
Segundo Fontoura é preciso destacar que o número de casos positivos devem aumentar nos próximos dias, acima do previsto no modelo, não em função da expansão da doença, mas devido à ampliação da cobertura de testes. “O modelo está limitado não apenas pela qualidade do dado disponível, mas também em função de alterações da política de isolamento e da cobertura de testes”, pontua.
As projeções realizadas se baseiam na manutenção do isolamento social. “Enquanto não houver vacinas, ou uma parcela relevante da sociedade já imune por ter se recuperado de uma infecção, basta relaxar as medidas de distanciamento que uma nova onda de infecções se estabelece”, pondera Fontoura.
O isolamento social trouxe frutos importantes, pois reduziu a taxa de ampliação da pandemia em níveis significativos. Se o isolamento é necessário, também não necessita ser uniforme em todo o território brasileiro. “Uma grande cidade com sistema de saúde colapsado, talvez necessite medidas de isolamento ainda mais rígidas, enquanto que um pequeno município, sem casos registrados, talvez precise apenas testar e isolar os casos suspeitos”, pontua o professor.