Em alta, a proteína vem sendo cada vez mais explorada na indústria de alimentos
quinta-feira, 24 de abril | 2025Você provavelmente já notou a presença de proteína em diversos rótulos de alimentos, como barras de cereais, bebidas lácteas, paçocas e outros snacks. Além disso, o nutriente também é um fenômeno nas redes sociais, presente em receitas de bolos, mousses e tortas proteicas. Mas você sabe qual é o motivo para essa popularidade? Entenda mais sobre a importância do nutriente para a saúde.
Essencial para o funcionamento do organismo, a proteína é um macronutriente que atua na formação dos tecidos do corpo, como cabelo, músculos, pele, ossos e órgãos. O composto proteico desempenha um papel importante na produção de anticorpos, fortalecendo o sistema imunológico. Também contribui para a constituição e o equilíbrio de hormônios — como o do crescimento — e do metabolismo. O nutriente ainda pode ser utilizado como uma fonte de energia pelo organismo em situações de carência de carboidratos e gorduras.
Elas são divididas em dois grupos: de origem animal (carnes, ovos e leite) e vegetal (grãos, leguminosas, sementes e vegetais).
As principais diferenças estão na presença dos aminoácidos, que atuam na composição das proteínas. O corpo humano produz onze aminoácidos não essenciais, sintetizados por outros compostos do organismo, enquanto os nove essenciais, aqueles que o corpo não consegue sintetizar, devem ser obtidos por meio da alimentação, encontrados em sua totalidade nas proteínas de origem animal. Já as de origem vegetal podem ter um ou mais aminoácidos essenciais não produzidos pelo corpo – chamados de limitantes.
Segundo o professor de Nutrição da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS Giuseppe Potrick Stefani, outra diferenciação é a digestibilidade.
“As proteínas de origem vegetal possuem em sua constituição componentes químicos que podem atrapalhar parcialmente a absorção de alguns aminoácidos, chamados de ‘fatores antinutricionais’. Na realidade, não é nada que impacte significativamente, mas sabemos que em algumas condições muito específicas eles podem afetar negativamente a absorção”.
A quantidade absorvida pelo organismo varia conforme o alimento e a forma de preparo. As proteínas animais e vegetais apresentam boa absorção, de modo geral, enquanto suplementos alimentares podem atingir até 100%. “Não há proteínas superiores, mas sim como está organizado o cardápio alimentar do dia”, complementa o professor.
Ao falar em proteínas, é impossível não mencionar o Whey Protein. O suplemento proteico é um dos mais consumidos no País. Conforme o levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad), o consumo de Whey Protein e concentrados de proteína aumentou em 25% entre 2021 e 2023.
“É uma proteína com alta digestibilidade, com uma praticidade e diversos componentes bioativos que auxiliam na saúde como um todo. É uma ferramenta para casos em que a alimentação tradicional não garante a quantidade de proteína necessária”, afirma Giuseppe.
Para quem pratica exercícios físicos, a proteína é uma das principais aliadas na dieta, auxiliando na construção dos músculos, melhorando o rendimento dos treinos e a fadiga muscular. Neste caso, o Whey é um grande parceiro. Existem três tipos diferentes, com diferenças nos seus processos de produção:
Concentrado: possui menor teor de proteína, devido ao seu processo de filtragem, podendo conter lactose e derivados.
Hidrolisado: neste tipo, as moléculas são quebradas em partículas menores, o que nem sempre impacta em uma absorção mais rápida, mas sim em um maior aproveitamento da proteína.
Isolado: é a versão mais “pura”, com pelo menos 90% de proteína na porção de farelo, em função do seu processo de filtragem seletivo.
Ainda assim, o uso do suplemento deve ser avaliado por um profissional da área de saúde qualificado para determinar se é necessário suplementar.
“Se a logística do dia a dia é desafiadora e a demanda diária de exercícios é acima da média, esses são fatores que podem influenciar na decisão de suplementação. Para quem precisa consumir as proteínas de maneira rápida e eficiente, o Whey é uma boa alternativa”, explica o nutricionista.
