Saúde

Publicação promove boas práticas para coleta de dados da população trans

quinta-feira, 02 de abril | 2020

Publicação promove boas práticas para coleta de dados da população trans - Angelo Brandelli, pesquisador da PUCRS, integra o comitê de estudos globais e na América Latina

Foto: Van Tay Media/Unsplash

Pesquisadores dedicados à estudar quantitativamente a população LGBTIQ+ criaram, em parceria com a comunidade, um guia de boas práticas para a coleta de dados sobre pessoas trans. A partir da iniciativa do Williams Institute, da Universidade da Califórnia (UCLA), em 2016, de criar um manual sobre o assunto, o grupo resolveu expandir o projeto. Um guia internacional foi desenvolvido para toda a América Latina, durante o Congresso da Associação Profissional Mundial para a Saúde Transgênero (WPATH), em Buenos Aires, em 2018. O trabalho final foi publicado em março de 2020.

A realidade dos estudos nessa área é bastante heterogênea. Alguns países têm implementado pesquisas populacionais a partir das boas práticas internacionais, como o caso do Uruguai.  Outros, nem tanto. “Em outros países, como o Chile, a Argentina e o Brasil, a coleta de dados ainda fica limitada em pesquisas no âmbito da saúde. Outros ainda têm um grande caminho pela frente no sentido do reconhecimento social e garantia de direitos dessa população”, conta Angelo Brandelli, pesquisador da PUCRS e um dos membros do comitê coordenador do projeto.

A integridade dos envolvidos

Toda iniciativa que visa a coleta de dados referentes a esse grupo, especialmente em larga escala, precisa envolver as comunidades locais. “São essas pessoas que devem guiar quais serão as melhores práticas – alicerçadas na metodologia mais geral proposta, com base em duas perguntas: qual o sexo de registro e como você se identifica agora”, explica Brandelli.

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No contexto latino-americano surgem questionamentos distintos do debate global. A necessidade de pensar na segurança de quem responde uma enquete ou censo, por exemplo, foi um deles. “A vida de uma pessoa trans pode ser colocada em risco caso ela se identificar perante a sua comunidade enquanto tal. Dessa forma, foi apontado de maneira bastante enfática a necessidade de haver uma forma do respondente não se identificar enquanto trans, se esse for o seu desejo”, destaca Brandelli.

O destino dos dados

O manual visa estabelecer quais são as melhores formas de fazer perguntas sobre identidade de gênero e envolver o maior número possível de pessoas no processo, de forma amigável, afirmativa e digna, levando em consideração questões culturais específicas. Ao mesmo tempo, a iniciativa busca difundir a ideia de que é fundamental incluir as pessoas trans em coletas de dados sobre saúde, bem-estar, discriminação, entre outras; em pesquisas que já são realizadas usualmente, principalmente em censos.

O contexto brasileiro

Segundo Brandelli, no Brasil, a maioria das pesquisas ainda utiliza formas de coleta de dados que não são capazes de identificar corretamente as pessoas trans. “Usam apenas uma questão sobre identidade de gênero, ou ainda apresentam uma mistura entre identidade de gênero e orientação sexual, o que além de incorreto, também é ofensivo para esses grupos”, explica. Além disso, ocorrem debates sobre a necessidade de inclusão da identidade de gênero no censo de 2020, no entanto, ainda não houve consenso.

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