Uma das principais dúvidas de quem está entrando em uma dieta é a quantidade de proteína que deve ser consumida.
Essa medida é individual, levando em conta o estilo de vida e os objetivos de cada pessoa. Para o cálculo, são utilizados parâmetros de gramas de proteína para cada quilo de massa corporal por dia (g/kg/dia). A recomendação para pessoas sedentárias é de cerca de 0,88 g/kg/dia. Ou seja, uma pessoa de 70 kg, por exemplo, deve consumir cerca de 60g de proteínas ao dia – como um filé de frango ou um ovo.
Já para os atletas e praticantes de exercícios físicos, o cálculo é diferente, feito com base no esporte praticado. Para os atletas de resistência, como corrida, natação ou ciclismo e endurance, o recomendado é 1,0 a 1,5 g/kg/dia. Em outras palavras, uma pessoa ativa deveria consumir de três a cinco porções de proteína diárias.
Aos que praticam exercícios de força ou potência, como levantamento de peso, a recomendação é entre 1,6 e 2,0 g/kg/dia. Isso quer dizer que, para quem realiza musculação, o indicado é em média cinco a seis porções por dia, dependendo da frequência e da intensidade dos treinos.
“É importante salientar que para a maioria da população, esses valores suprem muito bem a demanda diária. No caso de atletas de elite, de alto rendimento, esses valores podem modificar”, enfatiza Stefani.
É importante consumir diariamente alimentos proteicos. Consumir menos que o indicado pode estar associado a diversos fatores, como a fadiga, enfraquecimento do cabelo, da pele e do sistema imunológico e na redução da massa muscular ao longo do tempo.
O professor de Nutrição da PUCRS orienta para os cuidados em dietas mais restritivas, como as veganas e vegetarianas, mas ressalta: “se bem planejadas, essas dietas não sofrem qualquer influência sobre o desenvolvimento muscular.”
Por outro lado, comer demais também pode ser um problema. O consumo, além do recomendado, não é o caminho mais indicado para alcançar resultados mais rápidos e saudáveis. Apesar de difícil, é possível que esse excesso favoreça alguns problemas, como a eliminação excessiva de nitrogênio pela urina – o que pode ser evitado com uma boa hidratação de água ao longo do dia –, além de uma sobrecarga desnecessária no fígado.
Giuseppe menciona que, com base em um estudo realizado em ratos, parece existir um “limite” para a absorção saudável de proteína. “Estamos falando de exemplos em que são consumidas mais de 60 gramas de proteínas em uma única refeição – o que é incomum na vida real. Ultrapassar esse limiar pode aumentar o risco de desenvolver doenças”.
Sem dúvidas, o mercado de proteínas está em seu melhor momento. O setor de suplementos proteicos se expandiu para além das academias e promete continuar crescendo. Segundo o Euromonitor – empresa de pesquisas de mercados globais -, no Brasil, em 2023, o faturamento chegou a R$ 4,3 bilhões, e a estimativa é que, até 2028, o lucro alcance R$ 9,8 bilhões.
“Hoje é o nutriente que as pessoas entendem que pode favorecer o emagrecimento. Existe um ‘medo’ grande de evitar picos de açúcar no sangue e as proteínas tendem a diminuir esse aumento. Mas, nada disso possui relação com ser mais ‘saudável’ quando falamos de pessoas fisicamente ativas”, comenta o nutricionista.
Entre os fatores associados ao crescimento desse mercado, Giuseppe destaca os avanços na inovação de produtos, a busca por uma alimentação balanceada e a ideia de que “mais proteína é mais saúde”.
“É muito bacana ver a indústria se reinventar desenvolvendo alimentos proteicos mais palatáveis, com sabores diferentes, e, sinceramente, trazer competições entre marcas concorrentes para produtos ainda melhores. Quem sai ganhando é o consumidor. Mas ainda temos muitos produtos proteicos no mercado prejudicais para a saúde pelo elevado nível de processamento, neste caso, alimentos ultraprocessados, que devem ser analisados com cautela para o consumo.”
Seja pelas receitas compartilhadas nas redes sociais, ou a preocupação com o bem-estar físico, a população – especialmente a geração Z – tem buscado, cada vez mais, informações e promovido discussões sobre o que pode favorecer um estilo de vida mais saudável.
Hoje é comum reavaliar os produtos que colocamos dentro de casa com base nos rótulos de ingredientes e, mais recentemente, a quantidade de proteína. A indústria de alimentos e bebidas não tem ficado para trás, buscando diversificar seus produtos, aproveitando o crescente interesse por produtos de alto valor proteico para atrair quem está buscando alternativas com “mais” benefícios nutricionais. Sobre essa prática, Stefani afirma que é preciso ter atenção.
“Ter mais proteína é algo a se considerar, mas hoje muitas pessoas usam aplicativos que facilitam o entendimento de rótulos, como o ‘Desrotulando’. O que pode gerar confusão é a diferença mínima entre produtos concorrentes do mesmo grupo. Por exemplo, uma barra de cereal com 7 gramas de proteína da marca A comparado com uma de 7,3 gramas de proteína da marca B. Na prática, essa diferença é clinicamente irrelevante.”
Ele adverte que é mais recomendado prestar atenção ao nível de processamento dos alimentos, como aditivos alimentares e corantes, do que a quantidade isolada do nutriente.
Além disso, muitas empresas de suplementos proteicos também têm ampliado seu público-alvo, buscando atingir diferentes perfis de consumidores.
“Uma das ideias mais discutidas é que mais proteína significa melhor qualidade nutricional. Nem sempre isso é verdade, mas as pessoas compram essa ideia, especialmente pelo desejo de ser mais saudável. A indústria sabe bem disso: vender um produto para um público que busca comprar uma solução nessa linha é mais fácil do que um público que nem pensou que precisaria desse elemento. É uma mudança de mercado bem significativa.”, enfatiza o professor.
A ideia de que a proteína está atrelada ao aumento da saciedade é algo bem disseminado na área da Saúde, segundo Giuseppe. Com diversas informações disponíveis na internet, é importante estar atento/a para não acreditar em falsas metas de proteína em suas refeições, além de gastar equivocadamente com produtos “milagrosos”.
“Essa informação está mais e mais presente para o grande público e, com isso, mais pessoas divulgam, como os influenciadores digitais. E, infelizmente, muito comumente vemos disseminação de informações que não compactuam com a verdade que a ciência demonstra.”, alerta.
O sucesso da proteína também tem provocado uma troca de valores perigosa ao público, muito influenciado pelo uso de redes sociais. “Na minha visão, a principal consequência está em dar um valor demasiadamente alto para somente ‘o quanto de proteína devo comer por dia’ em vez de questionar ‘se a qualidade da minha alimentação é boa’ ou se “a minha alimentação é comida de verdade ao invés de alimentos industrializados”, comenta Giuseppe.
O profissional conta que é cada vez mais frequente encontrar pessoas que desejam perder peso optando por barras de proteína, bebidas lácteas e suplementos, e, ainda assim, demonstrarem dificuldades para emagrecer. “Quando reduzimos o consumo de alimentos ultraprocessados, o resultado na perda de peso começa aparecer com mais amplitude. Isso se dá pela qualidade da alimentação que se torna superior e o nosso corpo responde bem a essa reeducação alimentar.”
Independente do objetivo, para realizar uma dieta assertiva, o indicado é consultar um profissional qualificado da área que irá montar um plano alimentar baseado em suas necessidades, com as quantidades calculadas de cada alimento.
As dietas não supervisionadas podem trazer consequências para a saúde, como exageros ou redução de carboidratos e nutrientes, além de riscos de deficiência de energia – de vitaminas e minerais – e lesões por inadequação do cardápio, que podem aumentar o risco de infecções oportunistas, igual um resfriado.
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